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30 de mai. de 2008

O CORPO OCULTO



UMA HISTÓRIA QUE VAI ALÉM DO CORPO
E DO ESPÍRITO
(Uma tese Acadêmica transformada em ficção)


* Por Waleska Maux


O biólogo, psicólogo e professor universitário Juarez Chagas, disponibiliza na Paraíba (Livraria Siciliana) a obra “C.D, O Corpo Oculto” (223 págs, A.S.Livros), uma ficção romanceada que traz à tona o valor do descobrimento dos valores da condição e natureza humanas, porém cheia de ardilosas tramas que permeiam do imaginário à realidade dos protagonistas, onde o corpo também serve de interface na história e do próprio desenvolvimento humano.

No livro, através do ‘cadáver desconhecido’, o autor aborda a questão da morte, tratada de forma quase acadêmica, porém como lição de vida e de sua importância na trajetória da humanidade. Trata-se de uma história de amor inspirada nas possibilidades do Destino sobre a natureza humana. Uma trama de vingança incomum numa família, temperada pela inveja e suas devastadoras conseqüências. Uma história que transita pelos mistérios da vida após a morte, para falar da força e do valor da amizade, além do poder misterioso do espírito sobre todas as demais energias capazes de formar e desintegrar os seres em nosso universo.

A história de Douglas Santos, um jovem que, de forma cruel e inesperada, vê-se impedido de viver um grande amor, vítima de um plano diabólico. Sobrevivendo à morte, no plano espiritual, ele retorna na pele e corpo do Cadáver Desconhecido (pois é enviando como tal, para uma universidade, para ser dissecado nas aulas de anatomia). O livro, segundo o autor, faz lembrar tramas como os clássicos de alguns personagens do gênero como A Múmia, Ghost, O Corvo e O Homem Sem Face, todos clássicos internacionais da literatura e também do cinema. Sobre o fenômeno da morte, cita o autor em um de seus trabalhos científicos: “Parece muito mais fácil saber e entender o que as pessoas sentem em relação à morte do que, propriamente, defini-la. Uma coisa é certa, por mais inaceitável e absurda que possa parecer na concepção pessoal de cada um, a morte complementa a vida, assim como o medo é o lado oposto da coragem e o mal do bem, formando ambas, no entanto, um todo”. Impressões O Corpo Oculto prende o leitor do inicio ao fim da trama.

Douglas, personagem simpático e de temperamento calmo e controlado, é vitima da trama ardilosa de um primo ambicioso, que consegue ceifar sua vida precocemente. Interessante também, a sensibilidade de Pitágoras, técnico de laboratório, que nutre um zelo afetuoso pelos cadáveres da Universidade. Entre ele e Douglas, cria-se um laço de afeto e amizade ultrapassando as barreiras da vida e da morte. Pitágoras lembra uma versão moderna de Quasímodo, segundo nos fala o autor. A ambição é abordada em vários campos, inclusive no meio acadêmico, assim como os requintes de crueldade do psicopata Teobaldo, primo do personagem principal do livro, que chega a dissecar alguns inimigos, num ritual pra lá de cruel.

O livro não é de terror, ao contrário, mostra-nos a face negra da morte e a face oculta do amor, num duelo que busca o equilíbrio das duas forças. Não deixa de nos provar que, tanto a morte como o amor, são formas de desenvolvimento do ser humano. Força oculta.

Vale a pena mergulhar neste enredo que traz o bem e o mal ao mesmo cenário e confronta-os num espiritual campo de batalha. Em um dos capítulos, viajamos ao Fantasma da ópera, através de um grande concerto que tem, entre seus participantes, por alguns instantes, o adorável Douglas, que incorpora num corpo sem vida, o talento que lhe é peculiar para agradar a sua amada que está na platéia, através da execução de Vozes da Primavera, de Strauss. Emocionante... Quem gosta das coisas do amor e quem quer entender mais sobre a morte como desenvolvimento humano, eis um bom livro.

Quem é o autor

Biólogo, psicólogo, professor universitário e escritor. Ao longo de sua carreira como professor de Anatomia Comparada, na Universidade Federal do RN, escreveu “Anatomia Comparativa dos Vertebrados, publicado pela Editora Universitária da UFRN. Em 2001, recebeu o premio de melhor argumento/roteiro ao filme na II Mostra de Vídeo no FestNatal com o video “O outro lado da Esquina” .

Desde 2004, Chagas é articulista do Jornal de Hoje (RN), onde escreve sobre assuntos diversos, em especial, abordando a Tanatologia (estudos sobre o fenômeno da morte). Em 2006 lançou com sucesso seu primeiro livro de ficção romanceada “C.D, o Corpo Oculto”, o qual teve excelente repercussão no meio literário local. Embora esteja no Brasil estes meses, atualmente cursa doutorado em terras lusitanas, defendo tese que aborda a Psicologia Social.

