Total de visualizações de página

14 de jan. de 2009

A CASA MAIS FAMOSA DO BRASIL?

A casa mais famosa do Brasil ?
(Publicado no O Jornal de Hoje)
* Juarez Chagas

Começou ontem, 13/01/2009 (infelizmente), a 9ª versão do BBB (Big Brother Brasil), um dos maiores (senão o maior) engodo televisivo dos últimos tempos, eu diria. Não falo aqui gratuita e simplesmente como alguém que não gosta do programa pelo simples fato de não gostar, ou por outro lado como alguém que conspira contra este mega “empreendimento” que alicia, e, por incrível que pareça, se estabelece cada vez mais como um programa televiso moderno, porém vendendo a imagem duma falsa “esperança” de sucesso, fama e riqueza fáceis, mas por trás duma atroz ganância de mídia, onde o ser humano é um simples animal de laboratório, cujo comportamento passa a ser teleguiado para atender a resultados que, resumindo, iriam contra o bom senso e a ética sobre o ser humano, pois instiga a inveja, falsidade e egoísmo, sob a propaganda do entretenimento escolhido pelo povo.

Os próprios organizadores fazem declarações estonteantes sobre o programa que, inegavelmente é de grande audiência e sucesso (pois tem mais que público para isso), infelizmente, submete o público que acompanha a se tornar cada vez mais parceiro desse projeto que, no fundo, submete os participantes a uma ilusão “possível” do preço da fama e do dinheiro, a desnudarem seu próprio self negativamente ou aceitarem ser o que não gostariam de ser, em suas condições normais de vida do dia-a-dia.

Pra se ter uma idéia da dimensão do programa, só a seleção desta 9ª versão contou com 160 mil inscritos. O absurdo começa no processo de seleção dos candidatos ao “confinamento estilizado”, amplamente divulgado meses antes de várias formas e estilos, como se “sugerisse” que seus participantes selecionados entrarão no “paraíso”, almejado por muitos e conquistado por poucos. Aos selecionados e selecionadas, providenciam uma recepção digna de fama, glamour e estrelismo, muitas vezes superiores aos proporcionados às verdadeiras celebridades da sétima arte, que chegam à sede do BBB em carros estilizados, com a imprensa fazendo alarde e dando total cobertura, assistida por cordões de pessoas recepcionando-os, como em estado de uma “comoção fabricada”. Uma estrutura digna dos mais importantes eventos da modernidade é cuidadosamente montada e aparelhada, no sentido de se colher todos os objetivos previamente traçados, quais sejam, divulgar e “vender” a mediocridade, infantilidade, desespero pela fama, subserviência e dignidade humana, sob a idéia de provar até onde pode ir o comportamento humano quando se trata de sucesso fácil.

Na verdade, confinam pessoas numa casa onde a privacidade é quase que totalmente invadida por centenas de câmeras. Boninho, o diretor do programa, diz abertamente que “o BBB não é um estudo científico sobre relacionamento humano, não é um estudo antropológico, não é telecurso. O BBB é um jogo, um programa feito para entreter, para despertar ódio e amores”. Sem comentários...

Agora analisemos o absurdo associado, ou seja, dos organizadores e do povo que acolhe este projeto. Você sabia que em apenas uma noite, quase trinta milhões de pessoas votam para indicar um dos candidatos ao paredão? Estes são dados fornecidos pelos próprios organizadores. Multiplique isso vezes RS 0,30 (ou outro valor atual) e teremos cifras em milhões. É óbvio que o contrato da Globo com a telefonia garante o prêmio do vencedor (isso sem falar nos demais patrocinadores (cujos produtos vez ou outra aparecem “discretamente” na tela) e ainda sobra muito dinheiro para seus cofres, tornando mais pobre as classes menos cultas e favorecidas que são, diga-se de passagem, as que mais votam. Tudo isso a troco de que? Que tipo de formação este programa contribui, ditando comportamentos, linguajar e manias nada pertinentes que muitos candidatos passam para o telespectador? Já podemos admitir que há até uma “geração BBB”, a qual dependendo de quantas versões ainda virão, estarão completando 10, 11, 12...anos, muito em breve, provavelmente querendo também participar deste “grande desafio”.

Confesso que o que ainda me fez reportar a esse assunto publicamente, mais uma vez, foi eu ter ficado surpreso com a repercussão de um artigo meu, ano passado num site (internacional) para escritores (http://pt.shvoong.com/humanities/1745709-montanha dos sete abutres), onde faço uma analogia de um antigo filme com este reality show. Pela quantidade de emails e comentários que recebi (o artigo ainda está online) , ficou muito claro que muita gente também acha que esse programa é mais tendencioso do que se possa imaginar. E além do mais, a casa mais famosa do Brasil, como gosta de apregoar os dirigentes do BBB, não é uma Casa da Moeda ou uma Casa de Rui Barbosa, nem a Biblioteca Nacional, nem uma ong para cuidar de velhinhos, nem nada semelhante...

* Professor do Centro de Biociência da UFRN(Juarez@cb.ufrn.br)

8 de jan. de 2009

A FESTA DE SANTOS REIS

A Festa
de Santos Reis
*Juarez Chagas
Para os que ouviram neste feriado de Dia Reis, apenas como jingle comemorativo, a alegre música “A Festa de Santos Reis” com o vozeirão de um jovem cantor na época, já conhecido e famoso com seu segundo LP (a música é de 1971), senão não acompanhou a trajetória musical de um dos nossos mais importantes cantores e compositores, ele é simplesmente Tim Maia (1942-1998).

A Festa de Santos Reis é uma antiga tradição advinda do século IV, quando a Igreja nomeou os magos como reis e santos. É uma festa tradicional portuguesa, que chegou ao Brasil em meados do século XVIII, tendo em Portugal um caráter mais popular, já no Brasil assumiu aspecto mais religioso. As imagens dos Reis Magos do Santuário Arquidiocesano chegaram de Portugal por volta de 1755, porém a primeira festa de Santos Reis foi celebrada dentro do Forte, no dia 06 de janeiro de 1599, para simbolizar encontro dos Reis Magos com o menino Jesus recém-nascido, para o qual entregaram seus presentes. Portanto, a tradição de troca de presentes entre as pessoas no Natal, é uma tradição milenar.

Acredito que, o que levou Tim Maia a compor e gravar A Festa de Santos Reis tenha sido o caráter alegre e popular desta folia desenvolvida no Brasil com características próprias, com manifestação de rara beleza e preciosos versos, cantados e acompanhados por viola, violão, sanfona, reco-reco, chocalho, cavaquinho, triângulo, pandeiro e outros instrumentos. Além do mais, em seu primeiro LP (1970) o cantor homenageou o Nordeste com outras músicas como Coroné Antonio Bento, por exemplo.

Fruto de uma geração contestadora e em busca de conquistas e afirmações, Sebastião Rodrigues Maia, penúltimo filho duma família de 19 irmãos, iniciou suas primeiras composições ainda criança e começou na música tocando bateria, porém logo mudou para o violão e, em 1957, fundou no RJ, bairro da Tijuca, o grupo de rock Os Sputniks (1957), do qual participaram Roberto e Erasmo Carlos. Em seguida foi para os Estados Unidos, onde integrou uma banda local e incorporou o soul music ao seu estilo musical. Aliás, contam alguns defensores que o Erasmo é que teria fundado o conjunto, mas não parece ser essa a verdade. Na realidade, com esse feito, Tim Maia praticamente lançou Roberto Carlos no mundo do Rock, suporte indispensável para a futura Jovem Guarda, que marcaria os anos 60 ou os Anos Dourados no cenário comportamental e musical da juventude brasileira.

Na verdade, mesmo tendo tido, posteriormente, algumas desavenças com RC, Tim foi uma peça fundamental em sua carreira, tendo sido inclusive baterista do primeiro conjunto do Roberto, o RC7 e também compositor de alguns de seus sucessos, como, por exemplo, Não Vou Ficar, gravada também por famosas bandas e cantores nacionais.

