Transitoriedade - III
*Juarez Chagas
Transitoriedade não implica ou envolve apenas fatos e acontecimentos que decorrem do “momento”, o qual pode se estender após o mesmo ou nem ser plenamente vivido e vivenciado durante o mesmo, devidamente. Há mais considerações sobre o transitório do que possamos imaginar, principalmente, para aqueles que se refutam ou evitam viver plenamente o momento, alegando que este momento não vale tanto assim ser vivido, uma vez que logo em seguida não mais terá valor, por já ter passado. Então, em consequência disso, surgem conflitos com a temporalidade.
Nesse contexto, as questões do sentido da vida significa, para muitos, angústias, traduzidas por alguns, como conflitos existências ou simplesmente conflitos filosóficos que desaguam em dúvidas e inseguranças no seio existencial da pessoa.
“Animais, Animais, Animais
Somos todos meio
Animais irracionais
Levantamos, guerreamos e deitamos e rezamos antes
A vida é um sonho e nada mais”.
Indubitavelmente, para muitos a vida é um sonho e nada mais. Isso porque se pode imaginar ser a vida um sonho inebriado cujos conteúdos transitórios são sonhados acordados, mas quase sedados pela embriaguez do utópico que se coloca como realizável, mas que muitos jamais alcançarão e, contraditoriamente, se alcançam não podem usufruir do mesmo por tempo prolongado.
Observamos na Psicanálise tradicional, a partir de Freud que passou a observar esse conflito comum, onde a idéia de que seria impossível ser feliz, uma vez que o gozo absoluto deseja de todo ser humano, é algo inatingível e, na maioria das vezes, para alguns, quando se chega ao gozo pleno, este já está passado ou já se encontra lá na frente. Ainda bem que hoje em dia, os psicanalistas contemporâneos defendem a ideia de que se deve ser feliz dentro do possível, no momento certo, buscando suas possibilidades, tornando a vida num estado mais gratificante e prazeroso de existir e do existir.
Muitos se perguntam por que refletir sobre a finalidade da vida se esta se torna cada vez mais passageira e, estas reflexões ocorrem mais em momentos cruciais do que em momentos prazerosos? Baseado nesse contexto, muitos indagariam de que vale a existência se ela pode se esvair a qualquer momento, inclusive em plena evolução?
É aí, então, que reside o outro lado da questão, onde a brevidade da vida é, como se apresenta, antes pelo contrário, um bom motivo para analisar a maneira como passamos nosso precioso tempo e nos objetivos, sonhos e buscas que, para nós, são valiosíssimos.
Na verdade, sabemos ser o tempo inexorável assim como é ininterrupto seu percurso e seu avançar, sem recuar. Então, qual seria a pergunta mais lógica, o tempo passa sem parar ou o tempo leva tudo consigo ou as duas perguntas associadas?
No meio disso tudo, acha-se a transitoriedade dos fatos e das passagens da vida e, portanto, devemos fazer nossa vida valer a pena através de bons sonhos realizados e boas causas defendidas em prol de si mesmo e do próximo. Alguém tem sugestão ou experiência melhor?
* Professor do Centro de Biociência da UFRN (Juarez@cb.ufrn.br)