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27 de jun. de 2008

MASLOW E O POTENCIAL HUMANO


Maslow e Potencial Humano
(Publicado no Jornal de Hoje)

Juarez Chagas

“A abordagem fenomenológica faz parte de um esforço de muitos psicólogos para compreender a experiência humana à medida que ela ocorre. Essa abordagem busca considerar a vida como é experimentada pela pessoa sem omitir aquilo que é mais humano, sem dividi-la em partes não-relacionadas e sem reduzi-la a princípios fisiológicos”. É assim que Lawrence A. Pervin (e seu co-autor Oliver P. John) discorre a questão fenomenológica no capítulo 6-Uma teoria Fenomenológica: aplicações e Avaliação da Teoria de Rogers”. Pervin, pH. D. por Harvard, ao qual já me referi em artigos anteriores, como um dos maiores estudiosos atuais da Personalidade humana e cujo livro Personalidade-Teoria e Prática, reafirma em seu prefácio o avanço na interface entre a psicologia e biologia-teoria evolutiva, genética e neurociências, foco que não agrada a alguns psicólogos que não tiveram ênfase nas ciências da saúde. Porém, é normal que não agrade mesmo, pois a totalidade é constituída, sabiamente de semelhanças e diferenças, que formam o todo. Afinal, conviver com a força ou fraqueza dos opostos, é um constante desafio humano.

É interessante, como alguns termos, além de confusos, como fenomenologia, subjetividade, caráter e tantos outros, continuam sendo os mais difíceis de se conceituar e se entender, na Psicologia. Um dos conceitos de fenomenologia mais comuns que encontramos diz que a abordagem fenomenológica da experiência humana à medida que ela ocorre, considera a vida como experiência da própria pessoa. É preciso ficar atento, para não associar com o tempo no gerúndio! Devemos ter cuidado com certas modas, pois gerúndio também nos lembra alguns termos em moda, como fala atual que pode significar o que o sujeito quer dizer, mas não necessariamente o que ele quer fazer. “ Não se preocupe, nós vamos estar resolvendo isso pra você” ou, “nossa empresa vai estar admitindo o senhor, portanto aguarde contato...” Realmente, isso também é um fenômeno. A mania de falar no gerúndio, que significa uma ação ininterrupta, pode nunca concretizar a ação.

Mas, voltemos ao cerne da questão. Ainda bem que haveria de surgir defensores do movimento do potencial humano, dentro da abordagem da corrente humanista da Psicologia, então denominada de terceira força da Psicologia. O nome, talvez não tenha sido tão adequado assim, mas que veio com muita força, isso é incontestável. O movimento do Potencial Humano teve, por sorte e muita convicção, defensores de peso tais quais Carl Rogers, Kurt Goldstein e Abraham Maslow, dentre outros. Essa corrente, diferentemente de suas fortes antecessoras (pela ordem cronológica inversa: behaviorista e psicanalítica), responde preocupações atuais, com ênfase na auto-realização, no cumprimento do potencial humano e na abertura à experiência. Ao contrário da corrente psicanalítica, sua preocupação e foco é enaltecer o potencial da pessoa humana dentro de seus aspectos positivos e saudáveis.

Apenas para citar Goldstein (1878-1965), o qual mudou-se para os Estados Unidos aos 57 anos de idade, foi considerado, na Alemanha, proeminente neurologista e psiquiatra, tendo realizado vários estudos e pesquisas durante a primeira guerra mundial, com soldados com lesões cerebrais, estudos estes que lhe serviram de base para futuras pesquisas, no campo da personalidade. Assim como Freud, goldstein tinha uma visão de energia do organismo, só que ele diferenciou essa energia orgânica para o aspecto positivo do ser humano em busca de sua auto-realização. Algo positivamente revolucionário, admitamos, principalmente para a época.

Abraham Maslow (1908-1970) veio a completar esse pensamento, como nenhum outro estudioso do movimento do potencial humano, tornando-se seu principal teórico e defensor. Na verdade, ele criticou a psicanálise e o behaviorismo por achar essas abordagens pessimistas, negativas e limitadoras do ser humano e, em conseqüência disso, a Psicologia viveu, na época, dias conturbados, o que reflete até hoje através da preferência de uns e antipatia de outros. Independentemtne das intrigas e diferenças, o que não podemos negar é que o estímulo ao potencial humano se reflete na própria busca do sucesso e felicidade. Tudo o que a humanidade sempre buscou.

