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26 de jun. de 2008

O HOMEM VITRUVIANO


O Homem Vitruviano
(Publicado no www.jornaldehoje.com.br)
Juarez Chagas

Há muito é sabido que o homem tem tentado, ao longo da trajetória da humanidade, representar o equilíbrio do ser humano com a Natureza através de algo que realmente contemple essa união. Evidentemente, que não tem sido fácil. Ora, se o próprio homem não tem andado em harmonia e em sintonia com a Natura Mater, como poderia representar bem esse equilíbrio?
Muitas tentativas foram feitas e muitos projetos realizados, isso ainda por volta da Idade Média, porém nenhum deles se aproximou tanto quanto o Homem Vitruviano, o qual é ícone tanto da cultura renascentista quanto da cultura moderna, no sentido do equilíbrio do homem com a Natureza
Assim sendo, os primórdios do Homem Vitruviano foram descritos pelo arquiteto romano Marco Vitrúvio (c.70-25 a. C.) em sua obra intitulada Os Dez Livros da Arquitetura, apresentado-se como um modelo ideal para o ser humano, cujas proporções são perfeitas, segundo o ideal clássico de beleza. Entretanto, com o passar do tempo a descrição gráfica se perdeu, sendo resgatada na Renascença, na arte de Leonardo Da Vinci (14521519), indubitavelmente, um dos maiores gênios da história da Humanidade.

É interessante lembrar que a vida e obra de Da Vinci são tidas como os momentos mais deslumbrantes da humanidade, principalmente por ter marcado o Renascimento como nenhum outro movimento em toda a história do ser humano. Para termos uma idéia da genialidade de Da Vinci, relembremos seus conhecimentos e habilidades, pois dentre as quais ele era cientista, inventor, engenheiro, mecânico, arquiteto, urbanista, botânico, anatomista, fisiólogo, químico, geólogo, cartógrafo, físico, escritor, músico, desenhista, precursor da aviação e da hidráulica, embora tenha sido mais reconhecido como pintor, por causa da quantidade, qualidade e importâncias de suas obras.
Dez anos antes do Brasil ser descoberto (apenas para comparar o fato, mostrando que o Brasil surgiu após a Renascença, embora noutro Continente), Da Vinci retomou, por encomenda, as ilustrações que apresentavam as teorias de Vitrúvio, sobre seu trabalho “L’Uomo di Vitruvio” e concluiu o Cânone das Proporções, como passou a ser chamado.
Mas, tem um importante detalhe pelo qual Da Vinci foi o mais bem sucedido dentre os outros artistas da época que também tentaram concluir a obra de Vitruvio. Ele era anatomista e, sabe-se hoje que, apesar da proibição da Igreja, ele exumou cadáveres, tendo sido um dos primeiros anatomistas a dissecar o corpo humano, mesmo antes de Vesalius. E ninguém entende e conhece realmente a anatomia sem a sua devida dissecação.

Ninguém desenharia tais proporções como ele o fez, sem o real conhecimento da anatomia, muito embora o maior desafio não tenha sido as proporções do homem e sim, adaptá-las dentro das formas geométricas, para representar tal idéia do homem e universo.

Na verdade, o Homem Vitruviano é um pentagrama humano, com o corpo de um homem nu com pernas abertas e braços estendidos ao mesmo tempo, dentro de um círculo e de um quadrado, cujo conjunto do desenho como um todo, encerra o sentido do Homem e a Natureza.
Por falar em pentagrama, o famoso desenho serviu, recentemente, como inspiração para o romance de Dan Brown, O Código Da Vinci ( Ed Sextante, 475 pgs, 2004), o qual sugere a elucidação de pentagramas e cuja trama envolve desde grandes organizações católicas conservadoras como a Opus Dei, até a sociedade secreta conhecida como Priorado de Sião, questionando a divindade de Jesus Cristo e tornando-se um dos mais recentes e polêmicos best sellers.
Uma questão moderna poderia surgir em torno do Homem Vitruviano, uma vez que não está havendo qualquer equilíbrio entre o homem e a Natureza. Muito pelo contrário. Fosse feita uma nova leitura do Cânone das Proporções, pelos olhos da consciência, ver-se-ia um círculo explodindo, um quadrado fragmentando e no meio, o homem se desintegrando, tudo isso predominantemente em cores amarelas, vermelhas e pretas.

