Fábulas (II)
*Juarez Chagas
Depois de Esopo (sobre o qual
discorremos no artigo passado) Fedro é o nome mais autêntico para
continuar a narrar sobre fábulas que tanto marcaram os clássicos. Fabulista romano, Fedro, cujo nome completo era Caio Júlio Fedro (Gaius Iulius Phaedrus), nasceu
na Macedônia, Grécia,
tendo sido filho de escravos
e, por suas qualidades e inteligência, dizer ter sido libertado pelo imperador
romano Augusto.
A fábula,
é uma pequena narrativa, a qual serve para ilustrar algum vício ou alguma
virtude cuja conclusão narrada, invariavelmente conclui com uma lição de moral
ou um análogo exemplo, com significado de aprendizado. Em sua grande maioria, as
fábulas retratam personagens como animais ou criaturas imaginárias (criaturas
fabulosas), representando alegoricamente traços de caráter (negativos e
positivos), de seres humanos, porém ilustrados com animais ou seres
mitológicos.
As fábulas de Esopo
(nenhuma escrita, mas transmitidas oralmente) foram enriquecidas e divulgadas
estilisticamente por Fedro na literatura latina com intuito de aprendizagem,
fixação e memorização dos valores morais do grupo social, enfatizando por sua
vez as sátiras, tratando das injustiças, dos males sociais e políticos,
expressando as atitudes dos fortes e oprimidos. Por esse motivo é que teve
tanto sucesso, mesmo séculos depois.
Fabulista da época
dos imperadores Tibério e Calígula,
nos primeiros séculos da era cristã, e seguidor de Esopo, satirizou costumes e
personagens da época e com suas críticas, causou grande incômodo e acabou sendo
exilado por causa disso.
Talvez, nossa
sociedade moderna com tanta injustiça e desmando, especialmente por parte de
quem mais detém poderes sobre o povo (como se parte dele não o fosse),
necessitasse de fabulistas retóricos e corajosos para que, com suas fábulas e
sátiras, metaforicamente (já que na maioria das vezes denúncias cabais em nada
resultam), denunciassem as injustiças emanadas desses poderes que só valem para
uns e quase todos, não.
Vejamos uma rápida
fábula de Fedro que ilustra muito bem a ganância do poder que tanto mal causa,
inclusive ao próprio ganancioso.
“Enquanto um cão, nadando, levava um
pedaço de carne por um rio, viu sua imagem no espelho das águas e, cuidando que
outra presa era levada por outro cão, quis tirar-lhe: porém a avidez foi
lograda, e não só soltou a comida que tinha na boca, mas muito menos ainda pôde
alcançar a que desejava”. Moral da história: quem tudo quer tudo perde.
*Professor do
Centro de Biociências da UFRN
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