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7 de ago. de 2008

A INVEJA CONTINUA


A Inveja Continua
(Publicado anteriormente no Jornal de Hoje)

*Juarez Chagas


Como diz o título do artigo, a inveja continua e, infelizmente, não poderia ser diferente, pois como sendo um dos sentimentos mais mesquinhos e destruidor que a sociedade já viu, acha-se impregnado na natureza e condição humana, quase como uma marca ou estigma.

A relação da inveja com a morte é, sobremaneira, muito íntima inclusive porque a morte não é apenas um conceito do fim da vida, porém também significa perdas, destruições e aniquilações que não, necessariamente, apenas o fim físico, a extinção da matéria, a cessão do processo orgânico e biopsíquico. É muito mais que isso, daí sua complexidade e sua diversidade de conceitos, seja no âmbito social, teológico ou científico.

Consultando um dicionário Inglês ou americano, veremos o termo inveja como sendo o segundo “pecado mortal”(deadly sin) ao invés de pecado capital (citei o dicionário Inglês, por sabermos que esse idioma contém quase 30% de palavras de origem neolatinas). O que chama a atenção de antemão é a palavra “mortal”, o que denota realmente que a inveja é devastadora e realmente mortal. Claro que, semanticamente temos uma adaptação gramatical, mas isso não ocorreu por acaso.

Em recente artigo, a revista Psique, Ciência & Vida No 1. traz uma reportagem (de capa) sobre a Inveja, a qual aborda alguns trabalhos recentes sobre a mesma, no âmbito da Psicologia, sendo esta defendida pelo Dr. Carlos Byington, médico psiquiatra e analista junguiano, afirmando que a inveja também tem seu lado bom e criativo, segundo a psicologia simbólica de Jung. Nesse contexto, afirma que a inveja tanto vitima quanto nos impulsiona para a vida. Esse tipo de inveja criativa, como passou a ser chamada é um fato em sua abordagem, porém pessoalmente não acho que deva ser uma pulsão saudável, mesmo no que diga respeito a uma força propulsora em busca de algumas realizações.

Talvez devêssemos substituí-la apenas por uma “ambição saudável” e não inveja, mesmo que possa ser vista como uma força transformadora do ser humano em busca de seus ideais. Inveja é sempre inveja e, devemos buscar sucesso em nossa capacidade criativa e estímulos cada vez mais criativos sem desejar a destruição do próximo, aprendendo a buscar nossos próprios desejos, mesmo que os mesmos sejam idênticos aos do próximo.

O ser humano é o único indivíduo a ter inveja do seu próximo, dentre toda a diversidade animal. Não estamos falando de competição, defesa e domínio de território ou qualquer outra situação de preservação ou sobrevivência individual do ser e sim de um certo poder de destruir seu próximo, mesmo que para isso também destrua a si mesmo, aniquilando seus bons sentimentos, tornando-o uma pessoa avarenta, infeliz e perigosa socialmente.

Pois bem, assim como a morte, a inveja não é tão fácil de se definir como muitos possam imaginar. E pior ainda, ela pode se parecer como tantos outros sentimentos perigosos e destrutivos, como ciúme, possessão, obsessão e tantos outros de natureza doentia. E você já imaginou quando esta vem associada aos mesmos? Realmente, aí fica muito difícil a pessoa conseguir se livrar. É botar as mãos pro céu e pedir a Deus para se livrar. Aliás, a própria religião tratou de alertar a humanidade sobre a inveja, quando fez questão de mostrar no livro mais lido do mundo, a Bíblia, que Caim matou seu irmão Abel exatamente porque era invejoso.

Por aí você conclua que, se a inveja está no próprio seio da família, no próprio sangue, onde estão não mais estaria...? Ela está olhando pra você no seu trabalho, está espreitando você às suas costas, está ao seu lado nas reuniões, seja de que ordem for, está no esporte, doida que você quebre uma perna, tenha uma torção, fique fora da competição; se você é escritor, jornalista ou simplesmente vive das letras, ela está torcendo pra você ter um traumatismo craniano que cause desordens no pensamento; Se você é um bom médico, dentista ou psicólogo, ela conspira pra que o doente seja você; se você é um vitorioso comerciante ou empresário, ela deseja que você quebre e vá à falência; está nas escolas, nas universidades, em todas as profissões; enfim, seria mais prático perguntar onde a inveja não está.

Mas, aí teríamos dois problemas, além do que ter que enfrentar todo dia a própria inveja: um de ordem ambiental e outro de ordem social. No primeiro, talvez não existisse esse lugar onde a inveja não estivesse e, se por um milagre existisse (milagres acontecem), nesse caso já seria o de ordem social, indubitavelmente, não suportaria o contingente de pessoas que para lá iriam, pois sem sombra de dúvidas todo mundo iria querer ir para esse lugar utópico, onde a inveja não existisse.

Por outro lado, também duas coisas que nos alentam (a nós não invejosos) é que a inveja anda de mãos dadas com a mediocridade, conferindo assim uma característica, além de doentia, medíocre a quem é invejoso ou invejosa. Sim, porque só os medíocres são invejosos e não conseguem, ao invés de alimentarem a inveja, se debruçar sobre esse próprio sentimento degradante, tentar dele se livrar e buscar seus próprios sonhos, suas próprias realizações, tornando-o escravo dos sonhos e realizações alheias que, mesmo conseguindo se apossar delas, jamais serão suas de verdade (isso é o que gera o conflito da não posse e não realização plena). E a outra coisa que nos alenta e, mesmo correndo o risco de termos nossos sonhos, por mais simples que eles possam ser, usurpados pelo invejoso, no fundo sentimos pena dele e, ao contrario dele, não lhe desejamos inveja nem destruição. Inclusive porque nesse aspecto, ele a si se basta. Mas, é bom estar atento e saber que a morte realmente veste a capa da inveja. Ou não seria o contrario, a inveja, muitas vezes, se cobre com a capa da morte? De uma forma ou de outra, infelizmente, a inveja continua.

* Professor do Centro de Biociências da UFRN(
Juarez@cb.ufrn.br)

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