* Juarez Chagas
“Animais, animais
Nós os homens somos todos meio
Animais irracionais
Levantamos, guerreamos e deitamos e rezamos antes
A vida é um sonho e nada mais!
Oh, cantem atrás...”
Quem era adolescente nos anos 70 que acompanhava o movimento musical da época (por sinal eu era um deles) e que, no mínimo, conhecia o refrão acima, da música de Dom & Ravel “Animais Irracionais (somos todos meio)”, sabia que esta talvez tenha sido a música-protesto mais forte da década e mais um veículo de contestação bem aceito pelos jovens sempre dispostos a alfinetar o “sistema” e a burguesia social e etc e tal.
A música, sucesso nacional indiscutível, batia forte na ditadura e nos poderosos especuladores (tanto nacionais quanto internacionais, no nosso Brasil) que exploravam os pobres e oprimidos, arranjando sempre uma forma de burlar o fisco, coisa que o cidadão comum e honesto não fazia e ainda tinha seu “imposto de renda” (que renda?) deduzido direto do contracheque. Era “contra”cheque mesmo. Aliás, ainda hoje é assim. Na verdade, quem impulsiona a máquina do governo é o povo que paga seu imposto, que em contra-partida, lhe devolve uma educação ruim, saúde idem...(pra citar somente esses dois bens dos quais qualquer nação deveria se orgulhar).
Mas, retomando a trajetória musical desta dupla de irmãos cearenses, a qual é rica e contraditória, igualmente, pois, à primeira vista, tanto parecia cantar e enaltecer valores defendidos pela Direita, como ao mesmo tempo protestavam contra a ganância, injustiça e humilhação contra o ser humano, principalmente os mais carentes, humildes e indefesos.
Na verdade, sobre a questão de terem sido taxados de traidores comprados pela Direita por causa das músicas como Eu Te Amo Meu Brasil e outros sucessos como Você Também é Responsável e Obrigado, Homem do Campo, usadas na virada dos anos 70, em pleno auge da ditadura, pelo governo militar, o próprio Ravel diz hoje que não foi nada disso e que apenas como Dom era um cara visionário, resolveu seguir uma das influências dos Beatles que, para confundir a sociedade, no meio da maior revolução musical do mundo, usaram um marketing voltado ao patriotismo, ao usarem camisas estampadas com a Bandeira do Reino Unido e outros símbolos patrióticos, apontando que o país era dos jovens. Então a dupla brasileira adotou também essa linha e fez “Eu te Amo Meu Brasil” movida pela comoção nacional durante a Copa de 70.
Ocorreu que Eu te amo meu Brasil foi tão marcante que chegou a ser cogitada para se tornar o novo hino nacional e transformou-se num símbolo do país durante o período em que se alardeava o milagre brasileiro e se comemorava os bons resultados do futebol e da campanha do governo militar. Não deu outra: a dupla passou a ser vista como “protegidos” pelo “sistema”. Outra música usada pelo Governo foi “Você Também é Responsável”, lançada em 1971, que tornou-se, na época, Hino do Mobral, (Movimento Brasileiro de Alfabetização).
Mas, o outro lado da moeda, viria em seguida, mais precisamente em 1974, quando cansados de serem acusados de puxa-sacos do governo, os dois irmaãos compusera e cantaram “Animais Irracionais (somos todos meio)” . A música foi proibida pela censura e o disco recolhido de todas as rádios do Brasil, sendo liberada apenas posteriormente. Agora a dupla se via em maus lençóis, pois era censurada tanto pela Direita, quanto pela Esquerda, um fato inédito no mundo da música, o qual nenhum artista, certamente, gostaria de ter em seu currículo.
Há, politicamente, uma analogia feita entre a dupla e Vandré, tido este como ícone da Esquerda, mas também, de certa forma, dito por muitos, ter sido “protegido” pelos saudosos militares, mas que por outros críticos, teriam feito tanta lavagem cerebral no cantor revolucionário que quase enloquecera. Na realidade, não sabemos até onde essas colocações são realmente verdadeiras. Só mesmo os protagonistas sabem como foi tudo isso, guardando para eles mesmo, a verdade.
