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22 de dez. de 2008

O HOMEN DE NAZARETH


O Homem de Nazareth
(Publicado no Jornal de Hoje)
* Juarez Chagas


Nada mais do que oportuno falar, nesta época natalina, do legado que Jesus Cristo deixou à humanidade no que diz respeito ao seu contexto renovador, para não falar, especificamente, da importância da cristandade entre os homens, e também lembrar sua fonte de inspiração poética.

Independentemente de espiritualidade, religião, e toda a sua infinita bondade, Jesus Cristo também foi o maior filósofo e revolucionário de todos os tempos. Assim sendo, os simples mortais ditos revolucionários, por menos comparações que se possa fazer com Ele ou com inspirações advindas d’Ele, às vezes conseguiam (e conseguem) transmitir momentos destas inspirações. Muitos artistas e cantores, em todo o mundo, em momentos sagrados de reflexões, inspiraram-se nas lições de Cristo, resultando em belas canções e melodias que, agradam não somente aos ouvidos, mas também à alma e ao coração.

No Brasil, dentre esses artistas e cantores, é claro, lembramos logo de Roberto Carlos, que fez até o Papa João Paulo II entoar “Jesus Cristo”, durante a sua visita ao Brasil. Porém, existem outros artistas pop para quem Jesus Cristo foi grande inspiração musical, dos quais não podemos esquecer, como Antonio Marcos, por exemplo.

Antonio Marcos Pensamento da Silva (1945-1992) foi cantor pop, romântico e da Jovem Guarda, tendo sido também, por vezes, companheiro da dupla Erasmo e Roberto Carlos. A propósito, “Como Vai Você?", gravada por Roberto Carlos (regravada por Maria Bethânia, Zezé Di Camargo e Luciano e outros) e que muitos pensam ser de autoria de RC, vendeu mais de 700 mil discos no auge dos anos 60. Além de O Homem de Nazareth, Antonio Marcos cantou também Eu Queria Tanto Falar com Deus e Oração de Um Jovem Triste (75), todas de sentido religioso e de Fé Cristã.

A vida pessoal de Antonio Marcos foi um tanto confusa e conturbada, pois o mesmo consumia álcool abusivamente, o que afetou não somente seu organismo, mas também sua carreira artística e pessoal. Casou em 1972 com a cantora Vanusa e depois com a atriz Débora Duarte, sendo, portanto pai de Paloma Duarte. Esteve doente várias vezes e antes de falecer, esteve internado em Natal, na Casa de Saúde São Lucas, antes de retornar à São Paulo, onde finalmente não superou a doença.

Antonio Marcos foi um dos importantes cantores do Brasil, principalmente no que diz respeito à música pop e à época dos Anos Dourados, onde era um dos mais aclamados pelo povo e pela mídia. Quanto à música O Homem de Nazareth, que eu me lembre, ele cantou com inspiração e fervor e conduziu muita gente a essa mesma inspiração de Fé Cristã associada à inspiração jovem. Confira nas duas estrofes seguintes o teor de sua mensagem:


O Homem de Nazareth
(Antonio Marcos)

Mil novecentos e setenta e três
Tanto tempo faz que ele morreu
O mundo se modificou
Mas ninguém jamais o esqueceu
E eu sou ligado no que Ele falou
Sou parado no que Ele deixou
O mundo só será feliz
Se a gente cultivar o amor

Hey irmão, vamos seguir com fé
Tudo que ensinou o Homem de Nazaré (bis)
Reis e rainhas que esse mundo viu
Todo o povo sempre dirigiu
Caminhando em busca de uma luz
Sob o símbolo de sua cruz
E eu sou ligado no que Ele falou
Sou parado no que Ele deixou
O mundo só será feliz
Se a gente cultivar o amor
Hey irmão, vamos seguir com fé
Tudo que ensinou o Homem de Nazaré (bis)

Ele era um Deus mas foi humilde o tempo inteiro
Ele foi filho de carpinteiro
E nasceu em uma manjedoura
Não saiu jamais muito londe de sua cidade
Não cursou nenhuma faculdade
Mas na vida Ele foi doutor

Ele modificou o mundo inteiro
Ele modificou o mundo inteiro
Ele modificou o mundo inteiro
Ele revolucionou o mundo inteiro

Hey irmão, vamos seguir com fé
Tudo que ensinou o Homem de Nazaré (bis)

Desejamos a todos os nossos leitores e nossas leitoras UM FELIZ NATAL e um FELIZ ANO NOVO! E que sigam com Fé na busca de seus sonhos e ideiais.

