(Publicado no O Jornal de Hoje)
* Juarez Chagas
Começou ontem, 13/01/2009 (infelizmente), a 9ª versão do BBB (Big Brother Brasil), um dos maiores (senão o maior) engodo televisivo dos últimos tempos, eu diria. Não falo aqui gratuita e simplesmente como alguém que não gosta do programa pelo simples fato de não gostar, ou por outro lado como alguém que conspira contra este mega “empreendimento” que alicia, e, por incrível que pareça, se estabelece cada vez mais como um programa televiso moderno, porém vendendo a imagem duma falsa “esperança” de sucesso, fama e riqueza fáceis, mas por trás duma atroz ganância de mídia, onde o ser humano é um simples animal de laboratório, cujo comportamento passa a ser teleguiado para atender a resultados que, resumindo, iriam contra o bom senso e a ética sobre o ser humano, pois instiga a inveja, falsidade e egoísmo, sob a propaganda do entretenimento escolhido pelo povo.
Os próprios organizadores fazem declarações estonteantes sobre o programa que, inegavelmente é de grande audiência e sucesso (pois tem mais que público para isso), infelizmente, submete o público que acompanha a se tornar cada vez mais parceiro desse projeto que, no fundo, submete os participantes a uma ilusão “possível” do preço da fama e do dinheiro, a desnudarem seu próprio self negativamente ou aceitarem ser o que não gostariam de ser, em suas condições normais de vida do dia-a-dia.
Pra se ter uma idéia da dimensão do programa, só a seleção desta 9ª versão contou com 160 mil inscritos. O absurdo começa no processo de seleção dos candidatos ao “confinamento estilizado”, amplamente divulgado meses antes de várias formas e estilos, como se “sugerisse” que seus participantes selecionados entrarão no “paraíso”, almejado por muitos e conquistado por poucos. Aos selecionados e selecionadas, providenciam uma recepção digna de fama, glamour e estrelismo, muitas vezes superiores aos proporcionados às verdadeiras celebridades da sétima arte, que chegam à sede do BBB em carros estilizados, com a imprensa fazendo alarde e dando total cobertura, assistida por cordões de pessoas recepcionando-os, como em estado de uma “comoção fabricada”. Uma estrutura digna dos mais importantes eventos da modernidade é cuidadosamente montada e aparelhada, no sentido de se colher todos os objetivos previamente traçados, quais sejam, divulgar e “vender” a mediocridade, infantilidade, desespero pela fama, subserviência e dignidade humana, sob a idéia de provar até onde pode ir o comportamento humano quando se trata de sucesso fácil.
Na verdade, confinam pessoas numa casa onde a privacidade é quase que totalmente invadida por centenas de câmeras. Boninho, o diretor do programa, diz abertamente que “o BBB não é um estudo científico sobre relacionamento humano, não é um estudo antropológico, não é telecurso. O BBB é um jogo, um programa feito para entreter, para despertar ódio e amores”. Sem comentários...
Agora analisemos o absurdo associado, ou seja, dos organizadores e do povo que acolhe este projeto. Você sabia que em apenas uma noite, quase trinta milhões de pessoas votam para indicar um dos candidatos ao paredão? Estes são dados fornecidos pelos próprios organizadores. Multiplique isso vezes RS 0,30 (ou outro valor atual) e teremos cifras em milhões. É óbvio que o contrato da Globo com a telefonia garante o prêmio do vencedor (isso sem falar nos demais patrocinadores (cujos produtos vez ou outra aparecem “discretamente” na tela) e ainda sobra muito dinheiro para seus cofres, tornando mais pobre as classes menos cultas e favorecidas que são, diga-se de passagem, as que mais votam. Tudo isso a troco de que? Que tipo de formação este programa contribui, ditando comportamentos, linguajar e manias nada pertinentes que muitos candidatos passam para o telespectador? Já podemos admitir que há até uma “geração BBB”, a qual dependendo de quantas versões ainda virão, estarão completando 10, 11, 12...anos, muito em breve, provavelmente querendo também participar deste “grande desafio”.
