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9 de set. de 2008

SHANE


Shane
(Publicado no Jornal de Hoje )

*Juarez Chagas

Não imaginei que o artigo “Os Brutos Também Amam” (Shane, USA/Paramount, 1953), fosse levar três leitores a me enviarem e-mails, comentando sobre esse maravilhoso clássico do western americano, genialmente produzido e dirigido por George Stevens, um dos fabulosos diretores da categoria do gigante e mentor John Ford. Um desses e-mails solicita maiores detalhes sobre Shane e sua importância em representar um filme que, não apenas marcou época, mas também originado, indiscutivelmente, de um dos mais importantes romances do faroeste (far west) já escrito e, magistralmente, transportado para o cinema, pelo obstinado Stevens, que também dirigiu Giant em 1955, filme este que foi a ultima atuação de James Dean, o rebelde sem causa.

Na verdade, o interesse que persiste sobre essa clássico, traduz o seu significado para milhares de fãs em todo o mundo, pois não foi apenas um clássico da sétima arte, mas um marco da literatura que mostrou a essência do ser humano, quando se vê dividido entre seu estado animal e racional, mostrando conteúdos psicológicos dos conflitos do seres humanos, independentemente de sua classe social, seja western, onde os revolveres decidem ou no executivo, onde uma caneta sacada do paletó pode provocar uma guerra e mandar milhares de soldados para a morte, com o objetivo de ostentar poder.
Sabemos que depois do cinema mudo, o western (filmes categoria B ou não) foi um dos principais propulsores do cinema norte-americano, surgindo verdadeiras empresas cinematográficas, cada qual disputando seu espaço no mundo do cinema, que também pode ser visto como escola, empresa e até, por vezes, como questão de segurança nacional, onde interesses políticos e científicos são transportados para as telas, enaltecendo a força de seu pais. Essa historia de que a arte imita a vida, é a pura verdade.
Mocinhos e bandidos, seus cavalos, a mocinha e seus revolveres eram o principal filão da mina e, por isso, tudo sobre cowboys parecia banalizado. Era muita pólvora e chumbo quente e, infelizmente, pouca qualidade pelo próprio desgaste natural a que se submetem, a enxurrada de filmes faroestes sem bons roteiros e diversificações nas tramas. Era, portanto, preciso mostrar os lados vigorosos, excêntricos, reais e humanamente verdadeiros da natureza humana, na sociedade do oeste, pois ela existiu e como existiu! Os grandes roteiristas, produtores e diretores, resolveram então se inspirar nos grandes escritores e novelistas do western, como A. B. Guthrie, Jr (detentor do premio Pulitzer de 1950, com seu famoso The Way West, 1949, não publicado no Brasil, o qual me foi presenteado pelo saudoso Protasio Melo, que foi meu professor de Literatura Americana, nos meados dos anos 70 e que guardo como uma relíquia), o inesquecível Zane Grey que, se manteve fiel às origens e realidade do verdadeiro Oeste e suas origens e suas personagens que brilharam entre os anos 20 e 40, assim como outros romacista famosos que começaram a se preocupar com a verdaderia saga do Far West e suas personagens.
Mas, o grande escritor de Shane, foi Jack Schaefer que escreveu a saga do pistoleiro solitário que, anos depois se transformaria em ícone, roteirizado, imaginem por quem...nada mais, nada menos do que pelo próprio Guthrie, Jr. Para a película de George Stevens, tendo como protagonista Alan Ladd, no filme que o imortalizou na galeria do cinema.
Falar sobre o cavaleiro solitário, diga-se de passagem, é de muita responsabilidade e não é tarefa fácil, pois não se trata apenas de um pistoleiro qualquer. Como vimos no artigo passado, Shane (Alan Ladd), conta a história de um pistoleiro solitário que, cansado de sua caminhada sem destino certo, chega a um rancho recém-construido da família Starret (casal e seu pequeno filho , Joey) e, em seguida, convidado por Joe Starret (Van Henflin) para lhe ajudar em seu rancho. Shane aceita, no intuito de ter um pouco de paz. Porém essa paz é ameaçada por um lado pelo ambicioso e mal latifundiário Ryker (Emile Meyer), que quer expulsar os colonos da região para prosperar sua fazenda e gado e, por outro lado, por começar a surgir um amor platônico entre Miriam (Jean Arthur), a mulher de Joe e Shane. Como que, se sentindo em dívida como Joe, Shane enfrenta os bandidos que querem destruir os colonos, vence todos e, ferido em combate, resolve seguir seu destino de cavaleiro errante e solitário, ao invés de voltar para o rancho dos Starrets.
Mesmo sendo ficção, tanto a locação como elementos do setting do filme tiveram lugar onde o próprio enredo acontce: nas montanhas e planícies do Wyoming, o que confere uma bela fotografia ao flme que foi rodado em 1951, porém concluído apenas dois anos depois. Existem algumas curiosidades que o expectador menos interessado, desconhece. Por exemplo, Stevens primeiro escalou Montgomery Cliff e William Holden (Katharine Hepburn também foi sondada) para os papéis de Shane e Joe Starret, respectivamente. Porém, depois de começar a rodar o filme achou que ambos não estavam correspondendo ao que ele queria, então pediu uma lista de atores do estúdio e, imediatamente, encolheu Allan Ladd, Van Heflin e Jean Arthur. Foi um sucesso!
Apesar de Shane ter recebido seis indicações, o Oscar não lhe foi conferido, lamentavelmente. Porém, por outro lado, comentam os bons críticos (em off) que o júri da época, até hoje se arrepende por não ter escolhido Shane para o Oscar do ano...

* Professor do Centro de Biociências da UFRN/Juarez@cb.ufrn.br

Um comentário:

Afonso Guedes disse...

Shane, não é ou foi o melhor faroeste americano. Shane foi o melhor filme já feito por Hollywood. O único ponto fraco, a meu ver, foi o título dado no Brasil (Os brutos também amam) - horroroso (na minha opinião). Os temas musicais são de Victor Young (de Stella by starlight)- maravilhosos. Foi tb a estréia de Walter Jack Palance ( depois Jack Palance). Quem não viu deveria ver e comprar o DVD. Vende nas Americanas.com por 12,90 reais. Deve-se ler tb o livro do Paulo Perdigão, crítico do JB à época, sôbre este explendoroso filme. Paulo entrevistou por duas vezes nos Estados Unidos o George Stevens e há detalhes que nos faz entender cada vez mais os porquês de tanta paixão...

Afonso Guedes
Rio de Janeiro