Onde encontrar o livro:

Siciliano, Poty, Cooperativa Cultural (Natal)
Prefácio Livros: Tambiá Shopping – Centro e Mag Shopping Manaíra (João Pessoa)

* Jornalista
(Divulgadora de lançamentos de Autores do Rn, Pb e outros Estados brasileiros)

PISTOLEIRO DO PÔR-DO-SOL



PISTOLEIRO DO PÔR-DO-SOL
(The Real Last Gunfighter)


Juarez Chagas

Ter encarado o desafio de escrever um romance ao estilo do velho Oeste (diferentemente dos romances e ficção contemporânea que escrevo) foi uma idéia que surgiu com o tempo. Havia muita coisa background que suportava esse projeto, como ter lido a maioria dos romances de Zane Grey e outros grandes romancistas do velho Oeste americano, referências inspiradoras do gênero. O fascinante mundo das Histórias em Quadrinhos dos clássicos westerns com seus heróis de papel fascinantes que eram incansavelmente lidos, desenhados e colecionados também serviram de inspiração. Adicione-se a isso a importante possibilidade de escreverr também sobre outros temas que não apenas romances contemporâneos.


Portanto, apresento (já lançado nas livrarias de Natal e João Pessoa), embora direcionado mais a um público específico, o Pistoleiro do Pôr-do-Sol, um romance no velho Oeste, onde a Natureza Humana é colocada à frente dos revólveres.

Um pouco da personagem:

Johnny Slim, filho de uma pacata família de fazendeiros, ao norte do Texas, segundo de uma prole de três irmãos, foi batizado John Scott River. Entretanto, por ter crescido mais do que os irmãos e, também pela magreza que apresentava na adolescência, passou a ser chamado carinhosamente de Slim (magro), pela família. Embora, depois, tenha se tornado um homem forte e robusto, Johnny Slim passou a ser seu verdadeiro nome.

Como fazendeiro que era, seu pai criava gado, tinha juntamente com os filhos e seus empregados rotina de cowboys, mesmo no início do século XX e promovia, inclusive rodeios. Em um desses rodeios, chegou a conhecer o próprio Buffalo Bill (William Frederick Cody), já no fim de sua carreira, em 1915, quando o mais famoso cavaleiro do Oeste, viajava com seu circo intinerante, representando a si mesmo como herói verdadeiro e de ficção. O sr. James Scott River gostava de contar que Slim, nessa ocasião ainda um garoto, apertou a mão de Bill, cumprimentando-o. Slim é o segundo filho e nasceu num dia de chuva, trazendo muita alegria para a família. Aos dezoito anos serve as forças armadas, onde aprende a usar armas de fogo e quando volta, passa a ser um verdadeiro cowboy e a defender seu território contra ladrões de gado e assassinos, que ainda existem nessa época em que os índios “se aposentam” e vivem de favores do governo e dos homens brancos.
Johnny Slim, senão o último, é um dos últimos pistoleiros do Oeste, pode-se dizer, dos tempos considerados modernos para a lei do revólver e tudo começa quando ele resolve procurar seu irmão mais novo, o qual teria sido aliciado por bandidos, enquanto ele servia o exército. Slim promete a seus pais que só voltaria pra casa quando encontrasse seu irmão, nem que para isso tenha que percorrer todo o Oeste. E como nunca consegue encontrá-lo, jamais retorna para a família. Em conseqüência disso, enquanto anda muito como um cavaleiro solitário, de um lugar para outro, encontra uma moça que lhe rouba o coração e vive muitas emocionantes aventuras.

Onde encontrar o livro:
Prefácio Livros: Tambiá Shopping – Centro e Mag Shopping Manaíra (João Pessoa)
Cooperativa Cultural (Campus) e Siciliano Midway Mall (Natal)

juachagas@gmail.com

29 de mai. de 2008

QUANDO UM HOMEM AMA UMA MULHER



Quando um Homem Ama uma Mulher
(Publicado no Jornal de Hoje, anteriormente)

Juarez Chagas


Recentemente conversamos sobre Guerra e Morte. Hoje vamos falar a respeito de Vida e Amor. Nada mais coerente, para se mostrar que a vida tem, predominantemente, suas duas faces, inúmeras fases e é no meio desse caminho que, muitas vezes questionamos seu destino, que nós humanos caminhamos e caminhamos até onde podemos.