Maslow, não desconhecia que a psicopatologia resulta de distorções e frustrações da natureza essencial do organismo humano, porém questionava por que não tentar remover esses obstáculos e enfatizar a motivação humana, no sentido de atender as necessidades biológicas e psíquicas do próprio indivíduo, tornando-o mais apto e capaz de realizar seus sonhos. Assim sendo ele criou um modelo que denominou de “hierarquia das necessidades”, onde cada uma dessas necessidades hierárquica, biológica e psiquicamente estabelecida constitui uma pirâmide, com a auto-realização em seu ápice ou topo. Essas necessidades biológicas, como a fome (comida), o sono, a sede, o sexo (fisiológico) somadas às necessidades psicológicas, tais quais, auto-estima, afeição (amor), segurança e pertencimento, completariam a pirâmide como um todo, ou seja, a realização humana.

Além disso, Maslow acreditava na idéia de que indivíduos saudáveis e satisfeitos consigo mesmo, são auto-realizados e que, portanto, essas pessoas aceitam a si mesmas e aos outros, pelo que são, criando um clima e situação de convivência saudável, se realizando como ser humano, uma vez que suas necessidades possam ser atendidas. Evidentemente, que o estudo é muito mais amplo do que aqui se apresenta e, por isso mesmo, é uma das mais belas e ousadas abordagens da Psicologia Moderna.




HOMENAGEM AO CADÁVER DESCONHECIDO

CADÁVER DESCONHECIDO
(Publicado anteriormente no Jornal de Hoje)
Juarez Chagas
Muitas homenages têm sido prestadas ao Cadáver Desconhecido em todo o mundo. Universidades, Instituiçoes acadêmicas, segmentos da sociedade científica e religiosa têm demonstrado através de atos públicos e oficiais seus gratos e humanos reconhecimentos a esse personagem anônimo, milenar e mito, que foi o pilar da anatomia humana, a qual nos primórdios, foi a base da medicina, sem o qual não teria evoluído, o que ocorreu graças a ousadia e bravura de Vesalius, o primeiro anatomista realmente a ter tirado o CD do submundo da obscuridade, para transformá-lo na mais importante descoberta da máquina humana, como bem descreve em seu De Humani Corporis Fabrica, 1543.
Portanto, é com satisfação que, nao somente pelos estudos e dedicação a que tenho me envolvido nesse tema de grande desenvolvimento humano, mas também em reconhecimento à importância de seu valor acadêmico e humano, na sua forma incomum porém valorosa de nos dar verdadeiras liçoes de vida, reverencio também o mais importante personagem da anatomia humana, ao longo de todos os tempos.

Ao Cadáver Desconhecido
( O Autor)

Um dia, como você, vim ao mundo
Não foi, como nas famílias normais
Onde, ao nascer, todos riem, apenas a criança chora
No meu caso, talvez, todos tenham chorado
Apenas eu ria
Se nasci numa palhoça, casebre ou maternidade
Nunca soube, não me contaram
Ou se contaram, não dei atenção
Estava muito disperso
Ocupado com o nada (mas querendo tudo)
Envolvido com as armações da vida

Cresci e vivi como um andarilho
Sem família, sem lar, sem amigos
Como um ladrão ou como um assassino
Mas,o que eu sempre quis ser mesmo foi um Hobin Hood
Um paladino, um zorro, um justiceiro
Porém, quando quis voltar à realidade foi tarde demais
Já não havia mais como negociar com a paz
E só pude ocupar o único lugar que a sociedade reserva para os omissos,
os miseráveis e marginalizados: o submundo

Como morri, não importa
Talvez, nem eu mesmo saiba como foi, nem o dia, nem a hora
O fato é que aí, na mesa fria de mármore, está o meu corpo
Sobre cujo peito não se derramou uma só lágrima de saudade
Sobre cujo rosto ninguém deu um beijo de adeus
Também, meus olhos não viram a luz da vela
Que iluminaria a passagem para o outro mundo
Nem tão pouco foram cerrados após a partida, na hora de ir embora
Minhas mãos não foram afagadas, na despedida sem retorno
Sobre meu corpo semi-nu
Também não puseram roupas ou sequer um lençol branco

