*Juarez Chagas
Retomando a discussão a respeito da Transitoriedade, hoje, mais do que nunca, vista por uma grande quantidade de pessoas como algo angustiante, concluímos que sentimentos de ansiedade e insegurança se estabelecessem, principalmente em relação ao momento vivido e percebido.
Para quem leu o artigo de Freud sobre transitoriedade, deve lembrar que ele descreveu o exemplo do poeta, seu amigo com quem, numa caminhada pelos campos, num dia de verão, após contemplarem o cenário à sua vista e à sua volta, não consegue sentir satisfação nem alegria no que presenciava. Na verdade, o fato de toda aquela beleza prestes a se esvair, trazia, ao invés, um sentimento de perda, despojado de seu valor, por tudo aquilo estar sujeito à transitoriedade e que, em pouco TemPo, nada daquilo ali admirado, permaneceria, para o poeta.
Foi baseado nesse sentimento pessimista e aniquilador do momento e de que a transitoriedade traduzia perda do valor das coisas, por sua passagem efêmera, foi que Freud, trabalhou a questão do que a transitoriedade representa, principalmente para pessoas pessimistas, concluindo ser incompreensível, portanto, que o fato de algo ser transitório, influiria sobremaneira na essência das coisas, interferindo na sua fruição, fazendo com que seu valor perdesse o sentido, por causa de sua limitação no tempo.
Por outro lado, é importante dizer que, com a continuidade de seus estudos e, antagonicamente ao poeta que era pessimista e sofria só com a possibilidade efêmera da estação e sua temporalidade, ele afirma que a transitoriedade implicaria numa perda em si, porém num valor maior ainda do objeto em questão, isso porque a limitação da possibilidade de uma fruição aumentaria, seguramente, o valor dessa fruição de tal modo que a transitoriedade passaria a ser um vetor de estima para o momento vivido.
Para percebermos o que o próprio Freud observou no poeta, através de sua angústia velada, mas transparente em seu semblante e olhar, segue na íntegra parte do texto do grande gênio da Psicanálise:
“Não faz muito tempo empreendi, num dia de verão, uma caminhada através de campos sorridentes na companhia de um amigo taciturno e de um poeta jovem, mas já famoso. O poeta admirava a beleza do cenário à nossa volta, mas não extraía disso qualquer alegria. Perturbava-o o pensamento de que toda aquela beleza estava fadada à extinção, de que desapareceria quando sobreviesse o inverno, como toda a beleza humana e toda a beleza e esplendor que os homens criaram ou poderão criar. Tudo aquilo que, em outra circunstância, ele teria amado e admirado, pareceu-lhe despojado de valor por estar fadado à transitoriedade.
A propensão de tudo que é belo e perfeito à decadência, pode como sabemos, dar margem a dois impulsos diferentes na mente. Um leva ao penoso desalento sentido pelo jovem poeta, ao passo que o outro conduz à rebelião contra o fato consumado. Não! É impossível que toda essa beleza da Natureza e da Arte, do mundo de nossas sensações e do mundo externo, realmente venha a se desfazer em nada. Seria por demais insensato, por demais pretensioso acreditar nisso. De uma maneira ou de outra essa beleza deve ser capaz de persistir e de escapar a todos os poderes da destruição destruição.
Mas essa exigência de imortalidade, por ser tão obviamente um produto dos nossos desejos, não pode reivindicar seu direito à realidade; o que é penoso pode, não obstante, ser verdadeiro. Não vi como discutir a transitoriedade de todas as coisas, nem pude insistir numa exceção em favor do que é belo e perfeito”.
Devemos admitir e aceitar, portanto que, Freud tinha total razão ao mostrar o lado do valor da transitoriedade, uma vez que, saber ser tudo nesta terra efêmero, transitório e passageiro. Portanto, façamos valer cada segundo, cada minuto, horas, dias e anos de nossas vidas, valorizando o que realmente tem valor, independentemente de sua temporalidade, ou exatamente por causa dela.
* Professor do Centro de Biociência da UFRN (Juarez@cb.ufrn.br)
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