Em homenagem às festividades de Santos Reis, tendo no Brasil, Natal como sua principal representante e, para os que não conhecem, assim como para os que queiram relembrar, segue a letra de A Festa do Santo Reis:

Hoje é o dia de Santo Reis
Anda meio esquecido
Mas é o dia da festa de Santo Reis
Hoje é o dia de Santo Reis
Anda meio esquisito
Mas é o dia da festa de Santo Reis...
Eles chegam tocando
Sanfona e violão
Os pandeiros de fita
Carregam sempre na mão
Eles vão levando
Levando o que pode
Se deixar com eles
Eles levam até os bodes...
É os bodes da gente
É os bodes, mééé
É os bodes da gente
É os bodes, mééé...

Hoje é o dia de Santo
ReisHoje é o dia de Santo Reis
Hoje é o dia de Santo Reis, hié! hié!

Agora, parece que depois do Natal, Ano Novo e Festa de Santos Reis, Natal voltará ao seu ritmo normal...quer dizer, depois do Carnaval!

Professor do Centro de Biociência da UFRN(Juarez@cb.ufrn.br)

ADEUS ANO VELHO, FELIZ ANO NOVO!

Adeus Ano Velho, Feliz Ano Novo!
*Juarez Chagas


No artigo de hoje não vou falar muito além do que diz a música que todo final de ano se despede do Ano Velho e anuncia o Ano Novo, tão conhecida por todos.

“Adeus Ano Velho, Feliz Ano Novo
Que tudo se realize
No Ano que vai nascer
Muito dinheiro no bolso
Saúde pra dar e vender...”

Na verdade, neste início de Ano Novo, não escrevo apenas um artigo, porém uma justa mensagem de confraternização a todos aos nossos leitores e nossas leitoras, tanto do Jornal de Hoje, quanto do meu blog. Desejo, portanto, votos especiais a todos e todas, almejando muita paz, saúde, sucesso e boas leituras em 2009. Que as pessoas e, consequentemente o mundo, sejam mais justos, mais saudáveis (em todos os sentidos) e mais felizes. E, que possamos acreditar em nós mesmos, no lado bom de nossa condição e natureza humanas, na nossa capacidade, criatividade e não apenas esperarmos que nos digam que somos capazes para sabermos que somos, mas que possam nos dizer quando realmente já tivermos sido e demonstrado isto a nós mesmo.

Sobre essa questão da capacidade e criatividades humanas, lembrei-me de uma lenda, a qual gostaria de transcrever como uma reflexão para o Novo Ano que já segue no início de seu primeiro mês:

“Certa lenda conta que estavam duas crianças patinando em cima de um lago congelado. Era uma tarde nublada e fria e as crianças brincavam sem preocupação. De repente, o gelo quebrou e uma das crianças caiu na água.

A outra criança, vendo que seu amiguinho se afogava debaixo do gelo, pegou uma pedra e começou a golpear com todas as suas forças, conseguindo quebrá-lo e salvar seu amigo.

Quando os bombeiros chegaram e viram o que havia acontecido, perguntaram ao menino. “Como você fez isso? É impossível que você tenha quebrado o gelo com essa pedra e suas mãos tão pequenas!” Nesse instante apareceu um ancião e disse: “Eu sei como ele conseguiu”.

Todos perguntaram: “Como?” O ancião respondeu: “Não havia ninguém para lhe dizer que ele não conseguiria!”

Isso nos mostra que devemos sempre acreditar que somos capazes e que nunca sabemos antes de tentarmos. Felizes os que sonham, pois não há realizações sem sonhos. Feliz 2009! Que tenhamos um Ano mais justo e mais Feliz para toda a humanidade e que tudo (de bom) se realize, como diz o refrão da música.

Professor do Centro de Biociência da UFRN(Juarez@cb.ufrn.br)

22 de dez. de 2008

O HOMEN DE NAZARETH


O Homem de Nazareth
(Publicado no Jornal de Hoje)
* Juarez Chagas


Nada mais do que oportuno falar, nesta época natalina, do legado que Jesus Cristo deixou à humanidade no que diz respeito ao seu contexto renovador, para não falar, especificamente, da importância da cristandade entre os homens, e também lembrar sua fonte de inspiração poética.