Ao contrário, talvez tenha ficado jogado ao relento
Sob o sol quente do dia e o frio da noite
Velado apenas pelo vento, a chuva, os insetos
Talvez pisoteado, chutado, esfacelado ou mutilado
Quando fui, finalmente (ou propositalmente), encontrado
Como um animal moribundo e relegado
Agora digo a todos vocês através deste silêncio profundo e eterno
Através deste corpo inerte, inanimado
Está minha última redenção
Paguei pelo que na terra fiz ou deixei de fazer

E como nunca é tarde para ser útil
Usem pois, este corpo inerte sobre a lousa
Dissequem cada estrutura, conscientemente
Rebatam as aponeuroses, fáscias e músculos
E vejam como é lindo e fantástico o corpo humano
(Coisa que nunca tive oportunidade de entender em vida)
Sintetizem a Anatomia, na prática
Meditem, questionem, busquem o entendimento topográfico e sistêmico

Se meus olhos ainda forem úteis
Dêem suas córneas a alguém que nunca viu a luz do dia
Dissequem meu coração com paciência e mestria
De tal forma que, quando doutores possam salvar
Muitas vidas, impedindo os infartos e embolias
Extirpem meus pulmões
Descobrindo o percurso de suas árvores brônquicas
E aprendam a anatomia pulmonar
Para que no futuro possam salvar tuberculosos e enfizematosos
Percorram e estudem os rins demoradamente
Para que possam entender, no futuro sua fisiologia e curar os nefropatas

Estudem , a pele, os ossos, os músculos, as vísceras
Verifiquem e compreendam, calmamente, o sistema nervoso
E imaginem que a mente e o espírito
Certamente também residem ali

Enfim, estudem todas as suas estruturas orgânicas
(mesmo que não haja tempo, pois o tempo é cada um que faz)
E me façam seu PRIMEIRO PACIENTE
Sem medo de cometer nenhum erro ou acidente
Mas, com a obstinação do acerto
Assim sendo,
Após vários anos de estudo, determinação e um juramento hipocrático e sagrado
O médico, aquela figura de branco, austera e bondosa
Ao tratar seus pacientes
Dentre seus conhecimentos adquiridos, sempre carregará consigo
Os ensinamentos do Cadáver Desconhecido
(ensinando sobre a vida através da morte)
Que doou seu corpo em prol da humanidade
Que nada lhe deu em troca.

26 de jun. de 2008

O HOMEM VITRUVIANO


O Homem Vitruviano
(Publicado no www.jornaldehoje.com.br)
Juarez Chagas

Há muito é sabido que o homem tem tentado, ao longo da trajetória da humanidade, representar o equilíbrio do ser humano com a Natureza através de algo que realmente contemple essa união. Evidentemente, que não tem sido fácil. Ora, se o próprio homem não tem andado em harmonia e em sintonia com a Natura Mater, como poderia representar bem esse equilíbrio?
Muitas tentativas foram feitas e muitos projetos realizados, isso ainda por volta da Idade Média, porém nenhum deles se aproximou tanto quanto o Homem Vitruviano, o qual é ícone tanto da cultura renascentista quanto da cultura moderna, no sentido do equilíbrio do homem com a Natureza
Assim sendo, os primórdios do Homem Vitruviano foram descritos pelo arquiteto romano Marco Vitrúvio (c.70-25 a. C.) em sua obra intitulada Os Dez Livros da Arquitetura, apresentado-se como um modelo ideal para o ser humano, cujas proporções são perfeitas, segundo o ideal clássico de beleza. Entretanto, com o passar do tempo a descrição gráfica se perdeu, sendo resgatada na Renascença, na arte de Leonardo Da Vinci (14521519), indubitavelmente, um dos maiores gênios da história da Humanidade.

