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1 de ago. de 2008

NOS TEMPOS DA SCBEU



Nos Tempos da SCBEU
Publicado no Jornal de Hoje, anteriormente


* Juarez Chagas

A SCBEU teve sua fase áurea em Natal, por duas décadas. Exatamente de l957 a l977. Nenhuma outra escola ameaçava tomar seu posto de melhor escola de Inglês de nossa querida “Cidade do Sol”. A bem da verdade e do mérito, nenhuma outra escola de Inglês a superou em qualquer que fosse o aspecto. Foi excelente no ensino, nos excelentes professores que tinha, nos alunos e alunas brilhantes, no magnífico ambiente (tanto físico quanto das relações humanas) e na sua importância social para a cidade. Muitos casais ali se conheceram, namoraram e alguns até casaram. Muitas amizades e conhecimentos, ali foram vivenciadas. Era um orgulho se estudar na SCBEU. Muitos ex-aluno(a)s tornaram-se professore(a)s de Inglês, alguns outros ganharam mundo afora, foram viver em outros paises... Pra se ter uma idéia da dimensão da escola, já no final de sua fase áurea, só professores, tinha mais de cinqüenta (eu mesmo ainda guardo uma cópia oficial da escola).

No início dos anos 70, outras escolas de Inglês começaram também a conquistar seu espaço em Natal, tais quais Yágizy, Fisk e CCAA, dentre outras. Porém, essas escolas, mesmo dispostas a uma concorrência leal e justa, não ameaçavam, de modo algum, a supremacia da SCBEU, a qual era The Best One, e ponto final.

Acontece que, nessa época o Yágizy, contratou Erivanaldo Galvão (esse mesmo: irmão de Babal, João...) para ensinar os estágios mais avançados de Inglês e, o “Mago”, como nós o chamávamos, continuava freqüentando a SCBEU, não apenas porque não desejava cortar o vínculo, mas principalmente para ostentar sua nova posição, o quê, diga-se de passagem, era bem merecida. Isso foi no ano de 1972...

Eri, pra quem não o conhecia ou conheceu, era um cara muito dinâmico, carismático e, por vezes, gozador. Quando dizia algo engraçado que ninguém ria, ele mesmo gargalhava para que todos ouvissem que realmente era engraçado. Tinha um humor cortante, porém amistoso, se é que essa fórmula existe. Conseguia aglomerar grupos de jovens ao seu redor, principalmente nas rodas de violão, o qual tocava como poucos todos os sucessos dos Beatles (ele ainda hoje é musico no Rio, por sinal, também júri das escolas de samba do carnaval carioca). Pois bem, Eri mesmo sendo um top teacher do Yázigi, vivia na SCBEU e, como tinha sido aluno de lá também, vez ou outra, fazia algumas críticas construtivas, quando achava por bem.Também foi em1972, o primeiro ano que a SCBEU passou a ter um diretor de cursos brasileiro, pois em todos os anos anteriores, a partir de sua fundação em 1957, todos os seus diretores eram americanos, enviados diretamente dos Estados Unidos, para essa missão. Bem...Lúcio foi seu primeiro diretor brasileiro (após uma comissão, em transição tê-la dirigido, a qual foi composta pelos professores Paulo Fernandes, Vilma Sampaio, Lucia Martorelli Luz e Luis de França) e uma de suas primeiras preocupações, segundo ele, era renovar a imagem da SCBEU, inclusive começando por pintar todo o prédio (que tomava praticamente todo o quarteirão que ia da Joaquim Manoel
à Av. Getúlio Vargas, de onde podíamos ver, da praia de areia preta ao Forte dos Reis Magos). Assim, sendo mandou seu secretário contratar um pintor de paredes para a devida pintura, inclusive do nome SOCIEDADE CULTURAL BRASIL-ESTADOS UNIDOS, que ficava no muro da Av. Getúlio Vargas e estava praticamente apagado, velho e desbotado.