Enquanto isso, o mais importante desenho do maior gênio da Humanidade (pelo conjunto de sua obra) destina-se, no momento, mais às inspirações de ficções polêmicas do que propriamente ao pensamento uno homem-Natureza, um pequeno mal-estar na história do Vaticano.

CADÁVER DESCONHECIDO


Cadáver Desconhecido
(Publicado anteriormente no Jornal de Hoje)
Juarez Chagas

A sociedade contemporânea, mais do que suas antecessoras, sempre combateu os tabus da humanidade, pois tabus não convivem harmoniosamente com o bem-estar social, nem tão pouco com o imaginário humano, seja individual, seja coletivo, pois estabelece uma grande barreira entre o conhecimento e o homem, fazendo-o permanecer na ignorância e, conseqüentemente, causando curiosidade, medo e angústia pelo desconhecido.
Religiões ocultas, ciências ocultas, misticismo, doenças misteriosas e terminais, sexo e morte, tem sido os tabus que mais tem atormentado a humanidade, ao longo do tempo. Porém, dentre todos os tabus existentes, nenhum tem sido tão persistente e intocável quanto a morte. Caberia, portanto a pergunta: porque todo o esforço que se tem feito até hoje para se discutir e divulgar sobre a morte não tem dado resultado efetivo? A resposta é simples: porque não tem sido feito através do mais importante veiculo e mais eficiente meio de comunicação e ensinamento, o qual seria através da educação.
Não adianta existir apenas inúmeros sites, homepages, organizações assistencialistas ou tratamentos psicológicos sobre a morte. A morte precisa ser discutida escolar e academicamente. Temos que transformá-la num segmento da disciplina de Biologia, medicina, antropologia e Psicologia (ou qualquer outra Disciplina na qual possa ser inserida) nas escolas, faculdades e universidades, porque somente assim poderemos conviver melhor com ela e passarmos a valorizar mais a vida, como realmente deveríamos. É preciso fazer o "inimigo" mostrar sua cara, para que não ocultemos a nossa. Não se pode combater um inimigo oculto.
A respeito disso e em virtude da divulgação de artigos sobre a morte, tenho recebido e-mails de pessoas com as mais variadas opiniões a respeito. Umas questionando o porque de se discutir tão delicado assunto; outras elogiando e estimulando a divulgação de algo tão oculto e amedrontador e, aplaudindo a iniciativa poor contribuir sobremaneira com o desenvolvimento humano. Enfim, dentre elas, teve uma que pediu uma explicação sobre o inicio de meus estudos a respeito da morte, querendo saber como surgiu tal interesse. Parece que chegou a hora de divulgar também sobre os trabalhos num sentido mais amplo e não individual.

Na verdade, tudo tomou impulso sobre estes estudos em 1984, quando eu já professor concursado da UFRN, no Departamento de Morfologia quando pela primeira vez, me deparei com a morte, no sentido academicamente pessoal (se é que assim poderia dizer), uma morte representada por um cadáver, o cadáver que dissecávamos, com fins de estudos, o cadáver desconhecido. O termo Cadáver Desconhecido, vem dos primórdios da anatomia. Era assim denominado por ser um cadáver anônimo e que não podia ser conhecido ao ser estudando. Passou pelas quatro escolas anatômicas existentes no mundo, a egípcia, a babilônica, a grega e a romana.

Foi veementemente protegido pela Igreja católica, que determinou que quem o dissecasse, seria condenado. Relegado por Galeno, Aristóteles e tantos outros médicos gregos ou não; foi, dissecado, às escondidas, inúmeras vezes por Da Vinci até que, finalmente, foi dissecado acadêmica e publicamente por Vesalius, o Pai da Anatomia, cujo método de dissecação até hoje é utilizado nas universidades, inclusive as nossas no Brasil, que seguem a escola anatômica européia, a antiga escola romana.
O Cadáver desconhecido, não é apenas um cadáver que atravessa os séculos e milênios, é mais que isso, pois é um símbolo verdadeiro do descobrimento e conhecimento do corpo humano através da exposição de suas estruturas orgânicas, o que possibilitou a criação da medicina consciente da máquina humana. É o primeiro “paciente” dos acadêmicos de medicina, sem cuja dissecação seriam incapazes de conhecer o corpo humano e, conseqüentemente de tratar devidamente o vivo. Sem ele ela não existiria nem saberíamos o que sabemos hoje sobre o tão famoso De Humani Corporis Fabrica (sobre a estrutura do corpo humano), por sinal titulo do mais famoso livro de Vesalius.

