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29 de jul. de 2011

O PROFESSOR AO LONGO DO TEMPO II


*Juarez Chagas

“Este artigo faz parte de uma série de textos sobre a personagem do PROFESSOR, sobre o qual discorro em narrativas diversas ao longo de sua trajetória , espaço e tempo. Espero que tenha uma boa leitura”.

Socialmente falando, a função (e não ainda a profissão) de professor, foi se consolidando aos poucos, à medida que sua importância ganhava espaço na própria família, nas comunidades e, finalmente, na sociedade como um todo.

É compreensível e oportuno que alguém pergunte, ou queira saber, como surgiu a figura do professor, como ela se estabeleceu e como a sociedade, em seus primórdios já via sua importância, mas já negligenciava seu valor, apesar do reconhecimento de sua importância. É claro que a transmissão do saber através da família e gerações teria que ter início com alguém capaz de repassar conhecimentos com propriedade e capacidade para que este mesmo conhecimento permanecesse difundido entre as pessoas a ponto de ganhar instituições que dele cuidasse e zelasse, o saber.

Parece ter sido no início do período medieval, que a questão do mundo do conhecimento passou a ser disputada e controlada pelas instituições religiosas cristãs, as quais foram responsáveis pela constituição das primeiras universidades, mesmo de forma básica e linear.

Na verdade, a Igreja sempre teve poder sobre o Estado em várias questões, principalmente nos seus primórdios e, no que diz respeito à educação e transmissão de conhecimentos este ponto sempre foi mais enfático. É importante frisar que não estamos discutindo aqui benefícios ou malefícios desta questão ou deste poder, porém a atuação da Igreja neste processo de transmissão de conhecimento e, fundamentalmente, sua importância no processo de formação de professores, em especial nas áreas filosóficas e teológicas.

Ainda sobre a referência religiosa no ensino, sabe-se que, historicamente no Brasil, o domínio clerical sobre as instituições de ensino terminou depois que o Marquês de Pombal resolveu expulsar os jesuítas da colônia.

Com essa atitude, a própria Coroa resolvia quem poderia exercer funções pedagógicas ou as funções de professor. A propósito, é importante pontua que a profissionalização do educador brasileiro começou teve início a partir de 1835, pois foi nessa época quando a primeira escola de educadores foi criada na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro.

Na realidade, nessa ocasião da era pombalina persiste o panorama do analfabetismo e do ensino precário, agravado com a expulsão dos jesuítas e pela democracia da reforma instituída por Marques de Pombal. E assim, a educação fica a deriva durante esse longo período do Brasil colônia, aumentando mais ainda o fosso entre os letrados e a maioria da população analfabeta. Já tínhamos aí, grande diferença social estabelecida

*Profesor do Centro de Biociências da UFRN, Psicólogo e Escritor

E AGORA DOUTOR? (O PROFESSOR AO LONGO DO TEMPO III)


*Juarez Chagas

Retomando à série de artigos sobre trajetórias, conjecturas, passagens e até aventuras a respeito do difícil e árduo, porém nobre, papel do professor no contexto social ao longo do tempo, comento hoje, um desses e-mails tipo “corrente” que acabo de receber de uma indignada professora universitária, sobre o título de Doutor Honoris Causa, récem-outorgado (e outra a ser concedido) a Luís Inácio Lula da Silva, ex- presidente do Brasil.

A professora (cujo nome preservo) é seguida por inúmeros e inúmeras colegas Brasil a fora, todos eles indignados e repassando o e-mail nas redes sociais e pessoais.

Dentre as causas de indignação pela outorga do título ao ex-presidente, ressalva-se no e-mail a vaidade do ex-governante em dizer que nunca leu um livro (talvez agora leia o de sua biografia) ou não ter precisado possuir diploma universitário para ser Presidente da República; ter concedido ridículos reajustes salariais aos professores universitários (conseguidos sempre graças a longas greves) e ter arrogantemente, lembrado várias vezes que não é preciso ter diploma universitário para ser Presidente da República; sob seu governo, os professores universitários tiveram ridículos reajustes salariais, conseguidos sempre graças a longas greves.

A mensagem ainda diz que o Reitor da UFPB e todos os outros conselheiros que foram e são favoráveis a tal homenagem sem senso crítico, apenas provam que são servis ao partido que está no poder e à bajulação e que têm pouco zelo pela titulação acadêmica e em troca de algumas verbas (obrigação do governo federal para manutenção, ampliação e aperfeiçoamento das universidades federais) esquece que o ex-presidente atropela a Língua Portuguesa, que dá péssimo exemplo como incentivo à leitura e faz vista grossa à corrupção, levando-o a defender, em inúmeras ocasiões, todos aqueles que foram acusados ou suspeitos de corrupção, sugerindo às novas gerações que ser corrupto é bom, então por que tornar-se "Honoris Causa"?