É interessante lembrar que a vida e obra de Da Vinci são tidas como os momentos mais deslumbrantes da humanidade, principalmente por ter marcado o Renascimento como nenhum outro movimento em toda a história do ser humano. Para termos uma idéia da genialidade de Da Vinci, relembremos seus conhecimentos e habilidades, pois dentre as quais ele era cientista, inventor, engenheiro, mecânico, arquiteto, urbanista, botânico, anatomista, fisiólogo, químico, geólogo, cartógrafo, físico, escritor, músico, desenhista, precursor da aviação e da hidráulica, embora tenha sido mais reconhecido como pintor, por causa da quantidade, qualidade e importâncias de suas obras.
Dez anos antes do Brasil ser descoberto (apenas para comparar o fato, mostrando que o Brasil surgiu após a Renascença, embora noutro Continente), Da Vinci retomou, por encomenda, as ilustrações que apresentavam as teorias de Vitrúvio, sobre seu trabalho “L’Uomo di Vitruvio” e concluiu o Cânone das Proporções, como passou a ser chamado.
Mas, tem um importante detalhe pelo qual Da Vinci foi o mais bem sucedido dentre os outros artistas da época que também tentaram concluir a obra de Vitruvio. Ele era anatomista e, sabe-se hoje que, apesar da proibição da Igreja, ele exumou cadáveres, tendo sido um dos primeiros anatomistas a dissecar o corpo humano, mesmo antes de Vesalius. E ninguém entende e conhece realmente a anatomia sem a sua devida dissecação.

Ninguém desenharia tais proporções como ele o fez, sem o real conhecimento da anatomia, muito embora o maior desafio não tenha sido as proporções do homem e sim, adaptá-las dentro das formas geométricas, para representar tal idéia do homem e universo.

Na verdade, o Homem Vitruviano é um pentagrama humano, com o corpo de um homem nu com pernas abertas e braços estendidos ao mesmo tempo, dentro de um círculo e de um quadrado, cujo conjunto do desenho como um todo, encerra o sentido do Homem e a Natureza.
Por falar em pentagrama, o famoso desenho serviu, recentemente, como inspiração para o romance de Dan Brown, O Código Da Vinci ( Ed Sextante, 475 pgs, 2004), o qual sugere a elucidação de pentagramas e cuja trama envolve desde grandes organizações católicas conservadoras como a Opus Dei, até a sociedade secreta conhecida como Priorado de Sião, questionando a divindade de Jesus Cristo e tornando-se um dos mais recentes e polêmicos best sellers.
Uma questão moderna poderia surgir em torno do Homem Vitruviano, uma vez que não está havendo qualquer equilíbrio entre o homem e a Natureza. Muito pelo contrário. Fosse feita uma nova leitura do Cânone das Proporções, pelos olhos da consciência, ver-se-ia um círculo explodindo, um quadrado fragmentando e no meio, o homem se desintegrando, tudo isso predominantemente em cores amarelas, vermelhas e pretas.

Enquanto isso, o mais importante desenho do maior gênio da Humanidade (pelo conjunto de sua obra) destina-se, no momento, mais às inspirações de ficções polêmicas do que propriamente ao pensamento uno homem-Natureza, um pequeno mal-estar na história do Vaticano.

CADÁVER DESCONHECIDO


Cadáver Desconhecido
(Publicado anteriormente no Jornal de Hoje)
Juarez Chagas

A sociedade contemporânea, mais do que suas antecessoras, sempre combateu os tabus da humanidade, pois tabus não convivem harmoniosamente com o bem-estar social, nem tão pouco com o imaginário humano, seja individual, seja coletivo, pois estabelece uma grande barreira entre o conhecimento e o homem, fazendo-o permanecer na ignorância e, conseqüentemente, causando curiosidade, medo e angústia pelo desconhecido.
Religiões ocultas, ciências ocultas, misticismo, doenças misteriosas e terminais, sexo e morte, tem sido os tabus que mais tem atormentado a humanidade, ao longo do tempo. Porém, dentre todos os tabus existentes, nenhum tem sido tão persistente e intocável quanto a morte. Caberia, portanto a pergunta: porque todo o esforço que se tem feito até hoje para se discutir e divulgar sobre a morte não tem dado resultado efetivo? A resposta é simples: porque não tem sido feito através do mais importante veiculo e mais eficiente meio de comunicação e ensinamento, o qual seria através da educação.
Não adianta existir apenas inúmeros sites, homepages, organizações assistencialistas ou tratamentos psicológicos sobre a morte. A morte precisa ser discutida escolar e academicamente. Temos que transformá-la num segmento da disciplina de Biologia, medicina, antropologia e Psicologia (ou qualquer outra Disciplina na qual possa ser inserida) nas escolas, faculdades e universidades, porque somente assim poderemos conviver melhor com ela e passarmos a valorizar mais a vida, como realmente deveríamos. É preciso fazer o "inimigo" mostrar sua cara, para que não ocultemos a nossa. Não se pode combater um inimigo oculto.
A respeito disso e em virtude da divulgação de artigos sobre a morte, tenho recebido e-mails de pessoas com as mais variadas opiniões a respeito. Umas questionando o porque de se discutir tão delicado assunto; outras elogiando e estimulando a divulgação de algo tão oculto e amedrontador e, aplaudindo a iniciativa poor contribuir sobremaneira com o desenvolvimento humano. Enfim, dentre elas, teve uma que pediu uma explicação sobre o inicio de meus estudos a respeito da morte, querendo saber como surgiu tal interesse. Parece que chegou a hora de divulgar também sobre os trabalhos num sentido mais amplo e não individual.