Diferentemente da morte, embora representando uma de suas faces, porém contribuindo para a vida, o cadáver desconhecido não poderia jamais ser um cadáver conhecido ou o cadáver de um conhecido, a menos que este doe seu corpo em prol da ciência (e mesmo assim, ainda de acordo com a bioética, não teria a mesma conotação de um cadáver conhecido).
Portanto, ao contrario da morte, que quanto mais devidamente conhecida e totalmente divulgada mais beneficio e harmonia traria, o cadáver desconhecido, carrega consigo, através dos séculos, os segredos das emoções de quem por ele passa, deixando um legado vivo de conhecimento em prol da ciência. Nesse caso, através dele, a morte enaltece a vida!

O CADÁVER DESCONHECIDO


O Cadáver Desconhecido (II)
(Publicado anteriormente no Jornal de Hoje)
Juarez Chagas

Muita coisa ainda poderia ser dita sobre o cadáver desconhecido. Mas, comentarei apenas dois ou três fatos importantes e relevantes, principalmente, para quem tem acompanhado os artigos e estudos sobre a morte. Como vimos no artigo anterior, Vesalius foi o primeiro a ousar dissecar o corpo humano, publicamente (cuja gravura aparece no fundo, na parede do anatômico, na foto ao lado). Ele sabia que o clero se curvaria às suas evidencias cientificas sobre o conhecimento do corpo humano, sem desafiar Deus. Isso, porque eles, além das rezas, precisavam também dos benefícios do conhecido do corpo humano. Mas, isso não ocorreu assim da noite para o dia. Os anos entre 1540 e 1555 foram decisivos e vitais para a ciência médica, pois a partir daí houve uma grande cisão entre a Igreja e a ciência médica (isso sem contar que Da Vinci, já por volta de 1511 dissecara cadáveres roubados para o estudo de sua perfeita anatomia transportada para suas telas. O Homem Vitruviano é a maior prova disso).

Como já se sabe, a dissecação de cadáveres humanos não só era proibida pela Igreja e autoridades governamentais, como punido era quem fosse apanhado dissecando corpos humanos post mortem, pois tal violação do corpo, após a morte era punida também com a própria morte, geralmente em praça publica. A lei era clara: os mortos deveriam ser chorados, velados e enterrados, independentemente de classe social. Foi isso que aconteceu com Miguel Servetus (nascido na Espanha e, cuja formação inicial era, ironicamente, teológica), por exigência da inquisição, tendo sido queimado em praça publica, juntamente com seus livros e tratados de anatomia. Por isso, passou a ser conhecido como o mártir da ciência. Mas, a ciência não podia parar e, movidos pelo ímpeto e desejo de aprender e desmistificar o proibido em prol do desenvolvimento da ciência, os anatomistas não se davam por vencidos. Além do mais, estavam vivendo os tempos da Renascença, o maior momento e movimento revolucionários da humanidade.

Assim, era comum os grupos de anatomistas se organizarem (normalmente formados por médicos e discípulos avançados) para estabelecerem dia, local e hora onde deveriam se encontrar para as proibidas dissecações noturnas que normalmente eram feitas em calabouços ou subterrâneos, à luz de vela ou lampiões de fogo.
Conta a história da anatomia que existia um código e uma senha entre eles e que um mensageiro especial avisava cedo do dia, passando secretamente na casa de cada um dos dissecadores, dizendo apenas a seguinte frase: care data vermis, o que significava dizer que à noite haveria dissecação. A frase em Latim significava que depois de dissecado, os restos mortais eram atirados aos vermes ou sumariamente enterrados após os estudos. Acredita-se, portanto, que a palavra cadáver tenha surgido da junção das primeiras silabas dessas três palavras, portanto simbolizando até hoje o Cadáver Desconhecido, não apenas como material de estudo da Anatomia, mas constituindo-se também numa personagem eterna para a ciência e medicina, especialmente.
As dissecações de Andréas Vesalius não só marcaram o mais fértil período da anatomia e definição da medicina, como também oficializou a figura simbólica e indispensável do cadáver desconhecido para o estudo da anatomia humana em todo o mundo. Nascia a ciência definitiva do corpo humano, mesmo que contemplada pela morte, mas para o bem da vida, uma aparente contradição que muitos demorariam a entender.