“Quando Um Homem Ama Uma Mulher” (When a Man Loves a Woman, USA, 1994) é o título de um excelente filme, o qual se não faz a mais “dura e controlada” das pessoas chorar em algumas ou pelo menos numa de suas passagens emocionantes, no mínimo a fará refletir sobre perdas, amor, ganhos e, sobretudo, reconstituição da condição humana após fracassos, hoje mais discutida do que nunca, no âmbito da Psicologia.

O filme começa com a abertura da linda música homônima When a Man Loves a Woman (Percy Sledge), quando Michael (Andy Garcia) encontra sua mulher Alice (Meg Ryan) em um bar, onde marcaram para se encontrar e comerem algo, antes de rumarem para casa. Michael é piloto de bordo e acaba de chegar de viagem.

À noite saem para comemorar o aniversário de Alice e, em virtude disso, surge sua primeira recaída, pois ela adquirira o hábito de beber desde os nove anos de idade. Hábito esse herdado de seu pai, que era alcoólatra. Ao chegarem em casa, Alice irrita-se com o alarme de um carro estacionado na rua e, irritada, vai até o carro com várias caixas de ovos, sujando todo o carro de ovos quebrados. Sem controle ela sobe em cima do carro, e convida Michael para fazer o mesmo, ou seja, atirar ovos no carro, numa brincadeira irreverente, porém totalmente impulsionada pela bebida. Finalmente, Michael cede ao pedido e ambos brincam como duas crianças brincam na lama. Porém, ele não ficou satisfeito com isso...

Dia seguinte, depois do trabalho, onde Alice é professora, sua amiga Pam, pede para falar com ela, pois está com problemas com o namorado e precisa desabafar. As duas vão para um bar vizinho e lá, acabam bebendo uns drinks, o que faz com que Alice chegue em casa muito tarde da noite e totalmente embriagada. Michael reclama e pergunta por onde ela andou, então ela lhe conta que bebeu porque havia saído com a amiga. Em seguida, após ver que não fora apenas pelos simples fato de ter saído com Pam, porém por não ter conseguido ficar sem beber, começa a procurar desculpa culpando o tipo de trabalho e a ausência do marido, que vive viajando. Quando Alice começa a falar na ausência constante de Michael, ele sente-se culpado por não estar presente para dar, o suporte necessário que ela precisa, assim como também às suas duas filhas, Casey de 4 e Jess de 6 anos. Então ele sugere que ambos tirem uma temporada curta de férias, longe de tudo e de todos, com o objetivo da esposa melhorar.

No primeiro passeio de barco, já no recanto de férias, Alice já tinha bebido mais que o suficiente pelo dia todo. Cai do barco e quase morre afogada, não tivesse Michael resgatado-a com muita sorte. Depois deste incidente, os dois conversam pela primeira vez, após tanto tempo, sobre o vício e sobre o que realmente está acontecendo.
- Você me assustou ontem, querida. Você não assustou a si mesma? Indaga Michael.
- Vou parar de beber tanto. Ontem à noite foi a melhor coisa que aconteceu. Isso me abriu os olhos. Te prometo. Prometo a mim mesma.

Alice e Michael retornam das férias e, já na primeira noite após a volta, ela começa a sentir o drama com mais intensidade. Dorme mal, levanta-se no meio da noite, procurando uma garrafa de Vodka que havia escondido e vai jogá-la no lixo. Nesse momento, a irresistível vontade de beber é maior e então ela bebe toda a garrafa antes de jogá-la vazia, no lixo.

Está aí confirmado seu estado de abstinência, pois não pôde evitar mais a ausência do álcool. O pior é que Alice não pode ocultar essa passagem do marido que dormia, pois sem querer, a porta se trancou por dentro e ela não pôde entrar, tendo que tocar a campainha para que ele viesse abrir a porta para ela. Quando ele abre a porta, ela metade trôpega e metade sem jeito para qualquer desculpa, diz
- Bem, está tudo bem lá na calçada. Compulsão por lixo. Mas, me sinto muito melhor agora. Nesse sentido, não sabemos se ela foi irônica consigo mesma ou se quis se justificar ao marido ou se queria dizer que a droga é um lixo. Quem sabe, ambos.

Na manhã seguinte é visível o nervosismo, a ansiedade de Alice, que são outras fortes características do alcoolismo. Sua irritação e inquietação são tão notórias que começa a implicar com Jess, proibindo-a de ir à casa de sua colega de escola, impasse esse resolvido por Michael, o que a irrita mais ainda.

