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2 de ago. de 2008

O PUNHAL DE LAMPIÃO

O Punhal de Lampião
(A Historia que não foi contada)
Juarez Chagas
II Parte
História ou Estória?...

...Tudo começa, como num passe de mágica...ele agora está nas redondezas de Martins, vizinho às regiões serranas do Rio Grande do Norte, no meio do sertão, trilha eventual do bando de Lampião, quando transitava entre as terras da Paraíba, Pernambuco e Ceará.
- Tá vendo aquele pé de manga? Pergunta ZéRaimundo, um rapaz robusto, de 16 anos, apontando o indicador.
- Tou sim...Responde Maria da Cruz, uma linda morena de 15 anos, dividindo o olhar entre a árvore e o rapaz.
- Pois bem, quem chegar lá por último, dá um beijo no outro.
- Pois, tá bom...responde ela, meio desconfiada.
- Então lá vai...um, dois, três e JÁ!!! E os dois se largam em disparada, com ele chegando primeiro, como era de se esperar. Não foi nem preciso ele cobrar o esperado beijo. Embora, um pouco tímida e ambos cansados, se aproximaram e, no meio da respiração de ambos, ainda ofegante, tanto pelo esforço da carreira como pela emoção do primeiro beijo, suas bocas se encontram lentamente e, de súbito, o arrebatador beijo. Há tempos que os dois se olham no grupo escolar onde freqüentam duas vezes por semana. Ambos perdem o fôlego e por um instante nada falam, até que ela quebra o silêncio.
- Você gosta mesmo de mim, ZéRaimundo?
- Mas, ôxente menina...gosto demais da conta. Ela não espera que ele diga mais alguma coisa. Justificar
- A gente vai se casar, num vai ZéRaimundo?
- Mas, claro que vamos...olha, eu tenho uma coisa pra te dar. Eu mesmo fiz. Puxa do bolso um colar de tiras couro de boi bem trabalhado e curtido a capricho e, cuidadosamente põe em volta do pescoço dela, que abre um belo sorriso.

Mas, aquele momento mágico estava com os dias contados. Dia seguinte, o lugarejo nos arredores da Serra Grande é atacado por um grupo do bando de Lampião, que acampava por aquelas bandas. Estavam de passagem para Mossoró e Virgulino tinha ido à cidade das Quatro Torres sondar, pois pretendiam saquear, mas que dessa vez seria apenas uma vistoria pelas vizinhanças da famosa capital do Oeste. Os cangaceiros que tinham ficado acampados invadem bodegas, o botequim e o armazém com seus suprimentos. Roubam, além dos cereais e outros pertences da comunidade, algumas mulheres e, entre elas, Maria da Cruz. Na verdade, o ataque acontece sem que Lampião soubesse, pois o mesmo tinha ordenado que os homens aguardassem seu retorno e esperassem suas ordens, para dar prosseguimento à viagem.

Durante o ataque, ZéRaimundo, da janela de sua casa, onde mora com uma tia que se encontra ausente, vê atônito a confusão e o pânico das pessoas correndo, fechando suas portas e janelas e escapando como podem. No momento em que os cangaceiros saqueiam e roubam as mulheres, ele sai correndo desesperadamente, quando vê Maria da Cruz ser apanhada e jogada na garupa do cavalo de um deles. Corre em disparada, desvencilhando-se dos cavalos, que tropeiam e circulam aleatoriamente, tenta socorrê-la, pois ela já estava no cavalo de “Araruta”, que no momento chefia o bando. Quando este percebe a investida louca do rapaz, desfere uma violenta coronhada com sua espingarda, em sua testa, a qual é imediatamente banhada por um vínculo de sangue que lhe escorre a face, fazendo-o cair praticamente desfalecido.

- Vou enchê esse fio d’ua égua de chumbo agora mêrmo!! Esbraveja Araruta, rodopiando seu cavalo e mirando a cabeça de ZéRaimundo, que se contorce no chão.
- NÃÃOO!! Grita Maria da Cruz, desesperada, na garupa, desviando o cano da espingarda num esforço inesperado, enquanto o tiro detona, acertando o ombro esquerdo do
rapaz que, já fulminado acaba por desfalecer. O cangaceiro, revoltado, desfere um violento
tapa no rosto da moça, fazendo-a desmaiar e pender o corpo em direção ao seu. Em seguida, grita para o bando e dá ordem de retirada, saindo todos aos gritos e tiros, em disparada pela estrada afora, desaparecendo nas capoeiras.

Após todo o alvoroço, volta à calmaria no lugarejo sob a imagem de um lugar completamente destroçado. ZéRaimundo é levado para o povoado mais próximo, para se tratar, mas a princípio, é tido como morto, por aqueles que aguardam seu retorno (Continua).

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