Por outro lado, recentemente (já após ter deixado o governo) Lula foi agraciado com o mesmo título por uma das instituições mais tradicionais do mundo, a Universidade de Coimbra. Então cabe a pergunta: merece ou não merece o título “Doutor Honoris Causa”, o iletrado Luís Lula Inácio da Silva, ex-presidente do Brasil?

Em seu discurso, Lula disse considerar indispensável uma nova governança global, que passa por uma mudança no Conselho de Segurança das Nações Unidas e, dedicou o título ao seu Vice-presidente, recentemente falecido, José de Alencar.

"A educação foi o novo projeto da política de educação do Brasil. É com imensa honra que recebo o título de doutor 'honoris causa' da Universidade de Coimbra. A casa mais prestigiosa do saber de Portugal e da Europa. A Universidade de Coimbra foi referência para o meu país". O ex-presidente disse, ainda, que o título "honoris causa" recebido por ele significa um reconhecimentro às causas que o Brasil tem defendido no cenário internacional.

Já a professora cuja contestação gerou o email divulgado em corrente tem seu firme ponto de vista, o qual defende veementemente: ainda não vi meus colegas se pronunciarem sobre esse lamentável incidente de equívoco acadêmico.

“Só espero que não apareça algum professor doutor falando contra as elites intelectuais e em democratização da universidade, para justificar a bajulação e o servilismo. Antes que alguém tenha o trabalho de dizer: sou elite intelectual, sim. Sou Doutora em Letras, porque estudei muitos anos para isso. Li e leio muitos livros e já publiquei alguns.Sou acadêmica e sou contra a deterioração dos valores acadêmicos. Tenho zelo pelo diploma de doutorado que fiz por merecer, estudando, lendo, pesquisando e buscando formar outros intelectuais. Se ter cultura, formação universitária, inúmeras publicações (livros, artigos, trabalhos em congressos nacionais e internacionais, CDs de dados), ter lecionado na França e em mais de uma universidade brasileira, ter senso crítico, respeitar os valores universitários, é ser elite, então sou elite e não gosto de ver a mediocridade intelectual pontificar com diploma de doutor.

Não é por Coimbra ter colocado no seio de seu egrégio colégio de doutores um sujeito que tem orgulho de nunca ter lido um livro, que vou aceitar que a UFPB vulgarize os títulos acadêmicos”.

Só pra lembrar, Honoris causa é uma locução latina ("por causa de honra") usada em títulos honoríficos concedidos por universidades a pessoas eminentes, que não necessariamente sejam portadoras de um diploma universitário, mas que tenham se destacado em determinada área (artes, ciências, filosofia, letras, promoção da paz, de causas humanitárias, etc), por sua boa reputação, virtude, mérito ou ações de serviço que transcendam famílias, pessoas ou instituições.

Historicamente um Doutor honoris causa (ou Doctor honoris causa) recebe o mesmo tratamento e privilégios que aqueles que obtiveram um doutorado acadêmico de forma convencional, a menos que se especifique o contrário. E, parece ser nesse ponto que, o Lula é questionado. A propósito, na longa trajetória do Professor ao Longo do Tempo, ainda vamos ver e ouvir muita coisa.

*Profesor do Centro de Biociências da UFRN, Psicólogo e Escritor

O PROFESSOR AO LONGO DO TEMPO V



*Juarez Chagas

"Este artigo faz parte de uma série de textos sobre a personagem do PROFESSOR, sobre o qual discorro em narativas diversas ao longo de sua trajetória, espaço e tempo. Espero que tenha(m) uma boa leitura"


É impressionante como nossa sociedade é, com raríssimas exceções, hipócrita por natureza e aqui, cabe uma observação no sentido de que essa hipocrisia é fruto do próprio consenso norteador da sociedade (por seus representantes) como um todo.

Senão vejamos: a sociedade vive bradando e reclamando que a Educação move uma nação e que, sem educação, não há sociedade justa, decente e (mais ou menos) igualitária (porque não há igualdade consensual na construção da pirâmide social) e, no entanto, ela mesma não prioriza a educação como sendo uma das profissões mais importantes, imprescindíveis e respeitadas. Muito pelo contrário, pois é uma das profissões mais desprestigiadas e mal pagas, quando comparada com as demais.

