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28 de set. de 2008

LIKE A ROLLING STONE

COMO UMA PEDRA QUE ROLA
*Juarez Chagas

Uma mulher jovem e rica cuja família é do high society dominante, nessa conturbada sociedade contemporânea, onde a classe alta sempre imperou e mandou no pedaço, deixando ao submundo apenas a admiração e a miséria como sobrevivência, não é apenas acostumada aos prazeres da vida, com seus carros de luxo, suas roupas ricas e melhor universidade, ela é o próprio prazer de ser o que é e como é. Ela é a representação do próprio high society, da qual os simples mortais jamais farão parte.

Mas, mesmo assim, esnobe ela dá esmola aos vagabundos e costuma rir de quem tá na pior, e sequer é capaz de apreciar a arte dos palhaços e ilusionistas, mas ao invés disso se diverte se eles caem no ridículo. Além de tudo isso, quando cansada dessa vida fácil, sente-se como uma princesa em ostentar sua beleza, dinheiro, ouro e diamantes enquanto seus convidados bebem, conversam, comem e riem de tudo e do nada. Então, ela resolve dar um passeio em seu cavalo cromado em companhia de um astuto diplomata que, como charme, carrega no ombro um gato siamês, mas que de repente lhe rouba tudo que tem...e aí, a história vira exatamente o lado oposto, constatando as ironias da vida, as quais podem vitimar qualquer um(a)...

Esta foi minha primeira visão sinóptica pessoal que tive, ainda adolescente, já no final dos anos 60 e início dos anos 70, sobre Like a Rolling Stone, uma das músicas mais contestadoras e revolucionárias de nossos tempos, que à primeira vista mais parece uma divisão de classes sociais e, o castigo e decadência da própria classe burguesa e high society aqui representada na pele de uma jovem e bela mulher, escrita e cantada pelo inigualável Bob Dylan. Por vezes, eu ensinava a letra e música dessa canção nas turmas avançadas de Inglês na SCBEU (Sociedade Cultural Brasil Estados–Unidos), onde a maioria dos alunos era da high society de Natal. Todos se rendiam ao poder dessa música que é, na verdade, é uma crítica aos padrões sociais da modernidade, escrita e cantada por um rebelde musical (se é que poderia assim dizer) que se tornou ícone do pop músic em todo o mundo.

Mas, foi justamente com essa idéia na cabeça que, inicialmente, Dylan escreveu uma pequena história de vinte páginas, que seria mais tarde Like a Rolling Stone, gravada em Julho de 1965, em vinil de 45 rpm, originalmente com 6 minutos de duração. Sucesso incontestável até hoje.

No artigo anterior, vimos como surgiu Bob Dylan no cenário musical norte-americano e de lá para o mundo! Hoje ele é uma lenda viva, tendo estado no Brasil por três vezes: 1988, 1990 e 2008. Na segunda vez, veio especialmente abrir Show dos Rolling Stones, que regravaram Like a Rolling Stone em sua homenagem, assim como também enaltecendo próprio nome da banda. Muitas bandas e cantores entoaram esta canção tendo sido um dos mais importantes roqueiros, antes dos Rolling Stones, Jimmy Hendrix, com seu próprio estilo. Nesse caso, não se sabe até hoje quem saiu ganhando mais se a própria canção na voz e guitarra de Hendrix ou se Hendrix com a canção em um de seus repertórios. Eu diria que ambos

Agora veja porque Like a Rolling Stone é única e inconfundível, acompanhando algumas de suas estrofes, onde a mensagem da música é tão clara quanto a luz do sol:

Once upon a time you dressed so fine
You threw the bums a dime in your prime, didn't you?
People'd call, say,"Beware doll, you're bound to fall"
But You thought they were all kiddin' you
You used to laugh about everybody that was hangin' out
And now you don't talk so loud
Now you don't seem so proud
About having to be scrounging for your next meal.

How does it feel
How does it feel
To be without a home
Like a complete unknown
Like a rolling stone?

You've gone to the finest schools all right, Miss Lonely
But you know you only used to get juiced in it
And nobody has ever taught you how to live on the street
And now you find out you're gonna have to get used to it
You said you'd never compromiseWith the mystery tramp,
But now you realize
He's not selling any alibis
As you stare into the vacuum of his eyes
And ask him do you want to make a deal?

How does it feel
How does it feel
To be on your own
With no direction home
Like a complete unknownLike a rolling stone?

You never turned around to see the frowns
on the jugglers and the clowns
When they all come down and did tricks for you
You never understood that it ain't no good
You shouldn't let other peopleget your kicks for you
You used to ride on the chrome horse with your diplomat
Who carried on his shoulder a Siamese cat
Ain't it hard when you discover that
He really wasn't where it's at
After he took from you everything he could steal.

How does it feel
How does it feel
To be on your own
With no direction home
Like a complete unknown
Like a rolling stone?

Princess on the steeple and all the pretty people
They're drinkin', thinkin' that they got it made
Exchanging all kinds of precious gifts and things
But you'd better lift your diamond ring,you'd better pawn it, babe
You used to be so amused
That Napoleon in rags and the language that he used
Go to him now, he calls you, you can't refuse
When you got nothing, you got nothing to lose
You're invisible now, you got no secrets to conceal.

How does it feel
How does it feel
To be on your own
With no direction home
Like a complete unknown
Like a rolling stone?

(Tradução)
Houve uma época que você se vestia tão bem
No seu auge você jogava moedas para os vagabundos, não era?
As pessoas te chamava e diziam,"Tome cuidado garota, você vai cair"
Você achava que elas estavam todas brincando com você
Você costumava rir deTodo mundo que estava na pior
Agora você não fala tão alto
Agora você não parece tão arrogante
Quanto a ter que medingar a comida do dia seguinte

Como você se sente
Como você se sente
Não ter um lar ?
Como uma completa desconhecida
Como uma pedra rolante ?

Você freqüentava as melhores faculdades, tudo bem, Srta. Solitária
Mas você sabe que só costumava ser uma farsa entre eles
E ninguém jamais te ensinou como viver na rua
E agora você descobre que vai ter de se acostumar a isso
Você disse que nunca se comprometeria
Com a “coisas de vagabudo”, mas agora você percebe que
Ele não está negociando nenhuma pretexto
Enquanto você olha dentro do vazio de seus olhos
E pergunta-lhe: "você quer fazer um acordo ?"

Como você se sente ?
Qual a sensação
De estar por sua própria conta
Sem nenhum rumo para casa ?
Como uma completa desconhecida
Como uma pedra rolante ?
Você nunca se voltou para ser os olhares carrancudos
Nos malabaristas e palhaços
Quando eles todos se humilhavam e faziam truques para você
Você nunca compreendeu que isso é inútil
Você não devia permitir que outras pessoas levassem chutes no seu lugar
Você costumava andar no cavalo cromado com seu diplomata
Que carregava em seus ombros um gato siamês
Não é duro quando você descobre que
Ele realmente não estava onde está
Após ele tirar de você tudo que podia roubar ?

Como você se sente ?
Qual a sensação
De estar por sua própria conta
Sem nenhum rumo para casa ?
Como uma completa desconhecida
Como uma pedra rolante ?

Princesa na torre e todas as lindas pessoas
Estão bebendo, pensando que já têm a vida ganha
Trocando todos os tipos de presentes e coisas valiosas
Mas seria melhor que você levantasse seu anel de diamante
Seria melhor você penhorá-lo, babe
Você costumava ficar tão entretida
Com aquele Napoleão vestido em trampos e a linguagem que ele usava
Vá para ele agora, ele te chama, você não pode recusar
Quando você não tem nada, você não tem nada a perder
Você está invisível agora, você não tem segredos para esconder.

Como você se sente ?
Qual a sensação
De estar por sua própria conta
Sem nenhum rumo para casa ?
Como uma completa desconhecida
Como uma pedra rolante ?

(Por causa de alguns sentidos figurados de algumas traduções desta música, resolvi usar minha própria traduçao, para manter a autenticidade da mesma que usava nas aulas de Inglês, para algumas turmas avançada)
Mas, vale salientar que, além de uma contundente crítica à “alta sociedade”, a letra da música também fala de ilusão, perdas, decepções, verdades e do reverso da moeda. Afinal, todo ser humano tem suas pedras ao longo do caminho e, o importante é não ficar no chão, após algum tropêço ou simplesmente ficar like a rolling stone.