A dupla Dom & Ravel fez tanto sucesso que muitas de suas composições foram gravadas por artistas famosos, como Moacir Franco, Wanderley Cardoso, Ed Carlos, Vanusa, Wanderléia, Os Incríveis, Nalva Aguiar, Jerry Adriani. Antônio Marcos, Nelson Ned, Sérgio Reis, Martinha, Eduardo Araújo, Os Caçulas, Demônios da Garoa, Lafayette, Luís Burdon, Leila Silva, Os Selvagens, Os Vips, Os Bichos, Os Moscas, The Big Seven, Som Bateau, supersônicos, The Battons, Trio Esperança, Mário Zan, Velhinhos Transviados, Os Caretas, Orlando Ribeiro, Arnaud Rodrigues, Marta Mendonça, Agnaldo Rayol, Francisco Petrônio, Coral Johab, Barros de Alencar, Joelma, Madrugada e seu conjunto, Alladin Band, Jair Rodrigues, Roberto Leal, entre outros, a maioria deles do elenco da Jovem Guarda. Já no exterior, alguns países também regravaram muitos de seus sucessos, como Angola, Venezuela, Argentina, Bolívia, Espanha, França, Itália, Portugal, México, El Salvador, Holanda.
Dom faleceu em 2000, acabando dessa forma com a existência da banda que, cantava tanto o patriotismo quanto protestos, igualmente. Talvez, tenha sido ingênua e, alguns percursos, mas nada que desabone sua verdadeira trajetória, pois é rico e genuíno o legado que nos deixou, merecendo, portanto, nossa homenagem, por ter cantando com o coraçao aberto para o povo.
Se você não conhece a letra da canção, veja e sinta o que ela tem a ver conosco e o que nós temos a ver com ela:
“Animais, animais
Nós os homens somos todos meio
Animais irracionais
Levantamos, guerreamos e deitamos e rezamos antes
A vida é um sonho e nada mais!
Oh, cantem atrás...”
Quem era adolescente nos anos 70 que acompanhava o movimento musical da época (por sinal eu era um deles) e que, no mínimo, conhecia o refrão acima, da música de Dom & Ravel “Animais Irracionais (somos todos meio)”, sabia que esta talvez tenha sido a música-protesto mais forte da década e mais um veículo de contestação bem aceito pelos jovens sempre dispostos a alfinetar o “sistema” e a burguesia social e etc e tal.
A música, sucesso nacional indiscutível, batia forte na ditadura e nos poderosos especuladores (tanto nacionais quanto internacionais, no nosso Brasil) que exploravam os pobres e oprimidos, arranjando sempre uma forma de burlar o fisco, coisa que o cidadão comum e honesto não fazia e ainda tinha seu “imposto de renda” (que renda?) deduzido direto do contracheque. Era “contra”cheque mesmo. Aliás, ainda hoje é assim. Na verdade, quem impulsiona a máquina do governo é o povo que paga seu imposto, que em contra-partida, lhe devolve uma educação ruim, saúde idem...(pra citar somente esses dois bens dos quais qualquer nação deveria se orgulhar).
Mas, retomando a trajetória musical desta dupla de irmãos cearenses, a qual é rica e contraditória, igualmente, pois, à primeira vista, tanto parecia cantar e enaltecer valores defendidos pela Direita, como ao mesmo tempo protestavam contra a ganância, injustiça e humilhação contra o ser humano, principalmente os mais carentes, humildes e indefesos.
Na verdade, sobre a questão de terem sido taxados de traidores comprados pela Direita por causa das músicas como Eu Te Amo Meu Brasil e outros sucessos como Você Também é Responsável e Obrigado, Homem do Campo, usadas na virada dos anos 70, em pleno auge da ditadura, pelo governo militar, o próprio Ravel diz hoje que não foi nada disso e que apenas como Dom era um cara visionário, resolveu seguir uma das influências dos Beatles que, para confundir a sociedade, no meio da maior revolução musical do mundo, usaram um marketing voltado ao patriotismo, ao usarem camisas estampadas com a Bandeira do Reino Unido e outros símbolos patrióticos, apontando que o país era dos jovens. Então a dupla brasileira adotou também essa linha e fez “Eu te Amo Meu Brasil” movida pela comoção nacional durante a Copa de 70.
Ocorreu que Eu te amo meu Brasil foi tão marcante que chegou a ser cogitada para se tornar o novo hino nacional e transformou-se num símbolo do país durante o período em que se alardeava o milagre brasileiro e se comemorava os bons resultados do futebol e da campanha do governo militar. Não deu outra: a dupla passou a ser vista como “protegidos” pelo “sistema”. Outra música usada pelo Governo foi “Você Também é Responsável”, lançada em 1971, que tornou-se, na época, Hino do Mobral, (Movimento Brasileiro de Alfabetização).
