Professor Melquíades e a SCBEU
Publicado no Jornal de Hoje, anteriormente
* Juarez Chagas
Falar sobre a SCBEU e não falar sobre sua relação com o Professor José Melquíades ou vice-versa, não seria uma história completa, nem para um, nem para o outro. Assim como o professor Protásio e tantas outras personalidades que fizeram da SCBEU, o diferencial em nossa sociedade cultural natalense dos anos 50,60 e 70, o professor Melquiades foi também um de seus principais mentores e um dos responsáveis pelo ensino, não somente do Inglês, mas também da literatura norte-americana, em nosso meio.
Tive a grande satisfação de, ainda adolescente, ter sido aluno do professor Melquiades que, diga-se de passagem, não foi e nem poderia ter sido mérito somente de poucos, pois o carismático mestre, não conseguia ter a dimensão de quantos passaram por suas lições, fosse na Língua Inglesa, fosse na Literatura ou em ambas, conjuntamente. Sobre essa particularidade, ele já havia inclusive incorporado em sua natural verbalização, a seguinte frase, quando se referia a alguém conhecido, dizendo de pronto: “Foi meu aluno!”
Dono de um humor clássico e cortante, encarava a vida com alegria, obstinação e por vezes ironia, quando esta se apresentava adversa. Fisicamente, era uma mistura de brevilínio com traços de longilínio (baixo e magro) e, particularmente, ria quando eu dizia-lhe que parecia com o ator norte-americano, Gilbert Roland, principalmente o bigode... “Que por sinal, conheci pessoalmente”. Emendava, esfregando as mãos.
Foi um homem das letras, da literatura e da advocacia, tendo sido promotor publico em Natal. Após o curso de Direito, licenciou-se, em 1966, em Letras pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras, deixando a advocacia para dedicar-se ao magistério. Depois disso, passou a lecionar em vários colégios e universidade, muitas vezes, ao mesmo tempo. Ginásio 7 de Setembro, ETFERN (atual CEFET), SCBEU e UFRN. Seu legado educacional é imenso e rico. Escrever era uma de suas grandes versatilidades e paixão. Colaborou praticamente em todos os jornais de Natal, com seus artigos e crônicas e publicou, após estagio nos Estados Unidos, seu primeiro livro, em 1961, Os Estados Unidos a Mulher e o Cachorro, prefaciado simplesmente por Luis da Câmara Cascudo, seu amigo.
Olhando em meus arquivos, descobri uma antiga relação de alunos, referente ao 4º Ano “A”, turma de Inglês e Literatura, curso ministrado pelo professor Melquiades, no segundo semestre de 1969. A referida lista, com as notas da avaliação final do curso e, especialmente assinada por todos (a pedido meu na época), consta dos seguintes alunos, nessa ordem: Herbet Dore, Armanda Maria de M. Bezerra, Leila Aguiar de Figueiredo, Maria de Fátima Moreira César, Regina Maria L. Villar de Mello, Giselia Maria do Nascimento, Jose Arimateia Soares, Antonio Guedes Câmara, Francisca de A. Torres de Oliveira, Walter Dore Jr, Evaldite de Sousa Brito, Iaponira Rocha Fernandes, Zivanilson Teixeira e Silva, Carlos Alberto N. da Silva, Carlos Sizenando Rossiter Pinheiro, Herbert Borges, Juarez Chagas, Nivaldo Sena de Oliveira, Célia Maria F. de Medeiros. Esta foi uma de suas ultimas turmas, como professor Integral de Inglês avançado, após o qual passou a ocupar o cargo de Vice-Presidente da SCBEU e a proferir palestras, participando apenas em cursos especiais para a formação de Professores de Inglês.
Para citar apenas uma das veias de seu humor que lhe fluía naturalmente, lembro que no final dos anos 70, Roberto Carvalho de Oliveira Freitas, um dos novos professores da SCBEU, a quem costumávamos chamar de “Bob”, inventou de organizar uma excursão para a Ilha de Itamaracá, em Pernambuco. Marta, filha do Professor Melquiades queria ir, mas não queria pedir ao pai, por imaginar que ele não concordaria. Roberto, então resolve pedir ao mestre que liberasse sua filha para tornar a excursão mais agradável e estimular outras moças que estavam ainda indecisas. Estava o professor Melquiades, com Protasio e o Diretor da SCBEU, no snacbar, bebendo cerveja, hobby que ele adorava. Chega Roberto, todo cuidadoso e diz:
- Professor Melquíades, posso lhe dar uma palavrinha? Um pouco nervoso...
- Ah, sim! Pois não, meu jovem, Aliás, você já esta fazendo isso! Respondeu, esfregando as mãos como se estivesse com frio (ele tinha essa mania). Roberto então formulou o pedido, o mais rápido que pode e ficou na expectativa.
- Pick Nick??? Não! Não! Não, meu jovem. Me peça outra coisa qualquer, pick nick não. Roberto, triste com a resposta, mais rápida ainda e não entendendo a veemência da negativa, quis saber o porque. Professor Melquiades contou-lhe prontamente.
- Meu rapaz, quando eu era jovem assim como você, fui a um desses pick nick e....lá pras tantas, um rapaz e uma moça entraram no mato e... até hoje! Pick Nick meu jovem, literalmente significa “pegar coisa pequena” e minha filha é baixinha, magrinha... agree with me (concorda comigo)? Com o repente do professor, Roberto não sabia se ria ou lamentava...
Todos nos sabíamos que o motivo não era esse. Professor Melquiades não gostava de viagens longas de ônibus. Por falar em viagem longa, ele viajou para sempre para longe de nosso convívio, em 11 de Novembro de 2001...