Dando continuidade aos estudos sobre a morte, em 1998, tive a grata surpresa de ter o trabalho “Cadáver Desconhecido–Lições Eternas de Anatomia”, contemplado com Menção Honrosa, concedida pela conceituada PUC do RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), obtido através do concurso nacional do Premio Professor Garcia do Prado de Anatomia Humana, onde apenas trabalhos de pesquisas e monografias na área médica foram premiados. Este trabalho faz um histórico sobre o cadáver desconhecido e a evolução da Anatomia, inclusive no Brasil e, conseqüentemente, apesar de simples, tornou-se um grande estimulo para o prosseguimento de estudos sobre a morte. Logo em seguida, após seleção de Mestrado na EPM-Escola Paulista de Medicina (UNIFESP), apresentei a tese intitulada “Cadáver Desconhecido – Importância Histórica e Acadêmica para o Estudo da Anatomia Humana”, onde estudos mais profundos e pesquisas bibliográficas especificas foram trabalhadas. Tomei conhecimento de que a tese sobre este assunto foi pioneira no Brasil, no que diz respeito ao caráter filosófico sobre o tema em uma das Universidades mais importantes do Brasil.

Como podemos ver, apesar da moderna tecnologia ter tentado substituir o cadáver humano para estudos anatômicos, por modelos de plástico, ressurgiu recentemente nas mais importantes universidades do mundo, novamente a questão sobre a manutenção e controvéersias sobre a opção pela continuação da dissecação do corpo humano, através do cadáver desconhecido. Sabemos que nenhuma tecnologia substitui a maquina humana e a bela, extraordinária e imprescindível lição e conhecimento que ela nos proporciona.
Afinal, quem, se necessário fosse, teria dúvidas em ser cirurgiado e tratado por um medico que tenha dissecado o corpo humano ou por alguém que “aprendeu” anatomia em modelos de plástico ou borracha sintética? A diferença entre os dois conhecimentos é absolutamente inquestionável.

30 de mai. de 2008

O CORPO OCULTO



UMA HISTÓRIA QUE VAI ALÉM DO CORPO
E DO ESPÍRITO
(Uma tese Acadêmica transformada em ficção)


* Por Waleska Maux


O biólogo, psicólogo e professor universitário Juarez Chagas, disponibiliza na Paraíba (Livraria Siciliana) a obra “C.D, O Corpo Oculto” (223 págs, A.S.Livros), uma ficção romanceada que traz à tona o valor do descobrimento dos valores da condição e natureza humanas, porém cheia de ardilosas tramas que permeiam do imaginário à realidade dos protagonistas, onde o corpo também serve de interface na história e do próprio desenvolvimento humano.

No livro, através do ‘cadáver desconhecido’, o autor aborda a questão da morte, tratada de forma quase acadêmica, porém como lição de vida e de sua importância na trajetória da humanidade. Trata-se de uma história de amor inspirada nas possibilidades do Destino sobre a natureza humana. Uma trama de vingança incomum numa família, temperada pela inveja e suas devastadoras conseqüências. Uma história que transita pelos mistérios da vida após a morte, para falar da força e do valor da amizade, além do poder misterioso do espírito sobre todas as demais energias capazes de formar e desintegrar os seres em nosso universo.

A história de Douglas Santos, um jovem que, de forma cruel e inesperada, vê-se impedido de viver um grande amor, vítima de um plano diabólico. Sobrevivendo à morte, no plano espiritual, ele retorna na pele e corpo do Cadáver Desconhecido (pois é enviando como tal, para uma universidade, para ser dissecado nas aulas de anatomia). O livro, segundo o autor, faz lembrar tramas como os clássicos de alguns personagens do gênero como A Múmia, Ghost, O Corvo e O Homem Sem Face, todos clássicos internacionais da literatura e também do cinema. Sobre o fenômeno da morte, cita o autor em um de seus trabalhos científicos: “Parece muito mais fácil saber e entender o que as pessoas sentem em relação à morte do que, propriamente, defini-la. Uma coisa é certa, por mais inaceitável e absurda que possa parecer na concepção pessoal de cada um, a morte complementa a vida, assim como o medo é o lado oposto da coragem e o mal do bem, formando ambas, no entanto, um todo”. Impressões O Corpo Oculto prende o leitor do inicio ao fim da trama.