Professor do Centro de Biociência da UFRN (Juarez@cb.ufrn.br)

16 de dez. de 2008

ANIMAIS IRRACIONAIS(SOMOS TODOS MEIO)

Animais Irracionais, nós os homens somos todos Meio...
(Publicado no O Jornal de Hoje)
* Juarez Chagas

“Animais, animais
Nós os homens somos todos meio
Animais irracionais
Levantamos, guerreamos e deitamos e rezamos antes
A vida é um sonho e nada mais!
Oh, cantem atrás...”

Quem era adolescente nos anos 70 que acompanhava o movimento musical da época (por sinal eu era um deles) e que, no mínimo, conhecia o refrão acima, da música de Dom & Ravel “Animais Irracionais (somos todos meio)”, sabia que esta talvez tenha sido a música-protesto mais forte da década e mais um veículo de contestação bem aceito pelos jovens sempre dispostos a alfinetar o “sistema” e a burguesia social e etc e tal.

A música, sucesso nacional indiscutível, batia forte na ditadura e nos poderosos especuladores (tanto nacionais quanto internacionais, no nosso Brasil) que exploravam os pobres e oprimidos, arranjando sempre uma forma de burlar o fisco, coisa que o cidadão comum e honesto não fazia e ainda tinha seu “imposto de renda” (que renda?) deduzido direto do contracheque. Era “contra”cheque mesmo. Aliás, ainda hoje é assim. Na verdade, quem impulsiona a máquina do governo é o povo que paga seu imposto, que em contra-partida, lhe devolve uma educação ruim, saúde idem...(pra citar somente esses dois bens dos quais qualquer nação deveria se orgulhar).

Mas, retomando a trajetória musical desta dupla de irmãos cearenses, a qual é rica e contraditória, igualmente, pois, à primeira vista, tanto parecia cantar e enaltecer valores defendidos pela Direita, como ao mesmo tempo protestavam contra a ganância, injustiça e humilhação contra o ser humano, principalmente os mais carentes, humildes e indefesos.

Na verdade, sobre a questão de terem sido taxados de traidores comprados pela Direita por causa das músicas como Eu Te Amo Meu Brasil e outros sucessos como Você Também é Responsável e Obrigado, Homem do Campo, usadas na virada dos anos 70, em pleno auge da ditadura, pelo governo militar, o próprio Ravel diz hoje que não foi nada disso e que apenas como Dom era um cara visionário, resolveu seguir uma das influências dos Beatles que, para confundir a sociedade, no meio da maior revolução musical do mundo, usaram um marketing voltado ao patriotismo, ao usarem camisas estampadas com a Bandeira do Reino Unido e outros símbolos patrióticos, apontando que o país era dos jovens. Então a dupla brasileira adotou também essa linha e fez “Eu te Amo Meu Brasil” movida pela comoção nacional durante a Copa de 70.

Ocorreu que Eu te amo meu Brasil foi tão marcante que chegou a ser cogitada para se tornar o novo hino nacional e transformou-se num símbolo do país durante o período em que se alardeava o milagre brasileiro e se comemorava os bons resultados do futebol e da campanha do governo militar. Não deu outra: a dupla passou a ser vista como “protegidos” pelo “sistema”. Outra música usada pelo Governo foi “Você Também é Responsável”, lançada em 1971, que tornou-se, na época, Hino do Mobral, (Movimento Brasileiro de Alfabetização).

Mas, o outro lado da moeda, viria em seguida, mais precisamente em 1974, quando cansados de serem acusados de puxa-sacos do governo, os dois irmaãos compusera e cantaram “Animais Irracionais (somos todos meio)” . A música foi proibida pela censura e o disco recolhido de todas as rádios do Brasil, sendo liberada apenas posteriormente. Agora a dupla se via em maus lençóis, pois era censurada tanto pela Direita, quanto pela Esquerda, um fato inédito no mundo da música, o qual nenhum artista, certamente, gostaria de ter em seu currículo.

Há, politicamente, uma analogia feita entre a dupla e Vandré, tido este como ícone da Esquerda, mas também, de certa forma, dito por muitos, ter sido “protegido” pelos saudosos militares, mas que por outros críticos, teriam feito tanta lavagem cerebral no cantor revolucionário que quase enloquecera. Na realidade, não sabemos até onde essas colocações são realmente verdadeiras. Só mesmo os protagonistas sabem como foi tudo isso, guardando para eles mesmo, a verdade.