Finalmente, Michael viaja e já nessa primeira oportunidade, Alice já chega embriagada em casa. Preocupada com o estado da mãe, Jess a segue e pergunta se ela está doente, quando a vê ingerir várias pílulas de aspirina com Vodka. Alice, em contra-partida esbofeteia a filha e manda-lhe fazer suas tarefas. A garota sai correndo e chorando para seu quarto. Em seguida Alice vai tomar banho, porém começa a passar mal, ter convulsões e então, sem controle cai por cima da aporta de vidro do banheiro. Jess consegue localizar o pai, em outro Estado, pois havia viajado como piloto e lhe diz por telefone que sua mãe está morta. Nesse momento, o drama familiar se configura e parece ser maior do que a da alcoólatra, pois o estado da própria doente, não é maior do que o drama psicológico vivido por Jess e Michael, que desesperado ruma para casa, achando que sua esposa está mesmo morta.

QUANDO UM HOMEM AMA UMA MULHER


Quando um Homem Ama uma Mulher (II)
(Publicado no Jornal de Hoje, anteriormente)

Juarez Chagas


Continuando a triste trajetória de Alice Green, personagem fictícia vivida por Meg Ryan no filme que leva o título deste artigo, vimos que ela, literalmente embriagada e sem o mínimo domínio do corpo e mente, após cair com todo o corpo por cima da divisória de vidro do banheiro, ficou inerte estirada no chão, como se morta estivesse.

Quando Alice acorda no hospital, Michael está ao seu lado, chorando discretamente. Assim que ela acorda ele a beija, demonstrando afeto e não pena. Esse momento é importante, pois o doente de alcoolismo já se sente rejeitado por si só e não suportaria o sentimento de piedade por parte dos outros. Outro momento importante do filme é quando Alice, finalmente admite e confessa estar doente. Ela diz que bateu em Jess, diz que bebe sem parar, que começa às 4hs da madrugada e continua durante o dia todo. Admite que bebe no banheiro, no armário, no quarto das meninas e em todos os lugares da casa.
- Bebo Vodka pra você não sentir o cheiro. Michael ouve tudo atentamente.
- Tenho que ficar alta pra conseguir fazer qualquer coisa. Tenho muito medo o tempo todo. Nesse momento, Alice admite a dependência. Admitir a dependência já é uma forma de pedir ajuda, pois sozinha não conseguirá sair do vício, uma vez que se encontra refém da bebida, uma das maiores drogas veladas, do planeta, que destrói sua vítima lentamente, quando provoca acidentes, suicídio ou homicídio.
- O que vou fazer? Ela pergunta chorando.
- Vamos pensar em algo. Não quero que se preocupe com isso. Vamos encontrar o melhor tratamento que existe. Você não está sozinha. Nunca.
Nesse ponto, numa cena emocionante, o filme deixa bem claro a fundamental importância do apoio e da ajuda, sem a qual o paciente jamais teria êxito. Nesse caso, claro o amor de Michael pela esposa é incondicional e ela sabe disso e se sente segura.
Chega o dia do internato de Alice. Antes de sair de casa ela sente a necessidade e o dever de falar com Cassey e Jess e, principalmente, pedir perdão a Jess por tê-la agredido. A garota ainda está muito ressentida e não diz uma só palavra na despedida. Ou seja, revolta, sentimento de mágoa e outras características das seqüelas do alcoolismo, que sem exceção acomete toda a família. O trauma que Jess sente é algo devastador para uma criança.
Ao chegar na clínica, Alice quase desiste, pois logo de entrada, tem que obedecer às normas do tratamento, tais quais, revista de sua bolsa (onde foi encontrado um vidro de perfume com bebida), não dá telefonemas e subir sozinha para a primeira entrevista. Ela quase desiste, mas Michael lhe convence a encarar a situação. Ela lentamente se vê entrando no período de desintoxicação.

O internamento de Alice, não trouxe adaptações somente para ela. Trouxe para toda a família. Michael teve que mudar sua rotina de vida e as garotas também, pois eles agora precisam cuidar melhor uns dos outros e da casa. Jess, com apenas seis anos, resolve assumir a cozinha e tomar conta de Cassey, sua irmã caçula de 4 anos.
Dra. Mendez, uma conselheira da clínica, acompanha Alice na “síndrome de abstinência”, quando ela tem suas primeiras reações de desintoxicação e a estimula a agüentar firme durante os primeiros dias. No terceiro dia é que Alice é permitida a fazer uma ligação para casa e falar com Michael. Ela chora muito e diz que está sendo muito difícil.

Chega o Domingo de visita e Michael e as meninas dividem o tempo com Alice que parece feliz, porém muito apreensiva, se sentido como um animalzinho parcialmente preso. Na comunidade dos pacientes da clínica, Michael observa que ele não está sendo valorizado por Alice que está dando mais atenção a seus novos amigos do que a ele mesmo. Alice nesse contexto, divide com os amigos momentos de confidencias que Michael não pode lhe proporcionar. Ele sente isso e fica incomodado.

