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7 de ago. de 2008

AINDA SOBRE A INVEJA COMO MANTO DA MORTE




Ainda Sobre a Inveja como Manto da Morte
(Publicado anteriormente no Jornal de Hoje)
*Juarez Chagas

Continuando o assunto sobre inveja abordado em nosso último artigo, é bom enfatizar sua relação com a morte, inclusive a partir do título “A Morte veste o mando da Inveja”, sobre o qual recebi vários e-mails de congratulações sobre o tema e até alguns falando de suas indignações contra essa devastadora e negativa energia humana, o que me deixou bastante animado por terem sido todos de pessoas que abominam tão vil sentimento.

A relação da inveja com a morte é muito clara. Sim, inclusive porque a morte não é apenas um conceito do fim da vida, porem também significa perdas e aniquilações que não, necessariamente, apenas o fim físico, a extinção da matéria, a cessão do processo biológico. É muito mais que isso, daí sua complexidade e sua diversidade de conceitos, seja no âmbito social, teológico ou científico.

Engraçado é que se você for consultar um dicionário Inglês ou americano, você vai se deparar com o termo inveja como sendo o segundo “pecado mortal”(deadly sin) ao invés de pecado capital. Claro que, semanticamente temos uma adaptação gramatical, mas isso não correu por acaso. Por falar em acaso, eu pessoalmente, não acredito em coincidências nem em casualidades. Imagino que tudo acontece por uma razão de ser, de estar, de acontecer e não aleatoriamente, mesmo que seja apenas alguma coisa, como somos levados a pensar.

Portanto, esse pecado que é capital, é igualmente mortal. Trazendo essa idéia para o aspecto da inveja, podemos comprovar coisa mais absurda em sua razão de ser? O ser humano a ter inveja do seu próximo, poderíamos até arriscar dizer, da mesma forma que o ama ou odeia? E a razão disso reside no seu íntimo e essa razão o mata a cada dia, porque além de ter o poder de destruir seu próximo, também corrói a si mesmo, aniquilando seus bons sentimentos, tornando-o uma pessoa avarenta, infeliz e perigosa socialmente. Não são raros os exemplos de tramas, muitas delas mirabolantes e dignas da imaginação de Hitchcock que tanto gostava de retratar em seus suspenses antológicos, comumente culminando com mortes e destruições de quem é alvo da inveja.

Pois bem, assim como a morte, a inveja não é tão fácil de se definir como muitos possam imaginar. E pior ainda, ela pode se parecer como tantos outros sentimentos perigosos e destrutivos, como ciúme, possessão, obsessão e tantos outros. E você já imaginou quando esta vem associada aos mesmos? Realmente, aí fica muito difícil a pessoa conseguir se livrar. É botar as mãos pro céu e pedir a Deus por milagres! Aliás, a própria religião tratou de alertar a humanidade sobre a inveja, quando fez questão de mostrar no livro mais lido do mundo, a Bíblia, que Caim matou seu irmão Abel exatamente porque era invejoso. Por aí vocês tirem que, se a inveja está no próprio seio da família, onde estão não estaria mais...? Ela está olhando pra você no seu trabalho, está espreitando você às suas costas, está ao seu lado nas reuniões, seja de que ordem for, está no esporte, doida que você quebre uma perna, tenha uma torção, fique fora da competição; se você é escritor, jornalista ou simplesmente vive das letras, ela está torcendo pra você ter um traumatismo craniano que cause desordens no pensamento; Se você é um bom médico, dentista ou psicólogo, ela torce pra que o doente seja você; se você é um vitorioso comerciante ou empresário, ela deseja que você quebre e vá à falência; está nas escolas, nas universidades, em todas as profissões; enfim, seria mais prático perguntar onde a inveja não está.

Mas, aí teríamos dois problemas, além do que ter que enfrentar todo dia a própria inveja: um de ordem ambiental e outro de ordem social. No primeiro, talvez não existisse esse lugar onde a inveja não estaria e, se por um milagre existisse (milagres acontecem), nesse caso já seria o de ordem social, indubitavelmente, não suportaria o contingente de pessoas que para lá iriam, pois sem sombra de dúvidas todo mundo iria querer ir para esse lugar utópico.

Por outro lado, também duas coisas que nos alentam (a nós não invejosos) é que a inveja anda de mãos dadas com a mediocridade, conferindo assim uma característica, além de doentia, medíocre a quem é invejoso. Sim, porque só os medíocres são invejosos e não conseguem, ao invés de alimentarem a inveja, se debruçarem sobre esse próprio sentimento degradante, tentar dele se livrar e buscar seus próprios sonhos, suas próprias realizações, tornando-o escravo dos sonhos e realizações alheias que, mesmo conseguindo se apossar delas, jamais serão suas (isso é o que gera o conflito da não posse e não realização). E a outra coisa que nos alenta e, mesmo correndo o risco de termos nossos sonhos, por mais simples que eles possam ser, usurpados pelo invejoso, no fundo sentimos pena dele e, ao contrario dele, não lhe desejamos inveja nem destruição. Inclusive porque nesse aspecto, ele a si se basta. Mas, é bom estar atento e saber que a morte realmente veste a capa da inveja ou não seria o contrario, a inveja veste a capa da morte?




* Professor do Centro de Biociências da UFRN(Juarez@cb.ufrn.br)

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