A dupla Dom & Ravel fez tanto sucesso que muitas de suas composições foram gravadas por artistas famosos, como Moacir Franco, Wanderley Cardoso, Ed Carlos, Vanusa, Wanderléia, Os Incríveis, Nalva Aguiar, Jerry Adriani. Antônio Marcos, Nelson Ned, Sérgio Reis, Martinha, Eduardo Araújo, Os Caçulas, Demônios da Garoa, Lafayette, Luís Burdon, Leila Silva, Os Selvagens, Os Vips, Os Bichos, Os Moscas, The Big Seven, Som Bateau, supersônicos, The Battons, Trio Esperança, Mário Zan, Velhinhos Transviados, Os Caretas, Orlando Ribeiro, Arnaud Rodrigues, Marta Mendonça, Agnaldo Rayol, Francisco Petrônio, Coral Johab, Barros de Alencar, Joelma, Madrugada e seu conjunto, Alladin Band, Jair Rodrigues, Roberto Leal, entre outros, a maioria deles do elenco da Jovem Guarda. Já no exterior, alguns países também regravaram muitos de seus sucessos, como Angola, Venezuela, Argentina, Bolívia, Espanha, França, Itália, Portugal, México, El Salvador, Holanda.

Dom faleceu em 2000, acabando dessa forma com a existência da banda que, cantava tanto o patriotismo quanto protestos, igualmente. Talvez, tenha sido ingênua e, alguns percursos, mas nada que desabone sua verdadeira trajetória, pois é rico e genuíno o legado que nos deixou, merecendo, portanto, nossa homenagem, por ter cantando com o coraçao aberto para o povo.

Se você não conhece a letra da canção, veja e sinta o que ela tem a ver conosco e o que nós temos a ver com ela:

Animais Irracionais(Somos Todos Meio)
Dom & Ravel

Às vezes eu olho pra terra sem compreender
A luta dos seres humanos pra sobreviver


O grande açoitando o pequeno
Terceiros mandando apartar,
Mas na maioria das vezes o grande não quer parar.
Tem vezes que o desesperado se põe a pensar (a pensar)
Por que deve aos pés de um dos grandes se ajoelhar,
Eu passo por muitas igrejas pedindo respostas de Deus
Pra ele calado no espaço ouvir os lamentos meus.

(refrão)

Às vezes eu olho por cima do mundo e os maus (os maus)
Eu vejo vencendo na vida os mais altos degraus
Não querem ouvir nem falar dee fome, problemas e dor
Dos outros nem ao menos admitir ou supor.
E sempre eles acham que eles são certos demais (demais)
Dinheiro perdido em seus vícios não volta jamais,
Pequenos e grandes ladrões
No meio dos homens de bem
Que cruzam as ruas da vida matando ou roubando alguém

(refrão)

Na verdade, temos na letra dessa música o homem eclético, pois vemos nela sua antropologia, sociologia e sobretudo, sua sobrevivência pela “Seleção Natural” na sociedade moderna. Mas, o que há de mais forte nesse contexto é a frase “A Vida é um Sonho e nada mais”. O que seria a realidade, então?

* Professor do Centro de Biociências da UFRN(Juarez@cb.ufrn.br)

5 de dez. de 2008

A CONQUISTA DA MORTE


A Conquista da Morte
(Publicado no O Jornal de Hoje)

* Juarez Chagas


Quando confrontamos as idéias dos dois grandes cientistas e estudiosos sobre a longevidade e morte do ser humano, na atualidade, William R. Clark e Alvin Silverstein (na ordem inversa), não há como realmente deixar de pensar nos avanços da ciência sobre a temporalidade do ser humano e de como será a vida no futuro próximo.

Dr. Alvin Silverstein, além de seus estudos e trabalhos no combate às doenças, principalmente cancerígenas, entre outros importantes estudos, foi fundador da Fundação para Pesquisa Contra a Doença e Morte (no início dos anos 70) e é um dos mais veementes combatentes contra a morte, que se conhece nos dias de hoje. Dentre seus vários artigos científicos e livros, escreveu Conquista da Morte (Conquest of Death, 1979) onde apresenta suas idéias, pesquisas e determinação em provar que o fim da morte é só uma questão de tempo, onde as ciências biomédicas triunfarão contra o declínio vital orgânico e, conseqüentemente, contra a finitude humana, o maior conflito existencial da humanidade.