Douglas, personagem simpático e de temperamento calmo e controlado, é vitima da trama ardilosa de um primo ambicioso, que consegue ceifar sua vida precocemente. Interessante também, a sensibilidade de Pitágoras, técnico de laboratório, que nutre um zelo afetuoso pelos cadáveres da Universidade. Entre ele e Douglas, cria-se um laço de afeto e amizade ultrapassando as barreiras da vida e da morte. Pitágoras lembra uma versão moderna de Quasímodo, segundo nos fala o autor. A ambição é abordada em vários campos, inclusive no meio acadêmico, assim como os requintes de crueldade do psicopata Teobaldo, primo do personagem principal do livro, que chega a dissecar alguns inimigos, num ritual pra lá de cruel.

O livro não é de terror, ao contrário, mostra-nos a face negra da morte e a face oculta do amor, num duelo que busca o equilíbrio das duas forças. Não deixa de nos provar que, tanto a morte como o amor, são formas de desenvolvimento do ser humano. Força oculta.

Vale a pena mergulhar neste enredo que traz o bem e o mal ao mesmo cenário e confronta-os num espiritual campo de batalha. Em um dos capítulos, viajamos ao Fantasma da ópera, através de um grande concerto que tem, entre seus participantes, por alguns instantes, o adorável Douglas, que incorpora num corpo sem vida, o talento que lhe é peculiar para agradar a sua amada que está na platéia, através da execução de Vozes da Primavera, de Strauss. Emocionante... Quem gosta das coisas do amor e quem quer entender mais sobre a morte como desenvolvimento humano, eis um bom livro.

Quem é o autor

Biólogo, psicólogo, professor universitário e escritor. Ao longo de sua carreira como professor de Anatomia Comparada, na Universidade Federal do RN, escreveu “Anatomia Comparativa dos Vertebrados, publicado pela Editora Universitária da UFRN. Em 2001, recebeu o premio de melhor argumento/roteiro ao filme na II Mostra de Vídeo no FestNatal com o video “O outro lado da Esquina” .

Desde 2004, Chagas é articulista do Jornal de Hoje (RN), onde escreve sobre assuntos diversos, em especial, abordando a Tanatologia (estudos sobre o fenômeno da morte). Em 2006 lançou com sucesso seu primeiro livro de ficção romanceada “C.D, o Corpo Oculto”, o qual teve excelente repercussão no meio literário local. Embora esteja no Brasil estes meses, atualmente cursa doutorado em terras lusitanas, defendo tese que aborda a Psicologia Social.

Onde encontrar o livro:

Siciliano, Poty, Cooperativa Cultural (Natal)
Prefácio Livros: Tambiá Shopping – Centro e Mag Shopping Manaíra (João Pessoa)

* Jornalista
(Divulgadora de lançamentos de Autores do Rn, Pb e outros Estados brasileiros)

PISTOLEIRO DO PÔR-DO-SOL



PISTOLEIRO DO PÔR-DO-SOL
(The Real Last Gunfighter)


Juarez Chagas

Ter encarado o desafio de escrever um romance ao estilo do velho Oeste (diferentemente dos romances e ficção contemporânea que escrevo) foi uma idéia que surgiu com o tempo. Havia muita coisa background que suportava esse projeto, como ter lido a maioria dos romances de Zane Grey e outros grandes romancistas do velho Oeste americano, referências inspiradoras do gênero. O fascinante mundo das Histórias em Quadrinhos dos clássicos westerns com seus heróis de papel fascinantes que eram incansavelmente lidos, desenhados e colecionados também serviram de inspiração. Adicione-se a isso a importante possibilidade de escreverr também sobre outros temas que não apenas romances contemporâneos.


Portanto, apresento (já lançado nas livrarias de Natal e João Pessoa), embora direcionado mais a um público específico, o Pistoleiro do Pôr-do-Sol, um romance no velho Oeste, onde a Natureza Humana é colocada à frente dos revólveres.

Um pouco da personagem:

Johnny Slim, filho de uma pacata família de fazendeiros, ao norte do Texas, segundo de uma prole de três irmãos, foi batizado John Scott River. Entretanto, por ter crescido mais do que os irmãos e, também pela magreza que apresentava na adolescência, passou a ser chamado carinhosamente de Slim (magro), pela família. Embora, depois, tenha se tornado um homem forte e robusto, Johnny Slim passou a ser seu verdadeiro nome.

