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29 de dez. de 2010

PRESENTE DE 2011


Presente de 2011

* Juarez Chagas

Eu sei que eu havia prometido encerrar a saga da Dra. Kubler-Ross este ano, concluindo sua trajetória, segundo seu mais recente livro, com o artigo X. Entretanto, pelo espírito do Ano Novo que se aproxima, resolvi me reportar a um dos pensamentos do filósofo e mestre espiritual, Sri Mha Krishna Swami que diz o seguinte:

“ A eternidade é agora no eterno presente. Os homens cultuam o passado, acham que um futuro está vindo, simplesmente porque acumulam memória. Eles jamais sentirão o presente enquanto não renunciarem à idéia de passado e futuro, porque não conseguem intuir a verdade que manifesta o universo. Cultuam causas e efeitos no interminável ciclo de sofrimento, nos templos ortodoxos onde é heresia afirmar que a eternidade é agora”.

Se formos observar cuidadosamente onde a essência deste pensamento se suporta, depararemos com “a verdade que manifesta o universo”, a qual evidentemente difere da verdade que manifesta o homem.

Este pensamento filosófico me faz lembrar de uma frase de efeito usada por muitas pessoas, na verdade, é uma falsa afirmativa: “Vivamos como se fosse o último minuto de nossas vidas”...Na realidade, esta é uma frase perigosa em vários sentidos. Primeiro, sugere que os minutos que antecedem o último minuto, não são devidamente vividos como deveriam ser. Portanto, não seria melhor vivermos todos os minutos de nossas vidas como deveriam ser vividos? Talvez, fosse interessante lembrarmos que ninguém chega à velocidade máxima sem partir do km zero.

Eu acrescentaria a importância de se observar igualmente a verdade que manifesta a Natureza, sem agressão humana e depredação e até aniquilação lenta e progressiva do meio-ambiente, para que possamos viver mais e melhor. Estamos a dois passos do Ano Novo para termos o presente que buscamos, mas antes de tudo, para termos o presente que faremos por merecer e que não terá melhor futuro se dele não cuidarmos.

Feliz Ano Novo! Feliz 2011! Feliz Presente consciente para todos!

* Professor do Centro de Biociência da UFRN

11 de nov. de 2010

BANDA ANOS 60: BODAS DE PRATA!


Banda Anos 60: Bodas de Prata!

*Juarez Chagas

O artigo de hoje é uma homenagem especial, mais que justa e merecida, à Banda Anos 60 e aos jovens cinquentões que carregam com entusiasmo, não apenas o saudosismo e as emoções dos Anos Dourados de Natal, Brasil e mundo, através da música especificamente de uma das mais fecundas e revolucionárias gerações contemporâneas e de uma época que quebrou tabus e rígidas tradições com muito som de qualidade e a filosofia “Peace and Love” que sacudiu o mundo mais que qualquer outro movimento pós-guerra.

Tenho duas razões para homenagear a banda pelo seu trabalho de qualidade e manutenção da chama dos Anos Dourados: uma pessoal e outra de merecido reconhecimento por uma fiel legião de fãs e pela própria sociedade norteriograndense, em especial natalense, a qual se constitui em seu próprio aval e veredicto para a saga dos cinco “meninos entões” e a musa da banda, Silvinha Benigno, tendo Reinaldo Azevedo, como seu principal mentor e líder. A Banda Anos 60, hoje faz parte do contexto musical histórico e atual da Cidade do Sol, pelo que ela representa e pelo que se tornou, ao longo do tempo, com uma marca que não é só sua, mas da juventude dos Anos Dourados. Romantismo, irreverência, revolução, amor...

Afirmo, com simplicidade, que a primeira razão não é, nem de perto e nem de longe, revestida de qualquer importância que não seja de fórum intimo, mas enalteço a circunstância de estar, há uns dois anos, escrevendo o livro sobre a trajetória da Banda e sua história no contexto musical local e nacional, dentro do objetivo ao qual têm se proposto os “jovens” dos Anos Dourados, de Natal. Falo de Natal, mas todos sabem que a Banda Anos 60 é nacional e única!

A outra razão da homenagem é a própria homenagem da banda e à banda, através de seus 25 anos comemorados neste Sábado, dia 6, no Villa Hall, que se transformou num ambiente e festa lotada de amigos e seguidores da Banda para curtirem suas bodas de prata, no melhor estilo dos Anos 60, entre um público mais que amigo, gerando um clima de intimidade, saudosismo e certeza de que o sonho não acabou, ao contrário, acorda e desperta sempre que há o reencontro.

