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27 de mai. de 2011

É MUITA DEMAGOGIA !







É muita Demagogia!

(O Professor ao longo do tempo – IV)

*Juarez Chagas

Nada mais pertinente do que abordar na sequência intermitente dos artigos intitulados “O Professor ao longo do tempo” ( no escrevo O Jornal de Hoje, tendo iniciado esse tema em meados de Fevereiro deste Ano), o assunto em voga que foi o posicionamento da professora Amanda Gurgel na Audiência Pública Sobre o Cenário Atual da Educação no Rn, que ocorreu no dia 10 deste mês, mas que ainda é o comentário do momento.

Inquestionável o teor, coragem, verdade e, acima de tudo, a maneira como a professora Amanda demonstrou sua indignação, angústia e, principalmente, mensagem solidária de alerta contra o sistema cruel que penaliza a educação vigente. Na realidade, ela não discursou, ela falou naturalmente seu pensamento, sua visão, sua condição e sua decepção a respeito do sistema educacional local e nacional. Isso é o que se pode dizer fala certa, na hora certa e no lugar certo.

Por outro lado, é impressionante como temos que aturar a demagogia do dia-a-dia, a falsidade investida e revestida de oportunismo barato, descaradamente ostentado por pessoas que, de repente, como num estalar de dedos, caem em defesa de causas nobres, mas sofridas, perseguidas e refutadas por estas mesmas pessoas que, demagógica e hipocritamente se colocam como “defensoras” destas causas de uma hora pra outra, quando lhes são convenientes. E pior, causas estas que sempre hostilizaram ou que, no mínimo, delas mantiveram distância ou quaisquer associações pessoais ou funcionais.

Ridículo, demagógico e hipócrita são adjetivos suaves para a "manifestação de solidariedade" de "oportunismo" de muita gente que, NUNCA se preocupou com a Educação local ou nacional e que se diz solidária com a Professora Amanda e toda a classe do magistério, somente porque ela conseguiu com sua versatilidade e verdade chamar a atenção do país. Tem até gente comparando-a agora com Nísia Floresta, dizendo que ela seria sua repetição. A professora é ela mesma e é assim que deve ser vista e respeitada.

E tem mais...na época de pré-eleições, a Educação, a Saúde são carros-chefes e fontes perenes de votos. Uma vez eleitos, os políticos se preocupam muito mais em aumentar seus próprios salários do que aprovar leis e emendas em prol da Educação que, só volta a ter "valor" nas próximas eleições. Durma-se com tanta hipocrisia!

Pergunta-se: onde estava toda essa solidariedade antes da fala da professora Amanda na audiência pública? Onde estavam todas essas pessoas que, de repente “mostram-se tão solidárias”, mas que antes nunca intercederam em favor e em prol da educação ou da solidariedade à angústia das classes esquecidas ou simplesmente usadas para promoções pessoais ou classistas? Será que se os deputados, vereadores, secretária e representantes do poder teriam permitido que a professora falasse de sua angústia, representando a angústia do professor do Estado e demais trabalhadores em educação se soubessem que ela iria falar e denunciar tal descaso da forma que denunciou? Responda você mesmo.

A repercusão, local, nacional e até internacional do protesto da professora Amanda tem sido importante e em causa nobre. Portanto, que se evite banalizar ou desvirtuar o foco de sua importância. Estão achando pouco e tem gente que já quer até lançar a jovem professora candidata à prefeita de Natal (se bem que se comparando com essa administração que aí está...). Outros aventam a oportunidade até de lançá-la como pin up da playboy! Francamente...nao dá pra ouvir ou ler esse tipo de coisa sem se manifestar.

No que diz respeito à questão ou papel político da professora, pleitear ou nao candidatura seja de que nível ou ordem for, entende-se que quem tem que discutir isso ou não é a própria professora ou seu partido, o PSTU - Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado, ao qual a mesma é filiada.

