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19 de mar. de 2009

RUA AUGUSTA

Rua Augusta
*Juarez Chagas

Em 2005, quando fui participar de um congresso de Tanatologia em São Paulo, realizei um simples e antigo desejo, relacionado à década de 60: percorrer a Rua Augusta, de seu início até o fim, no intuito de conhecê-la melhor, em toda a sua extensão.

Na verdade, eu já havia passado uma temporada
em SP quando estudava na Escola Paulista de Medicina (UNIFESP), por ocasião do Mestrado, nesta universidade e que fica a, apenas, alguns quarteirões de distancia da mesma. Porém, naquela época, apesar de, eventualmente passar por esta rua, não havia tempo para conhecê-la melhor, como pretendia. As energias e e todos os meus horários, inclusive finais de semana eram somente destinados para os estudos.

Pra quem não sabe, a rua Augusta virou um marco histórico para a juventude brasileira daquela época e representou, na década de ouro dos Anos 60, para os jovens, especialmente, os paulistanos, glamour e diversão. Era ao mesmo tempo, obrigatório e livre ponto de encontro da juventude paulistana das décadas de 60 e 70, constituindo-se numa importante via arterial da cidade, unindo os jardins ao centro da cidade. Seu início, a partir da rua Martins Fontes com a rua Martinho Prado até o cruzamento com a Avenida Paulista, forma uma acentuada subida que a partir deste ponto desce até o seu término na Rua Colômbia, que é, na verdade, uma continuação da mesma, porém com outro nome.

Atualmente, o trecho que vai do início da rua até o cruzamento com a avenida Paulista, se localiza na região centrala de São Paulo, onde se pode encontrar boites, saunas , pequenos restaurantes e casas de espetáculos, porém sendo um dos pontos de meretrício na cidade, um marco nada orgulhoso para a maior cidade brasileira, nos dias de hoje, mas que faz parte de sua geografia e urbanismo.

Não é nenhuma novidade o estilo de vida dos jovens dos Anos 60, embora muitos ainda seguissem a filosofia dos “Rebeldes sem causa”, defendido pelo estilo James Dean, dos anos 50, ou de Brando e Presley, dentre outros e, no Brasil, especialmente nas cidades consideradas “grandes e avançadas”, não era diferente.

No caso da Rua Augusta daquele tempo, os jovens paulistanos exibiam seus carros em alta velocidade pelo asfalto, encontros de turmas, grupos, casais de namorados, onde a onda do Rock n Roll, ainda imperava. Era o frisson da época subir a Augusta, no sentido Avenida Paulista , fazendo “pegas e cavalo-de-pau” e apostando corridas em grupos de 10 a 15 carros, no estilo “Juventude Transviada”. Era um delírio para todos: os jovens se deleitavam com a adrenalina e os pais ficavam às raias de infartos e colapsos nervosos.

Evidentemente que tudo isso não tinha apenas que ser vivido pela juventude, mas também cantado. E, assim sendo, a música Rua Augusta (1963), de Hervé Cordovil e, cantada e interpretada por seu filho Ronnie Cord (Ronald Cordovil), retrata muito bem toda essa rebeldia da juventude paulistana. Posteriormente, a música foi imortalizada pela Jovem Guarda, com Erasmo Carlos (o Tremendão) tornando-se um dos maiores hits dos anos 60. Muitos outros artistas também regravaram esse sucesso marcante, como os Mutantes, em 1972 e Raul Seixas, nos anos 80, quando gravou um disco em tributo ao Rock.

Por falar nisso, o programa Jovem Guarda, um programa de auditório, da TV Record, surgido em 1965, comandado por Roberto Carlos, Erasmos Carlos e Wanderléia, contribui sobremaneira para que Rua Augusta ficasse nacionalmente famosa (Aliás, o maior e mais famoso programa de música pop que o país já teve). Tem até o episódio com Erasmos Carlos que, empolgado com toda a história da Rua Augusta, comprou um fusca cor de abacate para subir e descer a rua, ainda nos velhos bons tempos. Dizem que o apelido “Tremendão”, do Erasmo foi por causa dessa música. Dizem também que parte da juventude paulista da época encarava isso como um insulto, pois paulistas e cariocas sempre tiveram suas diferenças.

Relembremos o significado e clima que a canção Rua Augusta passava para todos na Época de Ouro da juventude brasileira:
I
Entrei na Rua Augusta
A 120 por hora
Botei a turma toda
Do passeio pra fora
\Com 3 pneus carecas
Sem usar a buzina
Parei a quatro dedos
Da esquina
Falou!
Vai! Vai! Johnny
Vai! Vai! Alfredo
Quem é da nossa gangue
Não tem medo...(2x)

I I
Meu carro não tem breque
Não tem luz
Não tem buzina
Tem 3 carburadores
Todos 3 envenenados
Só pára na subida
Quando falta gasolina
Só pára se tiver
Sinal fechado
Tremendão!

III
Toquei a 130
Com destino à cidade
No Anhangabaú
Botei mais velocidade
Com 3 pneus carecas
Derrapando na raia
Subi a Galeria Prestes Maia
Tremendão!
Vai! Vai! Johnny!
Vai! Vai! Alfredo!
Quem é da nossa gangue
Não tem medo...(2x)
É bom lembrar que, apesar da música dizer a 120 por hora, eles paravam no sinal fechado, coisa que muitos jovens de hoje não fazem, demonstrando outro tipo de rebeldia que conduz à morte em muitas ruas do país.

* Professor do Centro de Biociência da UFRN (juarez@cb.ufrn.br)

3 comentários:

Anônimo disse...

Grande Juarez Chagas:
Você me fez caminhar,literalmente, pela Rua Augusta através do seu texto. A cada passo,ouvi o som da Jovem Guarda e, não fosse o sinal fechado (é verdade eles obedeciam), quase o carango atropela a minha saudade. Parabéns!
Carlos Sizenando.

Anônimo disse...

seus textos são belissimos e escritos com muita precisão nos faz lembrar com saudade daquelas décadas e comparar com o momento atual.c

Anônimo disse...

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