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26 de nov. de 2009

“ERA UMA VEZ...”

Caros leitores, caras leitoras e visitantes do meu blog. Foi muito gratificante, muito solidário e feliz o lançamento do livro “Letras e Imagens do BEM" (Vol 4), do nosso amigo Jornalista, escritor, Alma Elevada (como eu o chamo) e um dos defensores do Planeta, no início de Novembro deste Ano, no Natal Shopping.

O lançamento coletivo, deste livro, cuja renda destina-se às Ações Comunitárias da Casa do Bem, outro magnífico projeto idealizado por esta Alma Elevada que é FR, contou com a presença da maioria dos 32 escritores colaboradores, dentre os quais eu me incluo. Foi uma bela festa de confraternização, simplicidade e encontro de amigos, em prol da mais bela causa humana que é contribuir para o bem do próximo, desprovido de cobranças e interesses pessoais.

A seguir, meu texto, intitulado “ERA UMA VEZ...”, escrito especialmente para este livro(escrevi o texto no primeiro semestre deste ano, em Lisboa quando, mesmo em temporada acadêmica na aconchegante capital lusitana, sentia saudade de nossa bela e incomparável Natal) dentro de sua filosofia literária e com o pensamento exclusivo de que o bem sempre vence e prevalece.
Vale a pena adquirir o livro e ler os 32 Cavaleiros do Apocalipse (as amazonas estao incluídas, claro) nessa caminhada literária em prol do Bem e ajude as Crianças do Bem de hoje, Adultos do Bem de amanhã. Menos mal no Planeta!
(Na foto o fotógrafo do livro Esdras Nobre, Eu, FR e a jornalista e escritora Waleska Maux)

Em tempo: para as pessoas que têem visitado meu blog e indagam aonde encontrar meu livro O CORPO OCULTO, o mesmo pode ser ainda encontrado na Livraria Siciliano (Natal Shopping) e Livraria do Campus Universitário.

Era uma vez…
* Juarez Chagas

Era vez uma vez, uma história difícil de se acreditar, mas que, pelas forças dos mistérios da Natureza e por todos os desígnios que há em lugares que inspiram mistérios e magias, e nem que tenha sido na imaginação do autor e do leitor, na verdade, ocorreu, pois tudo, no universo conspirou para que assim tivesse acontecido.