Chega o dia de Alice ir embora. Dra. Mendez está com ela na ultima conversa. Ela diz que está com medo e que não sabe o que a aguarda, pois chegou uma pessoa e está saindo outra. Nesse sentido, vimos que a recuperação também causa uma certa “institucionalização” do paciente. Ela se imagina uma outra pessoa que sente deixar seu novo lar. Quando retorna para casa, tudo parece normal, porém Alice nota que não foi apenas ela que mudou, mas todo mundo. Ela se sente como tendo, perdido seu “lugar de esposa, mãe e de dona de casa”, pois Michael agora parece querer resolver tudo sozinho. Problemas com as meninas, com a casa, tudo ele quer resolver. Resultado: acabam na terapia de casal, pois sua nova vida lhe traz também novos conflitos, antes inexistentes.
Os dois discutem sobre o momento que estão passando. Alice diz que Michael a culpa por tudo e que se sente estúpida do mesmo jeito que antes. Surge assim um outro problema que ambos não estão sabendo resolver. Então, Michael resolve ir embora e sai de casa.

Chega o dia do depoimento final de Alice na instituição onde estivera internada. Ela começa se apresentando e dizendo que nesse dia completa 184 dias sem beber. Seu depoimento é simplesmente emocionante. Diz que se sente recuperada, mas, que o álcool lhe roubou o que mais amava, seu esposo. Também roubou sua vida.Todos os presentes a aplaudem de pé. Michael também se encontra na platéia e vem recebê-la, para sua surpresa e felicidade. Como a própria música tema do filme diz, quando um homem ama uma mulher, tudo faz pra lhe fazer feliz.

O QUE É A MORTE?


O Que é a Morte ?
(Publicado no Jornal de Hoje, anteriormente)

Juarez Chagas

A princípio, esta parece ser uma pergunta fácil de se responder, mas não é. Tanto é verdade essa afirmação que até hoje não temos uma definição adequada para a morte, apesar da mesma ser tão ou mais antiga do que a própria vida, à qual sempre busca exterminar.
Parece que, assim como a sol e a lua, a noite e o dia, o bem e o mal, o masculino e o feminino e todas as dualidades e simetrias, mesmo paradoxalmente heterogêneas, se é que assim podemos chamá-las, a morte também já surgiu com a vida, para ser seu lado simétrico e ao mesmo tempo antagônico, por ser exatamente o oposto, mas também, em conjunto formar o seu inteiro, encerrando o ciclo vital das plantas, animais e seres humanos.

Popularmente falando, vejamos como Aurélio Buarque conceitua a morte: “Morte. S.f.1. Ato de morrer; o fim da vida animal ou vegetal. 2. Termo, fim. 3. destruição, ruína. 4. fig. Grande dor; pesar profundo. 5. entidade imaginária da crendice popular, representada em geral por um esqueleto, armado de uma foice com que ceifa as vidas”.

Mas, entendemos que este é um conceito gramaticalmente técnico e que sua definição não contempla nem engloba todo o seu conteúdo significativo e fica, portanto, a necessidade de uma compreensão mais profunda, no sentido de entender, de certa forma, a ansiedade em virtude do desconhecimento, permanecendo,muitas vezes, as mesmas dúvidas e questões, tais quais: como outras culturas e grupos sociais definem a morte? Como seria a vida sem a morte? Nosso Planeta suportaria seres imortais sem renovação do ciclo vital? E quanto à superpopulação? Teríamos espaço, água, ar e alimento suficientes para todos e mais ainda para os que nasceriam a cada instante? Como seria a convivência entre seres imortais? Parece que uma das respostas é a constatação de que a morte não é apenas algo inevitável, porém também necessário, assim como a própria vida, em sua seleçao natural.

A filosofia oriental nos ensina que devemos conhecer o yin e o yang, o claro e o escuro, o positivo e o negativo, o bem e o mal, o feio e o belo...para que possamos viver em equilíbrio. O ocidente tenta combater a morte com unhas e dentes! As demais culturas dos diferentes povos têm sua própria maneira de ver, encarar, tentar evitar ou se esconder da morte. Esta sem piedade, complacência ou adjetivos específicos, determina até onde a vida de nós humanos deve ir. Isso, é inegável dizer, atemoriza a quase totalidade dos seres humanos, que são os únicos indivíduos na face da terra conscientes de sua própria morte, gerando tal comportamento, pois não fomos preparados para aceitar esse fato de modo diferente. Ao contrário, fomos preparados para temer a morte, tentar evitá-la e até excluí-la de nosso pensamento e imaginação, na tentativa de vivermos mais tranqüilos. Mas, como evitar algo que está presente, não somente em nosso consciente, mas paralelamente lado a lado às nossas vidas? Esse sentimento é tão forte que acaba por constituir-se em uma das únicas certezas de nosso Destino sobre a face da terra, tendo originado o tão popular adágio: “ A morte é a única certeza que temos da vida!”.