No programa do Faustão (22/5/2011) quando Amanda Gurgel disse que estava ali e aproveitava a oportunidade pra emprestar sua voz a todos os colegas que comungam da mesma luta e do mesmo pensamento, certamente, ela não quis dizer que tantos outros se calassem, porém o que deu a entender é que representava também naquele momento todos aqueles que não podiam falar e nem tiveram a mesma oportunidade que ela teve e que ela mesma fez por onde acontecer e merecer. Portanto, todos devem também oportunizar falas e momentos para demonstrarem a indignação pelo estado caótico da educação que só é lembrada em época de campanha eleitoral e outros momentos oportunistas.

A educação sempre foi um caos em nosso país, agora de repente virou vitrine para os oportunistas que se dizem solidários, atirarem pedras quando ninguem estiver olhando. Ensinar é dom, abnegação e nobreza. Por isso merece RESPEITO!

A professora Amanda brilhou porque estava predestinada a brilhar apesar da ofuscação (essa palavra realmente existe) das adversidades e do “sistema” (político, educacional, social, etc) em nosso país...na verdade, pessoas como ela, já estão preparadas para quando o momento chegar, no seu caso sim, foi de oportunidade e não de oportunismo.

Pra concluir, só uma pequena informação, para que ninguém pense que somente agora, com esse assunto em voga, estou defendendo a causa do professor. Já escrevi muitos artigos aqui e em jornais locais, em favor da Educação e do Educador. Ensino desde os 17 anos de idade (quando ainda concluía o Científico no Atheneu e já ensinava Inglês na SCBEU-Sociedade Cultural Brasil-Estados Unidos) e, antes de prestar concurso para professor da UFRN (1978) eu ensinava no Estado e reivindicava melhores condições de ensino e salário e, engano quem pensa que a educação superior não está também relegada a último plano, pelos políticos que dela só lembram quando estão em campanha postulando seus mandatos.

* Professor do Centro de Biociências da UFRN

10 de mai. de 2011

QUE SAUDADE DO TIROL DAQUELA ÉPOCA! (I)








Que Saudade do Tirol daquela época! (I)

*Juarez Chagas

Falar do tempo de criança e adolescência dos Anos 60 e 70 em Natal, para mim, é tão prazeroso quanto igualmente fácil e saudoso. E, falar, do que movia e fazia a cabeça dos meninos, meninas e jovens daquela época, é mais fácil ainda e um prazer renovado, porque enquanto nosso presente armazena conteúdos para o futuro se tornar presente, o passado é a base do agora e, ninguém vive sem essas duas primeiras temporalidades referenciais. Portanto, recordar é, além de saudoso, misturar os tempos.

Voltar no tempo, nas asas do pensamento, das lembranças e emoções cronológicas que, vão aos poucos e gradativamente formando nossa história de uma Natal provinciana e tão calma de dar inveja a monge confinado é, aquela época e aquele lugar, que faz parte de minha subjetividade e concepções de infância, adolescência e amizades, quase iguais àquelas somente encontradas em contos de fadas e parábolas ou num mundo-de-faz-de-conta, parecido com aquele real em que vivíamos e não sabíamos que éramos tão felizes.

Entretanto, o que torna a saudade daquele tempo mais rica e mais aconchegante é quando a mesma é dividida, repartida, compartilhada e revivida por todos quantos tiveram a felicidade de serem os protagonistas e personagens reais de um tempo e histórias em comum que, mesmo o tempo não voltando atrás, o pensamento nos transporta ao passado de mão-dupla, fazendo-nos esquecer que há presente e futuro, por momentos. Ah, que saudade do Tirol daquela época!...

O Bairro do Tirol, numa simples visão topográfica, vai das margens das Dunas até, equidistantemente, a Prudente de Morais, ladeado pelas ruas Alexandrino de Alencar e Mossoró. Morei em duas ruas durante os anos 60 e 65. Na Rua Alberto Maranhão casa nº 924 (que por sinal, acaba de ser demolida, para ser substituída por mais uma especulação imobiliária) entre as ruas Rodrigues Alves e Afonso Pena e depois, na Rua Mossoró 528, já na fronteira com Petrópolis, entre Rodrigues Alves e Campos Sales. Quando lá cheguei pela primeira vez, tinha mais ou menos dez anos de idade, portanto a turma de minha geração tem entre 55 a 60 anos e, todos saudosos, como eu.