Na verdade, tudo tomou impulso sobre estes estudos em 1984, quando eu já professor concursado da UFRN, no Departamento de Morfologia quando pela primeira vez, me deparei com a morte, no sentido academicamente pessoal (se é que assim poderia dizer), uma morte representada por um cadáver, o cadáver que dissecávamos, com fins de estudos, o cadáver desconhecido. O termo Cadáver Desconhecido, vem dos primórdios da anatomia. Era assim denominado por ser um cadáver anônimo e que não podia ser conhecido ao ser estudando. Passou pelas quatro escolas anatômicas existentes no mundo, a egípcia, a babilônica, a grega e a romana.

Foi veementemente protegido pela Igreja católica, que determinou que quem o dissecasse, seria condenado. Relegado por Galeno, Aristóteles e tantos outros médicos gregos ou não; foi, dissecado, às escondidas, inúmeras vezes por Da Vinci até que, finalmente, foi dissecado acadêmica e publicamente por Vesalius, o Pai da Anatomia, cujo método de dissecação até hoje é utilizado nas universidades, inclusive as nossas no Brasil, que seguem a escola anatômica européia, a antiga escola romana.
O Cadáver desconhecido, não é apenas um cadáver que atravessa os séculos e milênios, é mais que isso, pois é um símbolo verdadeiro do descobrimento e conhecimento do corpo humano através da exposição de suas estruturas orgânicas, o que possibilitou a criação da medicina consciente da máquina humana. É o primeiro “paciente” dos acadêmicos de medicina, sem cuja dissecação seriam incapazes de conhecer o corpo humano e, conseqüentemente de tratar devidamente o vivo. Sem ele ela não existiria nem saberíamos o que sabemos hoje sobre o tão famoso De Humani Corporis Fabrica (sobre a estrutura do corpo humano), por sinal titulo do mais famoso livro de Vesalius.

Diferentemente da morte, embora representando uma de suas faces, porém contribuindo para a vida, o cadáver desconhecido não poderia jamais ser um cadáver conhecido ou o cadáver de um conhecido, a menos que este doe seu corpo em prol da ciência (e mesmo assim, ainda de acordo com a bioética, não teria a mesma conotação de um cadáver conhecido).
Portanto, ao contrario da morte, que quanto mais devidamente conhecida e totalmente divulgada mais beneficio e harmonia traria, o cadáver desconhecido, carrega consigo, através dos séculos, os segredos das emoções de quem por ele passa, deixando um legado vivo de conhecimento em prol da ciência. Nesse caso, através dele, a morte enaltece a vida!

O CADÁVER DESCONHECIDO


O Cadáver Desconhecido (II)
(Publicado anteriormente no Jornal de Hoje)
Juarez Chagas

Muita coisa ainda poderia ser dita sobre o cadáver desconhecido. Mas, comentarei apenas dois ou três fatos importantes e relevantes, principalmente, para quem tem acompanhado os artigos e estudos sobre a morte. Como vimos no artigo anterior, Vesalius foi o primeiro a ousar dissecar o corpo humano, publicamente (cuja gravura aparece no fundo, na parede do anatômico, na foto ao lado). Ele sabia que o clero se curvaria às suas evidencias cientificas sobre o conhecimento do corpo humano, sem desafiar Deus. Isso, porque eles, além das rezas, precisavam também dos benefícios do conhecido do corpo humano. Mas, isso não ocorreu assim da noite para o dia. Os anos entre 1540 e 1555 foram decisivos e vitais para a ciência médica, pois a partir daí houve uma grande cisão entre a Igreja e a ciência médica (isso sem contar que Da Vinci, já por volta de 1511 dissecara cadáveres roubados para o estudo de sua perfeita anatomia transportada para suas telas. O Homem Vitruviano é a maior prova disso).