O secretário momentâneo era Emilson Martins que prontamente disse conhecer um excelente pintor e, de imediato, sai à sua procura. Isso era uma Sexta-Feira e no Sábado, o pintor já estava pintando o prédio. Realmente, era um bom pintor. Mas, como não existe um bom sem defeito, o rapaz tinha dois (embora passíveis de correções, caso quisesse) que eram sua marca: não sabia ler e era o maior pau d´ água, assumido. O fato é que o pintor pintou, durante o Sábado todo e parte da manhã do Domingo e, resolvendo parar pra retomar na Segunda, foi embora sem dar a mínima satisfação a ninguém. Como era de se esperar, na Segunda não apareceu, devido à ressaca. Quando Lúcio chega, lá pelas 8hs da manhã, quase tem um infarto ao ver o que o pintou pintara. Saiu às pressas procurando o secretário (que displicentemente não tinha visto a obra do pintor beberrão) para trazer o pintor de volta, o mais rápido possível e no momento, providenciar um lençol ou cortina para cobrir a “arte” que fizera. Lá se foram os dois olhar o serviço. O rapaz havia pintado apenas parte do nome da escola e, resolvera ir embora pra continuar depois. O problema é que ele pintou: SOCIEDADE CU... e, aí parou. Evidentemente que, como não sabia ler, para ele pouco importava o que havia pintado ou não. Lúcio foi enfático com o secretário:
- Doutor, já pensou se Erivanaldo Galvão aparece aqui com uma máquina fotográfica...a SCBEU ia ficar difamada pelo resto da vida!

Na verdade, nada conseguiria difamar a SOCIEDADE CULTURAL BRASIL-ESTADOS UNIDOS. Nem mesmo o que conseguiram fazer com ela...

* Professor do Centro de Biociências da UFRN (juarez@cb.ufrn.br)

9 de jul. de 2008

PSICOTERAPIA BREVE


Psicoterapia Breve, segundo Braier
(Publicado anteriormente no Jornal de Hoje)



Eduardo Alberto Braier é médico psiquiatra e psicanalista argentino que tem um excelente trabalho, no campo da psicoterapia breve, o qual merece registro. Dentre seus trabalhos, estudos e pesquisas, destaca-se Psicoterapia Breve de Orientação Psicanalítica (Martins Fontes, 3ª edição, 1997).

A importância de se falar sobre este livro é justamente a abordagem da dificuldade e, muitas vezes polêmica, para o leigo, sobre a conotação do tratamento emergencial, de ordem psicanalítica, uma vez que sabemos serem os tratamentos psicanalíticos, por essência, demorados.

Independentemente de conceito ou aceitabilidade da Psicoterapia Breve, no mundo globalizado de hoje, é muito importante que admitamos que as psicoterapias de orientação psicanalítica, em especial as denominadas breves, ganharam importância diante da grande demanda de assistência psicológica, especialmente quando há grandes concentrações de pacientes com necessidade de atendimentos cada vez mais imediatos, tais quais nas empresas, hospitais e em outras instituições similares.

Vale salientar que o trabalho de Braier não é pioneiro, mas que o mesmo tem grande importância, especialmente na Argentina, onde trabalha e tem percorrido todo um caminho, desde que, depois de muita relutância e resistência pelo novo, a PB passou a ser vista com bons olhos, até mesmo pelos mais exigentes psicanalistas consagrados. Braier, por sua vez, chama a atenção para a questão histórica da Psicoterapia Breve, onde os primeiros tratamentos efetuados pelo próprio Freud, em sua fase pré-analítica, eram de certa forma, terapias breves, durando apenas alguns meses. Isso porque hoje, está claro que, inicialmente o fundador da Psicanálise, buscava curas rápidas focalizadas para a solução de determinados conflitos e sintomatologia dos pacientes.

Um dos exemplos que pode ser citado e, com resultados satisfatórios, foi o caso de O Homem dos Ratos, publicado em 1909, onde Freud diz que durou menos de um ano. Mas, também há controvérsias, pois Ferenzi, em 1916, fala sobre a necessidade de uma psicoterapia breve, sendo de pronto, repreendido por Freud, o qual dois anos depois, sugere uma psicoterapia de base psicanalítica, a qual pudesse responder às necessidades assistenciais da população e, aí nesse momento, o que poucos sabem ou admitem é que o próprio Freud propõe que se combinem recursos terapêuticos da análise com outros métodos.

Mas, Freud à parte, é bom deixar claro que Psicoterapia Breve de orientação psicanalítica é algo, tecnicamente, bastante diferente do termo “psicanálise breve”. Nisso o autor, faz questão de enfatizar. Braier ainda enfatiza que alguns nomes confundem não somente o leigo, mas estudiosos do assunto, quando atribuem sinônimos tais quais Psicoterapias de curta duração, Psicoterapia Focal, Psicoterapia Emergencial e outras atribuições que, embora tenham o mesmo sentido, diferem na técnica, particularidade e essência.
Uma coisa é certa: o que se busca na Psicoterapia Breve de orientação psicanalítica, segundo o autor, é, na medida do possível, solução dos problemas imediatos e o alívio sintomático, em sentido psicodinâmico, podendo-se valer do princípio de insight do paciente a respeito dos conflitos subjacentes.