Como fazendeiro que era, seu pai criava gado, tinha juntamente com os filhos e seus empregados rotina de cowboys, mesmo no início do século XX e promovia, inclusive rodeios. Em um desses rodeios, chegou a conhecer o próprio Buffalo Bill (William Frederick Cody), já no fim de sua carreira, em 1915, quando o mais famoso cavaleiro do Oeste, viajava com seu circo intinerante, representando a si mesmo como herói verdadeiro e de ficção. O sr. James Scott River gostava de contar que Slim, nessa ocasião ainda um garoto, apertou a mão de Bill, cumprimentando-o. Slim é o segundo filho e nasceu num dia de chuva, trazendo muita alegria para a família. Aos dezoito anos serve as forças armadas, onde aprende a usar armas de fogo e quando volta, passa a ser um verdadeiro cowboy e a defender seu território contra ladrões de gado e assassinos, que ainda existem nessa época em que os índios “se aposentam” e vivem de favores do governo e dos homens brancos.
Johnny Slim, senão o último, é um dos últimos pistoleiros do Oeste, pode-se dizer, dos tempos considerados modernos para a lei do revólver e tudo começa quando ele resolve procurar seu irmão mais novo, o qual teria sido aliciado por bandidos, enquanto ele servia o exército. Slim promete a seus pais que só voltaria pra casa quando encontrasse seu irmão, nem que para isso tenha que percorrer todo o Oeste. E como nunca consegue encontrá-lo, jamais retorna para a família. Em conseqüência disso, enquanto anda muito como um cavaleiro solitário, de um lugar para outro, encontra uma moça que lhe rouba o coração e vive muitas emocionantes aventuras.

Onde encontrar o livro:
Prefácio Livros: Tambiá Shopping – Centro e Mag Shopping Manaíra (João Pessoa)
Cooperativa Cultural (Campus) e Siciliano Midway Mall (Natal)

juachagas@gmail.com

29 de mai. de 2008

QUANDO UM HOMEM AMA UMA MULHER



Quando um Homem Ama uma Mulher
(Publicado no Jornal de Hoje, anteriormente)

Juarez Chagas


Recentemente conversamos sobre Guerra e Morte. Hoje vamos falar a respeito de Vida e Amor. Nada mais coerente, para se mostrar que a vida tem, predominantemente, suas duas faces, inúmeras fases e é no meio desse caminho que, muitas vezes questionamos seu destino, que nós humanos caminhamos e caminhamos até onde podemos.

“Quando Um Homem Ama Uma Mulher” (When a Man Loves a Woman, USA, 1994) é o título de um excelente filme, o qual se não faz a mais “dura e controlada” das pessoas chorar em algumas ou pelo menos numa de suas passagens emocionantes, no mínimo a fará refletir sobre perdas, amor, ganhos e, sobretudo, reconstituição da condição humana após fracassos, hoje mais discutida do que nunca, no âmbito da Psicologia.

O filme começa com a abertura da linda música homônima When a Man Loves a Woman (Percy Sledge), quando Michael (Andy Garcia) encontra sua mulher Alice (Meg Ryan) em um bar, onde marcaram para se encontrar e comerem algo, antes de rumarem para casa. Michael é piloto de bordo e acaba de chegar de viagem.

À noite saem para comemorar o aniversário de Alice e, em virtude disso, surge sua primeira recaída, pois ela adquirira o hábito de beber desde os nove anos de idade. Hábito esse herdado de seu pai, que era alcoólatra. Ao chegarem em casa, Alice irrita-se com o alarme de um carro estacionado na rua e, irritada, vai até o carro com várias caixas de ovos, sujando todo o carro de ovos quebrados. Sem controle ela sobe em cima do carro, e convida Michael para fazer o mesmo, ou seja, atirar ovos no carro, numa brincadeira irreverente, porém totalmente impulsionada pela bebida. Finalmente, Michael cede ao pedido e ambos brincam como duas crianças brincam na lama. Porém, ele não ficou satisfeito com isso...

Dia seguinte, depois do trabalho, onde Alice é professora, sua amiga Pam, pede para falar com ela, pois está com problemas com o namorado e precisa desabafar. As duas vão para um bar vizinho e lá, acabam bebendo uns drinks, o que faz com que Alice chegue em casa muito tarde da noite e totalmente embriagada. Michael reclama e pergunta por onde ela andou, então ela lhe conta que bebeu porque havia saído com a amiga. Em seguida, após ver que não fora apenas pelos simples fato de ter saído com Pam, porém por não ter conseguido ficar sem beber, começa a procurar desculpa culpando o tipo de trabalho e a ausência do marido, que vive viajando. Quando Alice começa a falar na ausência constante de Michael, ele sente-se culpado por não estar presente para dar, o suporte necessário que ela precisa, assim como também às suas duas filhas, Casey de 4 e Jess de 6 anos. Então ele sugere que ambos tirem uma temporada curta de férias, longe de tudo e de todos, com o objetivo da esposa melhorar.

