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2 de ago. de 2008

O PUNHAL DE LAMPIÃO

O Punhal de Lampião
(A Historia que não foi contada)
Juarez Chagas

IV Parte
Encontro com Araruta

Dois dias depois, Araruta retorna da missão. O rapaz o reconhece de imediato. Já havia se passado uns onze anos, embora para ele fizesse mais de um século! Por outro lado, naquele momento tudo volta à sua mente, como um verdadeiro flashback, como se fosse ontem. Lampião resolve chamar Araruta quase que de imediato. Em seguida, manda chamar ZéRaimundo também para confrontar a história do rapaz, porque um outro cabra do bando, cochicha algo pra ele, denunciando Araruta, de abuso de poder e maldade com as pessoas, passando dos limites, e de certa forma, difamando o bando de Lampião, nas missões que tem chefiado, quando Virgulino está ausente.

- Vou averiguar. Mas se for mentira cabra da peste, é melhor começar a rezar! Num gosto de quem delata amigo com mentira! Nesse espaço de tempo, ZéRaimundo, incentivado pela moça resolve fugir antes que ele vá ter com Araruta, porque passou a achar que não sairia vivo dali, nem ela também. Mas, quando os dois se dirigem sorrateiramente para se evadirem nas caatingas, surge Araruta que os surpreende. Este puxa pelo colarinho da camisa do rapaz e o esbofeteia, fazendo-o cair no chão e, antes que o mesmo se levante, seu punhal já está encostado em sua garganta, deixando-o totalmente imóvel e sem ação. A moça gela e quase desmaia, pois sabe o que vai acontecer.

- Tu vai arrenegá do dia em que nacêu cabra! Já a ponto de sangrá-lo, quando surge Lampião, interrompendo. O resto do bando vem atrás do seu chefe, para ver o que havia.
- Um momento cabra! O home é valente. Merece morrer lutando. Diz isso e olha para o cabra que havia denunciado Araruta e, arrancando um de seus punhais, de cabo de madrepérola, rebola para o rapaz, fazendo-o cair ao seu lado. Araruta pára por um instante, sem entender direito o gesto de seu chefe, olha para seus companheiros, e por intuição desconfia o porquê da ação de Lampião para com um desobediente de suas ordesn. Alguém deve tê-lo denunciado, imagina. ZéRaimundo olha Lampião, a moça e Araruta. Um flashback mais rápido que os outros percorre sua mente e ele não vê mais ninguém, apenas ele mesmo correndo para salvar Maria da Cruz, recebendo a violenta coronhada, caindo no chão e o tiro seco zoando em sua cabeça e atingindo-lhe o ombro. ZéRaimundo rola rápido e pega firme o punhal e se põe em pé e em frente a Araruta. Os cangaceiros fazem um círculo devagar. Agora, os dois armados começam a rodar, ambos de braços estendidos, de punhais na mão, guardando distância entre si, num ritual de morte, onde apenas um sairá vivo dali. ZéRaimundo, após receber algumas cutiladas, consegue num golpe de sorte, após uma esquiva rápida, em que Araruta fica totalmente exposto à sua frente com o punhal que riscou um golpe no vazio, espeta o peito esquerdo do cangaceiro que, após um baque surdo, dá seu último suspiro. Araruta está morto. Os cangaceiros ficam admirados, mas nada falam. Lampião, indiferente ao ocorrido, ordena os cabras, enquanto ZéRaimundo olha todos do círculo com o punhal na mão, ainda sujo de sangue. A moça, chorando, corre a lhe conferir os ferimentos, para ver se não são fatais. Aliviada, o abraça em soluços.

- Levem o corpo dele daqui e enterrem com todos os seus pertences! Dessa vez ninguém divide nada nem fica com nada dele! Dito isso, dirige-se para o cabra que “dedurou” Araruta e fala que a partir daquele momento ele é seu substituto. Em seguida, volta-se para o rapaz, que dá um passo à frente, olha o corpo sendo arrastado, estende a mão para Lampião, entregando-lhe o punhal de volta.

- E você cabra, a partir de agora faz parte do bando! Não pode mais abandonar o grupo. Foi justo, mas matou um dos meus homens mais valente. Talvez tenha evitado que eu mesmo tivesse feito isso. Mas não podemos ter nenhuma baixa agora. Os macacos são muitos. Fala isso olhando para ele e para o punhal e completa.
- Pode ficar com ele. Com certeza ainda vai salvar tua vida outra vez (Continua).

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