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16 de abr. de 2009

DE FRENTE PARA O SOL

De frente para o Sol
(Publicado no O Jornal de Hoje)
*Juarez Chagas

Esse é o título do novo livro de Irvin Yalom, o mesmo autor de “Quando Nietzsche chorou”(1992), este por sua vez, seu primeiro romance e de bastante sucesso, que romantiza a vida de Friedrich Nietzsche e Josef Breuer, e que é muito conhecido, não somente no âmbito da Psicologia, mas como nas áreas de humanas, filosóficas e afins.

De frente para o Sol (Staring at the Sun, 2008, editado no Brasil pela editora Agir, 230 pgs) está sendo muito comentado, especialmente nos EEUU e Europa e, especificamente no âmbito da Tanatologia que é o objetivo de Yalom, neste trabalho, onde ele, através de seu livro mais pessoal até hoje escrito, aponta, discute e discorre sobre suas crenças íntimas, como uma forma de interação como psicoterapeuta e escritor.

O autor, agora com 78 anos de idade e mais introspectivo, é um escritor americano, filho de imigrantes russos, formado em psiquiatria, pela Universidade de Stanford que, surpreendentemente, alcançou a lista de livros mais vendidos nos Estados Unidos com Love's Executioner and Other Tales of Psychotherapy (no Brasil traduzido como Love’s Carrasco & Outras Histórias de Psicoterapia,1989), passando a partir daí a chamar a atenção da crítica literária para deslumbramento de seus seguidores e antipatia e resmungos de seus desafetos. Yalom, não iria querer ficar famoso sem ter que enfrentar a indisposição de invejosos que, só pelo sucesso de seu próximo, sentem-se incomodados e vingativos.
Falar sobre o novo livro de Yalom, que acabo de ler recentemente, não apenas como consulta para pesquisa sobre Tanatologia, porém também como interesse pessoal, implica em algumas considerações que, por mais que tentemos evitar, acaba tendo também conotações próprias, fato este, praticamente impossível de se evitar para quem se aprofunda nas obras e seus autores, sempre com a intenção de captar mais sobre o contexto e suas nuances. Ler um livro como um simples leitor é uma coisa e ler um livro como um pesquisador do autor e sua obra é outra coisa. E, confesso, não sei qual o melhor ou pior entre os dois. Talvez, quem sabe, ler o mesmo duas vezes com objetivos diferentes, seja o ideal.
De frente para o Sol, título escolhido pelo próprio Yalom como uma analogia à situação de que nem o sol e nem a morte podem ser encarados de frente (não considerar o quase pleonasmo, pois encarar tem que ser de frente mesmo), mas inspirada numa frase de François de La Rochefoucauld (não confundir com Michel Foulcault), que diz que “Nem o sol nem a morte podem ser olhados fixadamente” (Le soleil ni la mort ne se peuvent regarder en face).
Pra quem já leu o livro, admite que uma das primeiras coisas a se notar é que o autor faz questão de imprimir uma opinião pessoal de sua visão particular perante a morte e, acima de tudo, inspirada em seus predecessores intelectuais como, tanto os do século XIX quanto os do século XX, Pinel, Freud, Jung, Pavlov, Skinner, dentre outros, isso sem falar na própria filosofia de Epicuro sobre a morte, na qual ele tem se inspirado profundamente.
Mas, Yalom admite também ter tido alguns problemas com sua posição pessoal de ateu, assim como também com sua maneira individual de ver a sua própria angústia e o fantasma da morte e de sua inevitabilidade. Por outro lado, entende o papel das religiões em nos oferecer uma resposta para nossa existência, sobre a morte e todas as nossas construções imaginárias até então feitas pelo homem, mesmo contestando a questão da fé. Porém, prega que a morte não deve ser temida e discorre sobre uma série de exemplos, vividos em seu próprio consultório, de terapia para ajudar pacientes com angústia de morte. Diga-se de passagem, uma área dominada por poucos.
Na verdade, Yalom mostra, ao longo do livro, através de vários casos e histórias de seus próprios pacientes e, sobretudo através dos ensinamentos de seus mestres e sua larga experiência de meio século sobre como encarar a finitude humana, que novas perspectivas se abrem para transformar a idéia da morte, mesmo sendo algo insuportável como a luz ofuscante do sol, em energia vital e imprescindível para o ser humano, pelo menos como um raio de luz que vislumbre a trajetória do ser humano e que o mesmo não caminhe tão às escuras como vivia o homem das cavernas.
Entretanto, se formos mesmo comparar o homem de Neardental com o atual, em termos de atitudes perante o próximo e o coletivo, apesar de todo utensílio tecnológico e suas ferramentas de última geração, confesso que talvez o primeiro fosse menos animal...

*Professor do Centro de Biociências da UFRN(juarez@cb.ufrn.br)

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