* Professor do Centro de Biociências da UFRN(Juarez@cb.ufrn.br)
Falar sobre a SCBEU e não falar sobre sua relação com o Professor José Melquíades ou vice-versa, não seria uma história completa, nem para um, nem para o outro. Assim como o professor Protásio e tantas outras personalidades que fizeram da SCBEU, o diferencial em nossa sociedade cultural natalense dos anos 50,60 e 70, o professor Melquiades foi também um de seus principais mentores e um dos responsáveis pelo ensino, não somente do Inglês, mas também da literatura norte-americana, em nosso meio.
Tive a grande satisfação de, ainda adolescente, ter sido aluno do professor Melquiades que, diga-se de passagem, não foi e nem poderia ter sido mérito somente de poucos, pois o carismático mestre, não conseguia ter a dimensão de quantos passaram por suas lições, fosse na Língua Inglesa, fosse na Literatura ou em ambas, conjuntamente. Sobre essa particularidade, ele já havia inclusive incorporado em sua natural verbalização, a seguinte frase, quando se referia a alguém conhecido, dizendo de pronto: “Foi meu aluno!”
Dono de um humor clássico e cortante, encarava a vida com alegria, obstinação e por vezes ironia, quando esta se apresentava adversa. Fisicamente, era uma mistura de brevilínio com traços de longilínio (baixo e magro) e, particularmente, ria quando eu dizia-lhe que parecia com o ator norte-americano, Gilbert Roland, principalmente o bigode... “Que por sinal, conheci pessoalmente”. Emendava, esfregando as mãos.
Foi um homem das letras, da literatura e da advocacia, tendo sido promotor publico em Natal. Após o curso de Direito, licenciou-se, em 1966, em Letras pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras, deixando a advocacia para dedicar-se ao magistério. Depois disso, passou a lecionar em vários colégios e universidade, muitas vezes, ao mesmo tempo. Ginásio 7 de Setembro, ETFERN (atual CEFET), SCBEU e UFRN. Seu legado educacional é imenso e rico. Escrever era uma de suas grandes versatilidades e paixão. Colaborou praticamente em todos os jornais de Natal, com seus artigos e crônicas e publicou, após estagio nos Estados Unidos, seu primeiro livro, em 1961, Os Estados Unidos a Mulher e o Cachorro, prefaciado simplesmente por Luis da Câmara Cascudo, seu amigo.
Olhando em meus arquivos, descobri uma antiga relação de alunos, referente ao 4º Ano “A”, turma de Inglês e Literatura, curso ministrado pelo professor Melquiades, no segundo semestre de 1969. A referida lista, com as notas da avaliação final do curso e, especialmente assinada por todos (a pedido meu na época), consta dos seguintes alunos, nessa ordem: Herbet Dore, Armanda Maria de M. Bezerra, Leila Aguiar de Figueiredo, Maria de Fátima Moreira César, Regina Maria L. Villar de Mello, Giselia Maria do Nascimento, Jose Arimateia Soares, Antonio Guedes Câmara, Francisca de A. Torres de Oliveira, Walter Dore Jr, Evaldite de Sousa Brito, Iaponira Rocha Fernandes, Zivanilson Teixeira e Silva, Carlos Alberto N. da Silva, Carlos Sizenando Rossiter Pinheiro, Herbert Borges, Juarez Chagas, Nivaldo Sena de Oliveira, Célia Maria F. de Medeiros. Esta foi uma de suas ultimas turmas, como professor Integral de Inglês avançado, após o qual passou a ocupar o cargo de Vice-Presidente da SCBEU e a proferir palestras, participando apenas em cursos especiais para a formação de Professores de Inglês.
Para citar apenas uma das veias de seu humor que lhe fluía naturalmente, lembro que no final dos anos 70, Roberto Carvalho de Oliveira Freitas, um dos novos professores da SCBEU, a quem costumávamos chamar de “Bob”, inventou de organizar uma excursão para a Ilha de Itamaracá, em Pernambuco. Marta, filha do Professor Melquiades queria ir, mas não queria pedir ao pai, por imaginar que ele não concordaria. Roberto, então resolve pedir ao mestre que liberasse sua filha para tornar a excursão mais agradável e estimular outras moças que estavam ainda indecisas. Estava o professor Melquiades, com Protasio e o Diretor da SCBEU, no snacbar, bebendo cerveja, hobby que ele adorava. Chega Roberto, todo cuidadoso e diz:
- Professor Melquíades, posso lhe dar uma palavrinha? Um pouco nervoso...
- Ah, sim! Pois não, meu jovem, Aliás, você já esta fazendo isso! Respondeu, esfregando as mãos como se estivesse com frio (ele tinha essa mania). Roberto então formulou o pedido, o mais rápido que pode e ficou na expectativa.
- Pick Nick??? Não! Não! Não, meu jovem. Me peça outra coisa qualquer, pick nick não. Roberto, triste com a resposta, mais rápida ainda e não entendendo a veemência da negativa, quis saber o porque. Professor Melquiades contou-lhe prontamente.
- Meu rapaz, quando eu era jovem assim como você, fui a um desses pick nick e....lá pras tantas, um rapaz e uma moça entraram no mato e... até hoje! Pick Nick meu jovem, literalmente significa “pegar coisa pequena” e minha filha é baixinha, magrinha... agree with me (concorda comigo)? Com o repente do professor, Roberto não sabia se ria ou lamentava...
Todos nos sabíamos que o motivo não era esse. Professor Melquiades não gostava de viagens longas de ônibus. Por falar em viagem longa, ele viajou para sempre para longe de nosso convívio, em 11 de Novembro de 2001...
* Professor do Centro de Biociências da UFRN(Juarez@cb.ufrn.br)
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