O Autor, um psicanalista tradicional, a princípio, curvou-se às necessidades da temporalidade e globalização, sem ferir princípios éticos, como deixa a entender em seu livro. Vale a penas ler e, se possível, até mais de uma vez. Por outro lado, é importante admitir e saber ponderar que, nem tudo que é breve, tem breve solução.

ATHENEU NORTERIOGRANDENSE

ATHENEU
NORTERIOGRAN
DENSE
(Publicado no O Jornal de Hoje, em 09/07/2008)






Muito já se tem escrito sobre o Atheneu Norteriograndense. Ilustres professores, ex-alunos saudosos, pesquisadores, repórteres, escritores e historiadores. Não é por acaso que isso tem ocorrido (aliás nada é por acaso), mesmo após muitos e muitos anos de sua fundação e de seus tempos áureos culminado com sua imponência e importância no meio educacional do Estado e do País.

Eu posso dizer que, dentre tantos, fui um dos que teve o privilégio e a honra de ter sido aluno e professor do Atheneu Norteriograndense (na minha época escrevia-se assim mesmo, sem hífen...) e de ter vivido intensamente cada um desses períodos. Evidentemente com mais intensidade o primeiro, pois foram sete anos ininterruptos divididos em ginásio e científico completos, vivendo inesquecíveis experiências desde os bancos escolares, pelas lições aprendidas, às quadras do ginásio Sylvio Pedroza, defendendo suas cores nos esportes, assim como ao valoroso convívio com colegas e amigos, incluindo aí as reuniões no Grêmio Estudantil Celestino Pimentel (cuja cópia de proposta de sócio guardo até hoje nos meus arquivos). Tudo isso constitui parte de nossa vida escolar que jamais esquecerei.

Cinco anos depois de concluir os estudos e já ter concluído curso na Universidade, retorno ao Atheneu agora como professor de Biologia, dando aulas numa das salas que, inclusive sentei como aluno ainda nos velhos e bons tempos do mais famoso colégio público de Natal e, por que não dizer, do mais antigo colégio público do Brasil.

Historicamente falando, o Colégio Estadual do Atheneu Norteriogradense foi fundado em 1834, no Século XIX, quando o Brasil ainda era capitaneado e província, cabendo a Basílio Quaresma Torreão, então presidente da Província, fundar o mais antigo colégio público do país, fundado mesmo antes do Colégio D. Pedro Segundo, no Rio de Janeiro, o qual foi inaugurado em 1847, denominado Imperial Colégio de Pedro II, tendo sido oficializado por Decreto Regencial. Na verdade, os brasileiros que tiveram o primeiro ensino público e no primeiro colégio público fundado no Brasil, foram os norteriograndenses, um fato mais que histórico.

Inspirado na versão portuguesa, ATHENAION, do templo de Atenas (Deusa Minerva da sabedoria) Basílio também pretendia que assim fosse o Atheneu: A "Casa da Sabedoria”. Devemos admitir que, só o fato d’ele ter fundado o mais antigo colégio do Brasil, já foi um grande ato de sabedoria.

Após passar pelas sedes originais (1ª Situada no Quartel Militar - 1834 a 1859 e a 2ª situada na Rua Junqueira Ayres - 1859 a 1954) a sede definitiva e que conquistou a todos com sua beleza arquitetônica em forma de X é o prédio da Rua Campos Sales, inaugurado em 11 de Março de 1954, pelo então governador Sylvio Pedroza (com a presença de Café Filho), cujo ginásio de Esportes leva, honrosamente, seu nome. Há quem diga que, pela estética arquitetônica atual do Atheneu em forma de xis, haja aí uma ideologia militar por lembrar um dos símbolos do militarismo, com suas armas dispostas e cruzadas em X. Se é verdade ou não, permanece a especulação, porém por outro lado, o Atheneu sempre foi também um símbolo de resistência e local de reuniões estudantis de cunho político, determinantes para uma consciência política de Natal. O Atheneu foi também o primeiro colégio a reivindicar melhoria salarial para seus professores, em forma de protesto perante o Estado, o que é considerado por alguns historiadores a primeira idéia de greve da Educação no Brasil.

Até as décadas de 60 e 70, podemos afirmar que o Atheneu ainda era, senão o maior, um dos maiores destaques tanto no ensino, quanto no esporte, orgulhando a todos quantos o defendiam esportivamente ou nele estudavam.

Muitas autoridades e pessoas de destaque do nosso RN sentaram nos bancos do Atheneu e todos, sem excçao (dito pelos próprios) ainda hoje se sentem honrados e saudosos por terem estudado e tido grandes mestres como seus professores. A Governadora Wilma de Faria (só pra citar um) é um desses exemplos, constatado até em artigo escrito pela mesma, demonstrando seu afeto pelo famoso colégio onde recebeu sólida educação e amizade durante os anos em que lá estudou.