No primeiro passeio de barco, já no recanto de férias, Alice já tinha bebido mais que o suficiente pelo dia todo. Cai do barco e quase morre afogada, não tivesse Michael resgatado-a com muita sorte. Depois deste incidente, os dois conversam pela primeira vez, após tanto tempo, sobre o vício e sobre o que realmente está acontecendo.
- Você me assustou ontem, querida. Você não assustou a si mesma? Indaga Michael.
- Vou parar de beber tanto. Ontem à noite foi a melhor coisa que aconteceu. Isso me abriu os olhos. Te prometo. Prometo a mim mesma.

Alice e Michael retornam das férias e, já na primeira noite após a volta, ela começa a sentir o drama com mais intensidade. Dorme mal, levanta-se no meio da noite, procurando uma garrafa de Vodka que havia escondido e vai jogá-la no lixo. Nesse momento, a irresistível vontade de beber é maior e então ela bebe toda a garrafa antes de jogá-la vazia, no lixo.

Está aí confirmado seu estado de abstinência, pois não pôde evitar mais a ausência do álcool. O pior é que Alice não pode ocultar essa passagem do marido que dormia, pois sem querer, a porta se trancou por dentro e ela não pôde entrar, tendo que tocar a campainha para que ele viesse abrir a porta para ela. Quando ele abre a porta, ela metade trôpega e metade sem jeito para qualquer desculpa, diz
- Bem, está tudo bem lá na calçada. Compulsão por lixo. Mas, me sinto muito melhor agora. Nesse sentido, não sabemos se ela foi irônica consigo mesma ou se quis se justificar ao marido ou se queria dizer que a droga é um lixo. Quem sabe, ambos.

Na manhã seguinte é visível o nervosismo, a ansiedade de Alice, que são outras fortes características do alcoolismo. Sua irritação e inquietação são tão notórias que começa a implicar com Jess, proibindo-a de ir à casa de sua colega de escola, impasse esse resolvido por Michael, o que a irrita mais ainda.

Finalmente, Michael viaja e já nessa primeira oportunidade, Alice já chega embriagada em casa. Preocupada com o estado da mãe, Jess a segue e pergunta se ela está doente, quando a vê ingerir várias pílulas de aspirina com Vodka. Alice, em contra-partida esbofeteia a filha e manda-lhe fazer suas tarefas. A garota sai correndo e chorando para seu quarto. Em seguida Alice vai tomar banho, porém começa a passar mal, ter convulsões e então, sem controle cai por cima da aporta de vidro do banheiro. Jess consegue localizar o pai, em outro Estado, pois havia viajado como piloto e lhe diz por telefone que sua mãe está morta. Nesse momento, o drama familiar se configura e parece ser maior do que a da alcoólatra, pois o estado da própria doente, não é maior do que o drama psicológico vivido por Jess e Michael, que desesperado ruma para casa, achando que sua esposa está mesmo morta.

QUANDO UM HOMEM AMA UMA MULHER


Quando um Homem Ama uma Mulher (II)
(Publicado no Jornal de Hoje, anteriormente)

Juarez Chagas


Continuando a triste trajetória de Alice Green, personagem fictícia vivida por Meg Ryan no filme que leva o título deste artigo, vimos que ela, literalmente embriagada e sem o mínimo domínio do corpo e mente, após cair com todo o corpo por cima da divisória de vidro do banheiro, ficou inerte estirada no chão, como se morta estivesse.