Bem sabemos que, enquanto o Oriente procura entender a morte no campo espiritual e para ela se preparar. O Ocidente a vê como sua pior inimiga e procura cada vez mais combatê-la com experimentos e tecnologia, argumentando que a revolução biomédica sobrepujará, em breve, sobre a doença, mantendo cada vez mais fortes os processos vitais orgânicos, tornando a velhice apenas um período mais saudável da vida e, assim transformando a morte em algo do passado.

Por outro lado, esse processo puramente científico que alimenta mais ainda o desejo da imortalidade, parece, segundo o pai da psicanálise não levar em conta a subjetividade humana em torno de seus conflitos existenciais, pois o próprio Freud chegou a afirmar “ É possível que a morte em si não seja uma necessidade biológica. Talvez morramos porque desejamos morrer. Assim como amor e ódio por alguém habitam nosso peito, assim também nossa vida conjuga o desejo de manter-se e um anseio pela própria destruição”.

Portanto, parece muito mais fácil saber e entender o que as pessoas sentem em relação à morte do que, propriamente, defini-la. Uma coisa é certa, por mais inaceitável e absurda que possa parecer na concepção pessoal de cada um, a morte complementa a vida, assim como o medo é o lado oposto da coragem e o mal do bem, formando ambas, no entanto, um todo. Mesmo parecendo paradoxal e antagônico, poderíamos dizer que um é o outro lado do outro, às avessas, embora formando um inteiro. Então, perguntas como estas mantêm todo o sentido que sempre tiveram: “O que seria do bem se não existisse o mal?”, ou “O que significaria o belo sem a existência do feio?”; “Que idéia teríamos do profundo se não existisse o superficial?” enfim, “Como seria a vida sem a morte?”

PATCH ADAMS, O AMOR É CONTAGIOSO



O Amor é Contagioso
(Publicado no Jornal de Hoje, anteriormente)

Juarez Chagas

Na verdade é assim que deveria ser o amor pela vida: contagioso. Por outro lado, para que se completasse o desejo quase utópico do ser humano sobre a busca do amor em sua plenitude, a vida também deveria ser contagiosa com amor, e o é. No filme Patch Adams, o Amor é Contagioso (Universal Pictures, USA 1998), vemos uma dessas vertentes, humanamente defendida por Hunter Patch Adams, um médico que, além da técnica curativa, crê no riso e no humor como remédio e alento para doentes, principalmente os desenganados pela medicina.

A princípio, Patch Adams lembra Elizabeth Klüber-Ross quando se trata da causa pelo tratamento humano do paciente. Quem leu os livros de Klüber-Ross e Patch Adams, pode identificar, de imediato, a similaridade entre ambos. Ross, já abordada em artigos anteriores (falecida há cinco anos atrás), médica por convicção em ajudar o próximo, aprendeu a lidar com perdas e a partir de sua própria formação ajudou milhões de pessoas a lidarem com a própria morte. É dela os estudos acadêmicos sobre as fases da morte e como encará-las.

O verdadeiro Patch Adams ( inspiração do filme que, mais uma vez prova o inquestionável talento de Robin Williams, por sinal ganhador do Oscar do filme homônimo), por sua vez graduou-se em medicina em 1971, teve como sua principal causa convencer as pessoas, principalmente colegas de profissão, sobre a interação entre medicina e humanização. “Quero ajudar. Quero me conectar com as pessoas. Médicos lidam com as pessoas nas horas mais vulneráveis. Ele oferece tratamento, mas também conselhos e esperança e é por isso que quero ser médico. O médico deve tratar o paciente além da doença”, diz seu personagem numa das falas do filme.

O Dr. Hunter Patch Adams é real e ainda muito bem vivo. Tem sido reverenciado e homenageado no mundo todo por suas ações e atitudes em ajudar as pessoas. Fundou o Instituto Gesunheit, um hospital humano e gratuito, com sua nova versão sendo agora construída em West Virginia, onde a medicina tradicional integra-se com a natureza, arte curativa, homeopatia, acupuntura, recreação, amizade e muito divertimento. Bem a cara de Patch, diriam todos.