Vejamos como Dr. Silverstein aborda essa possibilidade no 2º capítulo de seu revolucionário livro:
“A morte persistirá, mas será mais rara. As pessoas poderão viver durante centenas, até milhares de anos, possuindo mocidade vigorosa e mente ágil e ativa, durante toda a vida. Será a “idade de ouro” e teremos conseguido o que poderia ser chamado de emortalidade – condição na qual a “morte natural” não será inevitável.

Há de haver uma nova era na história humana. Num mundo de emortais, a vida há de adquirir nova significação e, pela primeira vez, preocupar-nos-emos genuinamente com a qualidade da vida. Lutaremos para banir a dor e a pobreza. Não haverá mais “velhos”, pois os conhecimentos que permitirão a conquista da morte hão de trazer consigo também a eterna juventude. Essa nova era pode chegar no nosso tempo”.

Com essas premissas, Dr. Silverstein cujos estudos e idéias são hoje corroboradas não somente pela neurociências, mas pelos mais recentes estudos biomédicos responsáveis pelas pesquisas sobre células-tronco, bioética e temporalidade do ser humano, as quais, aceitem ou não os mais céticos, defendem a idéia de que o fim da morte está próximo.

Por outro lado, sem conflitar, porém abordando uma linha igualmente importante, entretanto diferente, Dr. William Clark afirma em seu livro Sexo e as Origens da Morte (Sex and the Origins of Death, 1996) “Nós morremos porque nossas células morrem”
.


A princípio, o enunciado de Clark parece ser antagônico aos argumentos de Silverstein, por explicar que a morte do ser humano se dá através da morte celular, porém ao se avançar mais profundamente no entendimento desta constatação, fica claro a conclusão de ambos: se as células têm morte programada, o retardamento desta programação significa mais longevidade ou mantê-las vivas para sempre ou substituídas por células iguais é proporcionar o indivíduo a emortalidade. É isso que a ciência busca.

Uma questão interessante e da qual não podemos deixar de observar é que o ser humano adulto é composto de, aproximadamente, mais de cem trilhões de células individuais, em virtude do processo orgânico evolutivo da diferenciação celular, desencadeado durante a evolução embrionária. Hoje sabemos que cada tecido tem seu tempo de vida diferenciado um do outro, como por exemplo, sabemos que os mais resistentes são os tecidos ósseos e tegumento (nessa ordem), portanto, é de se esperar que, em condições normais e favoráveis, pereçam por último, em relação aos demais tecidos. Dessa constatação poderia surgir uma pergunta baseada nos estudos do Dr. Silverstein: seria suficiente, então, manter as células em seu estado normal, sem sofrerem degradação ou qualquer processo de degeneração para que a morte não existisse? É isso que a ciência já tenta fazer: a manutenção orgânica saudável, ou por outro lado, substituição celular.

Entretanto, a questão da humanidade não parece ser simplesmente apenas a mortalidade, pois seguramente, outros problemas surgiriam de imediato, tais como superpopulação do planeta, caça por alimento, preservação da individualidade, sobrevivência, encontros de parceiro(a)s ideais (no campo da convivência) e tantos outros desencadeados pela imortalidade. Portanto...é bom pensar se a morte não seria uma solução para a espécie ao invés de apenas um problema da finitude humana.

* Professor do Centro de Biociências da UFRN(Juarez@cb.ufrn.br)

26 de nov. de 2008

FERNÃO CAPELO GAIVOTA


Fernão Capelo Gaivota
(Publicado no O Jornal de Hoje)
*Juarez Chagas


Embora com conteúdos diferentes, costumo comparar os romances fantásticos O Pequeno Príncipe (romance de Antoine de Saint-Exupéry publicado em 1943, nos Estados Unidos) e Fernão Capelo Gaivota (Jonathan Livingston Seagull,1970, de Richard Bach) colocando-os no mesmo senso extraordinário da fantasia que nos remete às possibilidades da realização dos sonhos quase impossíveis do ser humano.

O Pequeno Príncipe ('Le Petit Prince, na França e O Principezinho em Portugal) é o livro francês mais vendido em todo o mundo, tendo tido cerca de 80 milhões de exemplares, e aproximadamente 400 a 500 edições publicadas, perdendo apenas para a Bíblia e O Peregrino, em termos de tradução literária, como uma das obras mais traduzidas em vários idiomas em todo o mundo. Com um histórico desses, até mesmo quem não gosta muito de ler se sente tentado a conhecer a obra de perto.