Difícil de acreditar, em primeiro lugar, porque é uma história feliz e do bem, a qual, numa possibilidade quase única, não encontrou o mal em seu caminho para atrapalhar, quebrando assim todos os percursos normais da natureza, tanto cósmica quanto humana, onde o bem e mal andam lado a lado e frente-à-frente, numa guerra sem fim. Mas, como que para se provar que a exceção confirma a regra, desta vez aconteceu que foi só o bem, do começo ao fim...e, sabe-se lá em quantos milhões de anos poderá assim de novo ocorrer!
Há muitos e muitos anos, quatro amigos que, por força do Destino, se conheceram em situações e condições adversas. Conviveram juntos durante todo o período de adolescência e depois se separaram, somente voltando a se encontrar muito e muito tempo, depois.
Eles nasceram e cresceram em “Natal Encantada”, uma pequena e longínqua cidade brasileira, inspirada na Cidade dos Reis Magos, a verdadeira Natal, também conhecida como a Cidade do Sol, onde dizem, haver o ar mais puro do planeta!
Acontece que, historiadores de todo o mundo passaram a se perguntar quem surgiu primeiro, Natal Encantada ou Natal, a Cidade do Sol, pois pairavam dúvidas sobre quem havia inspirado quem. Bem, esse detalhe não prejudica a história...portanto, deixando as dúvidas históricas e lendárias de lado, continuemos a trajetória dos quatro amigos.
Aconteceu que eles, inicialmente não eram amigos, apesar de viverem quase uns de frente para o outro, pois suas casas formavam um grande triângulo visual no meio da rua de cuja área, portava-se um imponente Baobá de 30 metros de altura, por quase 10 metros de largura! Um fato grandioso e de orgulho para a pequena e pacata cidade.
Freddy, um garoto avermelhado e alto para sua idade de 14 anos, era filho de um empresário que tinha uma padaria e uma fábrica de sabão. Ninguém entendia a relação entre um negócio e outro, a não ser uma próspera forma de “fazer dinheiro”. Miro, um garoto sonhador, mais ou menos da mesma idade, cujos ancestrais tinham sido ricos comerciantes, mas que via, no momento os pais reclamarem da dificuldade que pessoas da classe média baixa, enfrentavam para viver digna e modestamente. Poty, por sua vez, era um garoto forte, alegre e obstinado, filho de pais pobres, vindos do interior para matricular o filho em Natal Encantada, onde havia o melhor e mais antigo colégio público do Brasil, outra particularidade que tornava o lugar especial e motivo de orgulho. O quarto amigo, não morava no centro da rua onde o Baobá imperava, mas às margens da praia próximo ao farol de Mater Lucia, como era conhecido, por ter o mesmo nome do bairro pobre e por, do alto das dunas, orientar as embarcações que se aproximavam da costa marítima.
O imenso Baobá não era apenas orgulho da pequena cidade, principalmente daqueles que viviam ao seu redor, mas especialmente ponto de encontro da meninada e jovens que se reuniam sob sua copa para brincarem e, se aventurarem a nele subir (tarefa esta praticamente impossível), sob o protesto dos pais.
Os quatro garotos, apesar de serem vizinhos e estudarem no mesmo colégio, freqüentavam classes diferentes e não haviam travado amizade até o dia em que algo marcante aconteceu entre eles e que os uniu para sempre.
Numa certa tarde ensolarada, quando muitos garotos jogavam bola embaixo do Baobá, de repente surge um touro louco, espumando saliva, soltando vento pelas narinas e ameaçado quem estivesse à sua frente. A gritaria foi imensa. Portas e janelas se fechavam. Mães gritavam por seus filhos mandando-os correr e voltarem para casa, pois o louco animal havia fugido em disparada, pois soltara-se de suas amarras e era conhecido por atacar e matar pessoas caso as encontrasse pela frente!
Quase todos os garotos conseguiram escapar às pressas e se esconderem aonde puderam. Mas, com o pânico e tumulto Freddy e Miro foram atropelados pelos colegas e caídos no chão, não conseguiam se mover com a velocidade necessária para fugirem antes que o touro lhes alcançasse, e pudesse espetar-lhes com seus pontiagudos chifres e pisotear-lhes furiosamente. Vendo isso, Poty que tinha conseguido escalar o Baobá, sem que ele mesmo soubesse como, apavorou-se ao ver que seus colegas e vizinhos iam ser mortos impiedosamente, pelo touro em fúria.
A rua deserta, nenhuma porta ou janela aberta e nenhum socorro surgia para debelar o animal tomado pelo instinto assassino. Os pares de olhos apavorados dos garotos não refletiam nem a metade do verdadeiro perigo e pavor de morte que deles se aproximava. Poty, num ato de bravura e, ao mesmo tempo desespero, saltou do galho do Baobá e, assim que caiu no chão, levantando-se como um gato, correu em direção ao touro enfurecido que, já bem próximo dos garotos caídos, riscava o chão como num freio repentino, sapateava jogando pedaços de terra para todos os lados e, mirando Poty de repente, o fez do mesmo, seu novo alvo. Nesse momento, Freddy e Miro, com tremendo esforço conseguem se levantar e, cambaleando com dificuldade, chegam à varanda de sua casa, esbaforidos e com o coração quase saltando pela boca. Os dois garotos sentiam um misto de alívio e remorso ao mesmo tempo, pois conseguiram escapar, mas viam seu salvador à beira da morte.
Enquanto isso, Poty, num golpe de sorte, consegue enganar o touro, circulando o tronco do Boabá e, novamente escalando o mesmo, retorna ao galho onde havia subido anteriormente. O touro louco, não mais encontrando sua suposta presa, evadiu-se, tendo sido depois capturado por homens da guarda local. Felizmente, o perigo havia passado para todos e, nada além do susto e do pânico pela sobrevivência, havia ficado em cada um.
A partir desse dia, os quatro garotos criaram uma amizade inseparável e, como em toda fiel e boa amizade, passaram a dividir sonhos e realidade. Eram vistos, a partir de então sempre juntos e, eles, como num pacto entre si, no mínimo uma vez por semana se reuniam nos galhos do Baobá para dividirem seus sonhos e amizade.
- Quando eu crescer, vou herdar a fábrica e a padaria de meu pai e, talvez, além disso, seja um famoso político. Dizia aos amigos, Freddy todo orgulhoso de si.
- Quando eu crescer, talvez funde uma grande escola para as crianças do Bairro Mater Lucia, pois lá vivem crianças e jovens que mal têm o que comer. Dizia Miro, olhando as dunas e o farol ao longe, onde crianças carentes viviam praticamente isoladas.
- Quando eu crescer, me bastará um barco a motor para ir por todo o rio e evitar que matem os peixes com a poluição. Dizia Poty, satisfeito olhando o grande Rio dos Camarões, que cortava a pequena cidade ao longo de sua extensão e desembocava no mar.
- E você, o que fará quando crescer? Perguntavam os três ao quarto amigo que igualmente dividia os galhos do Boaboá.
- Não sei ainda. Muita coisa ainda há por vir até eu me decidir. Dizia ele.
Aconteceu que, o progresso selvagem chegara à pequena Natal Encantada e muita coisa mudara. Os quatro amigos terminaram os estudos secundários e, finalmente, os universitários e, mais uma vez, por força do Destino, cada um tomou seu rumo.
Freddy tornou-se um grande empresário e político numa cidade do Sul do país. Miro tornou-se um famoso editor de jornal, porém nunca conseguiu, por livre escolha, transformar as oportunidades que lhes surgiram e bateram-lhe à porta, em riqueza material, mas seu sonho estava quase realizado, pois estava prestes a fundar uma importante escola para as crianças do bairro Mater Lucia. Poty, por sua vez, eventualmente era visto subindo e descendo o Rio dos Camarões, em sua bela embarcação, um barco-escola, pois fundara um negócio na área de turismo ecológico, onde podia ajudar as pessoas a pensarem ecologicamente correto. Do quarto amigo, não mais souberam. Uns diziam que tinha ido fazer pós-graduação no exterior; outros falavam que havia se tornando um respeitável médico em outro Estado. Mas, entre uma dúvida e outra, ele permanecia no anonimato.