Independentemente de espiritualidade, religião, e toda a sua infinita bondade, Jesus Cristo também foi o maior filósofo e revolucionário de todos os tempos. Assim sendo, os simples mortais ditos revolucionários, por menos comparações que se possa fazer com Ele ou com inspirações advindas d’Ele, às vezes conseguiam (e conseguem) transmitir momentos destas inspirações. Muitos artistas e cantores, em todo o mundo, em momentos sagrados de reflexões, inspiraram-se nas lições de Cristo, resultando em belas canções e melodias que, agradam não somente aos ouvidos, mas também à alma e ao coração.

No Brasil, dentre esses artistas e cantores, é claro, lembramos logo de Roberto Carlos, que fez até o Papa João Paulo II entoar “Jesus Cristo”, durante a sua visita ao Brasil. Porém, existem outros artistas pop para quem Jesus Cristo foi grande inspiração musical, dos quais não podemos esquecer, como Antonio Marcos, por exemplo.

Antonio Marcos Pensamento da Silva (1945-1992) foi cantor pop, romântico e da Jovem Guarda, tendo sido também, por vezes, companheiro da dupla Erasmo e Roberto Carlos. A propósito, “Como Vai Você?", gravada por Roberto Carlos (regravada por Maria Bethânia, Zezé Di Camargo e Luciano e outros) e que muitos pensam ser de autoria de RC, vendeu mais de 700 mil discos no auge dos anos 60. Além de O Homem de Nazareth, Antonio Marcos cantou também Eu Queria Tanto Falar com Deus e Oração de Um Jovem Triste (75), todas de sentido religioso e de Fé Cristã.

A vida pessoal de Antonio Marcos foi um tanto confusa e conturbada, pois o mesmo consumia álcool abusivamente, o que afetou não somente seu organismo, mas também sua carreira artística e pessoal. Casou em 1972 com a cantora Vanusa e depois com a atriz Débora Duarte, sendo, portanto pai de Paloma Duarte. Esteve doente várias vezes e antes de falecer, esteve internado em Natal, na Casa de Saúde São Lucas, antes de retornar à São Paulo, onde finalmente não superou a doença.

Antonio Marcos foi um dos importantes cantores do Brasil, principalmente no que diz respeito à música pop e à época dos Anos Dourados, onde era um dos mais aclamados pelo povo e pela mídia. Quanto à música O Homem de Nazareth, que eu me lembre, ele cantou com inspiração e fervor e conduziu muita gente a essa mesma inspiração de Fé Cristã associada à inspiração jovem. Confira nas duas estrofes seguintes o teor de sua mensagem:


O Homem de Nazareth
(Antonio Marcos)

Mil novecentos e setenta e três
Tanto tempo faz que ele morreu
O mundo se modificou
Mas ninguém jamais o esqueceu
E eu sou ligado no que Ele falou
Sou parado no que Ele deixou
O mundo só será feliz
Se a gente cultivar o amor

Hey irmão, vamos seguir com fé
Tudo que ensinou o Homem de Nazaré (bis)
Reis e rainhas que esse mundo viu
Todo o povo sempre dirigiu
Caminhando em busca de uma luz
Sob o símbolo de sua cruz
E eu sou ligado no que Ele falou
Sou parado no que Ele deixou
O mundo só será feliz
Se a gente cultivar o amor
Hey irmão, vamos seguir com fé
Tudo que ensinou o Homem de Nazaré (bis)

Ele era um Deus mas foi humilde o tempo inteiro
Ele foi filho de carpinteiro
E nasceu em uma manjedoura
Não saiu jamais muito londe de sua cidade
Não cursou nenhuma faculdade
Mas na vida Ele foi doutor

Ele modificou o mundo inteiro
Ele modificou o mundo inteiro
Ele modificou o mundo inteiro
Ele revolucionou o mundo inteiro

Hey irmão, vamos seguir com fé
Tudo que ensinou o Homem de Nazaré (bis)

Desejamos a todos os nossos leitores e nossas leitoras UM FELIZ NATAL e um FELIZ ANO NOVO! E que sigam com Fé na busca de seus sonhos e ideiais.