A Formação original da Banda, segundo Reinaldo Azevedo (Artista plástico, Cirurgião-dentista, músico e roteirista), inicialmente começou com Mário Henrique e Levi Bulhões, para depois de algumas apresentações iniciais, entrarem Ivanildo, Marquinhos, Edmar...e, ao longo do tempo, ter tido suas diversas formações, com entradas e saídas de membros, para manter e renovar, até a atual, o antigo sonho que não acabou. The Dream is not over, não foi e nem é uma frase apenas de John Lennon. É de todos cujo sonho dorme e acorda para dormir de novo...

No salão de entrada, a exposição de carros e motos estilizados dos anos 50 e 60 (devidamente organizado por Tainso e Jethro) recepcionavam o público que, apesar de, na sua maioria, pertencer à geração dos rebeldes sem causa, muitos jovens se misturavam como se o show também fosse deles e, melhor ainda, na realidade também era. Ou seja, o velho e bom rock não tem idade. O velho Chuck Berry (ainda bem, ainda vivo), Paul MacCartney, The Rolling Stones e tantos outros rockeiros jurássicos que confirmem isso, a nível internacional.

A abertura do show em si, sem exagero, já foi digna de qualquer show do RC, com a música introdutória “Eu Sou Terrível”. Técnica, produtiva e artisticamente falando, foi quase praticamente perfeita. Algumas passagens importantes e típicas, somente alusivas ao estilo da Banda, ocorreram e merecem registro, como por exemplo: no primeiro intervalo do show, enquanto o público se refazia do êxtase do emocional feeling, o roncar inconfundível de uma Harley Davidson capta toda a atenção, admiração e aplausos do público para Carlinhos de Jesus “Presley” que, caracterizado do Rei do Rock (versão anos 70), com dificuldade circulou o salão do show, com alternadas aceleradas, pára em frente ao palco, é recebido pelos dançarinos em seu melhor estilo Rock n Roll baby, que em seguida o conduzem para a ala de saída, com insinuações de “Nos Tempos da Brilhantina”(Grease). É mais uma vez ovacionado pelo público. Sem dar um riso, Carlinhos “Presley”, consegue finalmente sair, demonstrando cara de mau e aborrecimento, como, às vezes, encenava o Rei do Rock, enquanto, por dentro, sabia-se que sentia satisfação e alegria interior que, caracterizava muito bem The Wild One (Brando).

A segunda parte do show veio melhor ainda, pois a Banda esbanjou Creedence Crearwater Revival, banda esta, não tocada facilmente por qualquer outra. Mas, BA60, deu um show, com Reinaldo, caracterizado estilisticamente de western do rock and roll, enquanto a inocente Maria Luiza com seus oito meses apenas, dormia nos braços da mãe Maria Carla, sob o som do pai e de uma época que ela vive no presente e no passado e que, no futuro, entenderá muito bem este processo. Foi imperdível! Depois veio o foco do show: Jovem Guarda, Creedence Clearwater Revival, Incríveis, Renato & seus blue caps, Bobby de Carlo, Sérgio Reis, Beatles e bastante Roberto Carlos...como era de se esperar.

Para Reinaldo, o líder e criador da Banda Anos 60, responsável ainda por sua logomarca e trajetória e, pela capacidade de conseguir reunir os amigos Jorge Lira (teclado e vocal), Serginho Araújo (baixo), Fernando Bituca (guitarra, violão, vocal), Elson Jetson (baterista), Silvinha Benigno (Vocal), ainda teve a satisfação de reunir no mesmo show, além de uma legião de fás e amigos, seus filhos Silvinha Azevedo (vocal) Jethro (apoio logístico), Lobinho (Francisco Luiz, 11 anos, percussionista e mascote da banda) e o neto Gabriel Guilbi. Não podia deixar de citar a participação especial de Mário Henrique, um dos fundadores da banda, juntamente com Reinaldo, que deu um show com a música Pround Mary, dos CCR. Ainda nos metais, tivemos Flávio (trombone), Alcione (trompete), Leonardo (sax, tenor) e back vocal, Silvinha Azevedo e Silvinha Benigno. Para este show a banda estava completa.

Muito ainda haveria a ser dito sobre tudo em que se resumiu este show apoteótico da Banda Anos 60, entretanto está tudo sendo detalhado na narrativa do livro sobre estes jovens velhos ou velhos jovens que mantêm viva a chama musical dos Anos Dourados. E, certamente nas bodas de ouro da banda, estaremos lá, de bengala e mascando chicletes sem nenhum chewing gum na boca, aplaudindo Jethro, Silvinha, Lobinho, Maria Luiza, Luna Benigno, Gabriel e outros.