A comunidade do Tirol incluía muitas brincadeiras e atividades lúdicas, sendo nós mesmos, os protagonistas “construtores” da maioria dos próprios brinquedos, tais quais carros de latas (tanto das latas de leite ninho, atreladas umas às outras, por um arame, que comandávamos como se fosse um rolo compressor, quanto carros e caminhões feitos de flandres e madeira), pião, pipas (papagaios), times de botão de plástico, baquelite ou quenga de coco, baladeiras (fazíamos verdadeiras caçadas no sítio em frente à Lagoa Manoel Felipe, isso sem falar nos morros das dunas, onde íamos colher massaranduba e caçar passarinho e, nos assombrávamos quando conseguimos subir e descer completamente o morro, já nas imediações da praia de Ponta Negra. Sentíamo-nos verdadeiros desbravadores e destemidos, apesar do medo da distância percorrida e dos soldados do Exército que guardavam e protegiam a área militar.

O Tirol, como em qualquer outro bairro de Natal, tinha suas pequenas “subturmas” que, no final, formava uma grande turma. A propósito, as turmas de Natal daquela época, podiam ser dividas segundo seus bairros, como turma da Praça Augusto Leite, Turma do América, Turma do Aero Clube, Turma de Petrópolis (2 de Novembro), Turma das Rocas, Turma de Santos Reis, Turma da Tabica (que se concentrava mais no norte de Petrópolis), Turma da Alexandrino de Alencar, Turma da José de Alencar, Turma da Jaguarari e por aí ia...

A seleção também se fazia, naturalmente, por idade, vizinhança e afinidades de interesses e até domínio de território. Portanto, tudo isso valia e era o que mantinha a turma unida que, via de regra, normalmente também estudava na mesma escola ou colégio. A maioria, por exemplo, dos meninos e rapazes, nessa época, estudava no Ginásio 7 de Setembro, Marista, Escola Industrial ou Atheneu e, era comum, quando não pegávamos o circular, irmos todos juntos, a pé do Tirol até Petrópolis, onde ficava o 7 de Setembro (onde hoje Lembranças me vêem à mente, como a de nossa vizinha do lado esquerdo (muro com muro) onde morava D. Nésia, talvez, a primeira mulher, declarada e orgulhosamente, mais fanática por futebol que Natal já teve notícia em todos os tempos. Ou melhor, que o ABC já tenha tido em toda a sua trajetória de clube. Para nossa satisfação, ela não teve filhos. Tinha 3 filhas. Yaponira, Mércia e Núbia e, já naquela época dava exemplo às meninas, de emancipação social e dizia que futebol não era só hobby e paixão de homem, o que deixava bem claro para seu Luiz, seu marido que era coronel do exército que, no meio dessas quatro mulheres, usava bem a estratégia do silêncio.

Quisesse algum menino ou mesmo adulto arranjar uma briga ou inimizade com D. Nésia, bastava falar mal do ABC ou torcer pelo America, em sua frente. A reação era imediata e incontestável. Ela não economizava verbos, exclamações e até alguns palavrões que a idade lhe conferia direito. Há comentários de que ela própria teria feito uma música para o Mais Querido. Talvez, algum abcedista histórico saiba disso, melhor do que eu. Se ela realmente compôs a música não sei ao certo, mas sei que a ouvi muitas vezes cantarolar uma música (tipo carnavalesca) que, com certeza, não era o hino do ABC. Também a vi muitas vezes, ir sozinha ao Juvenal Lamartine, com uma bandeira do Mais Querido, três vezes maior do que ela, nas costas, cantando o Hino de seu clube, sozinha, porém, tão radiante como se estivesse sendo seguida por centenas de torcedores, fazendo coro com ela. O que uma paixão não faz!

