SCBEU (Ôh Tempo Bom...)
Publicado no Jornal de Hoje, anteriormente
* Juarez Chagas
É completamente impossível falarmos dos anos 60 e 70, quando nos referimos à sociedade natalense da época, sem falarmos da Sociedade cultural Brasil Estados Unidos ou simplesmente SCBEU, como era mais conhecida. Na verdade, não há como falar da Natal daquela época, omitindo a SCBEU, a mais tradicional, dinâmica e social Escola de Inglês que a cidade dos Reis Magos já teve em todos os tempos e que, como nenhuma outra, cumpriu seu papel ensinando o bom Inglês americano e difundido a cultura norte-americana em nossa capital, assim como divulgando também, o Brasil para os EEUU, por aproximadamente trinta anos.
Eu sempre disse a mim mesmo que, se escrevesse um dia sobre a SCBEU, só falaria das coisas boas referentes à mesma, mesmo sabendo que esta teve um fim que não mereceu. Mas, pra fazer jus mais ainda a sua grande importância e relevante papel que teve em Natal e sua sociedade, relembremos apenas o que ficou de bom e positivo.
A SCBEU foi fundada em 25 de Abril de 1957 (em reunião na então Faculdade de Direito de Natal) e saiu de cena (vamos assim dizer), em 14 de Junho de 1984. Portanto, este ano completaria meio século se ainda estivesse funcionando. Pra começar, a SCBEU inicialmente foi originada da idéia (além de Escola binacional) de atuar também como uma espécie de adido cultural, aqui em Natal, após a Segunda Guerra Mundial, por ter sido a “Cidade do Sol”, base estratégica norte-americana de guerra. Por isso, Natal consta no Mapa Mundi, como o Trampolim da Vitória e, por terem os americanos convivido com a cidade durante essa época, Natal, mesmo sendo provinciana em comparação com outras capitais, é a cidade onde mais se fala Inglês, comparativamente. Melhor ainda, viveu uma situação real, pois os americanos que vieram pra cá e não os natalenses que fizerem “intercâmbio”. No final, foi uma situação que acabou sendo positiva para ambos.
A sociedade Cultural Brasil Estados Unidos foi (e continuará sendo em nossa memória) a mais famosa e mais importante Binational English Center que Natal já teve. Seus sócios fundadores foram em número de 54 (tenho uma cópia da ata de fundação, a qual tive o cuidado de guardar quando fui diretor desta entidade durante um ano), tendo sido fundada pelas mais ilustres autoridades e pessoas de destaque social da época. O Dr. Onofre Lopes foi o primeiro da lista e, Humberto Nesi o penúltimo. Dentre outros importantes fundadores iremos encontrar em sua ata de fundação, Dr. Edgar Barbosa, Dr. Paulo Pinheiro de Viveiros, Dr. Tarcisio Maia, Cônego (na época) Nivaldo Monte, Dr. João da Costa Machado, Dr. Otto de Brito Guerra, Dr. Alvamar Furtado, Dr. Otto Júlio Marinho (com quem tive o privilégio de trabalhar durante cinco anos na neuroanatomia e anatomia comparativa, na UFRN), Dr. José guará, Sra. Yvone Barbalho, Zila Mamede, Dr. Protásio Melo, Prof. José Melquíades, Dr. Arnaldo Arsênio de Azevedo, Dr. José Américo de Paiva e outros que, mesmo sem terem sido citados, tiveram a mesma importância.
A sede da SCBEU, ficou sendo onde funcionava o Consulado Americano, construído por ocasião da instalação da base de guerra, em Natal e, ainda de propriedade do Departamento de Estado dos Estados Unidos e após esse período, cedido pelo governo americano para que funcionasse a escola de Inglês que, na realidade, continuava mantendo sua função de intercâmbio com os Estados Unidos. A imensa casa fora construída toda com material específico e vindo dos EEUU, de navio. Ficava no grande quarteirão que ia da Rua Manoel Joaquim à Av. Getúlio Vargas, portanto seu endereço, às vezes, era dúbio.
Foi na reunião de sua 3ª assembléia geral (1/6/1957, no anfiteatro da Materndade Januário Cicco), presidida por Dr. Onofre Lopes que comunicou a todos ter recebido do Consulado Americano do Recife, as chaves do prédio destinado à sociedade. Algumas exigências foram feitas pelo governo americano em relação à doação do prédio para o funcionamento da SCBEU, como por exemplo, a escola seria presidida por um brasileiro, porém dirigida por um americano, que seria enviado, especialmente para esse fim, a cada dois anos, o que realmente ocorreu até 1970, tendo sido Mr. Douglas S. Rose (que também foi meu professor), seu último diretor americano, com residência em Natal.
Na verdade, a SCBEU funcionava como se fosse um pedaço dos Estados Unidos no centro de Natal, pois o ambiente era característico e o ensino muito rígido, embora da melhor qualidade, onde um curso normal durava cinco anos, quase igual a muitos curos universitários. Tivemos os melhores professores da época. Os melhores alunos e amigos também. Era um ambiente saudável de amizade e lazer. A escola mantinha convênios locais, nacionais e internacionais e, normalmente, recebia a visita de atores, cantores em geral. Robert Fitzgerald Kennedy foi uma das autoridades mais conhecidas, internacionalmente, que lá esteve, por ocasião de sua visita a Natal e inauguração da Praça John F. Kennedy (praça das cocadas), ao lado do cinema Nordeste.
Realmente, a Sociedade Cultural Brasil-Estados Unidos era motivo de orgulho pra quem dirigia, ensinava e aprendia, inclusive muitos casais la se conheceram e foram felizes para sempre. É como diz o título do artigo: ôh tempo bom (those were the days...)
* Professor do Centro de Biociências da UFRN (Juarez@cb.ufrn.br)
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