(publicado no O Jornal de Hoje)
*Juarez Chagas
Hoje é 1º de Abril, dia da mentira, ou April Fool’s Day (Dia dos tolos, melhor traduzindo), como queiram os americanos, um dos povos que mais cultuam datas comemorativas, não necessariamente, oficiais, mas já enraizadas na cultura popular, como Valentine’s Day (Dia dos Namorados), Holloween (Dia das Bruxas), entre outras.
A história do Dia da Mentira tem origem incerta, mas uma coisa ninguém pode duvidar: deve ter sido inventada por um grande espertalhão e gozador ou, por sua vez, inspirado no tipo.
Uma das versões para a explicação da origem do dia da mentira (entenda-se bem: uma das versões para a origem e não a data da origem, pois a mentira, assim como a verdade, é tão antiga quanto o homem) remonta o período romano, onde contam que durante o reinado de Constatino, quando um grupo de palhaços e bobos da corte disse, em sua irreverência, ao imperador romano que eles poderiam conduzir o império melhor do que o próprio imperador. Constantino, num flash de gracejo e desafio, permitiu a um dos tolos que fosse rei por um dia e, uma vez no poder, o tolo decretou o dia do absurdo, onde mentir era permitido! Bem...não é preciso dizer que o reinado do bobo foi apenas um dia, mas o da mentira durou ad eternum! Acho que depois dessa versão, as outras ficariam prejudicadas se fossem contadas...
Trazendo a questão para o âmbito do comportamento humano como um fator social, cujas conseqüências são, por vezes, desastrosas, comprometedoras e até criminosas, a mentira tornou-se, através dos tempos, um dos mais graves problemas sócio-comportamentais do ser humano. E, nesse sentido, cabe a pergunta do estudo de David Livingstone Smith, Psicólogo e antropologista cognitivo, a qual é título do seu livro sobre o tema: Por que mentimos e por que somos tão bons nisso? Ele mesmo responde, sinteticamente: porque funciona.
Livingstone nos lembra que o ato de mentir permeia a vida humana e é uma habilidade que brota das profundezas de nosso ser, e nós a usamos sem cerimônia e, pior ainda, muita gente não pode viver sem. É interessante também a idéia secular de Mark Twain, que diz o seguinte: "Todos mentem... todo dia, toda hora, acordado, dormindo, em sonhos, nos momentos de alegria, nos momentos de tristeza. Ainda que a boca permaneça calada, as mãos, os pés, os olhos, a atitude transmitem falsidade". Na verdade, Twain era convicto de que enganar é fundamental para a condição humana e por isso, muitas vezes a mentira permeava seus romances. Hoje, estudos e pesquisas científicas, constatam que o sábio escritor continua certo.
A mentira, especialmente a que causa danos, muitas vezes irreparáveis, tanto para o mentiroso quanto para, pior ainda, quem nele acredita, pode ser compulsiva e patológica. Analogamente, poderíamos comparar com a megalomania (mania de grandeza), o que já é, além de uma patologia, um tipo de mentira. Pois tem gente que quanto mais mente, mais na sua própria mentira acredita, não importando as consequências. Não é incomum pessoas procurarem ajuda psicológica por causas de problemas que, à primeira vista, nada têm a ver com a mentira, mas que na verdade foram causadas por ela.
Nesses casos o psicoterapeuta procura ter, além da ética, o bom senso, na relação com seus pacientes, sempre apresentando uma intervenção não-punitiva, ou seja, ouvir e não julgar, ouvir e não criticar, ouvir e não punir. Essa atitude, além de profissional e acolhedora (de modo algum conivente), torna possível uma relação aberta e verdadeira, podendo o tratamento ter êxito e sucesso, em virtude da correção pela verdade. Ou seja, vale aí a velha máxima: a cura está na causa e não na sintomatologia. E isso é uma verdade!
A propósito, o homem parece designado, resignado e destinado a viver sempre entre as dualidades da vida, tais quais o bem e o mal, o belo e o feio, o positivo e o negativo, o triste e o feliz, a verdade e a mentira...e, a propósito, escolhi uma das inúmeras frases sobre a mentira que, diga-se de passagem, até que ela seja descoberta, quase aniquila a verdade, parecendo ser a própria, muita vezes tornando um amigo em inimigo. Vejamos, pois o que Adlai Stevenson disse, inteligentemente: "Se meus inimigos pararem de dizer mentiras a meu respeito, eu paro de dizer verdades a respeito deles." A frase sucinta que a inveja é também uma grande mentora da mentira.
É vasta a literatura sobre a mentira e mais vasta ainda a própria mentira. Eu, particularmente, duvido, mesmo sabendo ser no sentido de brincadeira ou descontração, se foi bom a “instituição” do dia da mentira, pois para muita gente todo dia é 1º de Abril. E, considerando a real tradução da palavra “fool” ( tolo, bobo), April Fool’s Day não seria o dia da mentira e sim o dia do tolo, enaltecendo mais ainda que a mentira vence por sempre haver um tolo que nela acredita.