* Professor do Centro de Biociências da UFRN(Juarez@cb.ufrn.br)

25 de set. de 2008

BLOWING IN THE WIND

Soprando com o Vento
(Publicado parcialmente no O Jornal de Hoje)
*Juarez Chagas

A América do Norte dos Anos 50 e 60 vivia os resultados de revoluções sociais importantes plantadas há duas décadas anteriores e, acima de tudo conseqüências das duas últimas guerras mundiais, 1ª e 2ª, evidentemente.

Mesmo tendo se estabelecido como o “país mais poderoso do mundo”, o Estados Unidos viviam suas próprias conseqüências pós-guerra, onde com mão de ferro nortearam seu “stablismentarianism” que mantiveram sob controle questões sociais importantes, tais quais censura pesada sobre comportamento jovem, guerra contra o terrorismo, racismo a olho nu (nessa época apenas alguns atores negros como Sammy Davis Jr., Sidney Pottier, Harry Belafonte e alguns outros poucos desempenharam papéis importantes no cinema) e, por incrível que pareça, até a ortografia das escolas secundárias, entre os finais dos anos 40 até 60, foi “estabelecidas” e orientada como um padrão formal. Quem tiver cartas de amigos e amigas dessa época é só constatar que apenas a assinatura muda, mas a caligrafia parece igual, quase como uma fôrma de escrever.

Mas, evidentemente que as revoluções haveria de vir, como conseqüência e a revolução musical fervia como chaleira quente, querendo explodir. E Ninguém conseguiu conter o Rock ‘n Roll que, mais do que propriamente e somente música, veio para contestar os costumes sociais da época fazendo da repressão uma nova bandeira para novos tempos e, sobretudo, assumindo um estilo único no meio social, com sua batida e ritmo inconfundíveis. E, o resto da história, todo nós sabemos...calça Lee, blue jeans, rebeldes sem causas “and all that...” (e toda aquela coisa...), como diriam os próprios americanos. E, evidentemente que da América para o mundo, inclusive o Brasil, onde as coisas aconteciam sempre uma década depois, aproximadamente...

Mas, no meio dessa revolução inevitável, surgia então um garoto chamado Robert Allen Zimmerman, nascido em Minessota, durante a 1ª Guerra Mundial e que aprendeu a cantar e tocar piano e guitarra sozinho, logo sendo conhecido apenas como Bob Dylan, o qual seria associado à essa revolução por seus poemas e letras musicais contundentemente contra o sistema .

Bob Dylan, começou cantando em grupos de rock, imitando (assumidamente) Little Richard e Buddy Holly. Porém, seu verdadeiro ritmo é uma mistura de literatura e folk, country, balada, blues e rock, o que torna difícil classificar seu gênero musical, como apenas um, resultando mais num ritmo próprio de Bob Dylan. Daí passou a cantar a noite e a estrada cujo maior sucesso de então, mexeu com toda a América e o mundo do music bussiness, inclusive uma oportuna música que virou hino de contestação social: a “esmagadora” Blowing in the Wind (1962), sendo entoada em manifestações contra a segregação racial, a guerra do Vietnã e, finalmente, como música de uma balada única (Dylan na foto com Joan Baez)

Falar de Dylan é muito fácil, muito embora ele seja um cara complicado, independentemente de seu imenso valor musical praticamente emblemático. Porém, mais interessante ainda é falar sobre sua obra, a qual acaba traduzindo muito de si. Se alguém que ainda não o conhece bem e quiser saber de sua obra, sugiro que comece por seus principais clássicos como "Blowin' in The Wind", "Mr. Tambourine Man", "Like a Rolling Stone", "All Along The Watchtower", "Lay Lady Lay" e "Knocking on Heaven's Door".

É interessante dizer também que Dylan foi um dos cantores que influenciou diretamente os Beatles a ponto de quando Lennon foi assassinado, seu nome foi o mais cotado pelos fãs de todo o mundo e algumas gravadoras para algumas apresentações com os outros três Beatles ainda vivos. Dylan desconversava sobre a hipótese, apesar de ter participado do show beneficente Concert for Bangladesh, em 1971, onde entre outros músicos famosos, Ringo star também se apresentou,além do próprio Harrison, claro.

Vejamos então porque Blowing in the Wind tornou-se tão famosa e importante, não somente no meio musical, mas na sociedade de um modo geral, analisando a essência e o conteúdo da letra e cançao:

How many roads must a man walk down (qtos caminhos deve um homem caminhar)
Before you call him a man? (Até que o chamem de homem?)
How many seas must a white dove sail (Qtos mares uma gaivota branca deve atravessar)
Before she sleeps in the sand? (Até que possa dormer na areia?)
Yes and how many times must cannonballs fly (Sim, e qtas vezes devem balas de canhao detonar)
Before they're forever banned? (Até que elas sejam proibidas?)
The answer, my friend, is blowin' in the wind (A resposta, meu amigo, está soprando com o vento)
The answer is blowin' in the wind (A resposta está soprando com o vento)
Yes and how many years can a mountain exist (Sim, e qtos anos ponde uma montanha existir)Before it's washed to the sea (Até que ela seja arrastada para o mar)
Yes and how many years can some people exist (Sim, e qtos anos alguns povos podem viver)Before they're allowed to be free? (Até que eles sejam permitidos de serem livres?)
Yes and how many times can a man turn his head (Sim, e qtas vezes um homem pode girar a cabeça)
Pretending that he just doesn't see? (Finfindo que ele nao vê?)
The answer, my friend, is blowin' in the wind (A resposta meu amigo, está soprando com o vento)
The answer is blowin' in the wind (A resposta está soprando com o vento)
Yes and how many times must a man look up (Sim, e qtas vezes um homem deve olhar pra cima)
Before he can see the sky? (Até que ele possa ver o céu?)
Yes and how many ears must one man have (Sim, e qtos ouvidos um homem deve ter)
Before he can hear people cry? (Até que ele possa ouvir o povo chorar?)
Yes and how many deaths will it take (Sim, e qtas mortes acontecerao )
Till he knows that too many people have died? (Até que ele saiba que muita gente tem morrido?)
The answer, my friend, is blowin' in the wind (A resposta, meu amigo, está soprando com o vento)
The answer is blowin' in the wind (A resposta está soprando com o vento)

Na verdade, a música de Dylan não responde apenas os anseios revolucionários de uma sociedade oprimida em época de tempos difíceis, porque seu conteúdo é mais atual do que possamos imaginar e, portanto também, poderia muito bem responder qualquer pergunta difícil como, para onde está andando o destino da humanidade com seus políticos falando a “verdade” somente em época de campanhas? A resposta, meu amigo, está soprando com o vento...The answer is blowing in the Wind.

Nota: A tradução acima foi feita pelo autor que também foi professor de Inglês durante muitos anos na Sociedade Cultural Brasil-Estados Unidos e, por entender que muitas traduções de Blowing in the Wind preocupam-se mais com a questão gramatical e semântica, possibilitando, às vezes, um sentido mais gramaticalmente ortodoxo.

* Professor do Centro de Biociências da UFRN(Juarez@cb.ufrn.br)

20 de set. de 2008

HAJA SACO!