Professor do Centro de Biociência da UFRN (Juarez@cb.ufrn.br)

16 de dez. de 2008

ANIMAIS IRRACIONAIS(SOMOS TODOS MEIO)

Animais Irracionais, nós os homens somos todos Meio...
(Publicado no O Jornal de Hoje)
* Juarez Chagas

“Animais, animais
Nós os homens somos todos meio
Animais irracionais
Levantamos, guerreamos e deitamos e rezamos antes
A vida é um sonho e nada mais!
Oh, cantem atrás...”

Quem era adolescente nos anos 70 que acompanhava o movimento musical da época (por sinal eu era um deles) e que, no mínimo, conhecia o refrão acima, da música de Dom & Ravel “Animais Irracionais (somos todos meio)”, sabia que esta talvez tenha sido a música-protesto mais forte da década e mais um veículo de contestação bem aceito pelos jovens sempre dispostos a alfinetar o “sistema” e a burguesia social e etc e tal.

A música, sucesso nacional indiscutível, batia forte na ditadura e nos poderosos especuladores (tanto nacionais quanto internacionais, no nosso Brasil) que exploravam os pobres e oprimidos, arranjando sempre uma forma de burlar o fisco, coisa que o cidadão comum e honesto não fazia e ainda tinha seu “imposto de renda” (que renda?) deduzido direto do contracheque. Era “contra”cheque mesmo. Aliás, ainda hoje é assim. Na verdade, quem impulsiona a máquina do governo é o povo que paga seu imposto, que em contra-partida, lhe devolve uma educação ruim, saúde idem...(pra citar somente esses dois bens dos quais qualquer nação deveria se orgulhar).

Mas, retomando a trajetória musical desta dupla de irmãos cearenses, a qual é rica e contraditória, igualmente, pois, à primeira vista, tanto parecia cantar e enaltecer valores defendidos pela Direita, como ao mesmo tempo protestavam contra a ganância, injustiça e humilhação contra o ser humano, principalmente os mais carentes, humildes e indefesos.

Na verdade, sobre a questão de terem sido taxados de traidores comprados pela Direita por causa das músicas como Eu Te Amo Meu Brasil e outros sucessos como Você Também é Responsável e Obrigado, Homem do Campo, usadas na virada dos anos 70, em pleno auge da ditadura, pelo governo militar, o próprio Ravel diz hoje que não foi nada disso e que apenas como Dom era um cara visionário, resolveu seguir uma das influências dos Beatles que, para confundir a sociedade, no meio da maior revolução musical do mundo, usaram um marketing voltado ao patriotismo, ao usarem camisas estampadas com a Bandeira do Reino Unido e outros símbolos patrióticos, apontando que o país era dos jovens. Então a dupla brasileira adotou também essa linha e fez “Eu te Amo Meu Brasil” movida pela comoção nacional durante a Copa de 70.

Ocorreu que Eu te amo meu Brasil foi tão marcante que chegou a ser cogitada para se tornar o novo hino nacional e transformou-se num símbolo do país durante o período em que se alardeava o milagre brasileiro e se comemorava os bons resultados do futebol e da campanha do governo militar. Não deu outra: a dupla passou a ser vista como “protegidos” pelo “sistema”. Outra música usada pelo Governo foi “Você Também é Responsável”, lançada em 1971, que tornou-se, na época, Hino do Mobral, (Movimento Brasileiro de Alfabetização).

Mas, o outro lado da moeda, viria em seguida, mais precisamente em 1974, quando cansados de serem acusados de puxa-sacos do governo, os dois irmaãos compusera e cantaram “Animais Irracionais (somos todos meio)” . A música foi proibida pela censura e o disco recolhido de todas as rádios do Brasil, sendo liberada apenas posteriormente. Agora a dupla se via em maus lençóis, pois era censurada tanto pela Direita, quanto pela Esquerda, um fato inédito no mundo da música, o qual nenhum artista, certamente, gostaria de ter em seu currículo.

