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1 de ago. de 2008

Professor Melquíades e a SCBEU (II)
Publicado no Jornal de Hoje, anteriormente

* Juarez Chagas

Dentre os 54 sócios fundadores da Sociedade Cultural Brasil-Estados Unidos que constam da relação de sua Ata de fundação, em 26 de Julho de 1957, a começar com Doutor Onofre Lopes da Silva e terminar com Humberto Nezi, seguido do norte-americano W. Taylor, acha-se na 48ª posição na relação dos fundadores, “Jose Melquiades, brasileiro, solteiro, professor, residente em Natal”. Vale salientar a particularidade para a profissão de PROFESSOR, entre outras como medico, advogado, Jornalista, engenheiro...pelo menos, nessa época, professor era uma profissão respeitada e valorizada, em nosso pais.

Nessa época, ele já havia desistido do seminário, preferindo o magistério à batina, porem ainda não tinha se casado com D. Giselda Paraguassu, com quem depois teve oito filhos, sendo quatro homens e quatro mulheres. Ate nisso foi equilibrado, como gostava de dizer quando indagado sobre seus descendentes. “Ninguém tem nada a reclamar em termos de maioria ou minoria. Lá em casa, homens e mulheres são iguais, mesmo que seja na quantidade”.

Por falar em igualdade, das ilustres mulheres fundadoras da SCBEU, podemos citar Zila Mamede, D. Floripes Mesquita, Yvone Barbalho (que por sinal, nos deixou recentemente...), dentre outras. Pelas pessoas que fundaram nossa Sociedade Cultural Brasil-EEUU, podemos ter uma idéia de sua importância no meio sociocultural de Natal.

Professor Melquiades, como vimos no artigo anterior, era uma pessoa tanto carismática quanto culta e, o mais importante, a simplicidade interpunha-se entre essas duas qualidades, algo não muito fácil para muitas personalidades em qualquer profissão.

Uma outra paixão que ele carregava consigo e que, poucos sabiam, era o significado dos Reis Magos para nossa cidade. Tanto é verdade que Natal, alem de um lindo nome, é uma cidade apaixonante, tem, analogamente, tudo a ver com o dia do nascimento de Jesus, onde os três Reis Magos, teriam peregrinado para oferecer presentes ao Cristo Salvador. Professor Melquiades escreveu um livro, intitulado História de Santos Reis, publicado em 1999, narrando também sobre a Capela de Santos Reis, bairro onde escolheu para viver.

Mas, trazendo da lembrança outra interessante passagem sobre o mestre, certa vez tive que procurá-lo, às pressas, pois eu tinha assumido, temporária e circunstancialmente a Direção da SCBEU, em 1982 (durante sua fase mais difícil, diga-se de passagem. Nessa época, Dr. Onofre Lopes, mesmo adoentado, presidiu sua ultima reunião) e, precisava de sua assinatura de Vice-Presidente. Disseram-me que o encontraria facilmente no Bar do Lourival, ali perto da antiga Radio Poty, quase em frente ao Diário de Natal. Dito e feito, lá estava ele, elegantemente sentado ao redor duma mesa, com um amigo que eu não conhecia e, pelo visto, tinha acabado de chegar, pois não havia ainda bebida em sua mesa, fato que só acontecia em duas situações: ou ele estava doente, ou não havia mais bebida no bar. De repente chega o garçom, e coloca em sua mesa uma dose de Rum Montila. Apresentei-me no exato momento que o rapaz se retirava para atender outros fregueses do bar.
-Garçom, por favor...quem mandou trazer essa bebida? O rapaz volta-se, dar de ombros e disse “o senhor”.
- Não, não, não (esfregando as mãos). Você me perguntou, “Cerveja?” e eu lhe disse apenas“Unh Hum! E não um rum!” Por favor, volte e me traga a cerveja mais gelada que tiver. Só bebo Rum Montila em ultima instancia!
- Bhrama? Pergunta, desconfiado o garçom.
- Unh Hum! Responde, rindo o professor, esfregando as mãos e mostrando-me uma cadeira para que eu sentasse.

No dia 11 de Novembro de 2001, o professor Melquiades, assistia uma missa na capela de Santos Reis, a qual historiou e tanto defendeu, quando se sentiu mal e foi levado para o Papi, onde veio a falecer, mais ou menos, umas três horas depois.

Para os inúmeros alunos e alunas cujas formações tanto contribuiu, tenho duvidas se existe algum ou alguma que não sinta orgulho em dizer a frase ao contrario do que o velho MESTRE tanto falava: “Foi meu PROFESSOR!”
*Professor do Centro de Biociências da UFRN (juarez@cb.ufrn.br)

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