Maslow e Potencial Humano
(Publicado no Jornal de Hoje)
(Publicado no Jornal de Hoje)
Juarez Chagas
“A abordagem fenomenológica faz parte de um esforço de muitos psicólogos para compreender a experiência humana à medida que ela ocorre. Essa abordagem busca considerar a vida como é experimentada pela pessoa sem omitir aquilo que é mais humano, sem dividi-la em partes não-relacionadas e sem reduzi-la a princípios fisiológicos”. É assim que Lawrence A. Pervin (e seu co-autor Oliver P. John) discorre a questão fenomenológica no capítulo 6-Uma teoria Fenomenológica: aplicações e Avaliação da Teoria de Rogers”. Pervin, pH. D. por Harvard, ao qual já me referi em artigos anteriores, como um dos maiores estudiosos atuais da Personalidade humana e cujo livro Personalidade-Teoria e Prática, reafirma em seu prefácio o avanço na interface entre a psicologia e biologia-teoria evolutiva, genética e neurociências, foco que não agrada a alguns psicólogos que não tiveram ênfase nas ciências da saúde. Porém, é normal que não agrade mesmo, pois a totalidade é constituída, sabiamente de semelhanças e diferenças, que formam o todo. Afinal, conviver com a força ou fraqueza dos opostos, é um constante desafio humano.
É interessante, como alguns termos, além de confusos, como fenomenologia, subjetividade, caráter e tantos outros, continuam sendo os mais difíceis de se conceituar e se entender, na Psicologia. Um dos conceitos de fenomenologia mais comuns que encontramos diz que a abordagem fenomenológica da experiência humana à medida que ela ocorre, considera a vida como experiência da própria pessoa. É preciso ficar atento, para não associar com o tempo no gerúndio! Devemos ter cuidado com certas modas, pois gerúndio também nos lembra alguns termos em moda, como fala atual que pode significar o que o sujeito quer dizer, mas não necessariamente o que ele quer fazer. “ Não se preocupe, nós vamos estar resolvendo isso pra você” ou, “nossa empresa vai estar admitindo o senhor, portanto aguarde contato...” Realmente, isso também é um fenômeno. A mania de falar no gerúndio, que significa uma ação ininterrupta, pode nunca concretizar a ação.
Mas, voltemos ao cerne da questão. Ainda bem que haveria de surgir defensores do movimento do potencial humano, dentro da abordagem da corrente humanista da Psicologia, então denominada de terceira força da Psicologia. O nome, talvez não tenha sido tão adequado assim, mas que veio com muita força, isso é incontestável. O movimento do Potencial Humano teve, por sorte e muita convicção, defensores de peso tais quais Carl Rogers, Kurt Goldstein e Abraham Maslow, dentre outros. Essa corrente, diferentemente de suas fortes antecessoras (pela ordem cronológica inversa: behaviorista e psicanalítica), responde preocupações atuais, com ênfase na auto-realização, no cumprimento do potencial humano e na abertura à experiência. Ao contrário da corrente psicanalítica, sua preocupação e foco é enaltecer o potencial da pessoa humana dentro de seus aspectos positivos e saudáveis.
Apenas para citar Goldstein (1878-1965), o qual mudou-se para os Estados Unidos aos 57 anos de idade, foi considerado, na Alemanha, proeminente neurologista e psiquiatra, tendo realizado vários estudos e pesquisas durante a primeira guerra mundial, com soldados com lesões cerebrais, estudos estes que lhe serviram de base para futuras pesquisas, no campo da personalidade. Assim como Freud, goldstein tinha uma visão de energia do organismo, só que ele diferenciou essa energia orgânica para o aspecto positivo do ser humano em busca de sua auto-realização. Algo positivamente revolucionário, admitamos, principalmente para a época.
Abraham Maslow (1908-1970) veio a completar esse pensamento, como nenhum outro estudioso do movimento do potencial humano, tornando-se seu principal teórico e defensor. Na verdade, ele criticou a psicanálise e o behaviorismo por achar essas abordagens pessimistas, negativas e limitadoras do ser humano e, em conseqüência disso, a Psicologia viveu, na época, dias conturbados, o que reflete até hoje através da preferência de uns e antipatia de outros. Independentemtne das intrigas e diferenças, o que não podemos negar é que o estímulo ao potencial humano se reflete na própria busca do sucesso e felicidade. Tudo o que a humanidade sempre buscou.
Maslow, não desconhecia que a psicopatologia resulta de distorções e frustrações da natureza essencial do organismo humano, porém questionava por que não tentar remover esses obstáculos e enfatizar a motivação humana, no sentido de atender as necessidades biológicas e psíquicas do próprio indivíduo, tornando-o mais apto e capaz de realizar seus sonhos. Assim sendo ele criou um modelo que denominou de “hierarquia das necessidades”, onde cada uma dessas necessidades hierárquica, biológica e psiquicamente estabelecida constitui uma pirâmide, com a auto-realização em seu ápice ou topo. Essas necessidades biológicas, como a fome (comida), o sono, a sede, o sexo (fisiológico) somadas às necessidades psicológicas, tais quais, auto-estima, afeição (amor), segurança e pertencimento, completariam a pirâmide como um todo, ou seja, a realização humana.
Além disso, Maslow acreditava na idéia de que indivíduos saudáveis e satisfeitos consigo mesmo, são auto-realizados e que, portanto, essas pessoas aceitam a si mesmas e aos outros, pelo que são, criando um clima e situação de convivência saudável, se realizando como ser humano, uma vez que suas necessidades possam ser atendidas. Evidentemente, que o estudo é muito mais amplo do que aqui se apresenta e, por isso mesmo, é uma das mais belas e ousadas abordagens da Psicologia Moderna.