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7 de ago. de 2008

SOBRE A INVEJA


Sobre a Inveja
(Publicado anteriormente no Jornal de Hoje)
*Juarez Chagas

Repetir artigos, principalmente num mesmo tablóide ou blog, pode ser interessante ou justamente o contrário. Eu particularmente não gosto muito, por preferir sempre uma linha evolutiva, muitas vezes desafiando temas dentre os quais possamos permear no sentido literário. Porém, fica muito difícil quando pelo menos três leitores escrevem pedindo replay de um determinado assunto. É o que acaba de acontecer com o artigo sobre inveja que, mesmo já fazendo um certo tempo que o mesmo foi publicado, vez ou outra recebo algum e-mail solicitando sua re-edição.

Não é sem sentido que a inveja desperte tanto interesse, cuidado, aversão e cause tanta destruição no ser humano, sendo inclusive estudada no âmbito da psicologia, no contexto psicanalítico de Freud, assim como na psicologia simbólica de Jung, pois tem se configurado num dos mais destrutivos sentimentos do ser humano.

A inveja, segundo pecado capital, tem origem teológica e antropológica em diferentes momentos da vida humana, incorporada na subjetividade e personalidade individual, compondo assim a coleção dos sete pecados capitais: cobiça, inveja, luxúria, ira, gula, orgulho e preguiça. Na verdade, a inveja é tida como um dos mais vis dos sentimentos humanos que, pela sua capacidade de destruição, tem sido considerada uma patologia comportamental e por causa disso requer, inclusive, tratamento psíquico.

Etimologicamente é importante a noção da palavra “inveja-s. m. (Latim, invidiam). Misto de ódio e desgosto provocado pela propriedade ou alegria de outrem; desejo de possuir um bem que outrem possui ou desfruta”. Mas, não basta saber o que ela significa técnica e ortograficamente. É preciso entender o que realmente a inveja representa, o que pode causar e, melhor ainda, é vital dela se livrar!

A questão aqui não é apontar dicas ou receitas de como identificar um invejoso ou uma invejosa, porque isso compete a cada um de nós saber fazê-lo. Aliás, é vital, não apenas identificar, mas também se livrar do invejoso. Entretanto, para isso é muito importante que saibamos perceber os sinais. A propósito, estamos sempre recebendo sinais sobre tudo em nossas vidas, nós é que os negligenciamos, deixando escapar as nuances e detalhes. Nosso soma e nossa psiqué existem para nos inteirar ao ambiente, tanto o ambiente que nos cerca quanto nosso ambiente subjetivo, emocional e mental. Não possuímos cem bilhões de neurônios sem razão. Na verdade, são esses neurônios que compõem nosso sistema nervoso, e evidentemente, sua complexidade. Portanto, é necessário entendê-lo e desse entendimento usufruirmos de sua capacidade, caso contrário, estamos fadados ao insucesso e a tudo o que é negativo.

A inveja é tão importante em nossas vidas, do ponto de vista do conhecimento, que a ciência, a exemplo da religião, resolveu também se preocupar com ela. A psicanálise, por exemplo, tem dedicado uma boa parte de seus estudos à inveja. Freud, Jung, Melanie Klein e outros estudiosos do comportamento humano deram sua grande contribuição a estudos sobre o assunto. Na verdade, podemos ver que a inveja pode estar dentro de cada um de nós e também dentro dos outros pecados capitais, além de ser ela própria.

Mas, deveríamos bem notar o invejoso de longe, porque ele próprio se denuncia duma forma ou de outra. Muito embora suas características sejam diversas e ecléticas. Então, é aí que reside aí a importância dos sinais. Existe o invejoso aniquilador e esse diz logo a que veio; destruir você no primeiro round, sem dó nem piedade; existe o oposto desse, que ao contrário, se aproxima de você como uma hiena faminta, porém sutil; Tem o tipo gentil que engana bem. Rir de todas as bobagens que você fala, faz questão de ser seu “amigo”e elogiar as coisas mais absurdas e estúpidas que você possa dizer ou fazer, enquanto afia suas garras sem nenhum ruído para enfiá-las em você, no momento certo e quando menos você espera. Existe aquele que surge de repente, muito embora já estivesse lhe sondando há séculos! É aquele que sabe tudo sobre você, se brincar, mais do que você sabe sobre você mesmo. Existe aquele com quem você cruza somente eventualmente, mas que lhe espreita à distancia, há muito tempo, e quando lhe vê imagina consigo mesmo “eu ainda chego lá também. Me aguarde...” mesmo que, aonde você vá seja o pior lugar do mundo. O que ele quer é competir como você por uma questão de necessidade que vai além da inveja. Digamos que esse tipo possa até apresentar algum grau de psicopatia e achar que o que faz é correto; E aquele que quer ser você em tudo? Já se deparou com o tipo? Então se prepare que vai encontrar um dia. Se ele ou ela pudesse, teria até o teu nome ao contrário, para quando chamar repetidas vezes sem parar, soar exatamente igual. Sabe aquela brincadeirinha boba de dizer “você amo...” repetidas vezes e terminar dizendo “amo você”? É exatamente isso. Esse tipo quer ser você de qualquer jeito. E o perigo reside em tudo que diz respeito a você. Ele se aproxima da tua família, dos teus amigos, procura um trabalho parecido só pra freqüentar o mesmo ambiente; Existe o clone desse também, que quer ser você, mas não se aproxima. Ao contrário, ele tenta te personificar. Usa as mesmas roupas que você, o mesmo carro e até o mesmo perfume. Freqüenta os mesmos ambientes. Tudo isso a uma certa distância. Faz amizade com os teus amigos até chegar ao ponto que as pessoas começam a desconfiar que quem tem inveja dele é você. Aí já é tarde. Daqui que você consiga provar que é o contrário, irão achar você a mais ridícula das pessoas! Você pode até parar na terapia pra poder justificar a você mesmo que você é você e não ele e, correr o risco de ouvir o terapeuta te dizer “Você sofre de inveja”, ou então deixar o próprio terapeuta no divã, com síndrome da dúvida.

É meu caro e minha cara...da inveja ninguém se livra. A não ser que usemos um pouco de nossos cem bilhões de neurônios, adequadamente. O importante é que tenhamos também uma proteção energética antagônica à inveja, que pode até ser uma capa protetora, para podermos enfrentar esse tipo de morte que também veste a capa da inveja, matando a dignidade do ser humano, pondo fim no seu sentimento mais nobre, o amor à vida e ao próximo, através da solidariedade e otimismo igualmente para todos. Infelizmente, por causa da inveja, isso ainda parece utopia. Que todos tenham um bom carnaval, sem inveja, acidentes, nem mortes!

* Professor do Centro de Biociências da UFRN(Juarez@cb.ufrn.br)

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