Haja Saco!
(Publicado no O Jornal de Hoje)
*Juarez Chagas
Hoje vou abrir uma exceção nos meus artigos científicos e literários para fazer uma observação de cunho pessoal, evidentemente respeitando o outro lado, mesmo sem concordar com o mesmo. É claro que a exclamação do título do artigo poderia ter sido mais amena, tipo “Haja paciência!”, ou algo assim. Mas, convenhamos, é preciso mais que muita paciência para suportar, aceitar ou conviver com certas coisas, independentemente de nossa vontade.
Vejamos dois exemplos pertinentes: como se não bastassem as campanhas políticas com toda sua maquiagem (não estou me reportando a questões políticas específicas e sim sociais) e o horário político obrigatório, com a quase totalidade de seus candidatos usando e abusando de hipocrisia, mentira, demagogia...como se fossem as mais naturais das coisas, vem aí o tal BBB9, ou seja, a 9ª versão do Big Brother Brasil. Se um desses exemplos já é demais, imaginem os dois associados, pois estaremos vendo ambos simultaneamente, em dose dupla, por esses dias.
No que diz respeito aos candidatos, é impressionante como eles “descobrem” todas as formas e fórmulas de resoluções de problemas pessoais, coletivos, municipais, estaduais e nacionais em épocas de eleições. Parece até uma safra de resoluções pra tudo que é problema. E o pior é que o povo ainda acredita e, muitos não são apenas coniventes ou omissos com essa realidade vendendo apenas seu voto, mas também a consciência e, por outro lado, quem compra, por força da “esperteza” e do hábito doloso, pendura a dívida no cordão do débito com a moral e a justiça para com o próximo e consigo mesmo.
Quanto ao tal BBB9 que infelizmente vem aí, mas que por outro lado, felizmente, mesmo para as pessoas que não gostam, e ainda tenham que aturar outras versões por mais três anos, está previsto que a TV Globo só produzirá o programa até 2011. Só?!
É bom lembrar que no início deste Ano, tivemos a versão anterior do BBB. Isso significa sucesso do programa e aceitação do mesmo pelo povo. Nessa época eu escrevi alguns artigos sobre o assunto no nosso Jornal de Hoje e um outro artigo num site português (http://pt.shvoong.com/humanities/1745709-montanha-dos-sete-abutres/), o qual também se acha no Google sob o título de A Montanha dos Sete Abutres e a Casa da Hipocrisia, onde uma analogia deste filme é feita com o BBB. O artigo está com quase mil visitas e das 5 estrelas, recebeu 4, na avaliação dos leitores, o que significa dizer que, a comparação não só foi bem aceita, mas também embasada segundo comentários dos leitores sobre este programa.
Mas, por falar em aceitação pelo povo sobre seus representantes políticos, programas televisivos e outras questões sociais, isso me faz lembrar o Artigo 1º de nossa Constituição da República Federativa do Brasil, onde em seu Parágrafo Único diz que “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.
Ora, qualquer pessoa poderia concluir que se o poder emana do povo, para o povo e pelo povo, como normalmente em tom convincente e de barganha alardeiam os políticos usando o teor da constituição, por que então o povo não usa o poder para poder? É também factível que querer é poder? Estando as duas respostas corretas e positivas, só resta aceitar que a minoria está errada (no caso em discussão em não aceitar o engôdo político e nem gostar do BBB) e o povo, que é maioria, está certo e, portanto, tem o que merece, de fato e de direito e segundo o seu poder. E, enquanto tudo continua o mesmo sob o sol que brilha, haja saco!

*Professor do Centro de Biociências da UFRN (juarez@cb.ufrn.br)

A MONTANHA DOS SETE ABUTRES E A CASA DA HIPOCRISIA

A Montanha dos Sete Abutres e a Casa da Hipocrisia
(Publicado no O Jornal de Hoje e http://pt.shvoong.com/humanities/)

*Juarez Chagas


Os mais jovens e distantes da área jornalística, certamente nunca ouviram falar na Montanha dos Setes Abutres, um filme dramático, cuja repercussão nos anos 50 e 60, atingiu a mídia em cheio e a fez repensar a ética e a moral da imprensa, inclusive servindo como referência para vários cursos de jornalismo, mundo a fora.


O filme dirigido pelo austríaco Billy Wilder (Ace in the Hole, USA Paramount, 1951) conta a história de Charles Tatum, um jornalista inescrupuloso, magistralmente vivido por Kirk Douglas, o qual após perder vários empregos em grandes jornais, consegue esconder sua mediocridade e má sorte trabalhando num pequeno jornal, no Novo México, para lá enviado por seu editor para cobrir, a contra-gosto, uma caça às cascavéis que se concentraram no pequeno lugarejo. Claro que caçar cobras e lagartos e estampá-las num jornal nunca fora a ambição de Chuck Tatum. Isso era muito pequeno para ele, que se mostrava mais venenoso que as próprias cascavéis, quando se tratava de vencer na vida.

No desenrolar da história, observa-se notoriamente o caráter (não é certo se dizer que alguém não tem caráter ou personalidade, pois na verdade todos têm, sejam estes bons, duvidosos ou ruins) de Tatum, o qual destaca a notícia em detrimento da verdade e valor real dos fatos. Tanto assim é, que o mesmo debocha sarcasticamente de um aviso afixado no quadro da redação onde trabalha, “Diga a verdade!”.

Enquanto isso, entre uma migalha e outra, ele aguarda sua grande oportunidade para o grande “furo” de sua vida (daí o título do filme Ace in the Hole, que significa literalmente “Um Ás na manga”, ou um bom trunfo guardado...).

Finalmente, chega a grande chance de Chuck Tatum quando Leo Minosa, um homem simplório dono de um posto de gasolina, fica preso na caverna da "montanha dos sete abutres" , que servira de tumba a antepassados indígenas. A partir desse momento, Tatum arma um verdadeiro “circo” em torno do fato para ganhar notoriedade e, talvez até um prêmio jornalístico. Convence, chantage­ia autoridades locais e retarda em uma semana um resgate que poderia ser feito em poucas horas. Pior ainda, consegue manipular e controlar a inescrupulosa mulher de Leo (Ian Sterling), convencendo-a a não abandonar o marido soterrado e também, induzindo até o ambicioso xerife local, o qual estava somente preocupado com sua reeleição. Na verdade, foi criada uma trama de interesses, “comprada” pela opinião pública, que logo se manifesta em torno do acontecimento, tornando-se o contra-ponto da história.
Mesmo ainda numa época remota, comparando-se com o que temos hoje em termos de comunicação, A Montanha dos Sete Abutres é um excelente exemplo de como o público é levado a reagir frente a situações de extrema comoção ou sensacionalismo, especialmente quando veiculadas à exaustão pela mídia. No filme, à medida que o fato ganha importância, mais as pessoas se aglomeram ao redor da montanha, aguardando o desfecho final. A população elege Leo Minosa seu amigo preferido, apesar de o conhecerem apenas por uma foto publicada no jornal. O marketing e o comércio, também se fazem presentes, pois até um parque de diversões é instalado ao redor da montanha. O drama humano junto às circunstâncias reais ou inventadas pelo repórter para a trama e a abordagem sensacionalista embebedam o público, fazendo-o participar do fato, de fato, muitas vezes até coniventemente.
Na verdade, lembrei-me desse filme (e agora vem a segunda parte do título do artigo, a casa da hipocrisia) por ocasião da divulgação do BBB9, nos jornais e televisão, pois se formos fazer uma grosseira analogia entre ambos, vamos encontrar muitas semelhanças, principalmente no que diz respeito a escrúpulos (melhor dizendo, falta de), manipulação e especulação da mídia, usando pessoas sob a hipocrisia (porém real e fabricado) de um gordo prêmio, pago totalmente pela população consumista que se deixa levar por ilusões, mentiras e intrigas, maldosamente “fabricadas” com intuito de ibope, ganância e outras questões que só denigrem a essência humana.

É claro que no caso do filme, o premiado seria apenas o jornalista e, no máximo, a mulher da vítima e o xerife local. No caso do BBB, os finalistas, os promotores e a mídia, indiscutivelmente. Isso sem considerar os “estragos”causados às Natureza e Condição Humanas sob um confinamento velado (em sua mais “famosa” casa, como dizem os organizadores), para se arrancar comportamentos atípicos ou simplesmente para mostrar do que o ser humano é capaz, mesmo sob a condição de animais de laboratório.

Analisem a frase do diretor do programa Boninho disse ao lançar o BBB8, publicado num jornal da época, quando perguntado: “O que vocês farão nesta nova edição, para inovar um programa que já está no ar há oito anos?”. Vejam a resposta: “Tudo que for possível, não existe limites ou regras que devemos seguir”.
Isso só acontece porque tem público e grande e vale salientar que é este mesmo público quem patrocina (cada ligação que custa menos de 0,50 centavos e que muita gente deixa de comprar um pão para votar e que no total rende mais do que colaborações para o Criança Esperança, enchem os cofres dos patrocinadores e da tv responsável pelo programa) este “ilusório espetáculo”, onde as regras estimulam incentivar as “qualidades duvidosas e habilidosas” de seus participantes que devem “eliminar” seus concorrentes de qualquer jeito num “jogo de atitudes” que em nada acrescenta à índole do ser humano. Realmente, o povo tem o que merece!

* Professor do Centro de Biociência da UFRN(Juarez@cb.ufrn.br)

14 de set. de 2008

EROS E THANATOS


Eros e Thanatos
(Publicado no Jornal de Hoje)

*Juarez Chagas

Eram tantos os deuses mitológicos existentes na mitologia clássica que muitos deles permanecem no imaginário das pessoas, mesmo daquelas que nunca demonstraram tanto interesse pelos mitos que povoam a imaginação do ser humano.