* Professor do Centro de Biociências da UFRN(juarez@cb.ufrn.br)
*Juarez Chagas
Hoje é 1º de Abril, dia da mentira, ou April Fool’s Day (Dia dos tolos, melhor traduzindo), como queiram os americanos, um dos povos que mais cultuam datas comemorativas, não necessariamente, oficiais, mas já enraizadas na cultura popular, como Valentine’s Day (Dia dos Namorados), Holloween (Dia das Bruxas), entre outras.
A história do Dia da Mentira tem origem incerta, mas uma coisa ninguém pode duvidar: deve ter sido inventada por um grande espertalhão e gozador ou, por sua vez, inspirado no tipo.
Uma das versões para a explicação da origem do dia da mentira (entenda-se bem: uma das versões para a origem e não a data da origem, pois a mentira, assim como a verdade, é tão antiga quanto o homem) remonta o período romano, onde contam que durante o reinado de Constatino, quando um grupo de palhaços e bobos da corte disse, em sua irreverência, ao imperador romano que eles poderiam conduzir o império melhor do que o próprio imperador. Constantino, num flash de gracejo e desafio, permitiu a um dos tolos que fosse rei por um dia e, uma vez no poder, o tolo decretou o dia do absurdo, onde mentir era permitido! Bem...não é preciso dizer que o reinado do bobo foi apenas um dia, mas o da mentira durou ad eternum! Acho que depois dessa versão, as outras ficariam prejudicadas se fossem contadas...
Trazendo a questão para o âmbito do comportamento humano como um fator social, cujas conseqüências são, por vezes, desastrosas, comprometedoras e até criminosas, a mentira tornou-se, através dos tempos, um dos mais graves problemas sócio-comportamentais do ser humano. E, nesse sentido, cabe a pergunta do estudo de David Livingstone Smith, Psicólogo e antropologista cognitivo, a qual é título do seu livro sobre o tema: Por que mentimos e por que somos tão bons nisso? Ele mesmo responde, sinteticamente: porque funciona.
Livingstone nos lembra que o ato de mentir permeia a vida humana e é uma habilidade que brota das profundezas de nosso ser, e nós a usamos sem cerimônia e, pior ainda, muita gente não pode viver sem. É interessante também a idéia secular de Mark Twain, que diz o seguinte: "Todos mentem... todo dia, toda hora, acordado, dormindo, em sonhos, nos momentos de alegria, nos momentos de tristeza. Ainda que a boca permaneça calada, as mãos, os pés, os olhos, a atitude transmitem falsidade". Na verdade, Twain era convicto de que enganar é fundamental para a condição humana e por isso, muitas vezes a mentira permeava seus romances. Hoje, estudos e pesquisas científicas, constatam que o sábio escritor continua certo.
A mentira, especialmente a que causa danos, muitas vezes irreparáveis, tanto para o mentiroso quanto para, pior ainda, quem nele acredita, pode ser compulsiva e patológica. Analogamente, poderíamos comparar com a megalomania (mania de grandeza), o que já é, além de uma patologia, um tipo de mentira. Pois tem gente que quanto mais mente, mais na sua própria mentira acredita, não importando as consequências. Não é incomum pessoas procurarem ajuda psicológica por causas de problemas que, à primeira vista, nada têm a ver com a mentira, mas que na verdade foram causadas por ela.
Nesses casos o psicoterapeuta procura ter, além da ética, o bom senso, na relação com seus pacientes, sempre apresentando uma intervenção não-punitiva, ou seja, ouvir e não julgar, ouvir e não criticar, ouvir e não punir. Essa atitude, além de profissional e acolhedora (de modo algum conivente), torna possível uma relação aberta e verdadeira, podendo o tratamento ter êxito e sucesso, em virtude da correção pela verdade. Ou seja, vale aí a velha máxima: a cura está na causa e não na sintomatologia. E isso é uma verdade!
A propósito, o homem parece designado, resignado e destinado a viver sempre entre as dualidades da vida, tais quais o bem e o mal, o belo e o feio, o positivo e o negativo, o triste e o feliz, a verdade e a mentira...e, a propósito, escolhi uma das inúmeras frases sobre a mentira que, diga-se de passagem, até que ela seja descoberta, quase aniquila a verdade, parecendo ser a própria, muita vezes tornando um amigo em inimigo. Vejamos, pois o que Adlai Stevenson disse, inteligentemente: "Se meus inimigos pararem de dizer mentiras a meu respeito, eu paro de dizer verdades a respeito deles." A frase sucinta que a inveja é também uma grande mentora da mentira.
É vasta a literatura sobre a mentira e mais vasta ainda a própria mentira. Eu, particularmente, duvido, mesmo sabendo ser no sentido de brincadeira ou descontração, se foi bom a “instituição” do dia da mentira, pois para muita gente todo dia é 1º de Abril. E, considerando a real tradução da palavra “fool” ( tolo, bobo), April Fool’s Day não seria o dia da mentira e sim o dia do tolo, enaltecendo mais ainda que a mentira vence por sempre haver um tolo que nela acredita.
* Professor do Centro de Biociências da UFRN(juarez@cb.ufrn.br)