Mas, Fernão Capelo Gavoita é nosso assunto de hoje e sua trajetória não é menos interessante do que a do Pequeno Príncipe, muito embora não apresente a mesma estatística, tenha tido apenas aproximadamente a metade de edições publicadas e seja mais de 30 anos mais jovem. É uma fantástica história sobre liberdade, aprendizagem e amor narrada metaforicamente através de uma gaivota que não se contenta apenas em voar para comer restos de lixo ou peixes fáceis de encontrar. Voar para Fernão Capelo é um prazer e não apenas uma característica das aves e seu sonho é aprender tudo sobre o vôo por achar que as gaivotas são limitadas em seu mundo. Assim sendo, torna-se diferente do bando, é julgado, banido e expulso para viver sozinho entre a imensidão do azul do mar e do céu.

Richard Bach tem algo mais que em comum com Saint-Exupéry (cujo nome é bastante longo: Antoine-Jean-Baptiste-Marie-Roger Foscolombe de Saint-Exupéry, falecido aos 44 anos, em 1944), que era também piloto oficial e, teria voado sobre o atlântico do Brasil, inclusive passado por Natal, segundo historiadores da aviação. Bach também aviador, hoje com 63 anos, mas se diz um piloto sem grandes aspirações, tendo feito apenas três viagens internacionais. Esteve recentemente no Brasil, mas veio em vôo comercial. O próprio autor conta que Fernão Capelo surgiu em sua vida quando era ainda criança. Tinha o hábito de olhar o oceano e esconder-se do vento atrás de uma pedra para observar as gaivotas e sonhava ser como uma gaivota.

Ainda a exemplo do Pequeno Príncipe, Fernão Capelo Gaivota foi filmado, tendo tido muito sucesso e, poucas vezes, tenho visto um filme tão fiel ao livro. Tenho minhas restrições sobre filmes de bons livros, pois nem sempre o resultado é o que esperamos. Entretanto, no caso de Fernão Capelo, o filme não só é fiel ao livro, como sua fotografia é magnífica! Isso sem falar na trilha sonora de Neil Diamond, que também é uma obra-prima capaz de arrancar lágrimas dos mais durões dos homens, tipo Clint Eastwood.

No filme, na verdade uma parábola, tem também a questão política de grupos e comunidades, remetendo ao ser humano à castração, não somente do direito de liberdade, mas também ao confinamento de idéias revolucionárias, responsável pelas maiores descobertas do ser com base no acalento de sonhos e propósitos pessoais. A história é uma verdadeira lição de abnegação, obstinação e, inclusive, amor a si mesmo e ao próximo, metaforicamente ensinados através do mundo animal e da Natureza do ser e da espécie.

A clara e instigante analogia poética entre o homem e a gaivota mostra as dificuldades de superação dos limites da busca pela liberdade verdadeira, e, sobretudo do entendimento de ajuda ao próximo, através do amor e na compreensão do outro.
Agora em DVD, qualquer um pode conferir e se deleitar com a visionária realização cinematográfica de um conto que se eternizou através de sonhos e do imaginário pessoal e coletivo, mostrando aos humanos que o amor ainda continua acima busca, sendo o bem mais precioso que existe.

* Professor do Centro de Bioc iências da UFRN(juarez@cb.ufrn.br)

23 de nov. de 2008

O HOMEM E O TEMPO

O Homem e o Tempo
(Publicado no Jornal de Hoje em 14/019/2005)
*Juarez Chagas


Talvez fosse mais apropriado inverter o título e dizer “O Tempo e o Homem”, por causa da ordem natural das coisas. Afinal, o tempo parece sempre ter existido, independentemente da vida ou da morte e quanto mais discutimos ou procuramos sentir o mesmo, admitimos ser a mãe Natureza detentora de seu infindável percurso, pois o tempo não tem nem começo, nem fim. E a nós humanos, nos é permitido apenas viver sua temporalidade.

Nós sabemos que dentre os medos que o ser humano habita em si, o tempo talvez se configure como o maior deles, muito embora não se tenha, nessa ótica, ainda atentado para tal, porque o mesmo parece latente, quando não hibernando em nosso interior. Medo este até mais presente do que o medo da própria morte, pois corremos o tempo todo contra ele mais do que da própria morte.