Assim sendo, os mitos ganharam “personalidade” e, passaram a representar histórias baseadas em tradições e lendas com o objetivo de explicar o universo, a criação do mundo, fenômenos naturais e ocultos, para que se justifique difíceis explicações. Normalmente, o termo Mitologia (estudo dos mitos) acha-se associado às descrições de religiões fundadas por antigas sociedades como mitologia romana, mitologia grega, mitologia egípcia e mitologia nórdica, sendo que pode haver associações destas, entre si.

Dizem até que, pela necessidade que o ser humano tem de contar a história de seus conflitos subconscientes, inventou a mitologia para arranjar explicações convincentes do que nunca conseguiu explicar devidamente, pois os mitos fazem parte de nossa história e da busca da verdade.

Estudos antropológicos atestam que a mitologia é parte de nós mesmos assim como é o código genético. Por essa razão conhecer mitologia é penetrar no universo da psique humana e descobrir os principais motivos de nossa espécie e a razão de sermos como somos ou de não sermos como poderíamos de ser.

Daí terem surgidos os deuses mitológicos que não buscavam semelhança ao único Deus Onipotente, porém apenas formas de explicar, talvez, o inexplicável. E, dentre esses deuses mitológicos, encontramos Eros, o deus grego do amor e Thanatos, o senhor da morte. Sobre esse ultimo, alguns povos gregos representavam, morfologicamente, como sendo um velho de barbas longas cruel e sem misericórdia.

Enquanto Thanatos alimentava forcas e instintos destrutivos, por outro lado, Eros representava as forcas e os instintos da vida e do amor, resultando desse jogo um antagonismo permanente, mas que se complementavam ao mesmo tempo. Isso, certamente, gerou um conflito existencial muito grande.

Já ouvimos varias vezes que Eros e Tanathos regem as pulsões deste mundo e que a grande dificuldade em demarcar ambos é mais ou menos a mesma com a qual nos deparamos ao se tentar separar a razão da poesia, ou também a razão da emoção. Freud, ao estabelecer sua razão dialética, mesmo encontrando dificuldades, soube captar que na historia tanto quanto no indivíduo, razão e “razão” se acham juntas, embora exista uma linha de demarcação entre ambos, a mesma por vezes é totalmente imperceptível. O que verdade, mesmo sendo doloroso admitir, é que Eros e Tanathos se constituíram nas únicas verdades de fato eternas em nosso universo e vida, de certa forma, efêmera, muito embora se diga que o amor é eterno e que transcende a morte.

A compreensão de que não existe vida sem amor, fez com que o ser humano buscasse incessante e permanentemente esse amor que, muitas vezes é posto acima de sua própria vida. E, a partir daí, acontece uma busca incessante ela felicidade na tentativa de encontrar esse amor, custe o que custar. Então, no meio de tudo isso, surge Tanathos, gerando um conflito da não realização plena.

Hoje em dia admitimos que a importância mitológica e sua influência no pensamento e personalidade humana e tamanha, que o próprio Freud utilizou-se desse conhecimento para ampliar seus estudos sobre a teoria da psicanálise, a qual também considera a questão da morte, onde analisa Tanathos como o contraponto da vida e Eros, em sua formação binária, o que impulsiona o ser humano na sua trajetória existencial. No entanto, culturalmente tem ficado claro ao longo do temo que, o amor (Eros) é a vida e de onde ela surge e emana, enquanto a morte (Tanathos), o seu fim. Como resultado, herdamos um eterno dilema existencial humano.

*Professor do Centro de Biociências da UFRN (juarez@cb.ufrn.br)

BIOLOGIA E MORTE

Biologia e Morte
(Publicado no Jornal, anteriormente)
*Juarez Chagas

Biologia e Morte, a principio, parecem duas coisas totalmente distintas, pelo fato de sugerirem palavras antagônicas, porem nem tanto. Quando começamos a discorrer sobre cada uma delas em separado e, posteriormente, unindo os dois sentidos um no outro, às vezes, surge ate um impacto momentâneo, ao descobrirmos que são mais próximas do que imaginamos, muito embora sejam extremos e se coloquem exatamente uma oposta `a outra. Na verdade, essa separação entre Biologia e Morte parece ser mais semântica e cronológica, no que se refere a limites de continuidade entre uma e outra, porque enquanto Biologia é o estudo da vida, em todas as suas manifestações e amplitude, a morte é o contrario, e a cessão da própria vida e sua estação final, onde todos nós, mais cedo ou mais tarde, iremos desembarcar. Esse espaço indefinível e indivisível entre a vida e a morte e, evidentemente, os conflitos e sentimentos de perda que esta ultima causa, tem se constituído num dos maiores medos que o ser humano carrega em si e dentro de si ao longo de sua existência.

Na realidade, como já abordamos em matérias anteriores, o medo da morte é algo que se explica por si só, ou seja, não apenas pelo fator medo e não somente pelo fato da morte existir, mas pela constante e infindável ameaça, angustia e conflito existencial que ela derrama sobre nós e, principalmente pelos danos que ela parece causar a cada um e a todos nós que, inegavelmente, ainda não a aceitamos como parte natural e final de nossa existência. Em segundo lugar, viria o desconhecimento sobre a morte, desconhecimento este gerador de ignorância e desejo permanente de distanciamento cada vez maior entre sujeito e condição de mortal, responsável pelo constante temor do que ela representa e pelo seu eterno mistério desconhecido. Portanto, a ignorância e desconhecimento sobre a morte ainda são um de seus grandes escudos e uma barreira que a mantém sempre velada e misteriosa sob seu manto escuro, funesto e desconhecido.

Particularmente falando, meu interesse pessoal sobre o tema, a respeito de estudos e pesquisas sobre a morte não é recente, surgiu naturalmente ainda quando estudante universitário de Biologia, onde estranhava o fato de os estudos biológicos e da saúde, de um modo geral, seja no campo didático, seja no campo científico como um todo, não abordarem a questão da morte com essa mesma visão acadêmica com a qual aborda a cronologia biológica em seus seqüenciais estágios da vida. Os professores normalmente começavam abordando o tema, discorrendo sobre a origem da vida ensinando que o nascimento da terra teria sido gerado por uma nuvem de pó, forjado no primitivo fogo do cosmos e descrevendo as diferentes teorias sobre a formação do planeta ate o surgimento da vida advinda dos mares e oceanos primitivos através de suas combinações químicas e físicas. A partir daí todo conhecimento adquirido sobre a humanidade parece ter sido concentrado apenas na vida e o mínimo que se destinava à questão da morte era enterrado e oculto como algo proibido, assustador, maligno e ceifador da própria vida. Evidente que, tornar-se-ia cultural. Pra que ficar falando e ensinando sobre algo que nos abate? A principio, parece lógico, mas não é. Deveria ser justamente o contrario. Conhecer o inimigo e um dever!

Eu sempre ficava com uma ponta de curiosidade quando os professores, sendo eles biólogos, médicos ou filósofos, faziam questão de lembrar a Biologia como sendo o estudo da vida e, a partir daí discorrer sobre todo o processo vital do desenvolvimento humano, deste o estágio de vida intra-uterina, nascimento, todas as infâncias, adolescência, fase adulta, até sua senilidade. E, naquele ponto que representava a velhice, paravam a discussão como se fosse o último estágio do ser vivo e como se nada mais interrompesse esse processo, mesmo sabendo que tudo culminaria com a morte. Assim, eu estranhava a ausência de explicações sobre a morte, como sendo o final desse processo, mas que permitia um novo início do ciclo vital para a perpetuação da espécie humana (a figura da pintura deste artigo, feita pelo Autor para palestra específica sobre Biologia e Morte, sugere exatamente a perpetuaçao da espécie, apesar da morte)
Somando-se a esse silêncio escolar proposital e receoso em desvendar e desmistificar a morte, percebia também o enorme medo e incômodo das pessoas em discutir sobre tão funesto assunto, comportamento esse inerente do ser humano e praticamente “instituído” pelas diferentes culturas e velado escolar e academicamente.
Felizmente, o momento atual da sociedade, tem incluído como uma de suas prioridades e preocupações uma especial atenção sobre estudos e pesquisas sobre a morte. Já não era sem tempo! Entretanto, parece um paradoxo, pois apesar de existirem muitas associações internacionais tratando do assunto, no entanto não conseguiram inclui-la ainda no seio acadêmico ou escolar, o que seria sem sombra de duvidas o meio mais adequado e eficiente de educar as pessoas para admitir e enfrentar a morte e resolver, mesmo que parcialmente, o conflito existencial humano causado pelo medo da morte.
“Estudar, debater e discutir sobre a morte, não significa enaltecê-la e sim conhece-la e entende-la como um fenômeno natural para que possamos valorizar, amar mais a vida e vivermos melhor” Essa devera ser a primeira premissa a ser considerada nos debates e estudos sobre a morte, em níveis acadêmicos e que em breve, gostaria de vê-la projetada em alguma sala de aula ou palestras e seminários.
* Professor do Centro de Biociências da UFRN juarez@cb.ufrn.br

10 de set. de 2008

POR QUE TEMOS MEDO DA MORTE?