*Professor do Centro de Biociências da UFRN(Juarez@cb.ufrn.br)

22 de out. de 2010

VIVÊNCIA E SOBREVIVÊNCIA


Vivência e Sobrevivência

* Juarez Chagas

Graças a Deus e à sorte, termina bem o episódio dos mineiros chilenos confinados que, virou novela real, mas que não se pode esquecer foi causado e protagonizado pelo próprio homem. A mídia do mundo inteiro prioriza o assunto durante esses últimos dias, inclusive com disputas de “furos” de reportagens sensacionalistas entre a própria classe da comunicação. As empresas cinematográficas se preparam para transformar a realidade em ficção. As especulações preparam suas teias. Tudo isso era de se esperar.

Mas, pelo menos uma pergunta lógica deveria ser respondida com responsabilidade: Por que ocorreu a tragédia nas minas do deserto de Atacama? Poderia ter sido evitado ou foi real e simplesmente negligência, ganância e descaso com a segurança do trabalho?

Geograficamente, o deserto do Atacama está localizado na região norte do Chile, tem cerca de 200km de extensão e é considerado o mais alto e árido deserto do planeta e, por essa razão, existem poucas cidades e vilarejos na região, sendo San Pedro do Atacama, com aproximadamente 3 mil habitantes, uma das únicas que dá vida ao inóspito lugar.

A história deste deserto acha-se, ao longo do tempo, ligado às mais diversas situações de risco e tragédias, além de já ter sido palco para passeatas e greves contra fome, acidentes pelas precárias condições de trabalho e, consequentemente, mortes de mineiros massacrados e metralhados como resultado de repressão e injustiças sociais, trabalhistas e morais, contra essa categoria. Seu passado é negro e a promessa política para sua solução é parda.

Assim, mantêm-se quase sinônimo, no decorrer do tempo, de exploração, drama e morte, tornando esta região deserta um lugar quase proscrito, sendo sua terra vista por todos aqueles que dali dependem, como que regada por suor, sangue e lágrimas.

Entretanto, aí é que surge o paradoxo, pois apesar de árido e inóspito, o deserto do Atacama possui riquezas cujas dimensões poucos conseguem imaginar. São quantidades espantosas de minérios valiosos como ouro, prata, cobre lítio e enxofre mesclados com suas terras e camadas geológicas, tendo sido no passado este deserto um dos maiores produtores mundiais de salitre.

Em consequência disso, lugarejos e pequenas cidades surgiram do nada, atraindo salitre sintético que foi descoberto e manuseado de tal forma que o salitre natural perdeu seu posto e importância, fazendo com que, num pequeno espaço de uma década, as cidades outrora luminosas, transformaram-se em cidades fantasmas e sombrias, na verdade, vazias e cheias de cemitérios. Com estas cidades em busca de riqueza fácil e sobrevivência, vieram a inveja, intriga, sabotagem, descaso e morte.

Por outro lado, o lugar, mesmo pobre, estava predestinado a ostentar riquezas e então, descobriram a maior mina de cobre a céu aberto, em todo o mundo, riqueza esta, responsável por 8% do PIB do Chile.

Infelizmente, ocorreu um desabamento na mina de onde eles extraiam cobre e ouro, soterrando 33 mineiros, a 700 metros de profundidade. Isso aconteceu porque o principal acesso ao túnel ruiu. Só então, as autoridades chilenas iniciaram os socorros, monitorando 24 horas os mineiros. Especialistas em saúde, mineração, telecomunicações e segurança deram orientações, todos se mobilizaram e acompanham os trabalhadores até o final feliz.

No que diz respeito à especulação, falta de ética de algumas redes de comunicação jornalísticas, tanto tablóides quanto televisivas, o fato lembra o filme de Billy Wilder (Ace in the Hole, USA, 1951), onde o repórter Charles Tatum, vivido por Kirk Douglas armou toda uma situação para ficar famoso, especulando a possibilidade de prolongar a permanência de um mineiro preso numa mina, no Novo México. A propósito, já escrevi dois artigos sobre esse filme, os quais devem estar na internet, sendo que um deles com mais de 2 mil visitas acha-se disponível no http://pt.shvoong.com/humanities/1745709-montanha-dos-sete-abutres/

O resto da história sobre o resgate, todos sabem muito, pois os 69 dias em que os 33 mineiros ficaram embaixo da terra na Mina de San José, agora fazem parte da história, não só do país, mas do mundo, após um resgate fantástico, totalmente bem sucedido e, orgulhosamente e felizes, celebram a vida, como nunca fizeram antes.

O que poucos sabem, além dos próprios mineiros, é que durante esse tempo, alheios ao mundo fora da submersão da mina, esses homens aprenderam a conviver com a possibilidade da morte a qualquer momento. A experiência, na alma e na pele, de vivência e sobrevivência trouxe à tona o espírito de solidariedade do mundo todo, mas precisa também trazer à luz da razão que a índole humana precisa ser repensada e revista e não ficar soterrada nas profundezas do âmago da incompreensão.