Há, politicamente, uma analogia feita entre a dupla e Vandré, tido este como ícone da Esquerda, mas também, de certa forma, dito por muitos, ter sido “protegido” pelos saudosos militares, mas que por outros críticos, teriam feito tanta lavagem cerebral no cantor revolucionário que quase enloquecera. Na realidade, não sabemos até onde essas colocações são realmente verdadeiras. Só mesmo os protagonistas sabem como foi tudo isso, guardando para eles mesmo, a verdade.

A dupla Dom & Ravel fez tanto sucesso que muitas de suas composições foram gravadas por artistas famosos, como Moacir Franco, Wanderley Cardoso, Ed Carlos, Vanusa, Wanderléia, Os Incríveis, Nalva Aguiar, Jerry Adriani. Antônio Marcos, Nelson Ned, Sérgio Reis, Martinha, Eduardo Araújo, Os Caçulas, Demônios da Garoa, Lafayette, Luís Burdon, Leila Silva, Os Selvagens, Os Vips, Os Bichos, Os Moscas, The Big Seven, Som Bateau, supersônicos, The Battons, Trio Esperança, Mário Zan, Velhinhos Transviados, Os Caretas, Orlando Ribeiro, Arnaud Rodrigues, Marta Mendonça, Agnaldo Rayol, Francisco Petrônio, Coral Johab, Barros de Alencar, Joelma, Madrugada e seu conjunto, Alladin Band, Jair Rodrigues, Roberto Leal, entre outros, a maioria deles do elenco da Jovem Guarda. Já no exterior, alguns países também regravaram muitos de seus sucessos, como Angola, Venezuela, Argentina, Bolívia, Espanha, França, Itália, Portugal, México, El Salvador, Holanda.

Dom faleceu em 2000, acabando dessa forma com a existência da banda que, cantava tanto o patriotismo quanto protestos, igualmente. Talvez, tenha sido ingênua e, alguns percursos, mas nada que desabone sua verdadeira trajetória, pois é rico e genuíno o legado que nos deixou, merecendo, portanto, nossa homenagem, por ter cantando com o coraçao aberto para o povo.

Se você não conhece a letra da canção, veja e sinta o que ela tem a ver conosco e o que nós temos a ver com ela:

Animais Irracionais(Somos Todos Meio)
Dom & Ravel

Às vezes eu olho pra terra sem compreender
A luta dos seres humanos pra sobreviver


O grande açoitando o pequeno
Terceiros mandando apartar,
Mas na maioria das vezes o grande não quer parar.
Tem vezes que o desesperado se põe a pensar (a pensar)
Por que deve aos pés de um dos grandes se ajoelhar,
Eu passo por muitas igrejas pedindo respostas de Deus
Pra ele calado no espaço ouvir os lamentos meus.

(refrão)

Às vezes eu olho por cima do mundo e os maus (os maus)
Eu vejo vencendo na vida os mais altos degraus
Não querem ouvir nem falar dee fome, problemas e dor
Dos outros nem ao menos admitir ou supor.
E sempre eles acham que eles são certos demais (demais)
Dinheiro perdido em seus vícios não volta jamais,
Pequenos e grandes ladrões
No meio dos homens de bem
Que cruzam as ruas da vida matando ou roubando alguém

(refrão)

Na verdade, temos na letra dessa música o homem eclético, pois vemos nela sua antropologia, sociologia e sobretudo, sua sobrevivência pela “Seleção Natural” na sociedade moderna. Mas, o que há de mais forte nesse contexto é a frase “A Vida é um Sonho e nada mais”. O que seria a realidade, então?

* Professor do Centro de Biociências da UFRN(Juarez@cb.ufrn.br)

5 de dez. de 2008

A CONQUISTA DA MORTE


A Conquista da Morte
(Publicado no O Jornal de Hoje)

* Juarez Chagas


Quando confrontamos as idéias dos dois grandes cientistas e estudiosos sobre a longevidade e morte do ser humano, na atualidade, William R. Clark e Alvin Silverstein (na ordem inversa), não há como realmente deixar de pensar nos avanços da ciência sobre a temporalidade do ser humano e de como será a vida no futuro próximo.

