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2 de ago. de 2008

JUNG...E YIN E YANG?

Jung... e Yin e Yang?
Publicado no Jornal de Hoje
*Juarez Chagas

A relação de Jung (1875-1961) com Freud (1856 - 1939) durou cinco anos, exatamente de 1907 a 1912 e, na verdade, foi mais traumática do que propriamente amistosa, segundo os mais íntimos de ambos confirmavam.Carl Gustav Jung concluiu seu curso médico em 1902, cuja tese de psiquiatria tinha o título de “Os Chamados Fenômenos Ocultos”, onde o mesmo, já cita sobre a "Interpretação dos Sonhos”, simplesmente três vezes. A história toda começava exatamente aí...

Por outro lado, porém quase na mesma direção, Freud já descobrira a ‘nova ciência da psiqué, a qual denominou de Psicanálise, que consistia numa parte da Psicologia como um novo método de tratamento das neuroses. Até aí, tudo bem, porém depois do primeiro encontro com Jung ocorrido em sua casa, em Viena, no início de 1907, começaria, o que poderia ser visto como uma relação de amor e ódio, entre ambos. Jung, apesar do grande respeito e admiração pelo mestre e pai da Psicanálise, diria depois o seguinte: "as primeiras impressões que tive de Freud permaneceram vagas e, em parte, incompreendidas".

Na realidade, com a clara resistência a Freud, por causa de seus estudos “contundentes” para a época, Jung cairia em sua defesa pública num congresso realizado em Munique, no qual Freud foi propositadamente omitido, a respeito das neuroses obsessivas, estabelecidas por ele. Daí, Jung, em 1906, escreveu um artigo numa revista médica sobre a doutrina freudiana das neuroses e acabou advertido por dois colegas de que se continuasse defendendo essa corrente (que era o próprio Freud) não teria futuro universitário.


Jung, entretanto continuou a defender Freud, porém com mais cautela e deixando claro que haveria diferenças entre ambos, enfatizando que a "única diferença que, apoiado em minhas próprias experiências, não podia concordar era que todas as neuroses fossem causadas por recalques ou traumas sexuais. Essa hipótese era válida em certos casos, mas não em outros”... Freud tomou isso como uma “irreverência” de seu predileto pupilo, o que, a partir de então, só se acirrariam os ânimos entre ambos, com Jung propenso a abandonar a teoria sexual defendida por Freud. Freud, por sua vez, via em Jung o futuro da Psicanálise e o instigava a não abandonar sua teoria.

Três anos depois do primeiro encontro, em 1910, ainda em Viena, Freud reiterou o pedido a Jung para não abandonar a teoria sexual, pois para Freud era necessário tornar essa teoria em "um dogma, um baluarte inabalável". Jung sentiu-se chocado com a proposta: "ele me pediu isso cheio de ardor, como um pai que pede aos filhos que vá à Igreja todos os domingos. Isso, "feriu o cerne de nossa amizade.”Comentaria Jung, mais tarde.

O certo é que o positivismo científico materialista de Freud não perdoou seu discípulo, o qual buscou fundamentos criativos na religião e ocultismo, fazendo com que a Psicologia de Jung fosse um processo de cura pela transformação do mundo à sua volta. Ele, envolto com o humanismo, via na religião uma forma de diálogo do ego com o self. Brigas, intrigas e desavenças à parte, analisemos a grande causa dessa “separação” dos dois maiores expoentes da Psicanálise: fenômenos ocultos! Como Jung sempre se interessou pela filosofia oriental, em 1920, acreditando na religião e mitologia, se aprofundou no Yin e Yang e, o que poucos sabem, passou a lançar varetas proféticas do I Ching, o Livro das Mutações (que inclusive tenho uma cópia) para seus pacientes.

Vale salientar que, o fascínio do I Ching levou Jung a formular a teoria da “sincronicidade”, algo não muito comum para os ocidentais. Uma coisa é incontestável, concordasse Freud ou não, o Ying e Yang é o equilíbrio. É o masculino e o feminino; o bem e o mal; a noite e o dia; o positivo e o negativo...tudo que as pessoas precisam no mundo de hoje: sincronicidade.


* Professor do Centro de Biociências da UFRN(juarez@cb.ufrn.br)

Um comentário:

Waleska Maux disse...

muito belo seu aritgo, parabens. acho a obra de Jung é fantástica !