*Professor do Centro de Biociência da UFRN

12 de out. de 2010

TIRIRICA NELES?!



*Juarez Chagas



Lacan (1901 – 1981), o dileto e predileto discípulo de Freud, dizia que “tudo está nas entrelinhas”, tendo seu trabalho influenciado os intelectuais dos anos 60 e 70, principalmente os filósofos estruturalistas.

O trabalho freudiano de Lacan era interdisciplinar, porém pautado no inconsciente, complexo de castração, ego, identificação e a palavra como percepção subjetiva. Isso tudo causava grande impacto social e o tornava um dos principais revolucionários da psicanálise moderna.

Falei sobre a frase de Lacan porque me veio uma grosseira analogia, aproveitando a onda global sobre a eleição do Tiririca. A comparação poderia ser, analogamente, que tudo poderia estar entre o voto debochado, no sentido de que o eleitorado que votou no palhaço Tiririca apenas fez uma palhaçada com o sistema eleitoral, quem sabe, tendo o governo como mira. E assim, cada um que nele votou, se deleitava com essa sátira que, no fundo, nada mais era do que uma revolta pessoal contra o sistema.

Na verdade, o que se viu foi uma reação de protesto individual e coletivo contra a instituição política brasileira, onde parcela do povo indignado aproveitou para satirizar o político brasileiro, transformando Tiririca no novo herói nacional, campeão de voto popular, comprovando que, se o povo quiser, faz valer o 1º artigo da Constituição Brasileira, no qual diz que todo o poder emana do povo e para o povo e, de quebra, reforçando que humor e deboche são armas poderosas que podem ser acionadas quando tiverem chance de disparo livre. O alvo? Política, governo, sistema. O disparo fulminou todos ao mesmo tempo.

A propósito, já a partir da campanha do Tiririca, começou o engraçado e divertido deboche, admitamos. Em um das gravações na internet, a mesma que foi ao ar na TV durante a campanha, pra começar ele aparece na televisão com o rosto encoberto com as mãos, convidando o eleitor a uma brincadeirinha de adivinhação debochada: “adivinha quem tá falando? Duvido vocês adivinhá (finalmente tira as mãos do rosto) ah!ah!ah!!!! Sou eu o Tiriricaaaaa!!! Candidato a deputado federal! 2222, não esqueça. Peguei vocês!, Enganei vocês!, vocês pensô que fosse outra pessoa. Sou eu, o abestado. Vote 2222 ah!ah!ah!!!”.

Esta foi apenas uma das aparições e propaganda do Tiririca na televisão. Existiram outras, cujo deboche e comicidade garantiram boas risadas para muitos ou indignação para tantos outros. Seu lema: “vote em Tiririca, pior do que tá não fica!”, ou então "O que é que faz um deputado federal? Na realidade, eu não sei. Mas vote em mim que eu te conto". Outras aparições na TV, dançando, rebolando, debochando com músicas como “Florentina”, completaram o cenário. Resultado: Tiririca foi Eleito o Deputado Federal para São Paulo mais votado com mais de 1,3 milhão de votos. Ganhou disparado de Gabriel Chalita, que é professor, educador e escritor e, um dos mais votados, também em São Paulo.

Agora, a Justiça quer cassar sua eleição e representatividade por provável analfabetismo, o que seria uma desonra e vergonha como deputado federal para o congresso. Cabe a pergunta: comprovado seu analfabetismo, seria essa sua condição (talvez negada pelo próprio Estado aos iletrados) mais vergonhosa do que os mensalões, os cuecas-cofres e os fichas sujas?

É uma pergunta que só a Reforma Política que nunca chega, poderá responder, pois a vergonha nacional repousa em berço esplêndido no planalto, na câmara e na (in)justiça, quando políticos doutores e “notórios-saberes” mancham filosofia da política e enganam os simplórios como se fossem práticas normais.

Também num país como o nosso, onde os Big Brothers (já em seu 11º ano) da mídia, a guerra entre mocinhos e bandidos (RJ), a corrupção e outras mazelas causada pelo ser humano, são exemplos de ibopes, portanto, não haveríamos de estranhar mais nada.

Assim sendo, enquanto Tiririca tem dez dias pra aprender a escrever o nome e, justificar que não é analfabeto, e o Presidente Lula que também nunca foi afeito à leitura, levou oito pra escrever um capítulo da história do Brasil, vamos corroborar Jacques Lacan, com um pequeno adendo à sua frase: “tudo está nas entrelinhas, porque as linhas já transbordaram seus conteúdos há muito tempo e ninguém quis ver”.

* Professor do Centro de Biociência da UFRN (Juarez@cb.ufrn.br)