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29 de mai. de 2008

QUANDO UM HOMEM AMA UMA MULHER


Quando um Homem Ama uma Mulher (II)
(Publicado no Jornal de Hoje, anteriormente)

Juarez Chagas


Continuando a triste trajetória de Alice Green, personagem fictícia vivida por Meg Ryan no filme que leva o título deste artigo, vimos que ela, literalmente embriagada e sem o mínimo domínio do corpo e mente, após cair com todo o corpo por cima da divisória de vidro do banheiro, ficou inerte estirada no chão, como se morta estivesse.

Quando Alice acorda no hospital, Michael está ao seu lado, chorando discretamente. Assim que ela acorda ele a beija, demonstrando afeto e não pena. Esse momento é importante, pois o doente de alcoolismo já se sente rejeitado por si só e não suportaria o sentimento de piedade por parte dos outros. Outro momento importante do filme é quando Alice, finalmente admite e confessa estar doente. Ela diz que bateu em Jess, diz que bebe sem parar, que começa às 4hs da madrugada e continua durante o dia todo. Admite que bebe no banheiro, no armário, no quarto das meninas e em todos os lugares da casa.
- Bebo Vodka pra você não sentir o cheiro. Michael ouve tudo atentamente.
- Tenho que ficar alta pra conseguir fazer qualquer coisa. Tenho muito medo o tempo todo. Nesse momento, Alice admite a dependência. Admitir a dependência já é uma forma de pedir ajuda, pois sozinha não conseguirá sair do vício, uma vez que se encontra refém da bebida, uma das maiores drogas veladas, do planeta, que destrói sua vítima lentamente, quando provoca acidentes, suicídio ou homicídio.
- O que vou fazer? Ela pergunta chorando.
- Vamos pensar em algo. Não quero que se preocupe com isso. Vamos encontrar o melhor tratamento que existe. Você não está sozinha. Nunca.
Nesse ponto, numa cena emocionante, o filme deixa bem claro a fundamental importância do apoio e da ajuda, sem a qual o paciente jamais teria êxito. Nesse caso, claro o amor de Michael pela esposa é incondicional e ela sabe disso e se sente segura.
Chega o dia do internato de Alice. Antes de sair de casa ela sente a necessidade e o dever de falar com Cassey e Jess e, principalmente, pedir perdão a Jess por tê-la agredido. A garota ainda está muito ressentida e não diz uma só palavra na despedida. Ou seja, revolta, sentimento de mágoa e outras características das seqüelas do alcoolismo, que sem exceção acomete toda a família. O trauma que Jess sente é algo devastador para uma criança.
Ao chegar na clínica, Alice quase desiste, pois logo de entrada, tem que obedecer às normas do tratamento, tais quais, revista de sua bolsa (onde foi encontrado um vidro de perfume com bebida), não dá telefonemas e subir sozinha para a primeira entrevista. Ela quase desiste, mas Michael lhe convence a encarar a situação. Ela lentamente se vê entrando no período de desintoxicação.

O internamento de Alice, não trouxe adaptações somente para ela. Trouxe para toda a família. Michael teve que mudar sua rotina de vida e as garotas também, pois eles agora precisam cuidar melhor uns dos outros e da casa. Jess, com apenas seis anos, resolve assumir a cozinha e tomar conta de Cassey, sua irmã caçula de 4 anos.
Dra. Mendez, uma conselheira da clínica, acompanha Alice na “síndrome de abstinência”, quando ela tem suas primeiras reações de desintoxicação e a estimula a agüentar firme durante os primeiros dias. No terceiro dia é que Alice é permitida a fazer uma ligação para casa e falar com Michael. Ela chora muito e diz que está sendo muito difícil.

Chega o Domingo de visita e Michael e as meninas dividem o tempo com Alice que parece feliz, porém muito apreensiva, se sentido como um animalzinho parcialmente preso. Na comunidade dos pacientes da clínica, Michael observa que ele não está sendo valorizado por Alice que está dando mais atenção a seus novos amigos do que a ele mesmo. Alice nesse contexto, divide com os amigos momentos de confidencias que Michael não pode lhe proporcionar. Ele sente isso e fica incomodado.

Chega o dia de Alice ir embora. Dra. Mendez está com ela na ultima conversa. Ela diz que está com medo e que não sabe o que a aguarda, pois chegou uma pessoa e está saindo outra. Nesse sentido, vimos que a recuperação também causa uma certa “institucionalização” do paciente. Ela se imagina uma outra pessoa que sente deixar seu novo lar. Quando retorna para casa, tudo parece normal, porém Alice nota que não foi apenas ela que mudou, mas todo mundo. Ela se sente como tendo, perdido seu “lugar de esposa, mãe e de dona de casa”, pois Michael agora parece querer resolver tudo sozinho. Problemas com as meninas, com a casa, tudo ele quer resolver. Resultado: acabam na terapia de casal, pois sua nova vida lhe traz também novos conflitos, antes inexistentes.
Os dois discutem sobre o momento que estão passando. Alice diz que Michael a culpa por tudo e que se sente estúpida do mesmo jeito que antes. Surge assim um outro problema que ambos não estão sabendo resolver. Então, Michael resolve ir embora e sai de casa.

Chega o dia do depoimento final de Alice na instituição onde estivera internada. Ela começa se apresentando e dizendo que nesse dia completa 184 dias sem beber. Seu depoimento é simplesmente emocionante. Diz que se sente recuperada, mas, que o álcool lhe roubou o que mais amava, seu esposo. Também roubou sua vida.Todos os presentes a aplaudem de pé. Michael também se encontra na platéia e vem recebê-la, para sua surpresa e felicidade. Como a própria música tema do filme diz, quando um homem ama uma mulher, tudo faz pra lhe fazer feliz.

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