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2 de ago. de 2008

O PUNHAL DE LAMPIÃO

O Punhal de Lampião
(A Historia que não foi contada)
Juarez Chagas


VI Parte
Mais vale um punhal na mão do que dois na cintura...

Voltando ao presente, repentinamente, foi como se os olhos do velho agora voltassem do passado e pudessem ver o momento e todas aquelas pessoas ao seu redor, ouvindo sua história. Foi como se estivesse acordado de um sonho distante, como se estivesse sedado pela memória do tempo. O Diretor das filmagens, sorrindo lhe faz a seguinte pergunta.
- Pra terminar...o senhor tem alguma prova do que está dizendo, ou algo que pertenceu a Lampião e que não esteja aqui neste museu? Um membro da equipe começa a balançar a cabeça e fala, contestando a pergunta.
- Ora, ora...nada a ver, cara. Quer prova mais que essa história? A equipe vibra e começa a bater palmas, aplaudindo. E todos parecem comemorar o grande achado.
- Demais, pessoal! Foi a surpresa do ano! Vamos mesclar nosso roteiro com essa história real, já que ficção e realidade sempre caminham juntas. Já tenho até o título na cabeça: “Lampião, a história que não foi contada!”. Mais palmas se ouve, enquanto o velhinho aproveita o momento de euforia de todos, para sair dali de mansinho. Aquela euforia besta não lhe interessa. E realmente consegue sair sem ser notado.

O velho ainda não acabara de descer as escadas do museu, quando é abordado por dois trombadinhas, de canivetes em punho e dois pares de olhos assustados, lhe abordando.
- É um assalto vovô. Passa a grana. Passa!! O velhinho olha os dois trombadinhas e, de repente, saca um punhal por dentro da cintura (de cabo de madrepérola) e mostra para os dois rapazolas que, pasmos olham o punhal e, sem querer, comparam com seus pequenos canivetes. Entreolham-se por um instante e “desabam” em disparada, gritando mamãe. O velhinho olha para o punhal com um sorriso silencioso e diz a si mesmo.
- “Mas, certamente não me salvará da terceira, Virgulino” .
Ele estava certo, pois dois dias depois, após nossa última conversa, tem um infarto fulminante e morre como um bravo. Seu punhal, o punhal de Lampião me foi dado por ele mesmo como lembrança. Até parece que sabia que ia morrer...

Pra terminar, dizem que sou um bom contador de estórias e histórias e que às vezes, misturo uma com a outra, fato comum hoje em dia. Todavia, se o leitor for bem informado, vai saber diferenciar a história na ou da estória e vice-versa.

Mas, o mais importante dessa narrativa, é que, em nosso Estado do Rio Grande do Norte, não foi somente Mossoró que enfrentou Lampião, como muitos dizem. Pois, vindo da Paraíba, pra chegar até lá, Virgulino e seus capangas passaram por muitos lugares do Estado. E, com certeza, não apenas rezaram para o Padrinho Padre Cícero do Juazeiro, no meio do caminho, não. Prova disso foi meu amigo ZéRaimundo que, embora hoje cantado em cordel e contado em ficção, não somente enfrentou o cangaceiro, mas também conviveu com ele, embora levado pelas circunstancias da vida.

Meu nome é Adelino Sebastião. Mas, não adianta dizer o nome de batismo, pois todo mundo só me conhece como Bastião da Serra Grande, o contador de estórias. Sou mesmo, com muito orgulho e o quê que tem?

FIM

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