Que Saudade do Tirol daquela Época!(II)
Em relação ao bairro, os três principais lugares para se brincar eram, a já citada Praça Augusto Leite, A Lagoa Manuel Felipe e o Sítio defronte à lagoa. Futebol, brincadeira de “mocinho e bandido”, pião, pipa, futebol de botão, colecionar tampas de guaraná e coca-cola, carteiras de cigarros vazias (Astória, Continetal e LS eram as marcas brasileiras mais procuradas. Já Lucky Strike, Hollywood, Camel, Chesterfield, dentre outras, eram as importadas mais difíceis e, por isso, valiam mais) e, claro, revistas em quadrinhos não podiam faltar no mundo imaginário e depois real da criança e do adolescente daquela época.
No meio disso tudo, tinha umas “figuras” emblemáticas e que marcavam pela suas presenças envolventes e exóticas, ao mesmo tempo. “Maria Barra-Limpa”, por exemplo, era uma mulher de meia idade que passava de casa em casa vendendo ambulantemente, perfumarias e outras bugigangas. Seu biótipo e semblante lembravam uma cigana bem trajada e sua oratória convincente era sua característica principal. Conseguia vender até o que não tinha. Havia também seu “Pessoa”, que era um enfermeiro-a-domicílio, sempre muito bem alinhado usando sempre uma bata (jaleco) branca e curta, com quatro bolsos, um ar compenetrado, mas que tinha um detalhe: além de suas injeções causarem pavor, ele portava um pequeno chicote preso ao punho direito, daqueles que se açoita cavalos preguiçosos. Isso completava a personagem do medo que sua silhueta causava aos garotos, quando com ele se defrontavam, principalmente se precisavam de seus préstimos farmacêuticos!
Outra figura nada bem amistosa para garotada era o barbeiro a domicílio. Este já avisava dia e hora do próximo corte de cabelo, que por sua vez, era um só: tipo coroinha ou escovinha, porque era prático e rápido e, na verdade, rotulava o estilo da meninada, nada democrático, evidentemente. Muitas vezes, pra ganhar tempo e evitar andar muito pelo bairro, reunia vários meninos numa só casa amiga, que quase em fila, os garotos quase perdiam o escalpo, mas em compensação, saiam cheirosos de talco e perfume.
Por falar em “figuras”, isso nos remete também aos famosos álbuns de figurinhas que saiam sistematicamente para ser colecionados e preenchidos figurinha a figurinha, o que se constituíam em verdadeiros desafios coroados com êxitos quando se completavam os álbuns. Pequenos grupos se reuniam em cigarreiras para comprar e trocar figurinhas duplicatas. As mais “difíceis” eram verdadeiros troféus e valiam por várias consideradas fáceis. Assim, reuníamo-nos em frente aos cinemas, cigarreiras, praças e nas escolas para vender, comprar e trocar figurinhas dos álbuns preferidos que, naquela época, eram álbuns de artista de cinema, futebol e, do bolão (do chiclete ping pong) e etc.
Ainda hoje, guardo com orgulho, três desses álbuns prazerosamente colecionados por mim e meu irmão Otacílio: o da Copa do Mundo de 1962 (com 248 figurinhas), Ben Hur (216 super cromos, 1961) e Cine Cromos (210 figurinhas de artistas do cinema, 1964).
Por falar em cinema, como esquecer os seriados dominicais nos cinemas São Luiz, São Pedro e Rex? A garotada, geralmente acompanhada dos irmãos mais velhos, fazia dos seriados seus programas preferidos, havendo também as trocas e compras de revistas e gibis em frente aos cinemas que se constituía em verdadeiro “comercio” de hobby dos colecionadores de revistas. Os seriados mais instigantes e populares eram Fu Manchu, Os mil Olhos de Doutor Mabuse, Rocky Lane, Rex Allen, Superman, Shazan, dentre outros. Eram comuns as sessões duplas. Por exemplo, quando tinha filme de Tarzan, a 1ª sessão era um seriado. Pipoca, algodão doce, bombons e geléia, fazia parte do programa.
Sobre compra, venda e troca de revistas, Marcelo Coelho era tido como uma espécie de “poderoso chefão” dos gibis, pois sempre tinha as melhores revistas e, com conhecimento e habilidade, monopolizava os quadrinhos do bairro e tinha fama de, só ele, conseguir as revistas mais difíceis e procuradas no mundo dos quadrinhos.
Os faroestes mais procurados publicados pela RGE (Rio Gráfica Editora) e Ebal eram Roy Rogers, Zorro, Rocky Lane, Cavaleiro Negro e as brasileiras Jerônimo, o Herói do Sertão e as Aventuras do Anjo. As duas últimas oriundas de novelas homônimas da Radio Nacional do Rio de Janeiro. Era uma festa!
Falando em Jerônimo, outro passatempo que marcou nossa geração foi a novela e os gibis deste herói brasileiro das HQ. A novela, por sua vez começou em 1957, através da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, retransmitida para todo o Brasil. Estivessem fazendo o que estivessem, onde estivessem e como estivessem, quando terminava a Hora do Ângelo, iniciava a novela de Jerônimo, todo mundo corria para o pé do rádio e de lá só saía quando a novela terminava. A novela foi sucesso nacional e, Jerônimo ganhou revista própria em 1958, passando a competir com os gibis americanos que invadiram o país, pós guerra, e diga-se de passagem, era um dos gibis mais procurados e concorridos. Ainda hoje, guardo a coleção completa! (do nº 1 ao 93)
* Pisicólogo, Professor Universitário e Escritor, autor do Livro O Corpo Oculto.
juachagas@gmail.com, juarez@cb.ufrn.br
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