Dr. Alvin Silverstein, além de seus estudos e trabalhos no combate às doenças, principalmente cancerígenas, entre outros importantes estudos, foi fundador da Fundação para Pesquisa Contra a Doença e Morte (no início dos anos 70) e é um dos mais veementes combatentes contra a morte, que se conhece nos dias de hoje. Dentre seus vários artigos científicos e livros, escreveu Conquista da Morte (Conquest of Death, 1979) onde apresenta suas idéias, pesquisas e determinação em provar que o fim da morte é só uma questão de tempo, onde as ciências biomédicas triunfarão contra o declínio vital orgânico e, conseqüentemente, contra a finitude humana, o maior conflito existencial da humanidade.

Vejamos como Dr. Silverstein aborda essa possibilidade no 2º capítulo de seu revolucionário livro:
“A morte persistirá, mas será mais rara. As pessoas poderão viver durante centenas, até milhares de anos, possuindo mocidade vigorosa e mente ágil e ativa, durante toda a vida. Será a “idade de ouro” e teremos conseguido o que poderia ser chamado de emortalidade – condição na qual a “morte natural” não será inevitável.

Há de haver uma nova era na história humana. Num mundo de emortais, a vida há de adquirir nova significação e, pela primeira vez, preocupar-nos-emos genuinamente com a qualidade da vida. Lutaremos para banir a dor e a pobreza. Não haverá mais “velhos”, pois os conhecimentos que permitirão a conquista da morte hão de trazer consigo também a eterna juventude. Essa nova era pode chegar no nosso tempo”.

Com essas premissas, Dr. Silverstein cujos estudos e idéias são hoje corroboradas não somente pela neurociências, mas pelos mais recentes estudos biomédicos responsáveis pelas pesquisas sobre células-tronco, bioética e temporalidade do ser humano, as quais, aceitem ou não os mais céticos, defendem a idéia de que o fim da morte está próximo.

Por outro lado, sem conflitar, porém abordando uma linha igualmente importante, entretanto diferente, Dr. William Clark afirma em seu livro Sexo e as Origens da Morte (Sex and the Origins of Death, 1996) “Nós morremos porque nossas células morrem”
.


A princípio, o enunciado de Clark parece ser antagônico aos argumentos de Silverstein, por explicar que a morte do ser humano se dá através da morte celular, porém ao se avançar mais profundamente no entendimento desta constatação, fica claro a conclusão de ambos: se as células têm morte programada, o retardamento desta programação significa mais longevidade ou mantê-las vivas para sempre ou substituídas por células iguais é proporcionar o indivíduo a emortalidade. É isso que a ciência busca.

Uma questão interessante e da qual não podemos deixar de observar é que o ser humano adulto é composto de, aproximadamente, mais de cem trilhões de células individuais, em virtude do processo orgânico evolutivo da diferenciação celular, desencadeado durante a evolução embrionária. Hoje sabemos que cada tecido tem seu tempo de vida diferenciado um do outro, como por exemplo, sabemos que os mais resistentes são os tecidos ósseos e tegumento (nessa ordem), portanto, é de se esperar que, em condições normais e favoráveis, pereçam por último, em relação aos demais tecidos. Dessa constatação poderia surgir uma pergunta baseada nos estudos do Dr. Silverstein: seria suficiente, então, manter as células em seu estado normal, sem sofrerem degradação ou qualquer processo de degeneração para que a morte não existisse? É isso que a ciência já tenta fazer: a manutenção orgânica saudável, ou por outro lado, substituição celular.

Entretanto, a questão da humanidade não parece ser simplesmente apenas a mortalidade, pois seguramente, outros problemas surgiriam de imediato, tais como superpopulação do planeta, caça por alimento, preservação da individualidade, sobrevivência, encontros de parceiro(a)s ideais (no campo da convivência) e tantos outros desencadeados pela imortalidade. Portanto...é bom pensar se a morte não seria uma solução para a espécie ao invés de apenas um problema da finitude humana.

* Professor do Centro de Biociências da UFRN(Juarez@cb.ufrn.br)

26 de nov. de 2008

FERNÃO CAPELO GAIVOTA


Fernão Capelo Gaivota
(Publicado no O Jornal de Hoje)
*Juarez Chagas


Embora com conteúdos diferentes, costumo comparar os romances fantásticos O Pequeno Príncipe (romance de Antoine de Saint-Exupéry publicado em 1943, nos Estados Unidos) e Fernão Capelo Gaivota (Jonathan Livingston Seagull,1970, de Richard Bach) colocando-os no mesmo senso extraordinário da fantasia que nos remete às possibilidades da realização dos sonhos quase impossíveis do ser humano.