Nossos vizinhos de frente, uma casa, totalmente dentro de um sítio que avançava a rua de areia (não era calçada nem de paralelepípedo), cujo quintal continuava com o sítio defronte da Lagoa Manoel Felipe (atual Cidade da Criança), moravam Zé Maria, Paulo e sua irmã Joana D´arc (além de seus pais, evidentemente). Gente muito boa, simples e solícita. Só que aconteceu um fato interessante que me chamou a atenção, já naquela época.

Paulo, além de baixo, era magro e caquético. Como a onda dos “marombeiros” já vinha do final dos anos 50, ele passou a ser um dos adeptos do “levantamento de ferro” e, em poucos meses, ficou mais “inchado” do que pão de padaria inflado a troco de bromato. Foi a primeira vez que vi que, o corpo humano podia se modificar do dia pra noite, mais rapidamente do que a gravidez natural das mulheres. Ficar “forte” naquela época era o máximo e dava status, pois a imagem dos “homens fortes” do cinema, como Tarzan, Maciste, Hércules e outros, começava a substituir os heróis do faroeste, gradativamente, onde a beleza do corpo passava a valer mais do que os revólveres dos mocinhos.

Se hoje os jovens gostam de exibir suas tatoos, os daquela época gostavam de mostrar os bíceps, peitorais e abdominais e, em contrapartida, ganhar o respeito dos adversários e a admiração das meninas.

Do lado direito de nossa casa, entre outros moradores, morava Marcão, irmão de Bebeto, que era grande atleta do Atheneu. Marcão, hoje Cirurgião-Dentista, pertencia à turma mais velha que a nossa (que incluía contemporâneos como Otacílio, Marcelo Coelho, Macarrão, Amador, dentre outros) e, por vezes, se achava no direito de se fazer “respeitado” pelos menores, de qualquer jeito. Então, ele arranjava um boné de soldado da polícia e, quando via os meninos da turma menor, bradava e corria atrás, gritando “Lá vem a polícia! Lá vem a polícia!! E Vamos levar todo mundo que ´tiver na rua!!” A correria da criançada era geral e imediata. Isso transformou Marcão que, pela sua própria estrutura física e modo de andar com as pernas abertas e passos mais largos do que as mesmas lhe permitia, já amedrontava a molecada, num tipo de censor e “bicho-papão” da área. Tempos depois, ele quis dar uma de bonzinho e desmistificar o estigma que criara, mas já era tarde. A molecada quando o via, corria mesmo que ele estivesse “sorrindo”sem o boné da polícia e sem dizer uma só palavra. Ossos da conquista.

Como não lembrar da hora do vendedor de geléia embaixo do pé de pitomba da casa de Wilson (Wilson Cardoso), onde cotidianamente se reunia parte da turma do Tirol? Lá encontrávamos Heriberto e Erivan, filhos de “seu Hermes”, o único que tinha o ônibus “Circular” que passava por Tirol e que arriscávamos “pegar morcego”!? Ele mesmo foi seu próprio motorista por um bom tempo. Lembro bem que o circular passava exatamente na Rua Alberto Maranhão, já tendo circulado pela Praça Augusto Leite, indo para Petrópolis, para depois circular pelas praias do meio, dos Artistas, ir até próximo da praia do Forte e depois voltar ao Tirol, ou seja, circular novamente.

Lá também apareciam costumeiramente os irmãos Rilke e Ranke, (Rubinho, Racine e Rui já faziam parte da turma um pouco mais velha, já citada antes), Mamá, Fafá, Eider, Laércio, Edinho e outros.

Mais na frente, já vizinho ao Grupo Escolar Dr. Manuel Dantas (por sua vez vizinho à Escola Rural de Natal), moravam Ivanaldo e seus irmãos, conhecidos todos como “os irmãos metralhas”, que, diga-se de passagem, gostavam de impor um certo domínio de território, mesmo entre os amigos. Isso, por vezes, gerava disputa e discussão, porém nada que não se resolvem por ali mesmo na base da amizade.

