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16 de ago. de 2008

O LIVRO DAS MUTAÇÕES


O Livro das Mutações
*Juarez Chagas

A propósito do artigo sobre Jung e sua relação com o Ying e Yang, assim como com O Livro das Mutações, o I Ching, recebi email de uma leitora solicitando mais informações a respeito do mais antigo livro do mundo e, também, indagando qual exemplar do mesmo que possuo, uma vez que o citei no referido artigo.

Confesso conhecer a obra não profundamente, como gostaria e apesar de possuir um exemplar de I Ching, O Livro das Mutações-Oráculo Milenar Chinês (Roberto Campadello, Editora Artenova, 1972), salvo engano, o primeiro a ser publicado no Brasil, fiz algumas pesquisas e buscas para melhor atender a gentil solicitação.
O I Ching ou Livro das Mutações, é o livro mais antigo da cultura chinesa, em todos os tempos. Trata-se de uma tradição oral compilada e recompilada várias vezes e passada de geração a geração, ao longo do tempo. Foi profundamente estudado por Confuncius e Lao Tsé, o qual escreveu a versão definitiva. A tradição de Confuncius está ainda hoje viva na Coréia do Sul, onde inclusive a bandeira deste país é composta pelo símbolo de Yin e Yang e por quatro dos oito trigramas do I Ching.
Na verdade, o I Ching constituiu-se na pedra fundamental de fonte de inspiração milenar chinesa, cuja história conta com mais de 3.000 mil anos, sendo, portanto, o livro mais antigo da humanidade. Mais antigo até mesmo do que a Bíblia e usado como oráculo, sendo a essência da sabedoria e do aconselhamento para respostas dos conflitos do homem, principalmente o oriental, por quem e para quem essa filosofia foi criada, no passado. A principal característica e objetivo do I Ching é nos ajudar a entender e a lidar melhor com as mudanças que ocorrem nas nossas vidas e, que por sua vez, sabemos não serem poucas.
A origem do Livro das Mutações remonta o período da China pré-histórica e segundo os historiadores chineses, o seu período mais antigo começa com Fu Hsi, em aproximadamente 3.000 a.C., e seu mais recente com King Fu Tze (Confuncius), no século VI a. C. Ocorre que entre estes dois períodos de tempo, encontra-se a média antiguidade, que se estende desde a dinastia Chou, por volta do século XII a. C., até a era chamada confunciana. Nesse sentido, a tradição reconhece quatro sábios (idolatrados como santos) autores do I Ching: Fu Hsi, o Rei Wen, o Duque de Chou e Confuncius. O Imperador Fu Hsi, o qual foi o primeiro personagem histórico da China, é considerado hoje em dia uma figura mítica, atribuindo-se ele a invenção dos oito trigramas do Livro das Mutações para mostrar plenamente os atributos das operações inteligentes e espirituais produzidas em segredo, e classificar as qualidades das inúmeras coisas com as quais o homem se relaciona.
Ao escutar o I Ching, pode-se escolher segui-lo ou não, essa é outra sabedoria importante de ser observada, pois o segredo é conseguir perceber qual é o caminho que mais tem a ver consigo mesmo, pois como o próprio I Ching diz em seu hexagrama que: "para cada pessoa existe um sentido próprio, um caminho, um destino que dá força à sua vida e que se consolida quando o homem consegue posicionar corretamente a vida e o destino harmonizando-os”.
É importante dizer também que a fonte dos princípios Ying e Yang é o T'ai Chi, conceito chinês do Absoluto, do Princípio Universal, do Eterno, o grande começo original de tudo o que existe, princípios estes que sempre foram enaltecidos e respeitados pelo Oriente, especialmente a China, com sua sabedoria milenar.
Por falar na China, que muito veremos neste mês por ocasião dos Jogos Olímpicos de Pequim, é o terceiro maior país do mundo com aproximadamente 9.572.900 km2 de área, ocupando grande parte da Ásia Oriental, é o primeiro em população mundial. Suas principais religiões e filosofias de vida são o confucionismo, o budismo e o taoísmo, o que lhe confere uma busca pelo equilíbrio interior própria de seu povo. Não foi em vão que Jung e outros filósofos e pensadores ocidentais se apaixonaram pela filosofia milenar chinesa (para desgosto de Freud...). Somente de uma ótica filosófica dessa magnitude poderia ter surgido O Livro das Mutações. A propósito, é de Confuncius o seguinte provérbio: “Só os tolos não mudam”...a questão é mudar pra melhor, porque a tolice reside exatamente no oposto (Publicado no http://www.jornaldehoje.com.br/).

*Professor do Centro de Biociências da UFRN(juarez@ufrn.br)