Por que temos medo da Morte?
(Publicado no Jornal de Hoje em 07/12/2004)
*Juarez Chagas

Por que temos tanto medo da morte? Parece que, de tanto se ouvir falar da morte (não de se discutir e se informar sobre ela) e do pavor que a mesma semeia sobre nossas vidas através dos tempos, a pergunta parece simplória e sua resposta poderia soar um tanto quanto óbvia. Mas, não é bem assim, pois envolve algo, senão tão misterioso quanto a morte, mas igualmente intrigante e presente em nosso mundo imaginário e sentimentos, que é a própria idéia ou medo da morte. Como lembra a frase de William Dunbar, “Timor mortis conturban me”, ou seja, “A idéia da morte me deixa morto de medo”, e o sentido do medo, às vezes, torna-se maior do que a própria morte.

Muitos são os estudiosos do medo e a maioria deles tem constatado que muitos dos medos podem se transformar em fobias, ansiedade e pânico, que podem ser analisados como estágios crônicos do medo, cujas conseqüências e repercussões são, normalmente, desastrosas e comprometedoras, por vezes, afetando nosso comportamento e personalidade e, conseqüentemente, influenciando nosso modo de viver.

Desmistificando o pensamento popular de que homem que é homem nem chora e nem tem medo, é inegável que todos tenhamos medo, assim como todos choramos. Muito embora, muitos o façam escondido e neguem tal fato, o que se caracteriza como sendo uma bobagem, pois rir e chorar sao consequencias de sentimentos e emoções inerentes ao ser humano. Por outro lado, negando o medo ou não, este é importante em nossas vidas, talvez, tanto ou mais do que a coragem e a bravura, seus antagônicos, desde que se manifeste como alerta consciente à sobrevivência e nos faça pensar melhor em nossas atitudes e suas conseqüências. Na verdade, se constitui em um estado emocional de alerta frente ao perigo, à ameaça, à insegurança e às incertezas, existindo como um mecanismo psicológico de defesa. Ao contrário, o medo da morte só traz angústia e ansiedade.

Vários têm sido os conceitos para o medo e, no final, parece que cada um deles apenas nos mostra uma de suas facetas, permanecendo assim, nas entrelinhas (como diria Lacan), muito mais do que realmente é e, adormecido ou sempre em estado de alerta, em nossos sentimentos e em nossa consciência.

Como os instintos necessários à sobrevivência, o medo também é uma das mais antigas emoções do ser humano que, embora não pareça, tem garantido sua existência e sobrevivência através dos tempos, possuindo grande importância no psiquismo e personalidade humana, a ponto de exercer enorme influência e determinações em seu comportamento. Pois é por meio do medo que o ser humano descobre o quanto é vulnerável através de suas fraquezas e incapacidades de enfrentar determinadas situações, transpor obstáculos e se manter isento de perigos. O medo é psicossomático e essa condição está intimamente relacionada às diferentes reações desencadeadas como respostas a este fenômeno que, diga-se de passagem, são várias e normalmente diferentes, de pessoa para pessoa. Nunca devemos esquecer, no âmbito Portanto, temos medo da dor porque ela “machuca” nosso físico e a sensação psíquica que temos é de sofrimento imediato. Por outro lado, o medo também “invade” nossas mentes e habita nosso emocional, manifestando uma dor mais lenta, porém mais duradoura, arrefecendo nosso corpo e desencadeando, inclusive patologias orgânicas. Pior ainda é se criamos o medo em nosso imaginário, antecipando “possíveis ilusões, traumas e dores psíquicas” para alguma coisa que nem sequer ainda aconteceu. Como vemos, o medo, quando em forma patológica, pode causar muitos problemas, de várias ordens, em nossas vidas.

Assim sendo, existe medo pra tudo no mundo e o que, a princípio, parece um desastre, logo se configura como sendo uma vantagem, além do que não podemos nos dar ao luxo de ter apenas um medo, porém vários. A lista realmente não é pequena e, evidentemente, dentre eles está um dos maiores medos da humanidade, a morte!

O medo da morte explica-se por si só, ou seja, pelo fator medo e não somente pelo fato da morte existir, mas pela constante e infindável ameaça que a mesma semeia sobre nós. Em segundo lugar viria o desconhecimento sobre a morte, responsável pelo constante temor do que ela representa e pelo seu eterno mistério desconhecido. Como se isso não bastasse para a aflição dos humanos, o medo da morte é rotulado também como sendo a origem e a evolução de todos os demais medos. Isso explica porque temos medo da separação, da distância e da perda de tudo que gostamos, necessitamos e nos apegamos, pois ao perdemos algo, alguém ou qualquer coisa que represente essa necessidade, afeição esse algo que já é parte de nosso ser, é algo que morre em nós, porém não antes da angústia do medo nos conduzir a esse fato.

Retomando a questão básica sobre o medo da morte, Kastenbaum diz, no seu livro Psicologia da Morte que “o medo à morte não deve ser cultivado nem tolerado: deve ser superado”. Se analisarmos melhor, veremos que esta não é uma frase de enfeito, porém um sábio entendimento, pois no dia em que superarmos o medo da morte, certamente a venceremos mesmo que continuemos a morrer. Podemos ver, finalmente, que uma das formas de se ter menos medo da morte é conhecendo o próprio medo e, em seguida, sabendo melhor quem e o que é a morte e qual a sua face.

*Professor do Centro de Biociências da UFRN(juarez@cb.ufrn.br)