Esse medo poderia começar pela dificuldade que temos de conceituar o tempo, assim como a igual facilidade de sabermos ser seus eternos escravos, por estarmos definitivamente presos a uma temporalidade determinada periodicamente. As frases “Queria que o tempo parasse agora” ou “como gostaria de congelar o tempo como numa fotografia” ou ainda “gostaria que o mundo parasse”, falam muito mais do que seus próprios conteúdos, pois evidencia a impotência humana de poder prolongar momentos felizes ou encurtar momentos de angústia e sofrimento, frente ao dinamismo da vida que, a cada segundo se arrasta cada vez mais para sua finitude, sem que tenhamos certeza da realização ou conclusão de nossos sonhos e de nossas lutas.

E nesse sentido, o tempo é mais implacável do que a morte, pois parece estar tirando de nós as melhores coisas e os melhores momentos, a todo instante e, em contrapartida quando nos presenteia com elas, é tão efêmero que, mal começamos a viver essa felicidade, ela já está no fim. Quantas vezes por dia não ouvimos frases como “não deu tempo” ou “não tive tempo” ou ainda “parece que foi ontem...”. Na verdade, nós é que pertencemos ao tempo e não o contrário. Parece até que vivemos como inquilinos no espaço, aprisionados em períodos de vida. Mas, o que nos alenta é que nascemos para realizarmos e sermos felizes e não para cruzarmos os braços e apenas olharmos o tempo passar, doce, suave ou implacavelmente.

A associação do tempo com a morte não é apenas artística ou imaginária, como mostra um dos recentes quadros de Peter Jones (1984), no qual a morte em forma de esqueleto coberto com sua capa preta, montado em seu cavalo que voa os ares, empunhando em uma mão sua foice e na outra o relógio do tempo, em forma de bola de cristal. Quem já teve oportunidade de ver essa pintura, percebe de imediato essa íntima relação indissociável do tempo com a morte. A propósito deste quadro, é impressionante a constatação de seu significado para o imaginário humano, tanto individual quanto coletivo, pois o mesmo vendeu (só nos Estados Unidos) vinte mil réplicas em duas semanas. Às pressas, as pessoas arranjaram tempo pra sair correndo pra comprar algo que, muitas delas, nem sabia o porquê. Mas, a tela representa muito bem o mistério do tempo e da morte e talvez por isso tenha tido tanta repercussão e curiosidade.

Entretanto, a maior relação que o tempo tem é com o espaço. Na verdade, nem conseguimos imaginar quem surgiu primeiro, se foi o tempo ou o espaço. Mas, a coisa não fica por aí, pois do casamento do tempo com o espaço surge a velocidade, a qual hoje sabemos ser, expressa em quilômetros/hora, por causa da expansão do universo ter sido condicionada à uma imperfeita imagem de um cone cuja ponta representaria esse começo.
Hoje nós sabemos da vital importância da ciência sobre o começo no tempo em relação à visão do mundo. Mas, nem sempre foi assim. O homem primitivo foi descobrindo aos poucos sua noção de tempo. O dia e a noite, a lua e o sol, foram seus primeiros “relógios”, até que ele enterrou uma estaca no chão e passou a observar sua sombra circulando à medida que o tempo passava e o sol passeava nos céus. Então, ele começou a traçar riscos no chão, distanciando uma marca de sombra da outra, segundo o tempo que ele precisava marcar. Surgia o primeiro relógio, o relógio do sol. Claro, que na escuridão da noite, sem luz ele voltava a perder essa noção do tempo novamente.
Quando o homem então liberta seus braços e mãos, na tão importante chamada “braquiação” que o fez desenvolver e evoluir seu cérebro, segundo suas necessidades de uso das mãos, desenvolveu então o pensamento, as idéias, o raciocínio que substituíram grande parte dos instintos e assim, ele criou a ciência, sua mais importante aliada, da qual dependia sua sobrevivência (pois ele já não garantia mais sua sobrevivência apenas com os instintos que atendia, de uma forma inata, suas necessidades como sede, fome e sexo). Assim, passou a pensar e não somente percebeu, mas também enunciou que o tempo se confirma como linear com um eixo retilíneo, em torno do qual dispõem em espirais os diferentes ciclos da Natureza, tais quais os ciclos dos dias terrestres, dos meses lunares e dos anos solares. Estava inventado o calendário e uma nova forma de se viver se configurava temporariamente na face da terra.

Permito-me, numa ousada, embora modesta imaginação pessoal, discordar, especificamente nessa parte, do grande estudioso e cientista André Steiger que, em seu fabuloso livro Compreender a História da Vida: do átomo ao pensamento humano (PAULUS, 1998), no qual ele afirma que, “se o tempo teve começo, é provável que terá fim”. Mas, poderíamos nos perguntar: não existia tempo antes da vida na terra? Não existia o espaço, assim como o tempo no espaço? O próprio Steiger usa a palavra “se...”

