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14 de fev. de 2009

KISSING COUSINS


Kissings Cousings
(Publicado no O Jornal de Hoje com
o título: O Outro Elvis?)
* Juarez Chagas

Conheço no mínimo, dois fãs de Elvis Presley (na verdade um fã e uma fã) sobre o qual se você falar mal do rei do rock ‘n Roll, é melhor eles não estarem por perto. Mas, não há como negar que o pior filme de Elvis foi “Kissing Cousins”, gostem ou não eles desse fato, mesmo não significando essa constatação generalizada, falar mal do maior fenômeno mundial da música pop.

Quando assisti a comédia musical “Kissing Cousins” (Com Caipira Não se Brinca, MGM, 1964) era um jovem que acompanhava a trajetória do Rock, como tantos outros da época que curtiam esse gênero musical. E foi no Cinema Rex (Natal), que, como era de se esperar, estava lotado!

Em Natal, o Filme só passou quase dois anos depois de seu lançamento nos EEUU. Nessa época, Elvis Presley estava ainda no auge, embora num plateau linear do sucesso e os Beatles, que já viviam o glamour da beatlemania, ainda o consideravam a pura magia do Rock n' Roll e, é bom dizer que, Lennon ainda não tinha se arrependido de ter comprado o mais recente disco do Rei do Rock e nem de ter pedido uma audiência para a banda dos 4 cabeludos de Liverpool aos assessores de Elvis (isso tinha ocorrido há uns 5 anos atrás) para um simples e tímido encontro que se só se tornaria famoso anos depois.

Na verdade, era o esperado encontro (que Elvis já tinha evitado algumas vezes) entre as duas mais fantásticas gerações do Rock que sacudiu o mundo, cada um à sua maneira e ao seu tempo. Por isso mesmo, Elvis era o Rei do Rock, que só teve um e os Beatles os Reis do iê iê iê (ou yeah, yeah, yeah) que também foram os quatro únicos. O encontro, certamente, deu muito o que falar, principalmente para revistas e jornais fofoqueiros em busca de furos jornalísticos.

Mas, não é sobre Elvis em si que quero comentar e sim sobre um pouco de sua obra e, em específico, sobre este filme, na verdade o 14º de sua filmografia, pois como sempre há muita coisa por trás de uma obra até ela se transformar na mesma.

Entretanto, é bom que se saiba que Elvis foi realmente a primeira estrela oficial do Rock ‘n Roll, muito embora muitos outros tenham existido antes dele, e que lhes abriram as portas, como o inigualável Chuck Berry, por exemplo. No início, apenas um jovem branco do Sul que cantava blues misturado com gospel e música country, mesclando nas canções o lado negro e branco, algo praticamente impossível (e desejado por muitos) naquela época. Pelo menos, muita gente pôde ver isso, cinematograficamente, e constatar em King Creole (Balada Sangrenta, trilha sonora do filme do mesmo nome, lançado em 1958).

Porém, não era apenas a mistura desses gêneros que fez de Elvis um cantor especialmente admirado e criticado ao mesmo tempo, mas também seu balanço de quadril e jeito de cantar e dançar conduzido por seu ritmo inebriante, que levava as garotas à loucura (e seus pais também, justamente pelo motivo oposto). Na realidade, por causa de seus trejeitos e modo de dançar, enfatizando os movimentos do quadril, Elvis ganhou o apelido de The Pélvis (Mas, até mesmo o show de Ed Sullivan, na época o mais liberal, só mostrava Elvis cantando da cintura pra cima...). A juventude via nisso tudo e em seu jeito rebelde de interpretar suas músicas e personagens de seus filmes uma forma de liberação da rebeldia jovem reprimida dos anos 50 e 60 e que, por outro lado, a velha geração que via nisso tudo um atentado aos bons costumes sociais da época, viviam em permanente conflito de gerações. Por isso, James Dean em Juventude Transviada (Rebel Without a Cause, 1955) e , Marlon Brando, em O Selvagem (The Wild One, 1953) causaram tanto frisson e confusão.

“Com Caipira não se brinca” (título nacional) foi uma comédia musical de baixíssimo custo que, na verdade, serviu mais pra divulgar novas canções do rei do rock do que a dramaturgia cinematográfica propriamente. Nesse filme, Elvis atua papel duplo de um soldado americano, chamado Josh Morgan e um caipira de nome Jodie Tatum, que por sinal é seu primo e vive no meio do mato, perto das montanhas, onde o exército pretende instalar uma base militar. Há também na família Tatum, além dos pais, duas primas lindas que têm também amigas vizinhas, normalmente cortejadas pelo caipira Jodie. É no meio desse ambiente e pessoas que a trama do filme musical acontece, duma maneira que não convence. Mas, o que importa? A platéia estava ali por causa de Elvis e suas músicas e isso era o suficiente!
Por outro lado, na minha opinião o filme traz um acontecimento interessante para a vida pessoal de Elvis que é a oportunidade do mesmo ter atuado duplamente ele mesmo, ao interpretar o papel duplo do soldado e seu primo caipira. Isso, certamente, deve ter remetido ao próprio Elvis, o fato de ter tido um irmão gêmeo, cujo nome era Jesse Garon e que morreu no mesmo dia em que nasceu (8 de Janeiro de 1935). Além disso, no filme Jodie Tatum é um Elvis loiro, o que na verdade todo mundo sabe que Elvis era realmente loiro e pintava os cabelos de preto para causar mais impacto e lhe dar mais charme do que ele já tinha.

Nesse sentido, a 7ª Arte o permitiu viver nas telas o que o Destino o negou em vida: os “gêmeos” compartilharem na ficção o que não foi possível na realidade.

* Professor do Centro de Biociência da UFRN (Juarez@cb.ufrn.br)

Um comentário:

Anônimo disse...

ESPETACULAR essa sua interpretação sobre a possibilidade de Elvis poder fazer, neste filme, uma catarse, vivenciar situações que ele não conseguiu, com a perda do irmão gêmeo.
Também sou fã do Rei do Rock, porém nunca havia parado para analisar certos detalhes deste filme, e admito que deixou um pouco a desejar.

Elvis será sempre Elvis, muito mais por suas músicas do que por sua atuação como ator, na minha opinião.

Abraço...

Psicóloga