A Essência do Sujeito
*Juarez Chagas
Lendo o Método 5, A Humanidade da Humanidade, de Edgar Morin, cujo título original é La Méthode 5, L’humanité de L’humanité, lançado no Brasil pela editora Sulina (2005), o leitor encontra na segunda parte do livro que trata da identidade individual, o primeiro capítulo que discorre sobre “O Âmago do Sujeito”. O Método é sua principal obra e é constituída por seis volumes, tendo sido escrita ao longo de três décadas e meia. Trata-se de uma das maiores obras de epistemologia disponível e nele, podemos encontrar muitas referências de seus outros livros como O Paradigma Perdido: a Natureza Humana, O Homem e Morte, dentre outros.
Morin, sabiamente, como era de se esperar, inicia rebuscando a noção de sujeito, baseada tradição filosófica ocidental, apontando onde o sujeito “engessou”. Por isso ele faz um interessante trocadilho que sucinta sagaz reflexão: “Ser sujeito supõe um indivíduo, mas a noção de indivíduo só ganha sentido ao comportar a noção de sujeito”, e lá na frente ele conclui o parágrafo, enfatizando que “ser sujeito implica situar-se no centro do mundo para conhecer e agir”.
Edgar Morin, como já bem sabemos, é sociólogo, filósofo e um dos mais importantes pensadores da atualidade e um dos expoentes mais expressivos do pensamento mundial contemporâneo. É considerado um dos principais mentores do estudo sobre a complexidade e, para nosso deleite acadêmico, esteve em Natal por duas vezes, em maio de 1998 e em 2004, onde se encontrou com o pessoal do Grecom-Grupo de estudos da complexidade, na UFRN, onde proferiu palestras sobre o tema.
Na verdade, ele propaga seus estudos e pesquisas de caráter inter-poli-transdisciplinar sobre os problemas complexos que as sociedades contemporâneas hoje enfrentam, coletivas para resoluções e análises satisfatórias de tais complexidades.
Resumir o pensamento de Morin sobre a essência do sujeito, não é tarefa fácil nem tão pouco pretensão deste artigo. Entretanto, não deixa de ser interessante e, eu diria que, muito importante também, abordar tais considerações neste contexto, uma vez que o entendimento de sujeito, seu papel e lugar no contexto sociocultural muitas vezes é entendido de várias formas e percepções, o que concordamos, causa certa confusão. Além disso, há uma ampla visão, cujo entendimento sobre o âmago do sujeito, nos permite viajar em sua subjetividade, porém nada disso o impede de viver para si e para o outro dialogicamente, como aponta morin.
Por outro lado também, é interessante notar que na essência do sujeito, enquanto indivíduo, a subjetividade comporta a afetividade, evidentemente, fazendo com que o sujeito humano esteja destinado ao amor, à entrega, à amizade, à inveja, ao ódio e a todos os sentimentos e conteúdos que o movem na relação com o outro. E é fundamental não esquecer que a relação com o outro inscreve-se virtualmente na relação consigo mesmo. Essa reflexão nos faz lembrar Jean-Louis Vullierme quando o mesmo diz que “os sujeitos se auto-organizam em interação com outros sujeitos”.
Nesse sentido, chamo a atenção sobre um dos artigos que escrevi sobre Tanatologia, onde lembrava que a morte do outro é a morte de si próprio e entendemos melhor essa colocação quando aceitamos que a morte não é apenas a decomposição de um corpo, porém e igualmente o aniquilamento de um sujeito. Por isso é que a morte de um ente querido não aniquila apenas o outro, mas também o eu e o nós mais íntimos, abrindo, na quase totalidade das vezes, um insuperável e intransponível ferimento no âmago de sua subjetividade.
Na realidade, se todos nós entendêssemos nossa própria essência e a essência do outro, o mundo certamente teria melhores indivíduos, melhores sujeitos e ótimas pessoas.
19 de mar. de 2009
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4 comentários:
Alô Juarez, parabens pelo blog. Um grande abraço.
Entrevistei Morin em 1998, no Grecom. Grande figura!
Parabéns pelo belo artigo, Juarez.
Bjão
O trabalho de Morin é realmente magnífico. E um dos seus primeiros livros traduzidos para o português é um deleite para quem é fã de cinema (assim como eu.
"O cinema ou o homem imaginário" vale a pena ser lido, e se me permite, professor, gostaria de citar o prórpio autor: “A linguagem cinematográfica possui alguns recursos, digamos assim, que permitem que essas relações entre filmes e imaginário social se efetivem. Por exemplo, é possível reconhecer uma identificação entre a vida das personagens e a nossa vida, ou uma oposição entre os valores de alguns personagens - os vilões, por exemplo - e os nosso valores – ou os recomendados socialmente”.
O filme pode ser uma reconstrução da realidade. O cinema é uma janela que nos permite ser testemunhas da ação.
Grande Morin...ótimo artigo...
Psicóloga
Não encontrei sobre o seu livro! Gostei muito do seu blog. Um abraço, Ana Aguiar
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