O Professor ao Longo do Tempo - VI
* Juarez Chagas
Este artigo faz parte de uma série de textos sobre a personagem do PROFESSOR, sobre o qual discorro em narrativas diversas, ao longo de sua trajetória, espaço e tempo. Espero que tenha uma boa leitura.
Já discutimos em artigos anteriores sobre a possibilidade do desaparecimento da profissão de professor, muito embora tenha sido em cima de uma hipótese transformada em analogia e, ultimamente, divulgada amplamente através de “email-corrente” nas redes sociais e que tem causado muita reflexão no imaginário individual e coletivo de pessoas e grupos sociais.
A desvalorização da profissão de Professor é pública, notória e vergonhosa em se comparando com outras profissões e atividades que, inclusive, não necessitam de conhecimentos gerais e específicos característicos e obrigatórios para quem abraça tão nobre ofício. Entretanto, mais vergonhosa ainda é a atitude dos políticos, parlamentares e governantes que, só lembram dos educadores por ocasião das eleições ou, por outro lado, espoliam a categoria culpando-a do rombo (pra não dizer roubo) do INSS, como se esta pasta ministerial estivesse no caos por culpa da Educação ou fosse esta culpada por seus desmandos e má gestão no percentual aplicado do orçamento da união.
Em primeiro lugar, raras vezes se viu o percentual do orçamento da união destinado à educação (em todos os seus níveis) serem aplicados EXCLUSIVAMENTE na educação. E, em último lugar (porém infelizmente não definitivo), nos últimos 30 ou 40 anos, praticamente todos os aumentos salariais dos professores e educadores, têm sido forjados (no sentido mendigado) e forçados através de greves e manifestações das categorias, na maioria das vezes ridicularizadas pelos governantes e, tristemente, incompreendida pela sociedade que, falsa e comodamente, diz apoiar os direitos reivindicatórios dos professores, mas que ficam à margem criticando e desvalorizando velada ou abertamente nossos educadores. Uma vergonha!
Bem sabemos que a sociedade atual encontra-se em profunda crise de identidade, inversão de valores, princípios duvidosos (onde vence quem rouba, mente e mata) e, sobretudo, de competição desleal. No meio disso tudo, está o professor com sua profissão louvável, que merece respeito e consideração pela nobre missão, de quem a exerce, pondo seus conhecimentos a serviço dos alunos e da sociedade, como um todo. Porém, contraditoriamente, verifica-se uma deterioração das condições de formação e da prática profissional do professorado no Brasil, em virtude da própria conivência da sociedade (numa atitude velada) onde brada que a Educação é tudo, no entanto a trata como nada.
Não estranhei, ao ler em um dos jornais dominicais neste final de semana, a seguinte frase de um gari da urbana de Natal, em seu depoimento pessoal: “decidi ser gari porque o salário é melhor do que o de professor”. Evidentemente que, o mesmo se referia a salários de professores em níveis mais baixos, mas que reflete uma realidade cruel na qual constata que é, na verdade, de baixo nível o salário do educador, frente às suas necessidades, não apenas comparadas às demais profissões, mas também pelo que esta tão nobre profissão representa nos âmbitos escolar, profissional e social.
Também não estamos aqui defendendo que um gari, motoristas de ônibus e outros profissionais cujos salários são melhores, em certos níveis, ganhem aquém de seus direitos e necessidades. Muito pelo contrário, estamos defendendo dignidade e justiça para os professores. Que ganhem quanto valem!
Por falar em justiça, muitas vezes nos perguntamos se ela realmente existe segundo sua representação. Sim, porque a justiça sonhada pelos homens e, finalmente após séculos e séculos de (in)justiças eis que temos sua imagem pictórica e mitológica nos ensinando retidão e imparcialidade para com todos.
Senão vejamos: Têmis, a figura de mulher, na mitologia grega, representa a Justiça, filha de Urano (o Céu) e de Gaia (Terra). A espada que ela exibe, representa a força de suas deliberações, e a balança, que também se vê nas representações, significa o bom senso e o equilíbrio, além da ponderação. Normalmente apresentada com venda nos olhos, traduzindo o propósito de objetividade, nas decisões, por dispensar o mesmo tratamento aos réus, independentemente das condições de cada um. Ou seja, a Justiça é mesmo cega? Quando aparece sem a venda, o significado é outro: designa a necessidade de manter os olhos bem abertos, para que nenhum pormenor escape à sua percepção. Não podemos negar que Têmis é resultado de uma utopia que, seria possível se os homens fossem justos.
Mas...cabe a pergunta: o que pensar da justiça dos homens, elaborada e feita pelos homens e para os homens quando vemos o judiciário (que vem de justição, nao?) aumentarem seus próprios salários à revelia, “pautados” em “leis específicas” feitas só por eles e para eles? E os políticos que gozam de privilégio análogo que aumentam seus salários nas câmaras e assembléias, em acordos fechados, enquanto o salário mínimo (como o próprio nome descaradamente justifica) é decidido às tapas e gritos no senado, para ser sempre o mínimo e beneficiar esse ou aquele partido, que o “defende”?!
Francamente, como se sentem os professores desses que se tornaram os homens que se dizem “da Lei”?
* Professor do Centro de Biociências da UFRN,Psicólogo e Escritor
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