Total de visualizações de página

1 de set. de 2008

FREUD ALÉM DA ALMA


Freud Além da Alma

(Publicado no O Jornal de Hoje)
* Juarez Chagas


Ninguém pode negar que, os gênios na maioria das vezes irritam os mortais comuns. Isso sabemos, dá-se por causa dos simples mortais não conseguirem entender ou acompanhar a visão destes homens especiais que, só para parafrasear Nietzsche, decifraram questões pertinentes às ciências, religiões e condição e natureza humanas, que estariam “acima do bem e do mal” e que mexeu com a subjetividade de todos, sem exceção, inclusive a deles mesmo, os gênios da humanidade.

Quem nunca ouviu falar ou se quedou alguns instantes sobre os pensamentos de gênios (ou mais que isso...sem obedecer a hierarquia de valores) como Da Vinci, Galileu Galilei, Jesus Cristo, Gandhi, Arquimedes, Sócrates, Platão dentre tantos outros...e, para citar os mais contemporâneos, Shakespeare, Freud...e até os tidos como gênios do mal como Maquiavel e Hitler, por exemplo?

Muitos livros, tratados, registros de vários tipos e filmes foram feitos para eternizarem esses gênios, de tal modo que, as gerações futuras e o próprio mundo pudessem também se beneficiar de seu feitos.

Por falar em filmes, como registro, tem um filme que gostaria de comentar oportunamente e que diz respeito a Freud, na verdade filmado pelo famoso cineasta americano John Huston, em 1958.

Huston realiza uma pseudobiografia de Sigmund Freud (1856-1939), psicanalista vienense, porém se detendo apenas em um de seus períodos que foi de 1885 a 1900, narrando sua vida de médico. Nessa época, muitos de seus colegas de profissão se recusavam a tratar os casos de histeria, pois achavam que tudo não passava de fingimento dos pacientes para chamar atenção e satisfazer seus médicos preferidos. Porém Freud não pensava assim e passou a aplicar a técnica da hipnose, a qual posteriormente, se tornaria uma prática no tratamento psiquiátrico.

Ocorreu que Freud ansioso por obter respostas plausíveis para aplacar o sofrimento de seus pacientes enveredou-se na doutrina de Charcot e utilizou-se da hipnose em seus estudos sobre histeria. Embora seus estudos encontrassem a resistência da ala conservadora da Medicina, que viam nas teorias de Freud uma ameaça à primazia do ser humano, Freud prosseguiu em sua linha de pensamento e descobriu que o ser humano é dividido entre o Consciente e o Inconsciente, lançando assim as bases da Psicanálise. Posteriormente ele percebeu que para se alcançar o inconsciente não era mais obrigatório que o paciente fosse hipnotizado. Assim sendo, mais tarde, Freud elaborou a teoria das neuroses, cuja origem está na sexualidade infantil. Tudo isso fica bem claro quando Freud elabora a teoria das neuroses, cuja origem está na sexualidade infantil.

Assim sendo, John Huston já familiarizado com a obra de Sartre, o convida para escrever o roteiro de um longa-metragem sobre os anos de formação do pai da psicanálise. Foi assim que surgiu Freud, Além de Alma, uma biografia que traça a trajetória dos primeiros contatos de Freud com tratamentos neurológicos, partindo daí para o desenvolvimento da teoria psicanalítica.

O filme é um drama baseado no roteiro escrito pelo filósofo Jean-Paul Sartre, como já disse, ficando clara a tentativa de evitar o risco de fazer uma caricatura de Freud no sentido de não abordar sua vida pessoal, atendo-se apenas aos seus estudos psicanalíticos. Com isso, Huston consegue focar as importantes descobertas de Freud, tomando como exemplos suas próprias experiências pessoais, como por exemplo, a teoria que desenvolveu sobre o Complexo de Édipo, tomando como elemento a relação com seu pai morto.

O filme apresenta uma linguagem metafórica e onírica, onde Huston aproveita para mostrar o conflito interior vivido por Freud enquanto tentava penetrar no obscuro Inconsciente de seus pacientes, pois temia encontrar o inefável, o impensável. Na verdade, Freud temia encontrar a sua própria essência...é isso que deixa transparecer o cuidadoso Diretor. Montgomery Cliff é convincente no papel de Freud, mas não chega a sugerir nenhum gênio. Isso só seria cogitado, na vida real e fora das telas, muitos anos depois, pois parece que os gênios mortos são mais gênios.

* Professor do Centro de Biociências da UFRN(juarez@cb.ufrn.br)

Nenhum comentário: