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3 de out. de 2013

Fábulas (II)
*Juarez Chagas
       

Depois de Esopo (sobre o qual discorremos no artigo passado) Fedro é o nome mais autêntico para continuar a narrar sobre fábulas que tanto marcaram os clássicos. Fabulista romano, Fedro, cujo nome completo era Caio Júlio Fedro (Gaius Iulius Phaedrus), nasceu na Macedônia, Grécia, tendo sido filho de escravos e, por suas qualidades e inteligência, dizer ter sido libertado pelo imperador romano Augusto. 
 A fábula, é uma pequena narrativa, a qual serve para ilustrar algum vício ou alguma virtude cuja conclusão narrada, invariavelmente conclui com uma lição de moral ou um análogo exemplo, com significado de aprendizado. Em sua grande maioria, as fábulas retratam personagens como animais ou criaturas imaginárias (criaturas fabulosas), representando alegoricamente traços de caráter (negativos e positivos), de seres humanos, porém ilustrados com animais ou seres mitológicos.
As fábulas de Esopo (nenhuma escrita, mas transmitidas oralmente) foram enriquecidas e divulgadas estilisticamente por Fedro na literatura latina com intuito de aprendizagem, fixação e memorização dos valores morais do grupo social, enfatizando por sua vez as sátiras, tratando das injustiças, dos males sociais e políticos, expressando as atitudes dos fortes e oprimidos. Por esse motivo é que teve tanto sucesso, mesmo séculos depois.
Fabulista da época dos imperadores Tibério e Calígula, nos primeiros séculos da era cristã, e seguidor de Esopo, satirizou costumes e personagens da época e com suas críticas, causou grande incômodo e acabou sendo exilado por causa disso.  
Talvez, nossa sociedade moderna com tanta injustiça e desmando, especialmente por parte de quem mais detém poderes sobre o povo (como se parte dele não o fosse), necessitasse de fabulistas retóricos e corajosos para que, com suas fábulas e sátiras, metaforicamente (já que na maioria das vezes denúncias cabais em nada resultam), denunciassem as injustiças emanadas desses poderes que só valem para uns e quase todos, não.
Vejamos uma rápida fábula de Fedro que ilustra muito bem a ganância do poder que tanto mal causa, inclusive ao próprio ganancioso.
“Enquanto um cão, nadando, levava um pedaço de carne por um rio, viu sua imagem no espelho das águas e, cuidando que outra presa era levada por outro cão, quis tirar-lhe: porém a avidez foi lograda, e não só soltou a comida que tinha na boca, mas muito menos ainda pôde alcançar a que desejava”. Moral da história: quem tudo quer tudo perde.

*Professor do Centro de Biociências da UFRN

25 de set. de 2013


                       FÁBULA
                           *Juarez Chagas



          Antigamente, muito antigamente ao longo do tempo da sociedade humana, era costume se usar fábulas para ilustrar exemplos remetidos ao momento presente, como conselhos ilustrados. Além de erudito, era um hábito divertido, pois propositalmente metafórico, o final de uma fábula era sempre aguardado com surpresa, mas também como expectativa de uma charada.

Fábula  do Latim fabula, "história, jogo, narrativa", literalmente "o que é dito, na verdade é um conjunto de composições literárias onde os personagens são animais que apresentam características humanas, tais como a fala, os costumes, situações sociais, etc. Porém, o mais interessante é que a história termina com um ensinamento moral de caráter instrutivo e, algumas no final são concluídas com ênfase da frase: “moral da história”...
         
Na verdade, a fábula é um gênero narrativo que surgiu no Oriente, mas foi particularmente desenvolvido por Esopo, escravo que viveu no século V a.C., na Grécia, tendo sido atribuído ao mesmo um conjunto de grandes histórias, de caráter moral, alegre e alegórico, cujos principais personagens eram protagonizados por animais ou mitos com poder de pensamento, fala e ações.
         
Nesse mundo de fantasia, Esopo, criava diálogos entre os bichos e procurava transmitir sabedoria de caráter moral ao homem, através das situações que os envolviam. Assim, os animais, nas fábulas, tornam-se exemplos para os seres humanos. Ele não esqueceu certas analogias importantes onde cada animal simbolizava algum aspecto ou qualidade do homem como, por exemplo, o leão representa a força; a raposa, a astúcia; a formiga, o trabalho e assim por diante. Por ter adquirido tanta força representativa no meio social, mesmo sendo uma narrativa inverossímil, a fábula ainda pode ser vista como cunho didático.
         
Indo da descrição semântica a um tradicional exemplo, segue uma transcrição original de uma antiga fábula, denominada “O cavalo e o burro”:
          “Um burro pedia a um cavalo uma pequena porção de cevada para aplacar sua fome. Respondeu o cavalo: se me fosse permitido, dar-te-ia pela minha dignidade. Mas, quando chegarmos aos costumados estábulos, dar-te-ei como presente um saco cheio de farinha. O burrinho em resposta a este diz: Tu que negas uma coisa tão pequena, o que julgarei eu que tu hás-de fazer a mais?
         
Ou seja, se o cavalo lhe negou algo tão simples e ao seu alcance, como seria capaz de lhe dar algo de maior valor?
         
Moral da história: isso tá igualzinho à promessa de político que, através de belas palavras ludibriam seus simplórios e confiantes eleitores, com a pequena diferença de que neste particular, não é uma fábula e sim, realidade!

*Professor do Centro de Biociências da UFRN (Juarez@cb.ufrn.br)


26 de jun. de 2013

A LIÇÃO DA PEQUENA RÃ



A Lição da Pequena Rã
* Juarez Chagas
“The Frog in the well, won´t know the immensity of the sky”
                                                                          -Chinese Proverb


Tuta é uma rãzinha esperta, pertencente à classe dos anfíbios, animais que, como o próprio nome sugere, tem duas fases de vida, uma na água outra na terra, portanto, antes de conquistarem a terra como seu novo ambiente, nascem na água, onde ocorre à reprodução e suas larvas são extremamente parecidas com as dos peixes. Depois começam a crescer, perdem as brânquias, saem da água e vão desbravar a terra, seu novo ambiente de vida. Depois, sofrem profundas transformações, como pele úmida, através da qual também respiram e ganham pulmões, para respirarem no ambiente terrestre. Algumas possuem glândulas ao longo do corpo para umedecerem a pele e também afugentar predadores e outros indivíduos do reino animal, não amistosos.

Quando chega a época da reprodução, voltam à água e começa tudo de novo, num ciclo duplo de vida. É o animal mais importante no que diz respeito à constatação de uma metamorfose em tempo presente e real, de um vertebrado, sem ser preciso recorrer à imaginação paleontológica ou fósseis do passado para reconstituir espécies ao longo do tempo e, de forma presencial, acompanhar sua evolução da água pra terra.

Os ancestrais de Tuta, que eram anfíbios gigantes (até 1,20m) viviam no período carbonífero, há 300 milhões de anos atrás, segundo fósseis encontrados e como Tuta é da ordem dos anuros (sapos, rãs e pererecas) têm suas próprias características e, por isso, muitas vezes pode ser confundida com outros sapos. Ela porem é pequena e bela. Acontece que, ao chegar o inverno, é comum estes animais, após o período de acasalamento, hibernarem até a primavera. Eles se escondem em locas, fendas e buracos onde possam se proteger até o momento propício para saírem ilesos e se juntarem aos seus familiares e amigos, novamente, para voltarem às suas atividades normais de acordo com as estações do ano. O inverno e as torrentes este ano foram mais fortes do que as de costume. Vento forte, chuvas e enchentes descontroladas desmentiram previsões do tempo.  Os pequenos anfíbios começaram a se dispersar, cada um procurando um lugar para seu repouso sazonal.

Tuta sempre tivera medo de lagartos, pois a idéia que tinha dos répteis era que esses animais eram ferozes e peçonhentos e, de todas as maneiras, procurava evitá-los. Porém, ao saltar de uma pedra para outra, nota um grande lagarto preso a uma fina corda, como se alguém o tivesse prendido a uma armadilha, especificamente preparada para capturar animais desse tipo. Observa Tuta que a cabeça do réptil, até à altura do pescoço é muito parecida com a sua. Teriam sido parentes no passado? Pensou ela. Observou atentamente, o lagarto que relutava, mas não conseguia se libertar do laço que prendia seu pescoço, já marcado pelo nó que o sufocava.
 - Pobre lagarto...se eu não tivesse tanto medo, tentaria soltá-lo desse nó que aperta seu pescoço e o sufoca. Pensou Tuta, enquanto, lentamente, seguia seu caminho. Porém, seu coração de rã e a solidariedade do instinto animal a fez parar, olhar para trás e, voltar pra tentar desamarrar o laço do pescoço do ofegante réptil que, talvez por ter tanto relutado para se soltar, não tinha mais forças nem para erguer uma pata em direção à armadilha. Tuta pára a poucos centímetros do laço e, com seus dígitos (dedos) em forma de ventosas começa a afrouxar o nó do laço que, aos poucos vai cedendo, cedendo, cedendo....até que se solta finalmente!! Tuta dá um grande salto e distancia-se do lagarto que a fita com seu olhar reptiliano, mas de agradecimento agora pela liberdade alcançada. Ela resolve evadir-se enquanto ainda pode, enquanto o lagarto a observa sumir entre lajeiros e arbustos.
A tempestade aumenta, o vento sopra forte e os lagos e rios começam a encher seus leitos com uma rapidez nunca vista! Tuta, por alguma circunstância ambiental do momento, havia se abrigado numa loca mais escondida do que as de seu grupo e, portanto, mais ou menos duas semanas depois, quando chegou o momento de sair e voltar novamente à sua vida normal, deparou-se com um grande obstáculo! A entrada por onde entrara para hibernar, estava fortemente cerrada e não conseguia mais sair. Seus amigos e amigas que, viram quando Tuta escolheu aquela loca, ao passarem de volta por ela, observaram que a mesma estava completamente fechada e, certamente, imaginaram o pior ...e, a esta altura, já devem estar a caminho das margens dos rios e lagos mais próximos, que já voltaram à sua normalidade, pois o ritual do retorno à vida normal segue seu percurso com linearidade, mesmo que alguém fique para trás e não consiga acompanhar o grupo. Na vida deve-se estar sempre a favor da ordem natural das coisas e seguir as leis da Natureza é uma delas.
Como sair agora?! O que fazer?! Tuta se sentiu perdida! Em breve o oxigênio no ambiente, agora mais fechando do que antes, lhe iria faltar por completo. As reservas de gordura que seu corpo tinha, já estavam no fim e, logo, logo, não teria mais combustível para seu organismo. Suas amigas e seus amigos lá fora continuam rumo às suas vidas normais. De certo, que perceberam a ausência de Tuta, mas a lei da vida exige que tudo continue seu curso normal, apesar das perdas. Certamente, outras rãzinhas, logo se juntarão ao grupo e Tuta, será apenas uma saudade que ficaria para trás.
O grupo segue seu caminho, o qual é o topo de uma colina, com um plateau com rio e lago que, ao longo do tempo se constituíram numa reserva ecológica naturalmente virgem e inviolável, onde na primavera e verão, têm um ambiente úmido, fresco e rico em comida e lá a água é perene, pois nunca seca. Todos levarão duas semanas para escalar a colina e, finalmente, chegarem ao topo. Praticamente o mesmo tempo que ficaram hibernando.
Mas, qual não foi a surpresa para os esbaforidos e totalmente esgotados anuras, ao chegarem ao topo da colina! Quem eles vêem lhes dando boas vindas! Tuta, acenando com suas patinhas de rã, sorridente e verdadeiramente feliz! A alegria foi geral. Os abraços, os beijos e até as lágrimas (de sapos e não de crocodilos, evidentemente), foi tudo parte da festa! Felicidade geral!
Mas, como seria isso possível, se Tuta estava presa em sua loca e foi dada como morta?! Todos viram a loca totalmente fechada e sem acesso e, com tristeza seguirem sem ela o caminho para a colina. E como teria ela chegado muito antes de seus amigos que, inclusive, partiram na frente? Então, depois da calmaria e alívio de todos, ela foi inquirida a contar tudo o que aconteceu e com detalhes, numa reunião de rãs, sapos e pererecas! Era uma reunião única e certamente serviria de lição e ensinamento às novas gerações.
 - Senti-me perdida. Mais do que isso, senti-me morta! Pensei em desistir no primeiro momento...pois, não via qualquer possibilidade de, dali sair com vida. Por outro lado, percebi que não podia desistir de lutar. Tinha que lutar, pela minha família e pelos meus amigos, que sei gostariam que eu assim fizesse, nem que não obtivesse êxito. Mas, só o fato de persistir e perseverar até o fim, poderia me dar uma chance de conseguir algo. Pelo menos, a possibilidade de tentar até o fim, já seria honroso e, meus amigos se sentiriam orgulhosos de mim se assim eu fizesse.
Então, insisti. Tentei mais uma vez romper as paredes sólidas que o tempo tinha transformado em quase rocha, fechando o espaço por onde eu tinha entrado para hibernar! Então, comecei a bater contra a parede. Recuava e me jogava de encontro a ela. Pensava eu, quem sabe alguém não escute e venha ver o que é...
E, já exausta, num último alento, quase desmaiando, reuni toda a minha energia e, mesmo sabendo que seria minha ultima tentativa, pois não tinha mais forças para mais do que uma investida, me joguei contra a parede com todo o corpo e...TUMMM!!!!... Desmaiei em seguida, mas pude perceber que, este impacto tinha sido mais forte do que os anteriores. Desmaiei por segundos, imagino, pois logo em seguida ouço um barulho enorme e a parede se demolir à minha frente. Que milagre é este? Pergunto a mim mesma. Raios de luz entraram de supetão...fechei os olhos, pois, não via luz há muito tempo. Vou abrindo os olhos devagar e, para minha surpresa vejo um enorme lagarto, cuja cabeça, anatomicamente era igual à minha. Ele não tinha visto o resto do meu corpo. Talvez tenha pensado que eu também era um lagarto...Sorriu para mim com o olhar...olhar esse que me pareceu familiar. Eu continuei sem ânimo e apreensiva. Fui saindo devagar da toca e, ele ao notar que eu era uma rãzinha, quase toma um susto, e apressou-se em me tirar dali. Foi gentil e solidário e, girando as costas, esperou que eu subisse em seu dorso. Como eu hesitasse, com receio de não ser isso o que ele sugeria, parada fiquei. Ele deu ré, com dois movimentos e girando a cabeça por cima do dorso olhou para mim, como se ordenasse que eu subisse.
Nesse momento, senti que seus olhos me diziam alguma coisa. Não consegui decifrar o que era, mas senti como se fosse algo que ele agradecia. Mas, como pode alguém agradecer por poder ajudar! Ao mesmo tempo, concordei: sim, é isso! Ele agradece por poder me ajudar! Quem sabe, já não sofreu situação semelhante e por isso sente-se feliz em ajudar! Foi então que subi em seu dorso e, o lagarto (que passei a chamar, lagarto da sorte) escalou a colina, firme e gentilmente. E aqui, estou eu.
Urras se ouviu nesse momento. Risos, abraços, euforia de todos. Estava ali, a grande lição da rãzinha persistente. Exemplo para seus pares, todos os animais e, evidentemente, para nos humanos também que, muitas vezes, não são solidários com a flora, com a fauna, com o próximo e nem persistentes, muitas vezes.
Moral da história: se acreditamos e fazemos nossa parte, teremos a possibilidade da Natureza e do próximo conspirarem a nosso favor. Na pior das hipóteses, teremos a certeza de não termos falhado conosco mesmo sem nada fazer! (Extraído do livro HORIZONTES POSSÍVEIS, do mesmo Autor). 


*Biólogo, Psicólogo e Professor Universitário, também é autor dos livros: O Corpo Oculto, Nos Bons Tempos da SCBEU-Viagem nas Memórias dos Anos Dourados de Natal, articulista semanal de O Jornal de Hoje, desde 2004.

16 de mar. de 2013

CONVERSA RÁPIDA DE FINAL DE ANO



Conversa Rápida de Final de Ano
*Juarez Chagas

          Como último artigo deste ano de 2012, ao invés de abordar um dos temas que, costumeiramente escrevo para nossos leitores do JH, preferi ter uma conversa rápida com todos aqueles e todas aquelas que nos acompanharam durante este Ano, politicamente cheio de decepções em todas as esferas dos poderes, tenham sido eles judiciário, legislativo ou executivo, assim como também em todos os níveis, tenha sido municipal, estadual ou federal.
         
Esta rápida conversa é apenas para além, claro, de desejar um melhor próximo Ano, dividir também um pouco as esperanças e decepções que, não têm sido poucas, para nossa sociedade. Fosse eu citar aqui os escândalos (entenda-se APENAS os que a população tomou conhecimento ou APENAS os que a mídia se dignou a publicar) não haveria espaço pra outro assunto, infelizmente.
         
Entretanto e, lamentavelmente, mesmo numa conversa rápida e sem querer desanimar ninguém, não consigo calar diante de certos absurdos, como por exemplo, o novo “aumento” do salário mínimo.
           
Primeiro porque quem cala, consente e segundo, no mínimo somos complacentes quando fingimos que não vemos, não ouvimos e não percebemos quando algum ato denigre e diminui o ser humano, considerado comum (confesso que não sei que deu esse conceito de “ser humano comum”...)         
         
Não vou me delongar sobre o assunto pra não demonstrar a indignação além deste artigo. Quero terminar o Ano em paz, mas não compreendo e nem aceito, como nossos políticos e demais poderes constituídos que, absurdamente aumentam seus próprios salários, votam na proposta de  R$ 622,00 reais para o salário mínimo da maioria da população de nosso país! Depois ficam, hipocritamente, discorrendo, tentando justificar o “impacto” que R$ 50 reais teria para o orçamento da União. Durma-se com um “silêncio” deste!!
         
O que dizer do judiciário e dos parlamentares que aumentam descabidamente, aleatoriamente, irresponsavelmente (não poupe adjetivos!) seus próprios salários?! É só ouvir a voz do povo, excluindo os próprios beneficiados deste universo, claro.
          Mas, caro leitor e cara leitora, não consegui evitar ao que me propus quando comecei a escrever este artigo ou esta conversa ortográfica. Gostaria apenas de entregar-lhe minha mensagem de Ano Novo com apenas uma pergunta para vocês, a qual não precisam responder a mim, mas a você mesmo: “o que você tem feito para tornar o mundo melhor?!”
        
Feliz 2013 para todos e todas, especialmente rente de saúde e esperança, bens que dependem, quase que exclusivamente de nós mesmos.

*Professor do Centro de Biociências da UFRN

3 de ago. de 2012



 

Por ocasião da “passagem”  de nosso amigo NILSEN CARVALHO para Dimensão Superior, transcrevo na íntegra, a saudação de nosso prezado amigo Flávio Aguiar, a qual foi emocionantemente lida e compartilhada por todos os presentes na Missa de 7º dia, celebrada em sua homenagem (02/08/2012)

Saudação a Nilsinho, após a missa do 7º Dia, realizada da capela do Campus Universitário, celebrada pelo Cônego José Mario.
Estamos todos sensibilizados pela ausência do convívio de Nilsinho, que foi em busca de uma acomodação mais confortável, do que a experimentada, nesta vida terrena. – O amigo querido com suas lembranças.
Ao nascermos, iniciamos um processo de mudanças! Crescemos e envelhecemos. Na vida terrena, a morte corporal se apresenta como o fim normal de vida. Pela fé, passamos da morte para outra vida transformada... Assim, reside a beleza da vida. Morrer, para ver a face do PAI. Desejo, inconteste, dos cristãos!
Nilsinho seguiu, confiante, esse processo. Deixou um legado como exemplo e reflexão. – O amigo religioso com sua história.
Não convém, aqui, externar essa herança. Cada um tem, na imagem e na mente, sua qualificação particular e íntima, sobre o gordo Nilsen.
Uso, o espaço facultado, para afirmar que, saberei honrar a passagem dele, entre nós, mantendo sua memória sempre acesa no meu coração. Seja, em conversas com amigos, pensamentos e orações... Serão, estas recordações, que irão, permanentemente, construir o caminho, para que, sua memória chegue e não se afaste  do meu coração. No meu egoísmo, ele não foi, porque carrego, na minha memória, sua caminhada! – O amigo leal com seu destino.
O que fez Nilsinho, para ser tão querido por aqueles que conviveram com ele, nestes 58 anos. Nilsinho, no meu entendimento, foi, simplesmente, uma pessoa boa e de bom coração. Um altruísta. Um bom amigo. Privei, com muito orgulho, de sua amizade. Éramos amigos! Costumava dizer, quando ele reconhecia nossa amizade: compadre, amigo, a gente sente... – O amigo  amigo com suas amizades
Nilsinho conquistava corações pelo equilíbrio no relacionamento. Não era negativista nem crítico radical. Sempre procurava ver o lado positivo da situação. Humilde, dispensava colocar-se como melhor que os outros; assim traçou sua trajetória universitária. Habilidoso em não machucar e sábio nos elogios. Um homem cortês e bom ouvinte. Gostava de doar-se, ajudar e conversar na intimidade, com os meus filhos e amigos dos seus filhos... Ajudou a muitos! – O amigo  de nobres sentimentos com seus sonhos.
Sua compreensão sobre a dignidade das pessoas passava pelo respeito à família, duradoura e feliz. Daí, sua dedicação, com a cooperação indelével, da sua companheira Dilminha, para desenvolver e unir o seu núcleo familiar, atendendo, no possível, os interesses afetivos de seus filhos: Anne, Bruninho e Nilsen Neto. – O amigo da família, com suas preocupações.
Poderíamos listar inúmeros adjetivos, para qualificar o compadre Nilsinho.  Concluo, salientando o quanto ele era amigável, conversador, compreensivo e generoso. Apenas, indisciplinado, no cuidado com a sua saúde. – O amigo humano, conversador, honesto e alegre, com suas certezas e temores.
Um beijo nos familiares e amigos – O amigo Flávio Aguiar e seus sentimentos, por ter partilhado com Nilsen e seus familiares, alguns acontecimentos marcantes de sua vida”.

 
Flávio José Cunha de Aguiar – Professor Economia da UFRN - flaviojcaguiar@gmail.com

25 de jul. de 2012


Transparência?!

   *  Juarez Chagas

         
Assisti e li durante essa semana várias reportagens sobre “transparência”, diga-se de passagem, um título recheado de malícia e “acomodação” (não por parte da imprensa, claro) pra “justificar”, não sabemos ao certo a qual ou quais interesses, uma vez que essas reportagens sugerem aos mais ingênuos ou crédulos, uma ação meritória por parte de quem a defende.
         
Senão vejamos, no assunto local “TJRN divulga lista com salários dos servidores” numa alusão de que o Judiciário cumpre lei que manda divulgar valores pagos aos servidores públicos e que, com isso, o Tribunal de Justiça do Rn, passou a cumprir a resolução 151 do CNJ, que determina a divulgação dos valores pagos aos magistrados e servidores do Judiciário. A referida Lei permite inclusive a disponibilidade da lista completa através do Portal da Transparência, dentro do site do tribunal, que pode ser consultado.
         
Interessante é que a própria presidência do TJRN, admite que esta divulgação pública traga “inconvenientes e riscos à segurança dos servidores, embora a lei deva ser cumprida”. Ora, o cidadão comum teria, pelo menos, o direito de indagar ou comentar porque essa “transparência” traz inconvenientes e riscos para os servidores beneficiados do Estado! Na verdade, é claro, lógico, líquido e certo que, do ponto de vista social (não diria do ponto de vista de justiça, uma vez que é a própria justiça, através de manobras e permissividade muito bem utilizadas e defendidas pelos interessados mandantes do Poder) isso “incomoda” aos beneficiados que, por sua vez, absurdamente, lutam cada vez mais para manter esse “incômodo”, uma vez que podem delegar em causa própria, sobre seus próprios salários.
         
Notícias amplamente divulgadas nas redes sociais dão conta de que os Desembargadores são os que mais recebem salários acima do teto constitucional. Portanto, dos 27 tribunais de justiça, 15 publicaram suas folhas de pagamentos, como se essa “transparência” fosse um consolo justificado ao povo, o que na verdade constitui-se numam afronta. Valores que chegam até R$ 100 mil e quanto ao restante, nos surpreenderiam mais ainda? Isso sem falar nos Ministros do STF que se encontram acima do próprio teto. Tudo “dentro da Lei” argumentam os defensores, muitas vezes até com piadinhas sugerindo aos que abominam tal situação, vá estudar mais ou ter mais sorte!
         
Antes que alguém imagine ou julgue erroneamente, quero realmente afirmar que acho justo que o Judiciário faça por merecer salários dignos e bem pagos, porém ao contrário, acho não apenas injusto como imoral, outros servidores públicos também, como certas categorias de professores (só pra citar esse exemplo), serem pagos com salários de fome!  Na verdade, heróis são os que vivem do salário mínimo e têm que conviver subalternamente com os que vivem de salário máximo, uma disparidade social cruel.
         
Onde está o senso de JUSTIÇA de nossa sociedade? Que sociedade é esta que elabora, cria, vota e aplica “leis” onde poucos “lancham” caviar regado a vinho, brindam mega salários e todas as mordomias que “têm direito”, dormem com a “consciência” tranquila, enquanto milhares e milhares de pessoas de baixa renda, ou sem nenhuma renda, acordam, se matam de trabalhar (os que têm emprego, claro) definham de fome, morrem nas filas de serviços públicos de saúde e só se sentem felizes quando estão embriagados e inebriados nos campos de futebol, nos finais de semana, para esquecerem todas as injustiças às quais são submetidos?! Isso sem comentar aqui os roubos, extorsões, subornos, vilipêndios, desvios de verbas públicas e todo tipo falcatruas, desonestidades e corrupções praticadas por quem bem deveria honesta e orgulhosamente representar o povo e a sociedade.
         
Então, é claro que incomoda a tal “transparência”, não apenas porque os privilegiados e beneficiados pelas “brechas da Lei” que lhes induzem ou permitem aumentar os próprios salários, muitos deles detêm esse poder e essa posição, na maioria conseguida através da política, porque essas milhares e milhares de pessoas, através de seus votos, os conduziram a isso, tornando-lhes capazes de fazer com que a legislação permita que valores considerados “gratificação eleitoral”, possam se concretizar.
          
Acho que a Mitologia teria que reinventar Themis, a deusa grega guardiã dos juramentos dos homens e da lei e que seus olhos, fossem ambos vedados ou ambos abertos e, o mais importante, iguais para todos. Certamente, que seria mais fácil do que reinventar a honestidade dos homens!


 
* Professor do Centro de Biociência da UFRN (Juarez@cb.ufrn.br)