O Atheneu que eu conheci e no qual estudei é para mim, ainda hoje, referência e história que faz parte da minha vida. Lá tive excelentes e inesquecíveis mestres como Vicente de Almeida(Geografia), Ana Maria Concentino(História), Maria Helena da Hora (Inglês), Terezinha de A. Padilha (Matemática), Joana D’arc (Ciência), Bartolomeu Correia de Melo (Bartola) só pra citar estes e não ser injusto com os demais. Os Diretores que alcancei (pela seqüência) foram Crizam Siminéia, Marconde Mundi Guimarães e João Batista Varela, tendo sido a primeira a mais austera, exigente e educadora, porém igualmente protetora. Seu semblante fechando era um contraste com sua bondade.

A emoção é presente ao relembrar o velho Atheneu, pois tanto dentro quanto fora de seu espaço físico, sua história orgulha a todos, indistintamente. Atheneu existe apenas um!

ATHENEU EXISTE APENAS UM !


ATHENEU,
existe apenas um!
(Publicado no O Jornal de Hoje, em 25/07/2007)

“Atheneu existe apenas um
e como o Atheneu, não pode haver nenhum!
Atheneu! Atheneu! Atheneu!”


Quem estudou no Colégio Estadual do Atheneu NorteRiograndense, ou simplesmente ATHENEU, principalmente, nos anos 60 e 70 certamente lembra deste grito de guerra que soava nos ginásios, campos de futebol, pistas, quadras, piscinas e por onde os atletas estudantis, e sua eufórica e fiel torcida, defendiam com sentimento, garra e lealdade, o mais querido dos colégios nos áureos tempos das competições estudantis, um marco histórico, desportivo e social, da Natal daquela época. Nos desfiles dos Jogos Estudantis (dos quais tive a honra e prazer de participar e defender alguns), tambores e charangas faziam o publico vibrar eufórico, com o “incendiário” e animador refrão. Era a identificação entre torcida, atletas e todos os que faziam o grande Atheneu e, apreensão e aviso para os adversários, dentre os quais os mais ferrenhos eram o Marista, a Escola Domestica e a antiga ETFERN (atual CEFET).

Estudar no Atheneu, defender suas cores (tradicionalmente verde, branco e friso dourado) e ter seu nome cravado no peito era um orgulho impar, porem não uma das tarefas mais fáceis, naquela época. Entrar para o Atheneu requeria conhecimento, simplicidade e abnegação, a começar por uma difícil seleção pela qual o aluno deveria passar, para se tornar estudante do Atheneu: o exame de admissão, uma rigorosa seleção de conhecimentos gerais e específicos, comparado ao vestibular de hoje, para ingressar nas universidades publicas. O processo seletivo para ingressar no mais famoso colégio do Estado requeria passar no exame de admissão do Atheneu, uma proeza que igualava classes sociais através da capacidade e conhecimento, demonstrados por quem conseguia esse tão almejado intento. Era mais que uma conquista era um diferencial. A expectativa gerada pelo resultado era angustiante, gerando apreensão que só acabava com o resultado afixado nos murais do colégio com data e hora marcada, o que causava uma aglomeração de estudantes e familiares em grandes concentrações, na frente do colégio.

O ensino era de qualidade, pois tinha os mais entusiasmados professores e professoras (apesar do baixo salário), que também se orgulhavam de pertencer ao seu corpo docente e a um colégio de referencia nacional. O ambiente, a sincera amizade e coleguismo estimulavam os estudos e deveres transformando-os em objetivos a serem alcançados. Se não estivesse trajando o uniforme devidamente, levava repreensão e voltava pra casa sem aula. A Direção era rígida, exigente e vigilante e isso também fazia parte da vida escolar.
Falar sobre a educação do Estado, inclusive do Brasil, e não falar do Atheneu, constitui-se numa grave omissão, pois é, dentro de suas características peculiares, o colégio público mais antigo do Brasil, já caminhando para o seu bicentenário, uma vez que foi fundado em 1834, pelo presidente da província do RN, Basílio Quaresma Torreão.

