Um Homem Chamado Protásio Melo
Publicado no Jornal de Hoje, anteriormente
* Juarez Chagas
Somente hoje soube do recente falecimento de Protásio Melo (Setembro de 2006), quem eu tive a honra de conhecer de perto. E, esse evidentemente é mais que um motivo para mudar meus artigos de última hora, pois quero fazer alusão a uma das principais pessoas cultas de nosso Estado que atravessou o tempo com a mesma altivez e importância de tempos idos.
Ainda garoto, nos anos 60, auge da SCBEU na sociedade natalense, onde Protásio foi fundador e um dos seus principais professores de fonética e literatura americana, fui um de seus alunos nesses dois cursos, nos quais ele, com profundo conhecimento e habilidade, tornava o árido assunto (pra muitos um saco!) em aulas instigantes! Era, além de profundo conhecedor do Inglês, um gentleman.
Advogado de formação (cursou Direito em Recife), porém professor por opção, Protásio foi o principal elo de comunicação entre os americanos, governo norteriograndense e a sociedade natalense, no período pós-guerra, onde os americanos montaram uma base estratégica em Parnamirim, a qual passou a ser conhecida como “O Trampolim da Vitória”. Uma das últimas vezes que colocamos a conversa em dia foi em 1998 (ele ainda totalmente bem) em sua própria casa, a qual vez ou outra eu visitava e em cuja área costumávamos bater um saudoso papo, em Inglês, como ele gostava. Ele gostava de duas frases quando saia do Português pro Inglês sem avisar: “It´s a long time no seeing you...” e “I have to brush my English” (Quanto tempo sem ver você... e Tenho que desenferrujar meu Inglês).
A propósito de sua influência tanto com os americanos que “invadiram” a Natal dos anos 40 e o Governo daquela época, ele me disse, numa dessas conversas, de seu ressentimento com a direção do filme “For All – O Trampolim da Vitória” (1997), por não terem dado o devido valor e, pior ainda, distorcido, mesmo com uma trama fictícia no meio duma história real, o papel e importância do tradutor (que foi o próprio Protásio na vida real). Luiz Carlos Lacerda e Buzza Ferraz estiveram com Prontásio e o entrevistaram por um bom tempo, porém mudaram o rumo da história e da importância que o tradutor imediato teve, inclusive como conhecedor de segredos e importantes informações junto aos americanos, durante o período em que aqui estiveram. Protásio ficou bravo com o resultado. E com razão! Protásio não era apenas um tradutor, mas também ensinava Português aos oficiais sediados em Natal e tinha status de “oficial” no meio deles.
Na verdade, Natal tornou-se a principal cidade, não apenas brasileira, mas internacional, da época, em termos de base estratégica de guerra e, os 15 mil soldados americanos que aqui conviveram nessa época, mudaram radicalmente os costumes da pequena “cidade do sol” daquele tempo. Trouxeram tecnologia da época, eletrodomésticos, dólares e muito glamour, transformando a lenta e cadenciada vida tranqüila de Natal em abruptas mudanças às quais teve que se submeter do dia pra noite. O Inglês passou a ser a segunda língua de Natal e, talvez por essa razão, seja, mesmo ainda provinciana, uma das cidades brasileiras onde se fala mais e melhor o Inglês, em comparação com outras. Digo isso com conhecimento de causa, pois eu mesmo e tantos outros remanescentes dos anos 60, ensinamos o idioma por mais de duas décadas na Sociedade Cultural Brasil Estados Unidos, a qual evolui do adido cultural que os americanos estabeleceram entre as ruas Getúlio Vargas e Joaquim Manoel, tomando um quarteirão inteiro. Lá era a sede do Idioma Inglês em Natal que burilava por toda a cidade, desde o Inglês mais casto ao “Broken English” de cais de porto. Até a época do governo Nixon, emissários americanos ainda eram enviados para Natal, e um americano dirigia a SCBEU a cada dois anos. O ambiente continuava característico e a escola de Inglês ainda a melhor da cidade.
Eu passaria um bom tempo falando sobre Protásio, se necessário fosse. Mas, isso não é preciso e nem oportuno, no sentido de suas qualidades, as quais todos que o conheceram de perto e privaram de sua amizade, sabem. A imagem que tenho de Protásio, além de dezenas e dezenas de fotografias da época em que ele foi fundador, Professor e Presidente da SCBEU, é a imagem de quem correspondeu ao seu papel e função aqui entre nós. Era um bom marido e um pai apaixonado pelos filhos e filha e um excelente amigo, o que pude constatar, apesar da diferença de idade. Apenas lamento, não poder mais ouvir uma das frases que ele mais gostava de dizer quando revia os amigos: “A long time no seeing you...” Rest in peace, Protásio. (descanse em paz).
* Professor do Centro de Biociência da UFRN (Juarez@cb.ufrn.br)
Na verdade, Natal tornou-se a principal cidade, não apenas brasileira, mas internacional, da época, em termos de base estratégica de guerra e, os 15 mil soldados americanos que aqui conviveram nessa época, mudaram radicalmente os costumes da pequena “cidade do sol” daquele tempo. Trouxeram tecnologia da época, eletrodomésticos, dólares e muito glamour, transformando a lenta e cadenciada vida tranqüila de Natal em abruptas mudanças às quais teve que se submeter do dia pra noite. O Inglês passou a ser a segunda língua de Natal e, talvez por essa razão, seja, mesmo ainda provinciana, uma das cidades brasileiras onde se fala mais e melhor o Inglês, em comparação com outras. Digo isso com conhecimento de causa, pois eu mesmo e tantos outros remanescentes dos anos 60, ensinamos o idioma por mais de duas décadas na Sociedade Cultural Brasil Estados Unidos, a qual evolui do adido cultural que os americanos estabeleceram entre as ruas Getúlio Vargas e Joaquim Manoel, tomando um quarteirão inteiro. Lá era a sede do Idioma Inglês em Natal que burilava por toda a cidade, desde o Inglês mais casto ao “Broken English” de cais de porto. Até a época do governo Nixon, emissários americanos ainda eram enviados para Natal, e um americano dirigia a SCBEU a cada dois anos. O ambiente continuava característico e a escola de Inglês ainda a melhor da cidade.
Eu passaria um bom tempo falando sobre Protásio, se necessário fosse. Mas, isso não é preciso e nem oportuno, no sentido de suas qualidades, as quais todos que o conheceram de perto e privaram de sua amizade, sabem. A imagem que tenho de Protásio, além de dezenas e dezenas de fotografias da época em que ele foi fundador, Professor e Presidente da SCBEU, é a imagem de quem correspondeu ao seu papel e função aqui entre nós. Era um bom marido e um pai apaixonado pelos filhos e filha e um excelente amigo, o que pude constatar, apesar da diferença de idade. Apenas lamento, não poder mais ouvir uma das frases que ele mais gostava de dizer quando revia os amigos: “A long time no seeing you...” Rest in peace, Protásio. (descanse em paz).
* Professor do Centro de Biociência da UFRN (Juarez@cb.ufrn.br)
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