Eros e Thanatos
(Publicado no Jornal de Hoje)
*Juarez Chagas
Eram tantos os deuses mitológicos existentes na mitologia clássica que muitos deles permanecem no imaginário das pessoas, mesmo daquelas que nunca demonstraram tanto interesse pelos mitos que povoam a imaginação do ser humano.
Assim sendo, os mitos ganharam “personalidade” e, passaram a representar histórias baseadas em tradições e lendas com o objetivo de explicar o universo, a criação do mundo, fenômenos naturais e ocultos, para que se justifique difíceis explicações. Normalmente, o termo Mitologia (estudo dos mitos) acha-se associado às descrições de religiões fundadas por antigas sociedades como mitologia romana, mitologia grega, mitologia egípcia e mitologia nórdica, sendo que pode haver associações destas, entre si.
Dizem até que, pela necessidade que o ser humano tem de contar a história de seus conflitos subconscientes, inventou a mitologia para arranjar explicações convincentes do que nunca conseguiu explicar devidamente, pois os mitos fazem parte de nossa história e da busca da verdade.
Estudos antropológicos atestam que a mitologia é parte de nós mesmos assim como é o código genético. Por essa razão conhecer mitologia é penetrar no universo da psique humana e descobrir os principais motivos de nossa espécie e a razão de sermos como somos ou de não sermos como poderíamos de ser.
Daí terem surgidos os deuses mitológicos que não buscavam semelhança ao único Deus Onipotente, porém apenas formas de explicar, talvez, o inexplicável. E, dentre esses deuses mitológicos, encontramos Eros, o deus grego do amor e Thanatos, o senhor da morte. Sobre esse ultimo, alguns povos gregos representavam, morfologicamente, como sendo um velho de barbas longas cruel e sem misericórdia.
Enquanto Thanatos alimentava forcas e instintos destrutivos, por outro lado, Eros representava as forcas e os instintos da vida e do amor, resultando desse jogo um antagonismo permanente, mas que se complementavam ao mesmo tempo. Isso, certamente, gerou um conflito existencial muito grande.
Já ouvimos varias vezes que Eros e Tanathos regem as pulsões deste mundo e que a grande dificuldade em demarcar ambos é mais ou menos a mesma com a qual nos deparamos ao se tentar separar a razão da poesia, ou também a razão da emoção. Freud, ao estabelecer sua razão dialética, mesmo encontrando dificuldades, soube captar que na historia tanto quanto no indivíduo, razão e “razão” se acham juntas, embora exista uma linha de demarcação entre ambos, a mesma por vezes é totalmente imperceptível. O que verdade, mesmo sendo doloroso admitir, é que Eros e Tanathos se constituíram nas únicas verdades de fato eternas em nosso universo e vida, de certa forma, efêmera, muito embora se diga que o amor é eterno e que transcende a morte.
A compreensão de que não existe vida sem amor, fez com que o ser humano buscasse incessante e permanentemente esse amor que, muitas vezes é posto acima de sua própria vida. E, a partir daí, acontece uma busca incessante ela felicidade na tentativa de encontrar esse amor, custe o que custar. Então, no meio de tudo isso, surge Tanathos, gerando um conflito da não realização plena.
Hoje em dia admitimos que a importância mitológica e sua influência no pensamento e personalidade humana e tamanha, que o próprio Freud utilizou-se desse conhecimento para ampliar seus estudos sobre a teoria da psicanálise, a qual também considera a questão da morte, onde analisa Tanathos como o contraponto da vida e Eros, em sua formação binária, o que impulsiona o ser humano na sua trajetória existencial. No entanto, culturalmente tem ficado claro ao longo do temo que, o amor (Eros) é a vida e de onde ela surge e emana, enquanto a morte (Tanathos), o seu fim. Como resultado, herdamos um eterno dilema existencial humano.
*Professor do Centro de Biociências da UFRN (juarez@cb.ufrn.br)