Historicamente, passaram por seu quadro de professores ilustres mestres da sociedade potiguar, cujo notório saber e empenho, eram transmitidos através de seus conhecimentos e lições não apenas didáticas, mas também de vida. Dentre seus professores mais destacados, podem ser citados o historiador Câmara Cascudo, Clementino Câmara, Monsenhor da Mata, Floriano Cavalcanti, Dr. Sebastião Monte, Myriam Coeli, Djalma Maranhão, Protasio Melo, José Melquíades, Jose Guará, Crisam Simineia, Vincente de Almeida, apenas para citar os mais antigos. Por outro lado, sentaram em seus bancos escolares, alunos que tornar-se-iam famosos e bem sucedidos nas mais variadas profissões e posições sociais. Só governadores, o Estado teve quatro que foram alunos do Atheneu, a saber: Aluízio Alves, Geraldo Melo, Garibaldi Alves e a atual governadora Wilma Maria de Faria, alem do presidente João Café Filho. Muitos outros ilustres profissionais de nossa atual sociedade, os quais abraçaram as mais diversas profissões, podemos citar Pery Lamartine, Dr. Ivis Bezerra, Diógenes da Cunha Lima, Ivonildo Rego (atual Reitor da UFRN), dentre outros, só para citar apenas alguns e não pecar por omissão de outros, os quais formariam listas intermináveis.

Em relação ao ensino, podemos constatar sua tradição, mas também o Atheneu é conhecido por movimentos estudantis e, principalmente no esporte. Durante os anos 60, especialmente antes e depois do golpe de 64, vários lideres estudantis estudavam no colégio, o qual também tinha um reduto político-estudantil muito forte. Entretanto, alem do ensino, o que mais destacava esta secular “casa do saber” (Atheneu, do grego Athénaíon) era mesmo o esporte, através de suas varias modalidades, defendidas nos jogos estudantis e olimpíadas em datas comemorativas. Nos Jogos Ginásios-colegiais, por exemplo, de 1963, fomos campeões masculino e feminino; em 1964 fomos vice-campeão masculino e campeão feminino; em 1965 e l966, fomos campeões masculino e feminino e, em 1967, fomos campeões masculinos novamente e vice-campeões feminino, conquistando o troféu definitivo.

“Passou, passou, passou um avião
e nele tava escrito o Atheneu é campeão!”

Como bem dizia o refrão da torcida e de seus abnegados e heróicos atletas.
Na verdade, quem estudou no Atheneu, especialmente em seus tempos áureos, sabe muito bem que Atheneu existe apenas um... Portanto, o governo e sociedade devem valorizar mais esse patrimônio histórico que é nosso e continua resistindo ao tempo pelo seu glorioso passado, mas precisa retomar sua chama e prestígio na nossa sociedade e atual juventude. Afinal, o Atheneu foi e é o primeiro colégio publico do Brasil.

ATHENEU EXISTE APENAS UM ! (II)


Atheneu, existe apenas um!(II)
(Publicado no O Jornal de Hoje, em 01/08/2007)

Movido pelo saudosismo e pelas lembranças registradas no artigo passado, visitei o Atheneu essa semana para rever mais uma vez o colégio de perto, percorrer suas dependências e visitar as salas onde, em suas carteiras sentei durante sete anos (ginásio e cientifico) seguidos e aproveitei para pedir um encontro com a pessoa, a qual dizem ser uma das maiores autoridades sobre o histórico, acervo e informações da velha casa do saber (como chamaria os gregos), NALDEMIR SARAIVA DANTAS DE OLIVEIRA. Evidentemente que sabemos de outras pessoas, inclusive acadêmicas e pesquisadoras, que detêm, até os dias de hoje, vasto conhecimentos, trabalhos e pesquisas sobre o Atheneu e sua representação no âmbito educacional e político, não somente do Estado, mas também do país. Entretanto, em termos de documentos, arquivos e acervo, Naldemir é única e atual.

Após o encontro marcado, conversamos por umas duas horas e, antes dos primeiros dez minutos, constatei o que realmente dizem, ela é uma enciclopédia ambulante, um arquivo-vivo sobre o Atheneu. Eu pensei que sabia alguma coisa, mesmo sendo relacionada a minha época, mas logo percebi que nada sabia, perante seu fabuloso conhecimento e dados sobre o colégio mais antigo do Brasil. Mais antigos sim, porque o Atheneu foi fundado em 1834, o colégio Pedro Segundo em 1836 e o Liceu Pernambucano em 1837 (há uma ligeira diferença nessas datas, segundo alguns historiadores).

