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20 de ago. de 2008

CHUCK BERRY (I)


Chuck Berry Rock ‘n Roll
(Publicado,parcialmente, no O Jornal de Hoje)
*Juarez Chagas

Nenhum cantor de Rock mereceria esse sobrenome mais do que Charles Edward Anderson Berry ou simplesmente Chuck Berry, o compositor, cantor e guitarrista nortemaricano, aclamado pelo mundo como o inventor do Rock and Roll. Diga-se de passagem, com muita justiça e merecimento. Ele abre o largo riso, como que concordando.

Muita gente, que se diz entendida de música (principalmente historiadores, críticos e teóricos), afirma que o Rock ‘n Roll surgiu diretamente do Blues, ao invés de dizer que deste recebeu apenas alguma influencia, como também carrega impressões que incluem o soul, o gospel e o autêntico Rhythm & Blues. Não seria miscelânea incluir aí também o Country & Western, o bluegrass e o hillbilly até que o incomparável Rock and Roll, surgisse, inconfundivelmente com sua batida única e inigualável, para conquistar o planeta.

É importante aqui dizer que, dentre todos os velhos pioneiros do Rock, Chuck Berry é o que mais o personifica, sendo o mais influente deste século e, melhor ainda, por estar vivo e muito bem, entre nós. Completará em Outubro próximo, 82 anos de idade.

Chuck é visto por todos do meio, como o verdadeiro inventor do Rock ‘n Roll. Na minha opinião Elvis Presley assumiu o título de Rei do Rock, que na realidade deveria ser do Chuck, o qual não teve a mesma projeção global de Presley, evidentemente. Além do mais, a fórmula Presley+Rock ‘n Roll era imbatível: garoto bonito, requebrados sensuais, mídia a seu favor, enfim, não tinha como não dar certo. Evidentente, que incluído está seu grande talento e sensibilidade, mas é inegável que seguiu o caminho de Chuck.

Chuck Berry foi, notoriamente, influenciado por Nat King Cole, Louis Jordan e ainda Muddy Waters, todos grandes estrelas da época. Em contra-partida, influenciou quase três gerações do rock, ou seja, anos 50, 60 e 70, sendo ídolo disparado de todos que bebiam em sua fonte perene. Chuck era enigmático, elétrico e carismático no palco e um eterno rebelde fora dele, imprimindo um estilo de vida próprio, que atendia em primeiro lugar aos seus propósitos e em segundo, à sociedade. Como exemplo de sua influência marcante, podemos lembrar que as mais famosas bandas inglesas dos anos 60, tais quais The Beatles, Animals, Rolling Stones, dentre outras, regravaram suas músicas.

Os Rolling Stones, por exemplo, literalmente nortearam seu estilo de tocar rock 'n' roll no de Chuck. Para termos uma idéia do valor que eles davam ao inventor do Rock, Keith Richards chegou a premiar Chuck no Hall da Fama, dizendo publicamente: "É difícil pra mim apresentar Chuck Berry, porque eu mesmo copiei todos os acordes que ele já tocou!" Risos e aplausos ecoaram durante minutos. E lá estava Chuck com seu largo riso.

Bem, mas o que me fez escrever hoje sobre Chuck Berry foi ter visto novamente o filme Hail! Hail!Rock ‘n Roll! (USA, Warner 1987), no qual é ovacionado e cuja proposta inicial fazia parte de um contato da WEA com Chuck, o qual deu trabalho para cumprir sua partte. Aproveitei pra me deter mais uma vez sobre um de seus maiores sucessos radiofônicos, que juntamente com outros hits como Roll Over Beethoven, Rock and Roll Music, Johnny B. Good (quase todas regravadas, pelos melhores cantores e bandas de Rock, como já foi dito) ouço vez ou outra cuja letra até hoje deixam os pais tradicionais e aversos a Chuck, de cabelos arrepiados e orelhas em pé.

Na verdade a letra da música é simplória e, a princípio parece uma música infantil, cuja letra fala de um brinquedo (Ding-A-Ling) que a avó de Chuck teria dado ao seu irreverente neto que, quando cantor famoso, transformou o tema num de seus maiores sucessos. O segredo reside em como Chuck conseguiu transformar o ritmo e insinuações da música, em uma quebra do tabu sexual, pois sugere que o briquedo seja uma fantasia sexual que representa os órgãos genitais dos meninos que gostam de brincar com eles, para suas liberações libidinosas, altamente reprimidas pela sociedade da época. Na realidade, esta música é sobre um garoto que descobre seu pênis, quase que metaforicamente. E não se pode negar que Chuck era bom em citar referencias sexuais, sem parecer ofensivo. Isso era tudo que o público queria, admitamos.

Com tanta badalçao em torno da música, Chuck acabou admitindo ser esta uma música sexual...”não há nada de errado com o sexo, somente a maneira como se lida com ele, entende”, ele provoca o público enquanto conduz a platéia em sua incursão metafórica sobre seu brinquedo que, a partir daí não era visto mais apenas como dói sininhos dependurados num cordão e sim, um pênis e duas bolas.

Pesquisas sobre a repercussão da música correu os EEUU como fumaça e pressões forçavam muitas estações de rádios a recusar tocar a música, assim como campanhas inglesas moralistas liderada por Mary Whitehouse tentaram, sem sucesso, banir a música, o que lhe conferia mais sucesso ainda.