* Pisicólogo, Professor Universitário e Escritor, autor do Livro O Corpo Oculto.

juachagas@gmail.com, juarez@cb.ufrn.br

QUE SAUDADE DO TIROL DAQUELA ÉPOCA! (II)








Que Saudade do Tirol daquela Época!(II)

*Juarez Chagas

Em relação ao bairro, os três principais lugares para se brincar eram, a já citada Praça Augusto Leite, A Lagoa Manuel Felipe e o Sítio defronte à lagoa. Futebol, brincadeira de “mocinho e bandido”, pião, pipa, futebol de botão, colecionar tampas de guaraná e coca-cola, carteiras de cigarros vazias (Astória, Continetal e LS eram as marcas brasileiras mais procuradas. Já Lucky Strike, Hollywood, Camel, Chesterfield, dentre outras, eram as importadas mais difíceis e, por isso, valiam mais) e, claro, revistas em quadrinhos não podiam faltar no mundo imaginário e depois real da criança e do adolescente daquela época.

No meio disso tudo, tinha umas “figuras” emblemáticas e que marcavam pela suas presenças envolventes e exóticas, ao mesmo tempo. “Maria Barra-Limpa”, por exemplo, era uma mulher de meia idade que passava de casa em casa vendendo ambulantemente, perfumarias e outras bugigangas. Seu biótipo e semblante lembravam uma cigana bem trajada e sua oratória convincente era sua característica principal. Conseguia vender até o que não tinha. Havia também seu “Pessoa”, que era um enfermeiro-a-domicílio, sempre muito bem alinhado usando sempre uma bata (jaleco) branca e curta, com quatro bolsos, um ar compenetrado, mas que tinha um detalhe: além de suas injeções causarem pavor, ele portava um pequeno chicote preso ao punho direito, daqueles que se açoita cavalos preguiçosos. Isso completava a personagem do medo que sua silhueta causava aos garotos, quando com ele se defrontavam, principalmente se precisavam de seus préstimos farmacêuticos!

Outra figura nada bem amistosa para garotada era o barbeiro a domicílio. Este já avisava dia e hora do próximo corte de cabelo, que por sua vez, era um só: tipo coroinha ou escovinha, porque era prático e rápido e, na verdade, rotulava o estilo da meninada, nada democrático, evidentemente. Muitas vezes, pra ganhar tempo e evitar andar muito pelo bairro, reunia vários meninos numa só casa amiga, que quase em fila, os garotos quase perdiam o escalpo, mas em compensação, saiam cheirosos de talco e perfume.

Por falar em “figuras”, isso nos remete também aos famosos álbuns de figurinhas que saiam sistematicamente para ser colecionados e preenchidos figurinha a figurinha, o que se constituíam em verdadeiros desafios coroados com êxitos quando se completavam os álbuns. Pequenos grupos se reuniam em cigarreiras para comprar e trocar figurinhas duplicatas. As mais “difíceis” eram verdadeiros troféus e valiam por várias consideradas fáceis. Assim, reuníamo-nos em frente aos cinemas, cigarreiras, praças e nas escolas para vender, comprar e trocar figurinhas dos álbuns preferidos que, naquela época, eram álbuns de artista de cinema, futebol e, do bolão (do chiclete ping pong) e etc.

Ainda hoje, guardo com orgulho, três desses álbuns prazerosamente colecionados por mim e meu irmão Otacílio: o da Copa do Mundo de 1962 (com 248 figurinhas), Ben Hur (216 super cromos, 1961) e Cine Cromos (210 figurinhas de artistas do cinema, 1964).

Por falar em cinema, como esquecer os seriados dominicais nos cinemas São Luiz, São Pedro e Rex? A garotada, geralmente acompanhada dos irmãos mais velhos, fazia dos seriados seus programas preferidos, havendo também as trocas e compras de revistas e gibis em frente aos cinemas que se constituía em verdadeiro “comercio” de hobby dos colecionadores de revistas. Os seriados mais instigantes e populares eram Fu Manchu, Os mil Olhos de Doutor Mabuse, Rocky Lane, Rex Allen, Superman, Shazan, dentre outros. Eram comuns as sessões duplas. Por exemplo, quando tinha filme de Tarzan, a 1ª sessão era um seriado. Pipoca, algodão doce, bombons e geléia, fazia parte do programa.