A paixão de Naldemir pelo Atheneu merece registro, respeito e divulgação, pois foi identidade e amor à primeira vista, disse-me ela, entusiasmada. Tudo começou quando sua tia Maria Celina Saraiva, ainda nos anos 70, então aluna do Colégio, um dia resolveu trazê-la consigo para conhecer o famoso colégio, quando tinha onze anos de idade. A partir desse dia, passou a alimentar o desejo de estudar no Atheneu, fato que aconteceu em 1974, quando se submeteu ao exame de admissão, que por sinal foi aplicado pela ultima vez neste ano, como processo seletivo, neste estabelecimento de ensino. Mas, sua relação com o mais famoso colégio do Estado, apenas começava, pois em 1978, ainda como aluna candidatou-se ao cargo de bibliotecária do Atheneu e, posteriormente, arquivista. Foi quando resolveu estudar tudo o que podia sobre o colégio, juntado a paixão com a realidade de poder então cuidar do acervo, com esmero e orgulho. Acabando assim, de realizar um de seus sonhos e se tornar referência viva do Colégio.

Hoje, Naldemir é psicopedagoga, mas continua parcialmente trabalhando no colégio e diz que continua envaidecida com seu trabalho, o qual faz há mais de duas décadas, inclusive viajando para diferentes lugares e Estados, quando solicitada para palestras e informações sobre o Atheneu. Em seu tempo de aluna, foi rainha de desfile, por três anos, representando o secular colégio, uma posição, na época, disputadíssima por outras alunas, cujos critérios para escolha envolvia disputa, garra e determinação, alem de beleza e desenvoltura.

Como resultado de seus estudos e trabalho, praticamente, organizou o “Memorial do Atheneu”, onde ao longo do tempo, passou a cuidar de seu principal arquivo e acervo. Além de visitas de escolas, colégios e universidades, não só de Natal, como do interior do Estado e também de outras instituições de outros Estados, tem recebido alunos, pesquisadores e estudiosos, que buscam informações na própria fonte.

Foram varias as curiosidades que pude ouvir, à medida que ela me mostrava, arquivos, livros, lista de todos os diretores do colégio, de 1900 até hoje, sem falar no acervo fotográfico, inclusive da construção e inauguração do atual prédio em forma de X, cuja inauguração foi em 1954. Um dos fatos curiosos, dentre muitos, foi ela ter encontrado a ficha do pai de Oscar (mão-santa do Basketball, que juntamente com seu irmão Tadeu Schmidt, repórter esportivo da TV Globo, nasceu em Natal), o militar Osvaldo Schmidt, que concluiu seus estudos, na época da inauguração do atual prédio do Atheneu, em 1954.

Naldemir, além de ser autora do projeto em execução “Sala de Memórias do Atheneu, escreveu um livro sobre o Atheneu (Atheneu Passado e Gloria), onde reúne desde o pioneirismo do mais famoso Colégio do Estado até sua importância histórica, política e educacional. O livro aguarda incentivo, principalmente da SEC, para ser publicado. Certamente, será um dos livros mais completos (já existem outras obras publicadas) sobre este grande e importante colégio que merece o conhecimento e reconhecimento de todos que por eles passaram e de todos que neles estudam, trabalham, ensinam e dirigem.

27 de jun. de 2008

MASLOW E O POTENCIAL HUMANO


Maslow e Potencial Humano
(Publicado no Jornal de Hoje)

Juarez Chagas

“A abordagem fenomenológica faz parte de um esforço de muitos psicólogos para compreender a experiência humana à medida que ela ocorre. Essa abordagem busca considerar a vida como é experimentada pela pessoa sem omitir aquilo que é mais humano, sem dividi-la em partes não-relacionadas e sem reduzi-la a princípios fisiológicos”. É assim que Lawrence A. Pervin (e seu co-autor Oliver P. John) discorre a questão fenomenológica no capítulo 6-Uma teoria Fenomenológica: aplicações e Avaliação da Teoria de Rogers”. Pervin, pH. D. por Harvard, ao qual já me referi em artigos anteriores, como um dos maiores estudiosos atuais da Personalidade humana e cujo livro Personalidade-Teoria e Prática, reafirma em seu prefácio o avanço na interface entre a psicologia e biologia-teoria evolutiva, genética e neurociências, foco que não agrada a alguns psicólogos que não tiveram ênfase nas ciências da saúde. Porém, é normal que não agrade mesmo, pois a totalidade é constituída, sabiamente de semelhanças e diferenças, que formam o todo. Afinal, conviver com a força ou fraqueza dos opostos, é um constante desafio humano.