Assim sendo, depois de muito tempo, mais uma vez, como no início da história, pelas forças dos mistérios da Natureza e por todos os desígnios que há em lugares que inspiram mistérios e magias, num belo mês ensolarado, o prefeito da cidade, convida ilustres pessoas locais para um importante evento: o tombamento do Baobá como acervo e patrimônio universal, alegando entre outras razões inteiramente justificáveis que, até na história de O Pequeno Príncipe, Antoine de Saint-Exupéry, que teria estado na Natal Encantada e por isso narra, em seu livro que o solo de seu pequeno asteróide era infestado de sementes de Baobá e, que portanto a árvore era também conhecida mundialmente.
Aconteceu que, no dia do ato solene, ao meio de uma considerável multidão, o prefeito, em seu discurso emocionado, saúda e convoca ao palco de recepção, três homens cuja história de vida passou a ser orgulho incontestável para a pequena Natal Encantada. O anúncio dos nomes, pelo chefe de cerimônia, fizeram subir ao palco, Freddy, Miro e Poty que, sob salvas de palmas e urras, tomaram, felizes e emocionados, seus assentos.
Freddy, dizia em seu histórico lido, foi o político mais honesto que o país conheceu até hoje e, sua luta e projetos colocaram sua cidade Natal no cenário nacional, tendo também o Baobá como um dos símbolos da cidade, portanto filho prodígio do lugar. Poty, ficou conhecido como o defensor do Rio dos Camarões, com sua empresa ecológica, um dos maiores exemplos a ser seguido. Miro foi enaltecido como o fundador da Escola Solidária de Mater Lucia, um projeto social que conquistou o país inteiro. As palmas aos três amigos emocionaram a todos os presentes que sentiam orgulho dos filhos da terra.
Foi o encontro mais emocionante que já se viu entre amigos de infância que, na verdade é impossível descrever com palavras. É importante dizer que, em um dado momento, no palco da cerimônia montado em baixo do Baobá, sem que o público percebesse, como numa transmissão de pensamento e com a mesma intenção, os três amigos entreolharam-se e, sorrindo, olharam para cima da árvore e, fixando o mesmo galho onde costumavam se reunir para falar de seus sonhos, e certamente, sentiram-se crianças.
Na verdade, é preciso entender que, para se olhar para cima é necessário estar no chão, mas com a determinação de que se pode chegar no alto. E foi aonde eles chegaram, mostrando que cada um de nós deve lutar por seu sonho, praticando sempre o bem.
Como eu disse no início, esta é uma história feliz e que começou e terminou feliz. Mas, você deve estar perguntando pelo quarto amigo, do qual nunca mais ninguém ouviu falar. O que eu posso dizer é que, ele estava também presente na multidão, indo ter com os três amigos cuja alegria ao vê-lo não cabia em si. E, ainda como uma honra à parte, foi ele quem, emocionado escreveu e narrou esta história do bem !

* Psicólogo e escritor (autor de O Corpo Oculto).