Ainda, no que diz respeito ao filme, é ao mesmo tempo uma comédia e drama, assim como também um filme que enaltece o amor e a natureza humana. Uma excelente ficção baseada em fatos reais, o qual começa com Patch Adams viajando num ônibus, rumo a um hospital psiquiátrico, após tentar suicídio. Ao chegar no hospital é colocado num quarto com um doente mental e, a partir daí, passa a conviver com os demais doentes mentais da instituição, procurando se integrar e interagir com os mesmos, indistintamente.

Após sua entrevista individual com o médico psiquiatra que vai acompanhá-lo, é colocado para fazer tratamento em grupo. Ele começa a perceber o conflito de cada um de seus “colegas” e tenta ajudá-los penetrando em sua sintonia e seus problemas e tentando entender e viver suas próprias angústias. Evidentemente, que isso causa grande tumulto no hospital e então, resolve, a contra gosto do diretor do hospital, pedir alta, pois descobre ter agora um novo objetivo de vida: ser médico e tentar ajudar os outros!

Dois anos depois, ele se matricula na Universidade para cursar medicina. Acontece que a partir daí, Patch torna-se o grande problema da universidade e do hospital, pois passa a quebrar normas tradicionais com seu jeito irreverente de ser, mesmo sendo para ajudar os outros, principalmente os pacientes terminais. Suas atitudes pouco ortodoxas culminam com a construção de um hospital ao ar livre, mesmo não tendo ainda concluído o curso médico. E por isso é julgado academicamente, no sentido de ser expulso da universidade.Vejamos um dos diálogos de Patch, quando este é interpelado a justificar suas atitudes.

- Você considerou as conseqüências de suas ações? E se um de seus pacientes morresse? Indaga o presidente da comissão acadêmica julgadora.
- Qual o problema com a morte, senhor? De que temos tanto medo? Por que não tratar a morte com certa dignidade e decência e, Deus me perdoe, até mesmo humor? Morte não é o inimigo, senhores. Vamos lutar contra as doenças, vamos lutar contra a pior doença de todos, a indiferença. Eu freqüentei essas escolas e ouvi pessoas falarem de transferência e distanciamento. Transferência é inevitável. Todo ser humano afeta um ao outro. Por que não queremos isso entre paciente e médico? É por isso que considero seus ensinamentos errados. A missão do médico não deve ser prevenir a morte, mas também melhorar a qualidade de vida e para isso, se trata da doença sem ganhar ou perder. Se tratar a pessoa, eu lhes garanto, vai ganhar, não importa o desfecho!

Patch foi absolvido, estimulado a terminar o curso médico e ovacionado pela platéia de alunos e amigos da universidade, após o resultado de sua absolvição. Foi estimulado a ser médico e aplicar a mesma filosofia de trabalho. Posteriormente fundou seu próprio hospital, ao qual muitos outros médicos se juntaram pela boa causa humana.

A lição de Patch Adams deveria ser também contagiosa. Um excelente exemplo a ser seguido, principalmente por aqueles que ainda não atentaram para o espírito da humanidade. Quanto ao filme, mesmo para quem já assistiu, eu recomendo como divertimento e reflexao. Além da pipoca tenha um lenço consigo também, pois certamente irá rir e chorar.

Quantas Vezes Morremos Antes de Tanathos Chegar?

Quantas Vezes Morremos Antes de Tanathos Chegar?
(Publicado no Jornal de Hoje, anteriormente e no pt.shvoong.com/humanities/1752550)

Juarez Chagas


Estudos sobre a morte, depois de séculos de hibernação ainda iniciada na idade média, hibernação esta causada pelo medo, pavor, pânico que velaram este tão importante tema que diz respeito às nossas vidas e mais especificamente ainda, ao nosso comportamento frente ao social, finalmente, vêm chamando a atenção da comunidade acadêmica e, esperamos que muito em breve, saia do “anonimato paradoxalmente tão popular” para às esferas das discussões mais ecléticas possíveis.

O interesse em saber quem é essa personagem viva, embora sendo morte, cuja imagem personificada de esqueleto em seu cavalo, aflige e ceifa vidas com sua foice impiedosa e que, cedo ou tarde, nunca falha, sempre foi um dos mais complexos mistérios no consciente e inconsciente individual e coletivo do ser humano. Porém cabe uma simples pergunta lógica: se o interesse é tão vital, por que a morte ainda permanece um tabu, figura velada, oculta e intocável em seu misterioso mundo dos mortos, mas bem no âmago da vida humana, já que todos os dias, senão a todo instante, a vemos, temos contato com ela, através de suas ações? A resposta também parece simples e lógica: medo. Sim, é o medo que ela alastra mesmo antes de nos causar a própria morte! Pior ainda, pânico para muitos e angústia para tantos outros. Como diz a velha frase de William Dunbar: Timor mortis conturban me”, ou seja, a morte me deixa morto de medo.