9 de set. de 2008

OS BRUTOS TAMBÉM AMAM

Os Brutos Também Amam
(Publicado no Jornal de Hoje )
* Juarez Chagas


Teatro, literatura e cinema, são indubitavelmente, os principais meios de representações dos conteúdos, da subjetividade e caráter da natureza humana, na contemporaneidade. Antigamente, podíamos fazer uma analogia mitológica. Agora, eu arriscaria ate dizer que, são verdadeiras escolas, nas quais o conhecimento sobre o homem e suas historias, podem ser igualmente ensinadas, divulgadas e armazenadas (agora com nova tecnologia) às gerações futuras, de forma inclusive autodidata. Alias, é muito mais que isso. É a arte humana que emana do seu próprio ser, norteando sua trajetória e sua busca.
Sobre o assunto, justifico o título do artigo explicando que, após muito tempo, consegui encontrar, no mercado livre da Internet, a revista Cinemin no. 58 (Ebal Novembro 1989), em sua 5ª serie, única da coleção que me faltava e que, salvo engano, foi publicada ate o no 86 (Out/Nov 1993). Esse numero, especificamente, traz em destaque a resenha do filme Os Brutos Também Amam (Shane, USA/Paramount, 1953), magistralmente produzido e dirigido por George Stevens, o mesmo que dirigiu Assim Caminha a Humanidade (Giant, 1955), mesmo ano em que morreria James Dean (o qual roubaria cenas de Elizabeth Taylor e Rock Hudson, tido como principais protagonistas do filme) quando o filme ainda estava sendo editado. James Dean não viu a estréia de Giant. Fato similar aconteceu poucas vezes em Hollywood, assim como Bruce Lee, morreu quando seu mais importante filme Operaçao Dragão (Enter the Dragon, 1973) também estava sendo editado. Bruce nao chegou a ver a estréia de seu filme que foi o primeiro filme de Artes Marciais filmado pela Warners e totalmente aceito por Hollywood, o qual é ainda hoje o melhor filme do gênero e do melhor artista marcial de todos os tempos.
Mas, voltando aos Brutos Também Amam, cujo título na verdade não retrata exatamente sua história, tendo sido muito mais uma jogada de marketing da época, do que propriamente fiel à trama e, nesse caso especifico, o titulo em Inglês (Shane) é muito mais real. Na minha opinião, foi um desses filmes injustiçados pela academia hollywoodiana, por não ter recebido o Oscar que merecia, mesmo sabendo que Allan Ladd não era um grande ator, porém teve o melhor desempenho de toda a sua carreira nesse filme e a sorte de ter sido dirigido por um gênio da sétima arte, que transformou esse western num dos maiores clássicos do gênero. Quando eu digo que Shane merecia o Oscar, estou comentando, por exemplo, que Matar ou Morrer (High Noon, 1952), de Fred Zimmermann, filmado um ano antes e protagonizando Gary Cooper e Grace Kelly, foi detentor de 4 Oscars. Não que Matar ou Morrer não tenha tido seu mérito, porém no roll dos clássicos, Shane foi considerado muito mais filme. Mas, não vamos discutir aqui a política de premiação do Oscar...
A história começa com Shane, um pistoleiro que foge do passado e pensa em dependurar as armas (mesmo vivendo uma época onde no Oeste o revolver ditava a lei), chegando a um vale, onde pequenos colonos tentam resistir às ameaças de um cruel latifundiário. Na passagem pelo seu cominho, cansado e com sede, ele se depara com um rancho onde pede informação e água ao seu dono, Joe Starret (Van Heflin). Nesse exato momento, os homens de Ryker (Emile Meyer chegam para “convencer” Joe a vender suas terras e ir embora. Porém, ao verem Shane, desistem da investida e resolvem contar ao seu chefe que há um pistoleiro no vale. Joe, por sua vez, convida Shane a pernoitar e em seguida o contrata para lhe ajudar a desenvolver seu pequeno rancho. Shane, em busca de paz, aceita a oferta. Na verdade, achava que ali, não precisaria mais usar os revolveres e sentiria a sensação do que é viver num pacato lar com uma família, embora nao fosse a sua.

A trama se completa quando o pequeno Joey, o filho do casal Starret (Brandon de Wilde) se apega ao pistoleiro, que também desperta um amor platônico em sua mãe, a Sra. Starret (Jean Arthur). Ryker, em contra-partida, para intimidar duma vez por todas os colonos e, para fazer frente a Shane, manda buscar o mais temido dos pistoleiros, na cidade Cheyenne, Jack Wilson (Jack Pallace). Esse sim, um pistoleiro sem alma, frio e sanguinário e que tinha matar como ofício.
Vale salientar que, assim como Allan Ladd teve em Shane seu melhor papel, esse foi um dos mais importantes papéis de Pallace (nessa época ainda conhecido como o pugilista Walter Jack Pallace), o qual o consagrou definitivamente como astro, apesar de ter participado, praticamente apenas do final do filme. Ele chega, por vezes, a roubar cenas de Allan Ladd, com grande categoria e excelente performance, quase sem dar uma palavra. O tipo longilineo, calado, calculista e frio completava a personagem, marcante que representa o lado mal da história.
O desfecho da história é, como se previa, espetacular, pois não há apenas um duelo entre Shane e Wilson, ou seja, entre o bem e o mal, porém uma grande profundidade de conteúdo sobre a natureza humana em conflito, onde quer que ela se passe, como sabia mostrar tão bem o velho Stevens. No momento do duelo, não se vê apenas dois pistoleiros em ação, mas todo um percurso humano em busca de suas conquistas, derrotas e seus resultados.
Após vencer Wilson e os demais bandidos, Shane ao invés de voltar para o rancho dos Starrets (apesar do pedido do pequeno Joey que o havia seguido), segue seu caminho sem rumo, como um andarilho, assim como havia chegado, pois ele sabe que seu maior conflito estaria naquele rancho e não nas balas dos revolveres fumegantes de seus inimigos. Então, parte sem destino em busca de si mesmo, deixando o pequeno Joey acenando e chamando seu nome ecoando nas planícies, para que voltasse. O pequeno Joey ver seu herói partir, mas muito dele ficara em si mesmo. Essa é mais uma das suaves belezas do filme, a cena tocante no final.
Nesse sentido, sobre a busca do ser humano, seja em que esfera ou área, o próprio James Dean costumava dizer que “Mais vale a angustia da busca do que a paz da acomodação”. Por isso Shane procurava a si mesmo onde nao podia encontrar.

* Professor do Centro de Biociências da UFRN/Juarez@cb.ufrn.br

SHANE


Shane
(Publicado no Jornal de Hoje )

*Juarez Chagas

Não imaginei que o artigo “Os Brutos Também Amam” (Shane, USA/Paramount, 1953), fosse levar três leitores a me enviarem e-mails, comentando sobre esse maravilhoso clássico do western americano, genialmente produzido e dirigido por George Stevens, um dos fabulosos diretores da categoria do gigante e mentor John Ford. Um desses e-mails solicita maiores detalhes sobre Shane e sua importância em representar um filme que, não apenas marcou época, mas também originado, indiscutivelmente, de um dos mais importantes romances do faroeste (far west) já escrito e, magistralmente, transportado para o cinema, pelo obstinado Stevens, que também dirigiu Giant em 1955, filme este que foi a ultima atuação de James Dean, o rebelde sem causa.

Na verdade, o interesse que persiste sobre essa clássico, traduz o seu significado para milhares de fãs em todo o mundo, pois não foi apenas um clássico da sétima arte, mas um marco da literatura que mostrou a essência do ser humano, quando se vê dividido entre seu estado animal e racional, mostrando conteúdos psicológicos dos conflitos do seres humanos, independentemente de sua classe social, seja western, onde os revolveres decidem ou no executivo, onde uma caneta sacada do paletó pode provocar uma guerra e mandar milhares de soldados para a morte, com o objetivo de ostentar poder.
Sabemos que depois do cinema mudo, o western (filmes categoria B ou não) foi um dos principais propulsores do cinema norte-americano, surgindo verdadeiras empresas cinematográficas, cada qual disputando seu espaço no mundo do cinema, que também pode ser visto como escola, empresa e até, por vezes, como questão de segurança nacional, onde interesses políticos e científicos são transportados para as telas, enaltecendo a força de seu pais. Essa historia de que a arte imita a vida, é a pura verdade.
Mocinhos e bandidos, seus cavalos, a mocinha e seus revolveres eram o principal filão da mina e, por isso, tudo sobre cowboys parecia banalizado. Era muita pólvora e chumbo quente e, infelizmente, pouca qualidade pelo próprio desgaste natural a que se submetem, a enxurrada de filmes faroestes sem bons roteiros e diversificações nas tramas. Era, portanto, preciso mostrar os lados vigorosos, excêntricos, reais e humanamente verdadeiros da natureza humana, na sociedade do oeste, pois ela existiu e como existiu! Os grandes roteiristas, produtores e diretores, resolveram então se inspirar nos grandes escritores e novelistas do western, como A. B. Guthrie, Jr (detentor do premio Pulitzer de 1950, com seu famoso The Way West, 1949, não publicado no Brasil, o qual me foi presenteado pelo saudoso Protasio Melo, que foi meu professor de Literatura Americana, nos meados dos anos 70 e que guardo como uma relíquia), o inesquecível Zane Grey que, se manteve fiel às origens e realidade do verdadeiro Oeste e suas origens e suas personagens que brilharam entre os anos 20 e 40, assim como outros romacista famosos que começaram a se preocupar com a verdaderia saga do Far West e suas personagens.
Mas, o grande escritor de Shane, foi Jack Schaefer que escreveu a saga do pistoleiro solitário que, anos depois se transformaria em ícone, roteirizado, imaginem por quem...nada mais, nada menos do que pelo próprio Guthrie, Jr. Para a película de George Stevens, tendo como protagonista Alan Ladd, no filme que o imortalizou na galeria do cinema.
Falar sobre o cavaleiro solitário, diga-se de passagem, é de muita responsabilidade e não é tarefa fácil, pois não se trata apenas de um pistoleiro qualquer. Como vimos no artigo passado, Shane (Alan Ladd), conta a história de um pistoleiro solitário que, cansado de sua caminhada sem destino certo, chega a um rancho recém-construido da família Starret (casal e seu pequeno filho , Joey) e, em seguida, convidado por Joe Starret (Van Henflin) para lhe ajudar em seu rancho. Shane aceita, no intuito de ter um pouco de paz. Porém essa paz é ameaçada por um lado pelo ambicioso e mal latifundiário Ryker (Emile Meyer), que quer expulsar os colonos da região para prosperar sua fazenda e gado e, por outro lado, por começar a surgir um amor platônico entre Miriam (Jean Arthur), a mulher de Joe e Shane. Como que, se sentindo em dívida como Joe, Shane enfrenta os bandidos que querem destruir os colonos, vence todos e, ferido em combate, resolve seguir seu destino de cavaleiro errante e solitário, ao invés de voltar para o rancho dos Starrets.
Mesmo sendo ficção, tanto a locação como elementos do setting do filme tiveram lugar onde o próprio enredo acontce: nas montanhas e planícies do Wyoming, o que confere uma bela fotografia ao flme que foi rodado em 1951, porém concluído apenas dois anos depois. Existem algumas curiosidades que o expectador menos interessado, desconhece. Por exemplo, Stevens primeiro escalou Montgomery Cliff e William Holden (Katharine Hepburn também foi sondada) para os papéis de Shane e Joe Starret, respectivamente. Porém, depois de começar a rodar o filme achou que ambos não estavam correspondendo ao que ele queria, então pediu uma lista de atores do estúdio e, imediatamente, encolheu Allan Ladd, Van Heflin e Jean Arthur. Foi um sucesso!
Apesar de Shane ter recebido seis indicações, o Oscar não lhe foi conferido, lamentavelmente. Porém, por outro lado, comentam os bons críticos (em off) que o júri da época, até hoje se arrepende por não ter escolhido Shane para o Oscar do ano...