Sobre compra, venda e troca de revistas, Marcelo Coelho era tido como uma espécie de “poderoso chefão” dos gibis, pois sempre tinha as melhores revistas e, com conhecimento e habilidade, monopolizava os quadrinhos do bairro e tinha fama de, só ele, conseguir as revistas mais difíceis e procuradas no mundo dos quadrinhos.

Os faroestes mais procurados publicados pela RGE (Rio Gráfica Editora) e Ebal eram Roy Rogers, Zorro, Rocky Lane, Cavaleiro Negro e as brasileiras Jerônimo, o Herói do Sertão e as Aventuras do Anjo. As duas últimas oriundas de novelas homônimas da Radio Nacional do Rio de Janeiro. Era uma festa!

Falando em Jerônimo, outro passatempo que marcou nossa geração foi a novela e os gibis deste herói brasileiro das HQ. A novela, por sua vez começou em 1957, através da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, retransmitida para todo o Brasil. Estivessem fazendo o que estivessem, onde estivessem e como estivessem, quando terminava a Hora do Ângelo, iniciava a novela de Jerônimo, todo mundo corria para o pé do rádio e de lá só saía quando a novela terminava. A novela foi sucesso nacional e, Jerônimo ganhou revista própria em 1958, passando a competir com os gibis americanos que invadiram o país, pós guerra, e diga-se de passagem, era um dos gibis mais procurados e concorridos. Ainda hoje, guardo a coleção completa! (do nº 1 ao 93)

* Pisicólogo, Professor Universitário e Escritor, autor do Livro O Corpo Oculto.

juachagas@gmail.com, juarez@cb.ufrn.br

QUE SAUDADE DO TIROL DAQUELA ÉPOCA! (III)









Que Saudade do Tirol daquela Época!(III)

*Juarez Chagas

Como não lembrar também das peladas na quadra da Praça Augusto Leite? Às vezes era difícil concordância sobre dias e horários entre a turma do futebol e a turma do basketball, onde Toinho Bicuara e Nilo eram os mais contestadores em defesa do espaço para o basketball.

Por falar em Basketball, nao podemos deixar de citar as rivalidades que existiam entre as turmas de clubes diferentes, embora no final das contas, fossem todos amigos. Por exemplo, a turma do América que praticamente era a base do time do Atheneu, muito bem representado por Flávio Aguiar e Roberto Galvão, responsáveis por vários títulos do colégio e do clube. Mas...eram rivais da turma da AABB e do ABC. Mas, era engraçado, pois brigavam em quadra e saravam as mágoas e feridas depois em bares e festas. Isso sim, era que era tempo!

Lembro bem que, Flávio Aguiar era tão bom no basket quanto bom de briga. Nem levava desaforo pra casa e ainda fazia questão de exibir sua imponência. Caso alguém nao gostasse que reclamasse e isso, era motivo suficiente para se medir as forças e o respeito ou mando de território. É bom lembrar que, até as brigas daquela época eram saudáveis e ninguém nunca baixou hospital nem se aleijou ou se matou ninguém, como nos dias de hoje.

O Karate despontava em Natal no final dos anos 60 e teve seu auge nos anos 70. Lembro que boa parte da juventude daquela época praticou essa fantástica arte marcial. Ainda sobre a valentia de Flávio, uma vez, depois de assistir uma demonstração de Karate, num exame de faixa realizado no Palácio dos Esportes (por sinal lotado!), ele chegou pra mim e disse, direto: “Vem cá, vocês só usam karatê pra exibição, é? Antes que eu respondesse, emendou: “Pois eu queria saber essa porra como você, que podiam vir dez ou mais...rimos os dois no final e ficou por isso mesmo.

Por falar nisso, o futebol de quadra era tão fervoroso que criaram até o Tirol Esporte Clube, time que foi criado na época e que participava dos torneios de bairros de Natal.