Vemos exemplos todos os dias de seu (des)prestígio. Não há sequer esperança de mudanças nesse sentido, porque se assim fosse, o Estado não estaria em greve há mais de dois meses como se nada tivesse acontecendo, só pra dar um exemplo local. Isso sem falar em outros exemplos escabrosos, onde os educadores só são lembrados em época de eleições, cujas promessas demagógicas tomam conta do cenário, para que os educadores sejam, mais uma vez e continuamente, enganados em sua boa fé e abnegação pela nobre dom do ensino.

No artigo passado, falamos sobre um email que abordava também a indignação do professor (na verdade, de uma professora), embora tenha sido a respeito do título “Doutor Honoris Causa”, outorgado ao ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva. Hoje temos outro email tipo corrente que chegam às nossas caixas postais solicitando dar continuidade e repasse à sociedade. O referido email, trata de uma analogia à “extinção dos professores”, num curto espaço de tempo a se concretizar ainda neste século.

Resumindo e adaptando o teor do email que trata de um possível diálogo entre um neto e seu avô, vejamos o que se segue:

- Vovô, por que o mundo está acabando?

- Porque nao existem mais professores, meu anjo.

- Professores? Mas, o que é isso? O que fazia um professor?

Assim, o bom avô discorre sobre professores, quase com lágrimas nos olhos, dizendo que eram homens e mulheres elegantes e dedicados, que se expressavam sempre de maneira muito culta e que, muitos anos atrás, transmitiam conhecimentos e ensinavam as pessoas a ler, falar, escrever, se comportar, localizar-se no mundo e na história, entre muitas outras coisas. Principalmente, ensinavam as pessoas a pensar.

- Eles ensinavam tudo isso? Mas eles eram sábios?

- Sim, ensinavam, mas não eram todos sábios. Apenas alguns, os grandes professores, que ensinavam outros professores, e eram amados pelos alunos.

-E como foi que eles desapareceram, vovô?

-Ah, foi tudo parte de um plano secreto e genial, que foi executado aos poucos por alguns vilões da sociedade. O vovô não se lembra direito do que veio primeiro, mas sem dúvida, os políticos ajudaram muito. Eles acabaram com todas as formas de avaliação dos alunos, apenas para mostrar estatísticas de aprovação. Assim, sabendo ou não sabendo alguma coisa, os alunos eram aprovados. Isso liquidou o estímulo para o estudo e apenas os alunos mais interessados conseguiam aprender alguma coisa.

Depois, muitas famílias estimularam a falta de respeito pelos professores, que passaram a ser vistos como empregados de seus filhos. Estes foram ensinados a dizer “eu estou pagando e você tem que me ensinar”, ou “para que estudar se meu pai não estudou e ganha muito mais do que você” ou ainda “meu pai me dá mais de mesada do que você ganha”. Isso quando não iam os próprios pais gritar com os professores nas escolas. Para isso muito ajudou a multiplicação de escolas particulares, as quais, mais interessadas nas mensalidades que na qualidade do ensino, quando recebiam reclamações dos pais, pressionavam os professores, dizendo que eles não estavam conseguindo “gerenciar a relação com o aluno”. O professores eram vítimas da violência – física, verbal e moral – que lhes era destinada por pobres e ricos. Viraram saco de pancadas de todo mundo.

Além disso, qualquer proposta de ensino sério e inovador sempre esbarrava na obsessão dos pais com a aprovação do filho no vestibular, para qualquer faculdade que fosse. “Ah, eu quero saber se isso que vocês estão ensinando vai fazer meu filho passar no vestibular”, diziam os pais nas reuniões com as escolas. E assim, praticamente todo o ensino foi orientado para os alunos passarem no vestibular. Lá se foi toda a aprendizagem de conceitos, as discussões de idéias, tudo, enfim, virou decoração de fórmulas. Com a Internet, os trabalhos escolares e as fórmulas ficaram acessíveis a todos, e nunca mais ninguém precisou ir à escola para estudar a sério.

Em seguida, os professores foram desmoralizados. Seus salários foram gradativamente sendo esquecidos e ninguém mais queria se dedicar à profissão. Quando alguém criticava a qualidade do ensino, sempre vinha algum tonto dizer que a culpa era do professor. As pessoas também se tornaram descrentes da educação, pois viam que as pessoas “bem sucedidas” eram políticos e empresários que os financiavam, modelos, jogadores de futebol, artistas de novelas da televisão – enfim, pessoas sem nenhuma formação ou contribuição real para a sociedade”.

O texto acima, de um autor desconhecido, circula na internet desde 2009 e, evidentemente que mesmo hipotético, foi feito em cima da realidade e de como a própria sociedade trata seu bem maior que é a EDUCAÇÃO

*Profesor do Centro de Biociências da UFRN, Psicólogo e Escritor