É interessante, como alguns termos, além de confusos, como fenomenologia, subjetividade, caráter e tantos outros, continuam sendo os mais difíceis de se conceituar e se entender, na Psicologia. Um dos conceitos de fenomenologia mais comuns que encontramos diz que a abordagem fenomenológica da experiência humana à medida que ela ocorre, considera a vida como experiência da própria pessoa. É preciso ficar atento, para não associar com o tempo no gerúndio! Devemos ter cuidado com certas modas, pois gerúndio também nos lembra alguns termos em moda, como fala atual que pode significar o que o sujeito quer dizer, mas não necessariamente o que ele quer fazer. “ Não se preocupe, nós vamos estar resolvendo isso pra você” ou, “nossa empresa vai estar admitindo o senhor, portanto aguarde contato...” Realmente, isso também é um fenômeno. A mania de falar no gerúndio, que significa uma ação ininterrupta, pode nunca concretizar a ação.

Mas, voltemos ao cerne da questão. Ainda bem que haveria de surgir defensores do movimento do potencial humano, dentro da abordagem da corrente humanista da Psicologia, então denominada de terceira força da Psicologia. O nome, talvez não tenha sido tão adequado assim, mas que veio com muita força, isso é incontestável. O movimento do Potencial Humano teve, por sorte e muita convicção, defensores de peso tais quais Carl Rogers, Kurt Goldstein e Abraham Maslow, dentre outros. Essa corrente, diferentemente de suas fortes antecessoras (pela ordem cronológica inversa: behaviorista e psicanalítica), responde preocupações atuais, com ênfase na auto-realização, no cumprimento do potencial humano e na abertura à experiência. Ao contrário da corrente psicanalítica, sua preocupação e foco é enaltecer o potencial da pessoa humana dentro de seus aspectos positivos e saudáveis.

Apenas para citar Goldstein (1878-1965), o qual mudou-se para os Estados Unidos aos 57 anos de idade, foi considerado, na Alemanha, proeminente neurologista e psiquiatra, tendo realizado vários estudos e pesquisas durante a primeira guerra mundial, com soldados com lesões cerebrais, estudos estes que lhe serviram de base para futuras pesquisas, no campo da personalidade. Assim como Freud, goldstein tinha uma visão de energia do organismo, só que ele diferenciou essa energia orgânica para o aspecto positivo do ser humano em busca de sua auto-realização. Algo positivamente revolucionário, admitamos, principalmente para a época.

Abraham Maslow (1908-1970) veio a completar esse pensamento, como nenhum outro estudioso do movimento do potencial humano, tornando-se seu principal teórico e defensor. Na verdade, ele criticou a psicanálise e o behaviorismo por achar essas abordagens pessimistas, negativas e limitadoras do ser humano e, em conseqüência disso, a Psicologia viveu, na época, dias conturbados, o que reflete até hoje através da preferência de uns e antipatia de outros. Independentemtne das intrigas e diferenças, o que não podemos negar é que o estímulo ao potencial humano se reflete na própria busca do sucesso e felicidade. Tudo o que a humanidade sempre buscou.

Maslow, não desconhecia que a psicopatologia resulta de distorções e frustrações da natureza essencial do organismo humano, porém questionava por que não tentar remover esses obstáculos e enfatizar a motivação humana, no sentido de atender as necessidades biológicas e psíquicas do próprio indivíduo, tornando-o mais apto e capaz de realizar seus sonhos. Assim sendo ele criou um modelo que denominou de “hierarquia das necessidades”, onde cada uma dessas necessidades hierárquica, biológica e psiquicamente estabelecida constitui uma pirâmide, com a auto-realização em seu ápice ou topo. Essas necessidades biológicas, como a fome (comida), o sono, a sede, o sexo (fisiológico) somadas às necessidades psicológicas, tais quais, auto-estima, afeição (amor), segurança e pertencimento, completariam a pirâmide como um todo, ou seja, a realização humana.

Além disso, Maslow acreditava na idéia de que indivíduos saudáveis e satisfeitos consigo mesmo, são auto-realizados e que, portanto, essas pessoas aceitam a si mesmas e aos outros, pelo que são, criando um clima e situação de convivência saudável, se realizando como ser humano, uma vez que suas necessidades possam ser atendidas. Evidentemente, que o estudo é muito mais amplo do que aqui se apresenta e, por isso mesmo, é uma das mais belas e ousadas abordagens da Psicologia Moderna.




