"Este artigo faz parte de uma série de textos sobre a personagem do PROFESSOR, sobre o qual discorro em narativas diversas ao longo de sua trajetória, espaço e tempo. Espero que tenha(m) uma boa leitura"
É impressionante como nossa sociedade é, com raríssimas exceções, hipócrita por natureza e aqui, cabe uma observação no sentido de que essa hipocrisia é fruto do próprio consenso norteador da sociedade (por seus representantes) como um todo.
Senão vejamos: a sociedade vive bradando e reclamando que a Educação move uma nação e que, sem educação, não há sociedade justa, decente e (mais ou menos) igualitária (porque não há igualdade consensual na construção da pirâmide social) e, no entanto, ela mesma não prioriza a educação como sendo uma das profissões mais importantes, imprescindíveis e respeitadas. Muito pelo contrário, pois é uma das profissões mais desprestigiadas e mal pagas, quando comparada com as demais.
Vemos exemplos todos os dias de seu (des)prestígio. Não há sequer esperança de mudanças nesse sentido, porque se assim fosse, o Estado não estaria em greve há mais de dois meses como se nada tivesse acontecendo, só pra dar um exemplo local. Isso sem falar em outros exemplos escabrosos, onde os educadores só são lembrados em época de eleições, cujas promessas demagógicas tomam conta do cenário, para que os educadores sejam, mais uma vez e continuamente, enganados em sua boa fé e abnegação pela nobre dom do ensino.
No artigo passado, falamos sobre um email que abordava também a indignação do professor (na verdade, de uma professora), embora tenha sido a respeito do título “Doutor Honoris Causa”, outorgado ao ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva. Hoje temos outro email tipo corrente que chegam às nossas caixas postais solicitando dar continuidade e repasse à sociedade. O referido email, trata de uma analogia à “extinção dos professores”, num curto espaço de tempo a se concretizar ainda neste século.
Resumindo e adaptando o teor do email que trata de um possível diálogo entre um neto e seu avô, vejamos o que se segue:
- Vovô, por que o mundo está acabando?
- Porque nao existem mais professores, meu anjo.
- Professores? Mas, o que é isso? O que fazia um professor?
Assim, o bom avô discorre sobre professores, quase com lágrimas nos olhos, dizendo que eram homens e mulheres elegantes e dedicados, que se expressavam sempre de maneira muito culta e que, muitos anos atrás, transmitiam conhecimentos e ensinavam as pessoas a ler, falar, escrever, se comportar, localizar-se no mundo e na história, entre muitas outras coisas. Principalmente, ensinavam as pessoas a pensar.
- Eles ensinavam tudo isso? Mas eles eram sábios?
- Sim, ensinavam, mas não eram todos sábios. Apenas alguns, os grandes professores, que ensinavam outros professores, e eram amados pelos alunos.
-E como foi que eles desapareceram, vovô?
-Ah, foi tudo parte de um plano secreto e genial, que foi executado aos poucos por alguns vilões da sociedade. O vovô não se lembra direito do que veio primeiro, mas sem dúvida, os políticos ajudaram muito. Eles acabaram com todas as formas de avaliação dos alunos, apenas para mostrar estatísticas de aprovação. Assim, sabendo ou não sabendo alguma coisa, os alunos eram aprovados. Isso liquidou o estímulo para o estudo e apenas os alunos mais interessados conseguiam aprender alguma coisa.
Depois, muitas famílias estimularam a falta de respeito pelos professores, que passaram a ser vistos como empregados de seus filhos. Estes foram ensinados a dizer “eu estou pagando e você tem que me ensinar”, ou “para que estudar se meu pai não estudou e ganha muito mais do que você” ou ainda “meu pai me dá mais de mesada do que você ganha”. Isso quando não iam os próprios pais gritar com os professores nas escolas. Para isso muito ajudou a multiplicação de escolas particulares, as quais, mais interessadas nas mensalidades que na qualidade do ensino, quando recebiam reclamações dos pais, pressionavam os professores, dizendo que eles não estavam conseguindo “gerenciar a relação com o aluno”. O professores eram vítimas da violência – física, verbal e moral – que lhes era destinada por pobres e ricos. Viraram saco de pancadas de todo mundo.
Além disso, qualquer proposta de ensino sério e inovador sempre esbarrava na obsessão dos pais com a aprovação do filho no vestibular, para qualquer faculdade que fosse. “Ah, eu quero saber se isso que vocês estão ensinando vai fazer meu filho passar no vestibular”, diziam os pais nas reuniões com as escolas. E assim, praticamente todo o ensino foi orientado para os alunos passarem no vestibular. Lá se foi toda a aprendizagem de conceitos, as discussões de idéias, tudo, enfim, virou decoração de fórmulas. Com a Internet, os trabalhos escolares e as fórmulas ficaram acessíveis a todos, e nunca mais ninguém precisou ir à escola para estudar a sério.
Em seguida, os professores foram desmoralizados. Seus salários foram gradativamente sendo esquecidos e ninguém mais queria se dedicar à profissão. Quando alguém criticava a qualidade do ensino, sempre vinha algum tonto dizer que a culpa era do professor. As pessoas também se tornaram descrentes da educação, pois viam que as pessoas “bem sucedidas” eram políticos e empresários que os financiavam, modelos, jogadores de futebol, artistas de novelas da televisão – enfim, pessoas sem nenhuma formação ou contribuição real para a sociedade”.
O texto acima, de um autor desconhecido, circula na internet desde 2009 e, evidentemente que mesmo hipotético, foi feito em cima da realidade e de como a própria sociedade trata seu bem maior que é a EDUCAÇÃO
*Profesor do Centro de Biociências da UFRN, Psicólogo e Escritor
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