O Pequeno Príncipe ('Le Petit Prince, na França e O Principezinho em Portugal) é o livro francês mais vendido em todo o mundo, tendo tido cerca de 80 milhões de exemplares, e aproximadamente 400 a 500 edições publicadas, perdendo apenas para a Bíblia e O Peregrino, em termos de tradução literária, como uma das obras mais traduzidas em vários idiomas em todo o mundo. Com um histórico desses, até mesmo quem não gosta muito de ler se sente tentado a conhecer a obra de perto.

Mas, Fernão Capelo Gavoita é nosso assunto de hoje e sua trajetória não é menos interessante do que a do Pequeno Príncipe, muito embora não apresente a mesma estatística, tenha tido apenas aproximadamente a metade de edições publicadas e seja mais de 30 anos mais jovem. É uma fantástica história sobre liberdade, aprendizagem e amor narrada metaforicamente através de uma gaivota que não se contenta apenas em voar para comer restos de lixo ou peixes fáceis de encontrar. Voar para Fernão Capelo é um prazer e não apenas uma característica das aves e seu sonho é aprender tudo sobre o vôo por achar que as gaivotas são limitadas em seu mundo. Assim sendo, torna-se diferente do bando, é julgado, banido e expulso para viver sozinho entre a imensidão do azul do mar e do céu.

Richard Bach tem algo mais que em comum com Saint-Exupéry (cujo nome é bastante longo: Antoine-Jean-Baptiste-Marie-Roger Foscolombe de Saint-Exupéry, falecido aos 44 anos, em 1944), que era também piloto oficial e, teria voado sobre o atlântico do Brasil, inclusive passado por Natal, segundo historiadores da aviação. Bach também aviador, hoje com 63 anos, mas se diz um piloto sem grandes aspirações, tendo feito apenas três viagens internacionais. Esteve recentemente no Brasil, mas veio em vôo comercial. O próprio autor conta que Fernão Capelo surgiu em sua vida quando era ainda criança. Tinha o hábito de olhar o oceano e esconder-se do vento atrás de uma pedra para observar as gaivotas e sonhava ser como uma gaivota.

Ainda a exemplo do Pequeno Príncipe, Fernão Capelo Gaivota foi filmado, tendo tido muito sucesso e, poucas vezes, tenho visto um filme tão fiel ao livro. Tenho minhas restrições sobre filmes de bons livros, pois nem sempre o resultado é o que esperamos. Entretanto, no caso de Fernão Capelo, o filme não só é fiel ao livro, como sua fotografia é magnífica! Isso sem falar na trilha sonora de Neil Diamond, que também é uma obra-prima capaz de arrancar lágrimas dos mais durões dos homens, tipo Clint Eastwood.

No filme, na verdade uma parábola, tem também a questão política de grupos e comunidades, remetendo ao ser humano à castração, não somente do direito de liberdade, mas também ao confinamento de idéias revolucionárias, responsável pelas maiores descobertas do ser com base no acalento de sonhos e propósitos pessoais. A história é uma verdadeira lição de abnegação, obstinação e, inclusive, amor a si mesmo e ao próximo, metaforicamente ensinados através do mundo animal e da Natureza do ser e da espécie.

A clara e instigante analogia poética entre o homem e a gaivota mostra as dificuldades de superação dos limites da busca pela liberdade verdadeira, e, sobretudo do entendimento de ajuda ao próximo, através do amor e na compreensão do outro.
Agora em DVD, qualquer um pode conferir e se deleitar com a visionária realização cinematográfica de um conto que se eternizou através de sonhos e do imaginário pessoal e coletivo, mostrando aos humanos que o amor ainda continua acima busca, sendo o bem mais precioso que existe.

* Professor do Centro de Bioc iências da UFRN(juarez@cb.ufrn.br)