A discussão, no entanto pode parecer contraditória, quando concordamos que um dos desejos da sociedade, sempre ávida por descobrir a verdade nua e crua de segredos e mistérios que tanta importância têm para o ser humano, por que a morte permanece ainda um tabu estigmatizado? Talvez a resposta esteja nas diferentes culturas, crenças, religiões que ao longo do tempo têm mantido esse assunto sob mantos de mistérios.

A morte surgiu com a vida e seria arriscado e impreciso afirmar o tempo de sua existência mesmo com as estimativas cronológicas apresentadas por fundamentações empíricas, teóricas e científicas sobre os fenômenos da Natureza. Entretanto, não é apenas o fato do morrer simplesmente que aflige o ser humano e sim quantas vezes morremos antes de sucumbirmos definitivamente.

Uma pesquisa recentemente realizada nesse sentido revelou a já esperada constatação de que não morremos apenas uma vez e sim várias vezes, pois existem mais do que razões para acreditarmos que antes de morrermos definitivamente, morremos inúmeras vezes, mesmo que não percebamos isso claramente. Essa constatação encontra embasamento, coerência e sustentação no incontestável fato de que a morte é uma separação, uma perda definitiva, uma infinita distância do ser e do ter. É a mais brusca e fatal das separações já experimentada pelo ser humano.
Mas, existem também outras separações e perdas no decorrer da vida do indivíduo que, se não o aniquila como a morte-mor o faz, conduzindo-o à lápide dos mortos, mata dentro de si, na alma, na mente, na sua subjetividade e até nos orgânicos processos vitais, que se caracterizam como outros tipos de mortes. Portanto, a pergunta do título “Quantas vezes morremos antes de Tanathos chegar?”, realmente procede, pois bem sabemos que, mitologicamente, Tanathos sendo o deus da morte, teria domínio sobre a vida das pessoas. Daí, tanatologia significar o estudo da morte, enquanto Eros é amor, vida.

Não é foco deste simples artigo discorrer sobre a cronologia da morte, seus tipos e suas causas, porém é importante dizer que o conceito e a personificação da morte é algo bastante diversificado, segundo as diversas sociedades e suas culturas. Por outro lado, isso tem dificultado sobremaneira um estudo linear e mais direto sobre o tema, fazendo com que a morte permaneça escondida em seu misterioso mundo oculto, isso porque nós mesmos a ocultamos, na esperança dela nos afastarmos e dela nos livrarmos.

Porém, retomando a questão abordada sobre as várias mortes pelas quais o indivíduo está fadado a passar e vivenciar ao longo de sua existência, tomemos o exemplo da Pequena Lucy, uma criança de família brasileira urbana, de classe média.

A pequena Lucy amava sua bonequinha de pano Florzinha, a qual ganhara quando completou três anos de idade. Até os oito anos nunca havia passado uma só noite que as duas não estivesse lado a lado, na cama trocando confidências, segredos e mistérios comuns ao mundo mágico das crianças. Mas, um dia Florzinha foi roubada por uma colega de escola de Lucy que viera, juntamente com outras amigas, fazer uma tarefa lúdica em sua casa. Ã noite, na hora de dormir, Lucy não encontrou Florzinha. Desesperada, depois de revirar quase todo o quarto e não encontrá-la, ela desoladamente diz, em prantos, para sua mãe. “Quero Florzinha! Quero minha boneca! Quero morrer!”. Com o passar dos dias e da certeza da perda de sua boneca, não apenas justificava suas frases, como algo já morrera em Lucy, dado o amor que ela dedicava a mesma. Amor este agora perdido. Ela passou a viver acabrunhada, triste e totalmente sem ânimo. Na verdade, a perda é uma morte, pois algo morrera em si...

Assim como o caso da pequena Lucy, todos os dias, a toda hora exemplos semelhantes estão acontecendo em todo o mundo. Separações de casais, amores perdidos ou desfeitos, desilusões e sonhos acabados, morte de mitos e heróis e inclusive a morte do outro, o outro com quem se tem laços, tudo isso constitui em tipos de morte. Ainda não sabemos, do ponto de vista científico, a dimensão exata que essas mortes podem causar, pois elas afetam profundamente nossa subjetividade, desorganizam e desequilibram devastadoramente nossa psiché e desestruturam nossa mente, afetando normalmente também o somático, fazendo como que todo esse processo se arraste, na maioria dos casos, até a morte definitiva, para não dizer por toda a vida. Então, podemos dizer, sem sombra de dúvidas que morremos muitas vezes antes de Tanathos chegar!