Mas, o outro lado da moeda, viria em seguida, mais precisamente em 1974, quando cansados de serem acusados de puxa-sacos do governo, os dois irmaãos compusera e cantaram “Animais Irracionais (somos todos meio)” . A música foi proibida pela censura e o disco recolhido de todas as rádios do Brasil, sendo liberada apenas posteriormente. Agora a dupla se via em maus lençóis, pois era censurada tanto pela Direita, quanto pela Esquerda, um fato inédito no mundo da música, o qual nenhum artista, certamente, gostaria de ter em seu currículo.
Há, politicamente, uma analogia feita entre a dupla e Vandré, tido este como ícone da Esquerda, mas também, de certa forma, dito por muitos, ter sido “protegido” pelos saudosos militares, mas que por outros críticos, teriam feito tanta lavagem cerebral no cantor revolucionário que quase enloquecera. Na realidade, não sabemos até onde essas colocações são realmente verdadeiras. Só mesmo os protagonistas sabem como foi tudo isso, guardando para eles mesmo, a verdade.
A dupla Dom & Ravel fez tanto sucesso que muitas de suas composições foram gravadas por artistas famosos, como Moacir Franco, Wanderley Cardoso, Ed Carlos, Vanusa, Wanderléia, Os Incríveis, Nalva Aguiar, Jerry Adriani. Antônio Marcos, Nelson Ned, Sérgio Reis, Martinha, Eduardo Araújo, Os Caçulas, Demônios da Garoa, Lafayette, Luís Burdon, Leila Silva, Os Selvagens, Os Vips, Os Bichos, Os Moscas, The Big Seven, Som Bateau, supersônicos, The Battons, Trio Esperança, Mário Zan, Velhinhos Transviados, Os Caretas, Orlando Ribeiro, Arnaud Rodrigues, Marta Mendonça, Agnaldo Rayol, Francisco Petrônio, Coral Johab, Barros de Alencar, Joelma, Madrugada e seu conjunto, Alladin Band, Jair Rodrigues, Roberto Leal, entre outros, a maioria deles do elenco da Jovem Guarda. Já no exterior, alguns países também regravaram muitos de seus sucessos, como Angola, Venezuela, Argentina, Bolívia, Espanha, França, Itália, Portugal, México, El Salvador, Holanda.
Dom faleceu em 2000, acabando dessa forma com a existência da banda que, cantava tanto o patriotismo quanto protestos, igualmente. Talvez, tenha sido ingênua e, alguns percursos, mas nada que desabone sua verdadeira trajetória, pois é rico e genuíno o legado que nos deixou, merecendo, portanto, nossa homenagem, por ter cantando com o coraçao aberto para o povo.
Se você não conhece a letra da canção, veja e sinta o que ela tem a ver conosco e o que nós temos a ver com ela:
Animais Irracionais(Somos Todos Meio)
Dom & RavelÀs vezes eu olho pra terra sem compreender
A luta dos seres humanos pra sobreviver
O grande açoitando o pequeno
Terceiros mandando apartar,
Terceiros mandando apartar,
Mas na maioria das vezes o grande não quer parar.
Tem vezes que o desesperado se põe a pensar (a pensar)Por que deve aos pés de um dos grandes se ajoelhar,
Eu passo por muitas igrejas pedindo respostas de Deus
Pra ele calado no espaço ouvir os lamentos meus.
(refrão)
Às vezes eu olho por cima do mundo e os maus (os maus)
Eu vejo vencendo na vida os mais altos degraus
Não querem ouvir nem falar dee fome, problemas e dor
Dos outros nem ao menos admitir ou supor.
E sempre eles acham que eles são certos demais (demais)
Dinheiro perdido em seus vícios não volta jamais,
Pequenos e grandes ladrões
No meio dos homens de bem
Que cruzam as ruas da vida matando ou roubando alguém
(refrão)
Na verdade, temos na letra dessa música o homem eclético, pois vemos nela sua antropologia, sociologia e sobretudo, sua sobrevivência pela “Seleção Natural” na sociedade moderna. Mas, o que há de mais forte nesse contexto é a frase “A Vida é um Sonho e nada mais”. O que seria a realidade, então?
* Professor do Centro de Biociências da UFRN(Juarez@cb.ufrn.br)
Um comentário:
...O que seria a realidade, então?
Eu não sei, mas sem o SONHO ela seria insuportável...até porque as coisas parecem não mudar nunca,
Também fui adolescente nessa época e vivi tudo isso. Reconheço que pouca coisa mudou, mas hoje pelo menos podemos falar abertamente a esse respeito.
Belo artigo, professor!...
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