Como já se sabe, a dissecação de cadáveres humanos não só era proibida pela Igreja e autoridades governamentais, como punido era quem fosse apanhado dissecando corpos humanos post mortem, pois tal violação do corpo, após a morte era punida também com a própria morte, geralmente em praça publica. A lei era clara: os mortos deveriam ser chorados, velados e enterrados, independentemente de classe social. Foi isso que aconteceu com Miguel Servetus (nascido na Espanha e, cuja formação inicial era, ironicamente, teológica), por exigência da inquisição, tendo sido queimado em praça publica, juntamente com seus livros e tratados de anatomia. Por isso, passou a ser conhecido como o mártir da ciência. Mas, a ciência não podia parar e, movidos pelo ímpeto e desejo de aprender e desmistificar o proibido em prol do desenvolvimento da ciência, os anatomistas não se davam por vencidos. Além do mais, estavam vivendo os tempos da Renascença, o maior momento e movimento revolucionários da humanidade.

Assim, era comum os grupos de anatomistas se organizarem (normalmente formados por médicos e discípulos avançados) para estabelecerem dia, local e hora onde deveriam se encontrar para as proibidas dissecações noturnas que normalmente eram feitas em calabouços ou subterrâneos, à luz de vela ou lampiões de fogo.
Conta a história da anatomia que existia um código e uma senha entre eles e que um mensageiro especial avisava cedo do dia, passando secretamente na casa de cada um dos dissecadores, dizendo apenas a seguinte frase: care data vermis, o que significava dizer que à noite haveria dissecação. A frase em Latim significava que depois de dissecado, os restos mortais eram atirados aos vermes ou sumariamente enterrados após os estudos. Acredita-se, portanto, que a palavra cadáver tenha surgido da junção das primeiras silabas dessas três palavras, portanto simbolizando até hoje o Cadáver Desconhecido, não apenas como material de estudo da Anatomia, mas constituindo-se também numa personagem eterna para a ciência e medicina, especialmente.
As dissecações de Andréas Vesalius não só marcaram o mais fértil período da anatomia e definição da medicina, como também oficializou a figura simbólica e indispensável do cadáver desconhecido para o estudo da anatomia humana em todo o mundo. Nascia a ciência definitiva do corpo humano, mesmo que contemplada pela morte, mas para o bem da vida, uma aparente contradição que muitos demorariam a entender.

Dando continuidade aos estudos sobre a morte, em 1998, tive a grata surpresa de ter o trabalho “Cadáver Desconhecido–Lições Eternas de Anatomia”, contemplado com Menção Honrosa, concedida pela conceituada PUC do RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), obtido através do concurso nacional do Premio Professor Garcia do Prado de Anatomia Humana, onde apenas trabalhos de pesquisas e monografias na área médica foram premiados. Este trabalho faz um histórico sobre o cadáver desconhecido e a evolução da Anatomia, inclusive no Brasil e, conseqüentemente, apesar de simples, tornou-se um grande estimulo para o prosseguimento de estudos sobre a morte. Logo em seguida, após seleção de Mestrado na EPM-Escola Paulista de Medicina (UNIFESP), apresentei a tese intitulada “Cadáver Desconhecido – Importância Histórica e Acadêmica para o Estudo da Anatomia Humana”, onde estudos mais profundos e pesquisas bibliográficas especificas foram trabalhadas. Tomei conhecimento de que a tese sobre este assunto foi pioneira no Brasil, no que diz respeito ao caráter filosófico sobre o tema em uma das Universidades mais importantes do Brasil.

Como podemos ver, apesar da moderna tecnologia ter tentado substituir o cadáver humano para estudos anatômicos, por modelos de plástico, ressurgiu recentemente nas mais importantes universidades do mundo, novamente a questão sobre a manutenção e controvéersias sobre a opção pela continuação da dissecação do corpo humano, através do cadáver desconhecido. Sabemos que nenhuma tecnologia substitui a maquina humana e a bela, extraordinária e imprescindível lição e conhecimento que ela nos proporciona.
Afinal, quem, se necessário fosse, teria dúvidas em ser cirurgiado e tratado por um medico que tenha dissecado o corpo humano ou por alguém que “aprendeu” anatomia em modelos de plástico ou borracha sintética? A diferença entre os dois conhecimentos é absolutamente inquestionável.