O sucesso da música veio depois do filme “Let the Good Times Roll”, onde Chuck teve destaque, no início de 1972. Em seguida vai para uma temporada na Inglaterra onde, era ansiosamente aguardado e lá, em conseqüência disso, gravou o Álbum ”The London Chuck Berry Session" (dos quais tenho dois LP’s), tendo culminado com o Disco de Ouro. Deste disco, foi tirado um compacto que foi 1º Lugar nas paradas musicais nos EEUU, justamente com “My Ding-A-Ling”. Na realidade, a música, com uma letra mais amena já fazia parte do repertório de Chuck há 20 anos atrás com outro nome: “My Tambourine”, tendo sido também gravada por vários intérpretes do Rhythm & Blues, desde os anos 50.

É impressionante como Chuck, conduz a platéia (nos shows ao vivo ao fazer trocadilhos com o público), levando a música para o sentido contestador e libidinoso, transformando um brinquedo de um cordão com sininhos dependurado, mas que adquire todo um sentido erótico, especialmente para os jovens reprimidos pelos pais e sociedade.


Chuck visitou o Brasil várias vezes e, pelo que tem falado por aí, parece ter gostado, apesar de seu mau humor peculiar. Registrei, pelo menos, três visitas sendo em 1990, 2002 e agora recentemente, em Junho de 2008, quando visitou quatro cidades brasileiras: RJ, SP, Curitiba e Porto Alegre. Diferentemente, dos shows anteriores, trouxe sua banda consigo e ainda seu filho Chuck Berry Jr., (guitarra), e sua filha, Ingrid Berry Clay (gaita e vocal). "Foram maravilhosos, a recepção e as pessoas de seu país são tão animadas. Não poderia esquecer nada disso, não importa qual a minha idade... Você tem que se sentir bem quando vai para outro país e as pessoas apreciam tanto sua música, sabem o que você está fazendo." Disse aos repórteres presentes.


* Professor do Centro de Biociências da UFRN(juarez@cb.ufrn.br)

CHUCK BERRY (II)

My Ding-A-Ling
*Juarez Chagas


É sempre muito rico e eclético falar de Chuck Barry. Primeiro porque é o maior ícone do Rock ‘n Roll e, especialmente, ainda vivo entre nós. Depois porque, não seria exagero dizer que quase todos os verdadeiros roqueiros do mundo inteiro passaram por ele, de uma forma ou de outra, ou ouvindo seus discos ou sendo diretamente influenciado por ele. Todos procuravam Chuck Berry, para dizer que tinham falado ou tocado com ele, ou simplesmente para um aperto de mão, do mais simples cantor ao mais famoso, como Presley, Lennon, Jagger, Hendrix e tantos outros cuja lista é interminável.
No artigo anterior vimos um pouco da história polêmica sobre um de seus maiores sucessos que tanta controvérsia causou, tanto no meio musical quanto em âmbito social, com a música My Ding A Ling.

Vejamos a letra da música que falava de um tipo de brinquedo a qual Chuck transformou metaforicamente num grande protesto, contra a repressão e a favor da liberação sexual, naqueles tempos dourados, mas difíceis:

When I was a little bitty boy (Quando eu era um garotinho)

My Grandmother bought me a cute little toy (Minha avó comprou um bonito brinquedinho)Silver bells hanging on a string (sininhos prateados dependurandos num cordao)

She said it was my Ding a ling a ling (Ela dise que isso era meu Ding a Ling Ling)


When I started Grammar School (quando eu comecei na escola)
I used to stop off in the vestibule (Eu costumava parar na entrada)
Every time that bell would ring (E toda hora que ticava a saída)
I'd take out my ding a ling a ling (Eu pegava meu ding a ling ling)

Oh my ding a ling, Everybody sing (Oh meu ding a ling, cantem todos)
I wanna play with my ding a ling a ling (quero brincar com meu…)
My ding a ling, my ding a ling (meu ding a ling ling…)
I wanna play with my ding a ling a ling (quero brincar com meu ding…)

(Here come that jerk again, Mmh, Does something good to ya)


Humpty dumpty on the wall (Humpty dumpty na parede)
Humpty had an awful fall (humpty levou uma queda horrível)
When they went to tell the king (Quando eles foram contar ao rei)
Caught him playing with his ding a ling (pegaram-no brincando com seu ding a ling)

Oh my ding a ling, my ding a ling Come on now everybody sing My ding a ling, my ding a ling
I wanna play with my ding a ling(Oh yeah, Got something to it)

I remember the girl next door (Eu lembro da garota vizinha)
We used to play house on the kitchen floor (nós costumávamos brincar de casinha no piso da cozinha)
I'd be king, she'd be queen (I era o rei, ela a rainha)
Together we'd play with our ding a ling a ling (Juntos brincávamos com nossso ding a lin a ling)

My ding a ling, Oh myI wanna play with my ding a ling a ling(Mmh)
When they took me to Sunday School (Quando eles me levaram pra escola dominical)
Tried to teach me the golden rule (Tentaram me ensinar velhas regras)
But every time the quire would sing (Mas toda vez que o quire cantava)
Catch me playing with my ding a ling (Me pegavam brincando com meu ding a ling)

Oh my ding a ling, my ding a ling I wanna play with my ding a ling My ding (That's right),
my ding a lingI wanna play with my ding a ling a ling
(You know, I didn't hear everybody singing, Everybody joins in on that course)

This here song, it ain't to sad (Essa música aqui, nao é triste)
Cutest little song you ever had (É a cançao mais linda que já vi)
Those of you, who will not sing (E quem de voces nao for cantar)
You must be playing with your own ding a ling (Deve tá brincando com seu próprio ding a ling)

Oh my ding a ling, my ding a ling (Come on now, Come on now, Everybody sing)
Now my ding a, oh my ding a ling I wanna play with my ding a ling(Oh yeah, Oh yeah, Oh yeah)

* Professor do Centro de Biociências da UFRN(juarez@cb.ufrn.br)