Na verdade, quando falei sobre o medo do tempo, não é bem medo do próprio tempo e sim o que sua falta pode nos causar. O contrário, ou seja, tempo demais ou tempo sobrando, só é ruim e causa igual medo, quando se está sob tortura ou qualquer outro tipo de sofrimento. No mais, o tempo cura tudo e tudo resolve, já dizia minha avó. E assim, mais uma vez ficamos à mercê do tempo...

*Professor do Centro de Biociências da UFRN(Juarez@cb.ufrn.br)

21 de nov. de 2008

EDUCAÇAO BÁSICA

* Juarez Chagas


A PARTIR DE HOJE, DISPONIBILIZO TAMBÉM ESTA PÁGINA NESTE BLOG PARA ENALTECER OU CRITICAR ALGUM ASSUNTO OU TEMA DE GRANDE IMPORTANCIA PARA NÓS EM NOSSO MEIO SÓCIOCULTURAL OU CIENTÍFICO.
COLABORAÇOES E SUGESTOES PESSOAIS SERÃO ACEITAS, AS QUAIS PODERÃO SER VALIDADAS COMO COMENTÁRIOS.

O PRIMEIRO COMENTÁRIO É SOBRE EDUCAÇAO BÁSICA, NUMA VISAO PESSOAL

NÃO QUERO FALAR DO DESCASO À EDUCAÇÃO E SUAS DIFICULDADES. ISSO JÁ TEM SIDO FEITO EXAUSTIVAMENTE.
NÃO QUERO FALAR DA ATUAÇAO DE NOSSOS GESTORES E ADMINISTRADORES OU DO GOVERNO EM RELAÇÃO AO ENSINO PÚBLICO OU DA GANÂNCIA DE MUITAS INSTITUIÇÕES EDUCACIONAIS PRIVADAS.
QUERO FALAR DA IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO E, PRINCIPALMENTE, DA EDUCAÇÃO BÁSICA E SEUS GRANDES HERÓIS E HEROÍNAS: NOSSAS PROFESSORAS E NOSSOS PROFESSORES ! QUE A PESAR DE TUDO, SE DOAM A CADA DIA POR UMA DAS CAUSAS MAIS NOBRES DA HUMANIDADE: EDUCAR E ENSINAR ATRAVÉS DA DOAÇAO PESSOAL NA FORMAÇAO DO SUJEITO USANDO SABERES E MUITO AMOR!

APROVEITO PARA HOMENAGEAR AS SEGUINTES MAGNÍFICAS MULHERES EDUCADORAS QUE, NUM TEMPO PASSADO CONTINUAM FAZENDO PARTE DO MEU PRESENTE PELO QUE DELAS RECEBI: MARIA EULÁLIA DA COSTA, LÚCIA MARIA DA COSTA BEZERRA, ESTER DE SOUSA GALVAO E EZILDA ELITA DO NASCIMENTO, TODAS ELAS MINHAS INESQUECÍVEIS PROFESSORAS DO PRIMÁRIO, NO SAUDOSO GINÁSIO “7 DE SETEMBRO” HÁ MAIS DE 40 ANOS ATRÁS, A QUEM DEVO MUITO PELA MINHA FORMAÇAO BÁSICA.
* Professor do Centro de Biociências da UFRN (juarez@cb.ufrn.br)

16 de nov. de 2008

O OLHAR DA CRIANÇA SOBRE A MORTE (II)

O Olhar da Criança Sobre a Morte (II)

*Juarez Chagas


Falar sobre o desenvolvimento da criança nem parece simples, nem tão pouco o é. Entretanto, aprofundamento da discussão é necessário para o entendimento de muitas questões, tanto do ponto de vista biológico quanto psicológico, concomitantemente.

Fazendo aqui um parêntese, sem evidentemente a preocupação de estabelecer paradigmas, mas constatar que é por isso que prevaleceu o consenso acadêmico em quase todo o mundo concordou que a Psicologia deveria realmente ser uma das fortes áreas da saúde (muito embora algumas Universidades ainda insistam em manter a Psicologia apenas na área humanística). E não é apenas pelo fato da saúde mental e psíquica em si, mas também por ser parte da saúde do sujeito como um todo. E, ao falarmos de sujeito, não há como entendermos o sujeito isoladamente, pois antes de qualquer outro entendimento o sujeito é biológico, ele nasce biológico. Portanto, seu desenvolvimento biopissicossocial deve ser indissociável, e sua biologia entendida antes de qualquer outro conteúdo.