Quando Alice acorda no hospital, Michael está ao seu lado, chorando discretamente. Assim que ela acorda ele a beija, demonstrando afeto e não pena. Esse momento é importante, pois o doente de alcoolismo já se sente rejeitado por si só e não suportaria o sentimento de piedade por parte dos outros. Outro momento importante do filme é quando Alice, finalmente admite e confessa estar doente. Ela diz que bateu em Jess, diz que bebe sem parar, que começa às 4hs da madrugada e continua durante o dia todo. Admite que bebe no banheiro, no armário, no quarto das meninas e em todos os lugares da casa.
- Bebo Vodka pra você não sentir o cheiro. Michael ouve tudo atentamente.
- Tenho que ficar alta pra conseguir fazer qualquer coisa. Tenho muito medo o tempo todo. Nesse momento, Alice admite a dependência. Admitir a dependência já é uma forma de pedir ajuda, pois sozinha não conseguirá sair do vício, uma vez que se encontra refém da bebida, uma das maiores drogas veladas, do planeta, que destrói sua vítima lentamente, quando provoca acidentes, suicídio ou homicídio.
- O que vou fazer? Ela pergunta chorando.
- Vamos pensar em algo. Não quero que se preocupe com isso. Vamos encontrar o melhor tratamento que existe. Você não está sozinha. Nunca.
Nesse ponto, numa cena emocionante, o filme deixa bem claro a fundamental importância do apoio e da ajuda, sem a qual o paciente jamais teria êxito. Nesse caso, claro o amor de Michael pela esposa é incondicional e ela sabe disso e se sente segura.
Chega o dia do internato de Alice. Antes de sair de casa ela sente a necessidade e o dever de falar com Cassey e Jess e, principalmente, pedir perdão a Jess por tê-la agredido. A garota ainda está muito ressentida e não diz uma só palavra na despedida. Ou seja, revolta, sentimento de mágoa e outras características das seqüelas do alcoolismo, que sem exceção acomete toda a família. O trauma que Jess sente é algo devastador para uma criança.
Ao chegar na clínica, Alice quase desiste, pois logo de entrada, tem que obedecer às normas do tratamento, tais quais, revista de sua bolsa (onde foi encontrado um vidro de perfume com bebida), não dá telefonemas e subir sozinha para a primeira entrevista. Ela quase desiste, mas Michael lhe convence a encarar a situação. Ela lentamente se vê entrando no período de desintoxicação.

O internamento de Alice, não trouxe adaptações somente para ela. Trouxe para toda a família. Michael teve que mudar sua rotina de vida e as garotas também, pois eles agora precisam cuidar melhor uns dos outros e da casa. Jess, com apenas seis anos, resolve assumir a cozinha e tomar conta de Cassey, sua irmã caçula de 4 anos.
Dra. Mendez, uma conselheira da clínica, acompanha Alice na “síndrome de abstinência”, quando ela tem suas primeiras reações de desintoxicação e a estimula a agüentar firme durante os primeiros dias. No terceiro dia é que Alice é permitida a fazer uma ligação para casa e falar com Michael. Ela chora muito e diz que está sendo muito difícil.

Chega o Domingo de visita e Michael e as meninas dividem o tempo com Alice que parece feliz, porém muito apreensiva, se sentido como um animalzinho parcialmente preso. Na comunidade dos pacientes da clínica, Michael observa que ele não está sendo valorizado por Alice que está dando mais atenção a seus novos amigos do que a ele mesmo. Alice nesse contexto, divide com os amigos momentos de confidencias que Michael não pode lhe proporcionar. Ele sente isso e fica incomodado.

Chega o dia de Alice ir embora. Dra. Mendez está com ela na ultima conversa. Ela diz que está com medo e que não sabe o que a aguarda, pois chegou uma pessoa e está saindo outra. Nesse sentido, vimos que a recuperação também causa uma certa “institucionalização” do paciente. Ela se imagina uma outra pessoa que sente deixar seu novo lar. Quando retorna para casa, tudo parece normal, porém Alice nota que não foi apenas ela que mudou, mas todo mundo. Ela se sente como tendo, perdido seu “lugar de esposa, mãe e de dona de casa”, pois Michael agora parece querer resolver tudo sozinho. Problemas com as meninas, com a casa, tudo ele quer resolver. Resultado: acabam na terapia de casal, pois sua nova vida lhe traz também novos conflitos, antes inexistentes.
Os dois discutem sobre o momento que estão passando. Alice diz que Michael a culpa por tudo e que se sente estúpida do mesmo jeito que antes. Surge assim um outro problema que ambos não estão sabendo resolver. Então, Michael resolve ir embora e sai de casa.

Chega o dia do depoimento final de Alice na instituição onde estivera internada. Ela começa se apresentando e dizendo que nesse dia completa 184 dias sem beber. Seu depoimento é simplesmente emocionante. Diz que se sente recuperada, mas, que o álcool lhe roubou o que mais amava, seu esposo. Também roubou sua vida.Todos os presentes a aplaudem de pé. Michael também se encontra na platéia e vem recebê-la, para sua surpresa e felicidade. Como a própria música tema do filme diz, quando um homem ama uma mulher, tudo faz pra lhe fazer feliz.