HOMENAGEM AO CADÁVER DESCONHECIDO

CADÁVER DESCONHECIDO
(Publicado anteriormente no Jornal de Hoje)
Juarez Chagas
Muitas homenages têm sido prestadas ao Cadáver Desconhecido em todo o mundo. Universidades, Instituiçoes acadêmicas, segmentos da sociedade científica e religiosa têm demonstrado através de atos públicos e oficiais seus gratos e humanos reconhecimentos a esse personagem anônimo, milenar e mito, que foi o pilar da anatomia humana, a qual nos primórdios, foi a base da medicina, sem o qual não teria evoluído, o que ocorreu graças a ousadia e bravura de Vesalius, o primeiro anatomista realmente a ter tirado o CD do submundo da obscuridade, para transformá-lo na mais importante descoberta da máquina humana, como bem descreve em seu De Humani Corporis Fabrica, 1543.
Portanto, é com satisfação que, nao somente pelos estudos e dedicação a que tenho me envolvido nesse tema de grande desenvolvimento humano, mas também em reconhecimento à importância de seu valor acadêmico e humano, na sua forma incomum porém valorosa de nos dar verdadeiras liçoes de vida, reverencio também o mais importante personagem da anatomia humana, ao longo de todos os tempos.

Ao Cadáver Desconhecido
( O Autor)

Um dia, como você, vim ao mundo
Não foi, como nas famílias normais
Onde, ao nascer, todos riem, apenas a criança chora
No meu caso, talvez, todos tenham chorado
Apenas eu ria
Se nasci numa palhoça, casebre ou maternidade
Nunca soube, não me contaram
Ou se contaram, não dei atenção
Estava muito disperso
Ocupado com o nada (mas querendo tudo)
Envolvido com as armações da vida

Cresci e vivi como um andarilho
Sem família, sem lar, sem amigos
Como um ladrão ou como um assassino
Mas,o que eu sempre quis ser mesmo foi um Hobin Hood
Um paladino, um zorro, um justiceiro
Porém, quando quis voltar à realidade foi tarde demais
Já não havia mais como negociar com a paz
E só pude ocupar o único lugar que a sociedade reserva para os omissos,
os miseráveis e marginalizados: o submundo

Como morri, não importa
Talvez, nem eu mesmo saiba como foi, nem o dia, nem a hora
O fato é que aí, na mesa fria de mármore, está o meu corpo
Sobre cujo peito não se derramou uma só lágrima de saudade
Sobre cujo rosto ninguém deu um beijo de adeus
Também, meus olhos não viram a luz da vela
Que iluminaria a passagem para o outro mundo
Nem tão pouco foram cerrados após a partida, na hora de ir embora
Minhas mãos não foram afagadas, na despedida sem retorno
Sobre meu corpo semi-nu
Também não puseram roupas ou sequer um lençol branco

Ao contrário, talvez tenha ficado jogado ao relento
Sob o sol quente do dia e o frio da noite
Velado apenas pelo vento, a chuva, os insetos
Talvez pisoteado, chutado, esfacelado ou mutilado
Quando fui, finalmente (ou propositalmente), encontrado
Como um animal moribundo e relegado
Agora digo a todos vocês através deste silêncio profundo e eterno
Através deste corpo inerte, inanimado
Está minha última redenção
Paguei pelo que na terra fiz ou deixei de fazer

E como nunca é tarde para ser útil
Usem pois, este corpo inerte sobre a lousa
Dissequem cada estrutura, conscientemente
Rebatam as aponeuroses, fáscias e músculos
E vejam como é lindo e fantástico o corpo humano
(Coisa que nunca tive oportunidade de entender em vida)
Sintetizem a Anatomia, na prática
Meditem, questionem, busquem o entendimento topográfico e sistêmico

Se meus olhos ainda forem úteis
Dêem suas córneas a alguém que nunca viu a luz do dia
Dissequem meu coração com paciência e mestria
De tal forma que, quando doutores possam salvar
Muitas vidas, impedindo os infartos e embolias
Extirpem meus pulmões
Descobrindo o percurso de suas árvores brônquicas
E aprendam a anatomia pulmonar
Para que no futuro possam salvar tuberculosos e enfizematosos
Percorram e estudem os rins demoradamente
Para que possam entender, no futuro sua fisiologia e curar os nefropatas

Estudem , a pele, os ossos, os músculos, as vísceras
Verifiquem e compreendam, calmamente, o sistema nervoso
E imaginem que a mente e o espírito
Certamente também residem ali

Enfim, estudem todas as suas estruturas orgânicas
(mesmo que não haja tempo, pois o tempo é cada um que faz)
E me façam seu PRIMEIRO PACIENTE
Sem medo de cometer nenhum erro ou acidente
Mas, com a obstinação do acerto
Assim sendo,
Após vários anos de estudo, determinação e um juramento hipocrático e sagrado
O médico, aquela figura de branco, austera e bondosa
Ao tratar seus pacientes
Dentre seus conhecimentos adquiridos, sempre carregará consigo
Os ensinamentos do Cadáver Desconhecido
(ensinando sobre a vida através da morte)
Que doou seu corpo em prol da humanidade
Que nada lhe deu em troca.