Fiz esse parêntese, apenas para chamar a atenção sobre a importância da questão da formação do sujeito, enquanto desenvolvimento humano. Hoje sabemos que temos um corpo físico e um corpo psíquico, que é por sua vez mental e subjetivo. Ambos são indissociáveis, evidentemente. Mas, o conhecimento da Biologia do indivíduo é também importantíssimo e imprescindível, principalmente para quem atende a criança como paciente que, por força da necessidade, acaba atendendo os pais ou cuidadores dessa criança conseqüentemente, para poder se chegar ao diagnóstico correto ou o mais próximo da realidade, enquanto as pesquisas continuam em direção do diagnóstico definitvo.

Em relação a outros animais, o bebê humano é prematuro no que diz respeito aos seus sistemas vitais, pois quando a criança nasce seu sistema neurológico e perceptivo ainda não completaram suas devidas formações. Portanto, estamos, nessa fase, diante de alguém que ainda não se reconhece como sujeito, embora, nós adultos, o tratemos como tal.

Os estudiosos sobre o desenvolvimento da criança, assim como os tanatólogos afirmam que a criança de até três anos não consegue perceber a morte com clareza definitiva nem acha que ela seja irreversível, porém entende quando seu bichinho de estimação não mais brincará consigo ou acaba aceitando quando seu avô ou avó ou sua mãe não a levará mais para a escola, como de costume. É interessante notar também que antes dos três anos, é comum a criança tornar “vivos” objetos inanimados de tal forma que passa a dialogar com os mesmos, mas depois dessa idade passa a se preocupar com a origem dos seres vivos, inclusive a sua própria, muitas vezes perguntando a mãe de onde nasceu.

Na verdade, a perda passa a ser sentida como algo ruim ou angustiante a partir dos sete anos. Entretanto, é a partir dos 12 anos que todo o processo do fenômeno da morte passa a ser entendido pela criança. Há de se considerar aí, o fator individual de cada um, assim como questões culturais e religiosas. Não é, portanto, uma regra determinante, porém a constatação do que normalmente ocorre.

E o que dizer da criança que vive cotidianamente ao lado da morte ou acometida pela certeza de que pode morrer a qualquer momento? Que olhar ela tem sobre a morte e sobre a própria vida? São, certamente, perguntas reflexivas.

A questão do câncer infantil desencadeia um drama iniciado com seu diagnóstico, o qual deflagra várias situações de conflitos, reações e emoções na própria criança, assim como na sua família e no seu meio social, normalmente representado pela escola. Surge a angústia com a perda da saúde, seguida de depressão, medo de morrer e estado de confusão mental de vários tipos e características. Nesse ponto, o tratamento médico é invasivo, causando dor e ansiedade, ao paciente, pais ou cuidadores. É uma situação difícil e complicada em todos os sentidos.

Lembro muito bem da angústia que vivi durante meu estágio de Psicologia Clínica na Casa de Apoio a Criança com Câncer, em Natal (Foto na sala de atendimento), onde não atendia às crianças diretamente, e sim aos pais dessas crianças (também alguns adolescentes) que viviam o dilema da terminalidade de seus filhos como uma certeza dilacerante. Ali nada ensinei, só aprendi através da questão da morte como essas crianças e seus pais vencem a morte e seus conflitos cada dia. Não tive como não deixar de agradecer-lhes profundamente (e estou consciente que isso não é nada, apenas confortante e importante para mim), não só em minha monografia, mas por tão nobre oportunidade de ter aprendido com eles essas lições que carrego comigo por toda a vida. Às vezes, dias e noites, eu revia os casos clínicos, confrontava com bibliografias, outras experiências vividas em outras instituições e, na solidão dessa realidade, não conseguia concluir nada, a não ser que precisamos ser mais humanos e mais compreensíveis cada vez mais com o próximo, principalmente quando ele está distante e pode nao mais voltar.

Com esse compartilhamento, vendo crianças oncológicas brincarem e sorrirem, tentando levar uma vida normal, como se nao lhes permitissem a morte invadir seu mundo lúdico e infantil, pude aprender que o olhar da criança sobre a morte, não é um olhar sobre a finitude, mas essencialmente um olhar sobre a vida!

* Professor do Centro de Biociências da UFRN(juarez@cb.ufrn.br)