Confesso que o que ainda me fez reportar a esse assunto publicamente, mais uma vez, foi eu ter ficado surpreso com a repercussão de um artigo meu, ano passado num site (internacional) para escritores (http://pt.shvoong.com/humanities/1745709-montanha dos sete abutres), onde faço uma analogia de um antigo filme com este reality show. Pela quantidade de emails e comentários que recebi (o artigo ainda está online) , ficou muito claro que muita gente também acha que esse programa é mais tendencioso do que se possa imaginar. E além do mais, a casa mais famosa do Brasil, como gosta de apregoar os dirigentes do BBB, não é uma Casa da Moeda ou uma Casa de Rui Barbosa, nem a Biblioteca Nacional, nem uma ong para cuidar de velhinhos, nem nada semelhante...
* Professor do Centro de Biociência da UFRN(Juarez@cb.ufrn.br)
Os próprios organizadores fazem declarações estonteantes sobre o programa que, inegavelmente é de grande audiência e sucesso (pois tem mais que público para isso), infelizmente, submete o público que acompanha a se tornar cada vez mais parceiro desse projeto que, no fundo, submete os participantes a uma ilusão “possível” do preço da fama e do dinheiro, a desnudarem seu próprio self negativamente ou aceitarem ser o que não gostariam de ser, em suas condições normais de vida do dia-a-dia.
Pra se ter uma idéia da dimensão do programa, só a seleção desta 9ª versão contou com 160 mil inscritos. O absurdo começa no processo de seleção dos candidatos ao “confinamento estilizado”, amplamente divulgado meses antes de várias formas e estilos, como se “sugerisse” que seus participantes selecionados entrarão no “paraíso”, almejado por muitos e conquistado por poucos. Aos selecionados e selecionadas, providenciam uma recepção digna de fama, glamour e estrelismo, muitas vezes superiores aos proporcionados às verdadeiras celebridades da sétima arte, que chegam à sede do BBB em carros estilizados, com a imprensa fazendo alarde e dando total cobertura, assistida por cordões de pessoas recepcionando-os, como em estado de uma “comoção fabricada”. Uma estrutura digna dos mais importantes eventos da modernidade é cuidadosamente montada e aparelhada, no sentido de se colher todos os objetivos previamente traçados, quais sejam, divulgar e “vender” a mediocridade, infantilidade, desespero pela fama, subserviência e dignidade humana, sob a idéia de provar até onde pode ir o comportamento humano quando se trata de sucesso fácil.
Na verdade, confinam pessoas numa casa onde a privacidade é quase que totalmente invadida por centenas de câmeras. Boninho, o diretor do programa, diz abertamente que “o BBB não é um estudo científico sobre relacionamento humano, não é um estudo antropológico, não é telecurso. O BBB é um jogo, um programa feito para entreter, para despertar ódio e amores”. Sem comentários...
Agora analisemos o absurdo associado, ou seja, dos organizadores e do povo que acolhe este projeto. Você sabia que em apenas uma noite, quase trinta milhões de pessoas votam para indicar um dos candidatos ao paredão? Estes são dados fornecidos pelos próprios organizadores. Multiplique isso vezes RS 0,30 (ou outro valor atual) e teremos cifras em milhões. É óbvio que o contrato da Globo com a telefonia garante o prêmio do vencedor (isso sem falar nos demais patrocinadores (cujos produtos vez ou outra aparecem “discretamente” na tela) e ainda sobra muito dinheiro para seus cofres, tornando mais pobre as classes menos cultas e favorecidas que são, diga-se de passagem, as que mais votam. Tudo isso a troco de que? Que tipo de formação este programa contribui, ditando comportamentos, linguajar e manias nada pertinentes que muitos candidatos passam para o telespectador? Já podemos admitir que há até uma “geração BBB”, a qual dependendo de quantas versões ainda virão, estarão completando 10, 11, 12...anos, muito em breve, provavelmente querendo também participar deste “grande desafio”.
Confesso que o que ainda me fez reportar a esse assunto publicamente, mais uma vez, foi eu ter ficado surpreso com a repercussão de um artigo meu, ano passado num site (internacional) para escritores (http://pt.shvoong.com/humanities/1745709-montanha dos sete abutres), onde faço uma analogia de um antigo filme com este reality show. Pela quantidade de emails e comentários que recebi (o artigo ainda está online) , ficou muito claro que muita gente também acha que esse programa é mais tendencioso do que se possa imaginar. E além do mais, a casa mais famosa do Brasil, como gosta de apregoar os dirigentes do BBB, não é uma Casa da Moeda ou uma Casa de Rui Barbosa, nem a Biblioteca Nacional, nem uma ong para cuidar de velhinhos, nem nada semelhante...
* Professor do Centro de Biociência da UFRN(Juarez@cb.ufrn.br)