E os passeios e corridas de bicicleta que fazíamos em grupos, pedalando feito doidos por quase toda a Natal, para desespero das mães que, quando descobriam, até promessas faziam para proteção dos “inocentes”?! Nessa época, as bicicletas passaram a ser, além de divertimento, um verdadeiro desafio, uma maneira de descobrir lugares nunca vistos antes, da cidade do sol e o primeiro contato com o vento no corpo em termos de velocidade e liberdade.

A sorte era que, as bicicletas alugadas na “Casa do Grilo (em frente ao Palácio Potengi) era barato e, não havia carros suficientes na cidade, para atropelar a garotada que, nem noção trânsito tinha e, o nome semáforo soava estranho como sinônimo de sinal. Portanto, a pouca noção de trânsito, além do conhecimento básico das cores verde, amarelo e vermelho era sobrepujada pela irreverência e irresponsabilidade. Os”Easy Riders” dos anos 60 eram inocentemente, movidos apenas pelo vento e ímpeto de criança e adolescência, com boa dose de perigo e irreverência...e isso era o suficiente e bastava.

Depois do Tirol, em 1966, fui morar no Bairro Barro Vermelho, na Rua Jaguarari nº 1178, onde eu fui vizinho de Petit, (até os anos 70), de muro comum às duas casas. Foi então quando conheci novos amigos e a Turma da Jaguarari, que era eclética, mutável e grande, porém muito unida e de convício social muito forte.

Fazer parte da Jaguarari daquela época era algo fantástico! Embora, não tivéssemos tanta consciência sobre isso, no momento. Como a Jaguarari era enorme, vários foram os componentes da turma. Entre o trajeto da rua que ia do ponto onde desembocava a rua na Olinto Meira (nas imediações do antigo Colégio Batista Beriano) até atravessar a Alexandrino de Alencar, podíamos encontrar (subindo) Guaracy, Cícero, Oscar (irmão de Osman e Paulo Rosso), Bel, Paulo Marrom, Baito e demais irmãos e irmãs, Peron; em seguida tinha a bodega de Joaquim Metade (na esquina) quase em frente ao bar Vagalume e, seguindo rua acima, tinha Elino, Petit, Érico, Eilson e Jobel (todos das Virgens, incluindo as meninas Gracinha, Eliane e Lourimar), vizinho meus primos Renato, Luiz, Chavinha, Socorro, Marluce, Vera e Otacílio e eu.

Em frente à nossa casa, a famosa Padaria Ipan, de seu Raimundo, pai de Ítalo, Itamar e suas irmãs, fazendo fundo com a casa de Paulo e Dedé Felipe. Já mais na frente, tinha Arnon, Paulinho do cartório (ou da Farmácia, onde Chicão Damasceno sempre ia encontrar amigos para um bate-papo), Luiz, Hiran, Elenir, Eliane, Edilson, Edmilson, Vera, Zezinho. Chico, irmão de Etiene, assim como Marcelo Dieb, moravam transversalmente a Joaquim das Virgens, já quase desembocando na Olinto Meira. Por falar em Olinto Meira, esta ladeava quase que completo o imenso sítio de mangueiras e outras fruteiras, indo do posto de gasolina, na esquina com a Alexandrino de Alencar até ladear o Colégio das Neves. Ali se jogava bola, ensaiava-se e dançava-se quadrilha na época junina, além do lugar ser palco também de alguns shows artísticos.

É claro, que fica difícil listar todos (e que não se sintam esquecidos os demais), mas uma figura que não pode ser esquecida, é o famoso Homem Mau que, marcou não só a Jaguarari do final dos anos 60 e meados dos anos 70, como agitou toda Natal, com seu estilo gozador de humor cortante e bom amigo, com seus repentes e tiradas que até o incomparável Zé Areia, sentiria inveja.

* Pisicólogo, Professor Universitário e Escritor, autor do Livro O Corpo Oculto.

juachagas@gmail.com, juarez@cb.ufrn.br