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10 de mai. de 2011

QUE SAUDADE DO TIROL DAQUELA ÉPOCA!...(IV)








Que Saudade do Tirol daquela época!(IV)

*Juarez Chagas

Merece registro, portanto, um episódio ocorrido no Aero Clube daquela época, palco do melhor da sociedade natalense, no que diz respeito a eventos festivos e sociais.

O Aéreo Clube era um dos melhores clubes da Natal dos Anos 60, principalmente para promover bailes e festas pomposas, consideradas tão tradicionais quanto glamourosas. Mesmo com todo o seu charme e rigor, era disparado, o clube social preferido para celebrações de bodas de casamento, desfile de miss Rio Grande do Norte, aniversários de 15 anos, entre outras solenidades sociais importantes. Porém, para entrar em determinadas festas, só mesmo devidamente trajado de paletó e gravata. Essa parte realmente era odiada pelos mais jovens, cuja maioria, além de tudo nem terno tinha.

Num desses finais de semana badalados, tinha uma festa de 15 anos no aeroclube, disputadíssima, com toda a sua pompa peculiar. Era um dos comentários do final de semana. Imagine, naquela época, onde até mesmo o telefone convencional era difícil e ainda não popular, no entanto as notícias de festas, namoros e reuniões, corriam como o vento.

Homem Mau surge com uma novidade estarrecedora para o momento. De repente, nessa noite da festa de 15 anos no Aéreo, lá por volta das dez da noite, surge um barulho diferente na Jaguarary. Barulho este que vinha se arrastando das imediações da Alexandrino de Alencar, percorrendo todo o trecho da Jaguarary até a rua Meira e Sá, já alcançando a rua Olinto Meira e, depois descendo o Baldo, rumo a José de Alencar, onde havia remanescentes da Turma da Jaguarary.

As pessoas começaram a sair de suas casas ou no mínimo mostrando os rostos nas janelas e portas que se abriam de repente pra saber que barulho era aquele. Tava explicado: lá vinha Homem Mau, dirigindo um ônibus sem um passageiro sequer dentro do veículo. No momento, ninguém sabia que outro maluco, além dele próprio, lhe tinha dado (embora depois ficamos sabendo ser o proprietário do ônibus, de sua família) permissão para dirigir tal veículo que, por si só, já chamava a atenção. Pára o ônibus no meio da rua, dá algumas buzinadas, desce e começa a chamar a turma, avisando que, em 40 minutos voltaria pra apanhar quem quisesse ir à festa no aeroclube, avisando: “O frete é grátis!!”

Passados os 40 minutos, lá vem HM dirigindo o ônibus novamente, só que dessa vez já com muitos passageiros eufóricos a bordo, que gritavam e acenavam das janelas. Uma hora depois, descíamos todos no aeroclube, empolgados para a tal festa. Evidentemente, que tínhamos alguns problemas, além do paletó e gravata, porém o mais grave de todos é que HM, finalmente revela de última hora, que só tinha um convite, o qual já lhe tinha sido dado por um amigo desistente. “E agora?”. Surge a pergunta lógica. “Deixa comigo. Tive uma idéia. Além do mais, acho que conheço o porteiro...”, responde Homem Mau, com tranqüilidade.

Uns dez minutos depois, os que não tiveram medo de ser barrados, mesmo sem saber o plano exato de HM que segurava apenas um convite na mão, sob sua orientação, fizeram uma fila indiana e postaram-se a poucos metros da entrada. Homem Mau, cuidadosamente circula por trás do porteiro, e de supetão, põe as duas mãos em seu rosto e, tapando-lhe os olhos, pergunta alto “Adivinha quem é! Adivinha quem é!”, enquanto gesticula com a cabeça pra turma entrar, enquanto o porteiro, entre tentar adivinhar quem era e se desvencilhar de HM, concede à turma garantidos segundos como convite para a festa e liberdade para entrar. O porteiro consegue finalmente se virar para HM que, de pronto lhe abraça e lhe entrega o convite, eufórico. “Diga, velho, como vai...tá aqui o meu convite!” E entra todo pomposo.

Minutos depois, a turma se encontra lá dentro e, no meio do barulho normal do clube, HM, avisa: “Botar pra dentro eu consegui, agora pra fora não vai ser responsabilidade minha, pois lá vem o segurança...” e, saiu de mansinho.

É por essa e tantas outras e por tudo o que aqui foi narrado, que qualquer um(a) que viveu os Anos Dourados da Cidade do Sol, pode exclamar orgulhosamente: Que Saudade de Natal daquela época!...

* Biólogo, Pisicólogo, Professor Universitário e Escritor, autor do Livro O Corpo Oculto.

juachagas@gmail.com, juarez@cb.ufrn.br

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