* Professor do Centro de Biociências da UFRN/Juarez@cb.ufrn.br

O AMOR DE OS "OS BRUTOS TAMBÉM AMAM"

O Amor de “Os Brutos Também Amam”
(publicado no O Jornal de Hoje)
*Juarez Chagas

Já escrevi dois artigos sobre Os Brutos Também Amam (Shane, Paramount 1953) e, parece interessante como este filme mantém, não apenas sua popularidade ao longo do tempo, mas ainda alfineta, nos dias de hoje, Hollywood por ter-lhe negado o merecido Oscar 1953, embora tenha tido indicação para o garoto estreante Brandon de Wilde (Joey) e vencido no gênero de Melhor Fotografia - A Cores.

Na verdade, esta fantástica produção cinematográfica mostra também, de uma maneira sutil, porém intencional, uma grande lição sobre as condição e natureza humanas, nos tempos do velho Oeste, onde terra, cavalos, gado, ganância e muito chumbo quente ditavam as leis, gerando a mesma velha e real temática do bem contra o mal, dos fortes contra os fracos e oprimidos, algo que a humanidade sempre carregará em sua natureza.
George Stevens (que dois anos antes tinha filmado o excente Um Lugar ao Sol e, que três anos mais tarde se consagraria com Assim Caminha a Humanidade) retratou muito bem a senda dos desbravadores de um lugar deserto, transformado num lugarejo a ser investido, assim como também a rápida passagem de um pistoleiro solitário e sem rumo que, de repente, chega nesse lugarejo, sem saber para onde seguir. Os homens e as poucas famílias do lugar parecem brutos, mas eles têem algo que todo ser humano tem: amor e ódio e isso aflora quando vêem suas conquistas ameaçadas ou prosperando, sob o olhar ganancioso de quem quer enriquecer fácil e às custas do suor dos outros. Foi isso que Stevens, com todo seu feeling e habilidade quis mostrar e, realmente, conseguiu como ninguém.
O filme trata, como vimos nos artigos anteriores, de um misterioso pistoleiro (Shane) que chega de repente num povoado em conflito devido a ambição por posse de gado e terras, comandada pelo ganancioso desbravador Ryker e seus homens contra pacíficos colonos que, timidamente tentam defender seus ranchos e famílias nas terras do Wyoming.
Ao atravessar o vale, sem rumo certo, Shane (vivido por Allan Ladd, no seu melhor papel cinematográfico) se depara com o rancho dos Starrett (Joe, Mirrian e Joey), uma pacata família que trabalha para se estabelecer no lugar, dignamente. Shane desce do cavalo para alguma informação e um pouco de água, quando os impiedosos homens de Ryker (Emilie Meyer) chegam para ameaçar Joe (Van Heflin) a vender seu rancho e sair de suas terras. Os homens vêm Shane ao lado de Joe e o indaga quem ele é. “Amigo dos Starret” responde tranqüilo com seu porte de pistoleiro, o que faz com que os homens se retirem raivosos e desconfiados. A partir daí, o expectador percebe que o filme promete.
Ao se dirigir para seu cavalo para continuar sua caminhada, Shane é convidado por Joe, por sugestão de Miriam (Jean Arthur), para jantar, durante o qual Joe narra toda a história da luta dos colonos no vale e o convida a trabalhar no rancho, como seu auxiliar, convite este que Shane acaba aceitando. Então, a história começa realmente a partir daí...
Os bastidores do filme foram repletos de curiosidades que merecem alguns comentários, como por exemplo, que George Stevens tinha escolhido Montgomery Clift para viver Shane e William Holden para desempenhar Joe Starrett, mas ambos não corresponderam às expectativas de Stevens. Já Katharine Hepburn tinha sido escolhida para viver Mirriam, mas acabou perdendo o papel para Jean Arthur, com quem Stevens já havia trabalhado anteriormente. Por outro lado, Jack Palace (na época mais boxeador do que propriamente ator) tinha problemas com cavalos a ponto da edição do filme ter simulado que ele montava na sela, enquanto na realidade descia dela. Já Allan Ladd tinha problemas com o domínio de armas a ponto da cena em que acertava num alvo à distancia, para ensinar a Joey a atirar, ter sido repetida umas 120 vezes até poder ser escolhida a melhor delas. Stevens não era apenas um diretor exigente, mas perfeccionista também.
No que diz respeito à representação do amor das personagens como combustível na trama do enredo do filme, podemos observar o seguinte:
O amor de Joey – Joey (Brandon De Wilde) é um garoto muito esperto para um menino de 12 anos que vive tentando aprender a atirar com sua espingarda de brinquedo, com a qual espanta os animais que se aproximam do rancho. Ele ama a natureza e seus pais. Porém, quando Shane surge com sua austeridade de pistoleiro solitário, este passar a amar seu jeito e modo como o trata e passa a sonhar ser como ele um dia. Na realidade o filme é visto e narrado através do garoto que tanto vê Shane chegar no início, como o vê partir no final.

O amor de Joe Starrett – Joe é um homem rude, mas que ama sua família e sua liberdade para construir uma vida simples e livre. embora no meio de bandidos chacais que
querem seu rancho e sua pequena terra de qualquer jeito.

O amor de Mirriam – Com a chegada de Shane, Mirriam descobre que o amor platônico existe e é mais forte do que ela imaginaria. Uma paixão secreta por Shane surge, independentemente de sua vontade e, em contrapartida, ela procura fugir como pode desse novo sentimento, sem, no entanto poder ocultar de si mesma que não é apenas admiração o que sente por aquele misterioso homem.

O amor de Shane – Shane, um pistoleiro solitário, com algumas mortes nas costas, é um andarilho sem paz. Descobre nessa simples família que um lar, e não uma vida de tiros e mortes, é tudo o que um homem precisa para viver em paz e, para embaralhar mais ainda sua cabeça, descobre que Mirriam seria a mulher que o faria feliz, muito embora o conflito e a consciência de que não pode e nem deve ceder a esse desejo por ela, fale mais alto.

O amor de Ryker, seus homens e do pistoleiro Wilson (Jack Palace) – O amor destes homens, principalmente Wilson era um tipo de amor estranho, era o fascínio pela morte do outro, pois seria anulando o outro que eles conquistavam seus intentos. Entretanto, surgiu Shane para mudar definitivamente a história e evidenciar que a lei do mais forte sempre existiu e continua a imperar. Com isso tudo, o trabalho excepcional de Stevens mostra que, Os Brutos Também Amam...

* Professor do Centro de Biociências da UFRN(juarez@cb.ufrn.br)

1 de set. de 2008

FREUD ALÉM DA ALMA


Freud Além da Alma

(Publicado no O Jornal de Hoje)
* Juarez Chagas


Ninguém pode negar que, os gênios na maioria das vezes irritam os mortais comuns. Isso sabemos, dá-se por causa dos simples mortais não conseguirem entender ou acompanhar a visão destes homens especiais que, só para parafrasear Nietzsche, decifraram questões pertinentes às ciências, religiões e condição e natureza humanas, que estariam “acima do bem e do mal” e que mexeu com a subjetividade de todos, sem exceção, inclusive a deles mesmo, os gênios da humanidade.

Quem nunca ouviu falar ou se quedou alguns instantes sobre os pensamentos de gênios (ou mais que isso...sem obedecer a hierarquia de valores) como Da Vinci, Galileu Galilei, Jesus Cristo, Gandhi, Arquimedes, Sócrates, Platão dentre tantos outros...e, para citar os mais contemporâneos, Shakespeare, Freud...e até os tidos como gênios do mal como Maquiavel e Hitler, por exemplo?

Muitos livros, tratados, registros de vários tipos e filmes foram feitos para eternizarem esses gênios, de tal modo que, as gerações futuras e o próprio mundo pudessem também se beneficiar de seu feitos.

Por falar em filmes, como registro, tem um filme que gostaria de comentar oportunamente e que diz respeito a Freud, na verdade filmado pelo famoso cineasta americano John Huston, em 1958.

Huston realiza uma pseudobiografia de Sigmund Freud (1856-1939), psicanalista vienense, porém se detendo apenas em um de seus períodos que foi de 1885 a 1900, narrando sua vida de médico. Nessa época, muitos de seus colegas de profissão se recusavam a tratar os casos de histeria, pois achavam que tudo não passava de fingimento dos pacientes para chamar atenção e satisfazer seus médicos preferidos. Porém Freud não pensava assim e passou a aplicar a técnica da hipnose, a qual posteriormente, se tornaria uma prática no tratamento psiquiátrico.

Ocorreu que Freud ansioso por obter respostas plausíveis para aplacar o sofrimento de seus pacientes enveredou-se na doutrina de Charcot e utilizou-se da hipnose em seus estudos sobre histeria. Embora seus estudos encontrassem a resistência da ala conservadora da Medicina, que viam nas teorias de Freud uma ameaça à primazia do ser humano, Freud prosseguiu em sua linha de pensamento e descobriu que o ser humano é dividido entre o Consciente e o Inconsciente, lançando assim as bases da Psicanálise. Posteriormente ele percebeu que para se alcançar o inconsciente não era mais obrigatório que o paciente fosse hipnotizado. Assim sendo, mais tarde, Freud elaborou a teoria das neuroses, cuja origem está na sexualidade infantil. Tudo isso fica bem claro quando Freud elabora a teoria das neuroses, cuja origem está na sexualidade infantil.

Assim sendo, John Huston já familiarizado com a obra de Sartre, o convida para escrever o roteiro de um longa-metragem sobre os anos de formação do pai da psicanálise. Foi assim que surgiu Freud, Além de Alma, uma biografia que traça a trajetória dos primeiros contatos de Freud com tratamentos neurológicos, partindo daí para o desenvolvimento da teoria psicanalítica.

O filme é um drama baseado no roteiro escrito pelo filósofo Jean-Paul Sartre, como já disse, ficando clara a tentativa de evitar o risco de fazer uma caricatura de Freud no sentido de não abordar sua vida pessoal, atendo-se apenas aos seus estudos psicanalíticos. Com isso, Huston consegue focar as importantes descobertas de Freud, tomando como exemplos suas próprias experiências pessoais, como por exemplo, a teoria que desenvolveu sobre o Complexo de Édipo, tomando como elemento a relação com seu pai morto.

O filme apresenta uma linguagem metafórica e onírica, onde Huston aproveita para mostrar o conflito interior vivido por Freud enquanto tentava penetrar no obscuro Inconsciente de seus pacientes, pois temia encontrar o inefável, o impensável. Na verdade, Freud temia encontrar a sua própria essência...é isso que deixa transparecer o cuidadoso Diretor. Montgomery Cliff é convincente no papel de Freud, mas não chega a sugerir nenhum gênio. Isso só seria cogitado, na vida real e fora das telas, muitos anos depois, pois parece que os gênios mortos são mais gênios.

* Professor do Centro de Biociências da UFRN(juarez@cb.ufrn.br)

FREUD ALÉM DA ALMA (II)


Freud Além da Alma (II)
(publicado no O Jornal de Hoje)

* Juarez Chagas


Falávamos, anteriormente, de gênios da humanidade e de como esses seres especiais revolucionaram o mundo em que vivemos, simplesmente por terem sido como foram: a princípio totalmente incompreendidos pelos mortais comuns. Sigmund Freud foi um deles e, chamaria a atenção, um dos últimos gênios a quem a ciência e o mundo tiveram que ser curvar e prestar suas homenagens.

Freud revolucionou a maneira do ser humano ver e reconhecer a si mesmo dentro e fora de seu universo infinito ao estabelecer que os desejos e vontades humanas não são frutos de sua própria vaidade, porém do inconsciente e do que nele habita, criando desse modo, uma nova maneira de entender a psiqué humana. Preocupado com a questão do sofrimento de seus pacientes e, tentando aplacar sua dor, Freud segue a doutrina de Charcot e utiliza a hipnose em seus estudos sobre histeria.

Seu primeiro contato com Jean-Martin Charcot (1825 - 1893) um médico e cientista francês o qual alcançou fama no terreno da psiquiatria na segunda metade do século XIX, tendo sido um dos maiores clínicos e professores de Medicina da França, foi quem na verdade influenciou Freud a delinear a idéia de um “inconsciente” funcionando junto ao consciente, ainda que o mesmo tenha iniciado esse processo de tratamento das neuroses, através da hipnose, técnica essa que sofreu resistência no meio da maioria dos médicos da época. Charcot, por sua vez, concluiu que a hipnose seria um método não somente revolucionário mas também eficiente no tratamento das diversas perturbações psíquicas, em especial a histeria.

Na verdade, Charcot havia se tornado um hábil hipnotizador, e aplicava sua técnica no sentido de induzir no paciente às manifestações próprias da histeria, uma doença mental com sintomatologia psíquica diversa, associada a manifestações físicas, tais quais enrijecimento do corpo e espasmos musculares, característicos da doença. Algumas aulas e demonstrações de Charcot se constituíam num grande espetáculo à parte, concentrando grande audiência de médicos e estudantes, onde ele podia usar a hipnose para criar numa pessoa sadia sintomas como tremores, paralisia, insensibilidade à dor, e vários outros sinais próprios da histeria e, por outro lado, podia igualmente aliviar os sintomas dos pacientes histéricos mediante sugestão hipnótica. Isso deslumbrou Freud, tendo inicialmente sido influenciado profundamente por seu mestre Charcot.

O filme, Freud Além da Alma, trata das descobertas de Freud tomando como base suas próprias experiências psicanalíticas pessoais, como por exemplo, a teoria que desenvolveu sobre o Complexo de Édipo, fundamentando-se na própria relação com seu pai morto. O Diretor do filme, John Huston, lançando mão do roteiro escrito por Jean-Paul Charles Aymard Sartre (19051980), com uma linguagem metafórica e onírica mostra muito bem o conflito interior que viveu Freud enquanto tentava penetrar no obscuro inconsciente de seus pacientes, pois temia encontrar o inefável, o impensável. Na verdade, Freud temia encontrar a sua própria essência, através de seus estudos, nos outros.

No que diz respeito ao roteirista (não menos famoso do que o diretor), Sartre, um filósofo existencialista, escritor, novelista, roteirista, político ativista, biógrafo e crítico literário, com toda essa bagagem era mais do que credenciado para escrever o roteiro deste filme longa-metragem sobre os anos de formação do pai da psicanálise e sua apaixonada biografia, cuja trajetória vai desde seus primeiros contatos de com tratamentos neurológicos até o início do desenvolvimento da teoria psicanalítica.

Entretanto, até hoje não ficou bem claro porque Sartre não permitiu que seu nome constasse nos créditos do filme, embora haja rumores que tentam explicar sua atitude. Quem sabe seu inconsciente-consciente relutasse aceitar a idéia de que ele deveria ter abrangido mais sobre as questões do inconsciente do que propriamente mais sobre os sonhos.

De uma forma ou de outra, nem tudo Freud explica, como já existe até um adágio afirmando isso. Coisas da psiqué humana, afinal é um filme além da alma...

* Professor do Centro de Biociências da UFRN(juarez@cb.ufrn.br)