30 de mai. de 2008

O CORPO OCULTO



UMA HISTÓRIA QUE VAI ALÉM DO CORPO
E DO ESPÍRITO
(Uma tese Acadêmica transformada em ficção)


* Por Waleska Maux


O biólogo, psicólogo e professor universitário Juarez Chagas, disponibiliza na Paraíba (Livraria Siciliana) a obra “C.D, O Corpo Oculto” (223 págs, A.S.Livros), uma ficção romanceada que traz à tona o valor do descobrimento dos valores da condição e natureza humanas, porém cheia de ardilosas tramas que permeiam do imaginário à realidade dos protagonistas, onde o corpo também serve de interface na história e do próprio desenvolvimento humano.

No livro, através do ‘cadáver desconhecido’, o autor aborda a questão da morte, tratada de forma quase acadêmica, porém como lição de vida e de sua importância na trajetória da humanidade. Trata-se de uma história de amor inspirada nas possibilidades do Destino sobre a natureza humana. Uma trama de vingança incomum numa família, temperada pela inveja e suas devastadoras conseqüências. Uma história que transita pelos mistérios da vida após a morte, para falar da força e do valor da amizade, além do poder misterioso do espírito sobre todas as demais energias capazes de formar e desintegrar os seres em nosso universo.

A história de Douglas Santos, um jovem que, de forma cruel e inesperada, vê-se impedido de viver um grande amor, vítima de um plano diabólico. Sobrevivendo à morte, no plano espiritual, ele retorna na pele e corpo do Cadáver Desconhecido (pois é enviando como tal, para uma universidade, para ser dissecado nas aulas de anatomia). O livro, segundo o autor, faz lembrar tramas como os clássicos de alguns personagens do gênero como A Múmia, Ghost, O Corvo e O Homem Sem Face, todos clássicos internacionais da literatura e também do cinema. Sobre o fenômeno da morte, cita o autor em um de seus trabalhos científicos: “Parece muito mais fácil saber e entender o que as pessoas sentem em relação à morte do que, propriamente, defini-la. Uma coisa é certa, por mais inaceitável e absurda que possa parecer na concepção pessoal de cada um, a morte complementa a vida, assim como o medo é o lado oposto da coragem e o mal do bem, formando ambas, no entanto, um todo”. Impressões O Corpo Oculto prende o leitor do inicio ao fim da trama.

Douglas, personagem simpático e de temperamento calmo e controlado, é vitima da trama ardilosa de um primo ambicioso, que consegue ceifar sua vida precocemente. Interessante também, a sensibilidade de Pitágoras, técnico de laboratório, que nutre um zelo afetuoso pelos cadáveres da Universidade. Entre ele e Douglas, cria-se um laço de afeto e amizade ultrapassando as barreiras da vida e da morte. Pitágoras lembra uma versão moderna de Quasímodo, segundo nos fala o autor. A ambição é abordada em vários campos, inclusive no meio acadêmico, assim como os requintes de crueldade do psicopata Teobaldo, primo do personagem principal do livro, que chega a dissecar alguns inimigos, num ritual pra lá de cruel.

O livro não é de terror, ao contrário, mostra-nos a face negra da morte e a face oculta do amor, num duelo que busca o equilíbrio das duas forças. Não deixa de nos provar que, tanto a morte como o amor, são formas de desenvolvimento do ser humano. Força oculta.

Vale a pena mergulhar neste enredo que traz o bem e o mal ao mesmo cenário e confronta-os num espiritual campo de batalha. Em um dos capítulos, viajamos ao Fantasma da ópera, através de um grande concerto que tem, entre seus participantes, por alguns instantes, o adorável Douglas, que incorpora num corpo sem vida, o talento que lhe é peculiar para agradar a sua amada que está na platéia, através da execução de Vozes da Primavera, de Strauss. Emocionante... Quem gosta das coisas do amor e quem quer entender mais sobre a morte como desenvolvimento humano, eis um bom livro.

Quem é o autor

Biólogo, psicólogo, professor universitário e escritor. Ao longo de sua carreira como professor de Anatomia Comparada, na Universidade Federal do RN, escreveu “Anatomia Comparativa dos Vertebrados, publicado pela Editora Universitária da UFRN. Em 2001, recebeu o premio de melhor argumento/roteiro ao filme na II Mostra de Vídeo no FestNatal com o video “O outro lado da Esquina” .

Desde 2004, Chagas é articulista do Jornal de Hoje (RN), onde escreve sobre assuntos diversos, em especial, abordando a Tanatologia (estudos sobre o fenômeno da morte). Em 2006 lançou com sucesso seu primeiro livro de ficção romanceada “C.D, o Corpo Oculto”, o qual teve excelente repercussão no meio literário local. Embora esteja no Brasil estes meses, atualmente cursa doutorado em terras lusitanas, defendo tese que aborda a Psicologia Social.

Onde encontrar o livro:

Siciliano, Poty, Cooperativa Cultural (Natal)
Prefácio Livros: Tambiá Shopping – Centro e Mag Shopping Manaíra (João Pessoa)

* Jornalista
(Divulgadora de lançamentos de Autores do Rn, Pb e outros Estados brasileiros)

PISTOLEIRO DO PÔR-DO-SOL



PISTOLEIRO DO PÔR-DO-SOL
(The Real Last Gunfighter)


Juarez Chagas

Ter encarado o desafio de escrever um romance ao estilo do velho Oeste (diferentemente dos romances e ficção contemporânea que escrevo) foi uma idéia que surgiu com o tempo. Havia muita coisa background que suportava esse projeto, como ter lido a maioria dos romances de Zane Grey e outros grandes romancistas do velho Oeste americano, referências inspiradoras do gênero. O fascinante mundo das Histórias em Quadrinhos dos clássicos westerns com seus heróis de papel fascinantes que eram incansavelmente lidos, desenhados e colecionados também serviram de inspiração. Adicione-se a isso a importante possibilidade de escreverr também sobre outros temas que não apenas romances contemporâneos.


Portanto, apresento (já lançado nas livrarias de Natal e João Pessoa), embora direcionado mais a um público específico, o Pistoleiro do Pôr-do-Sol, um romance no velho Oeste, onde a Natureza Humana é colocada à frente dos revólveres.

Um pouco da personagem:

Johnny Slim, filho de uma pacata família de fazendeiros, ao norte do Texas, segundo de uma prole de três irmãos, foi batizado John Scott River. Entretanto, por ter crescido mais do que os irmãos e, também pela magreza que apresentava na adolescência, passou a ser chamado carinhosamente de Slim (magro), pela família. Embora, depois, tenha se tornado um homem forte e robusto, Johnny Slim passou a ser seu verdadeiro nome.

Como fazendeiro que era, seu pai criava gado, tinha juntamente com os filhos e seus empregados rotina de cowboys, mesmo no início do século XX e promovia, inclusive rodeios. Em um desses rodeios, chegou a conhecer o próprio Buffalo Bill (William Frederick Cody), já no fim de sua carreira, em 1915, quando o mais famoso cavaleiro do Oeste, viajava com seu circo intinerante, representando a si mesmo como herói verdadeiro e de ficção. O sr. James Scott River gostava de contar que Slim, nessa ocasião ainda um garoto, apertou a mão de Bill, cumprimentando-o. Slim é o segundo filho e nasceu num dia de chuva, trazendo muita alegria para a família. Aos dezoito anos serve as forças armadas, onde aprende a usar armas de fogo e quando volta, passa a ser um verdadeiro cowboy e a defender seu território contra ladrões de gado e assassinos, que ainda existem nessa época em que os índios “se aposentam” e vivem de favores do governo e dos homens brancos.
Johnny Slim, senão o último, é um dos últimos pistoleiros do Oeste, pode-se dizer, dos tempos considerados modernos para a lei do revólver e tudo começa quando ele resolve procurar seu irmão mais novo, o qual teria sido aliciado por bandidos, enquanto ele servia o exército. Slim promete a seus pais que só voltaria pra casa quando encontrasse seu irmão, nem que para isso tenha que percorrer todo o Oeste. E como nunca consegue encontrá-lo, jamais retorna para a família. Em conseqüência disso, enquanto anda muito como um cavaleiro solitário, de um lugar para outro, encontra uma moça que lhe rouba o coração e vive muitas emocionantes aventuras.

Onde encontrar o livro:
Prefácio Livros: Tambiá Shopping – Centro e Mag Shopping Manaíra (João Pessoa)
Cooperativa Cultural (Campus) e Siciliano Midway Mall (Natal)

juachagas@gmail.com