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1 de ago. de 2008

PROFESSOR MELQUÍADES E A SCBEU




Professor Melquíades e a SCBEU
Publicado no Jornal de Hoje, anteriormente



* Juarez Chagas

Falar sobre a SCBEU e não falar sobre sua relação com o Professor José Melquíades ou vice-versa, não seria uma história completa, nem para um, nem para o outro. Assim como o professor Protásio e tantas outras personalidades que fizeram da SCBEU, o diferencial em nossa sociedade cultural natalense dos anos 50,60 e 70, o professor Melquiades foi também um de seus principais mentores e um dos responsáveis pelo ensino, não somente do Inglês, mas também da literatura norte-americana, em nosso meio.

Tive a grande satisfação de, ainda adolescente, ter sido aluno do professor Melquiades que, diga-se de passagem, não foi e nem poderia ter sido mérito somente de poucos, pois o carismático mestre, não conseguia ter a dimensão de quantos passaram por suas lições, fosse na Língua Inglesa, fosse na Literatura ou em ambas, conjuntamente. Sobre essa particularidade, ele já havia inclusive incorporado em sua natural verbalização, a seguinte frase, quando se referia a alguém conhecido, dizendo de pronto: “Foi meu aluno!”

Dono de um humor clássico e cortante, encarava a vida com alegria, obstinação e por vezes ironia, quando esta se apresentava adversa. Fisicamente, era uma mistura de brevilínio com traços de longilínio (baixo e magro) e, particularmente, ria quando eu dizia-lhe que parecia com o ator norte-americano, Gilbert Roland, principalmente o bigode... “Que por sinal, conheci pessoalmente”. Emendava, esfregando as mãos.

Foi um homem das letras, da literatura e da advocacia, tendo sido promotor publico em Natal. Após o curso de Direito, licenciou-se, em 1966, em Letras pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras, deixando a advocacia para dedicar-se ao magistério. Depois disso, passou a lecionar em vários colégios e universidade, muitas vezes, ao mesmo tempo. Ginásio 7 de Setembro, ETFERN (atual CEFET), SCBEU e UFRN. Seu legado educacional é imenso e rico. Escrever era uma de suas grandes versatilidades e paixão. Colaborou praticamente em todos os jornais de Natal, com seus artigos e crônicas e publicou, após estagio nos Estados Unidos, seu primeiro livro, em 1961, Os Estados Unidos a Mulher e o Cachorro, prefaciado simplesmente por Luis da Câmara Cascudo, seu amigo.

Olhando em meus arquivos, descobri uma antiga relação de alunos, referente ao 4º Ano “A”, turma de Inglês e Literatura, curso ministrado pelo professor Melquiades, no segundo semestre de 1969. A referida lista, com as notas da avaliação final do curso e, especialmente assinada por todos (a pedido meu na época), consta dos seguintes alunos, nessa ordem: Herbet Dore, Armanda Maria de M. Bezerra, Leila Aguiar de Figueiredo, Maria de Fátima Moreira César, Regina Maria L. Villar de Mello, Giselia Maria do Nascimento, Jose Arimateia Soares, Antonio Guedes Câmara, Francisca de A. Torres de Oliveira, Walter Dore Jr, Evaldite de Sousa Brito, Iaponira Rocha Fernandes, Zivanilson Teixeira e Silva, Carlos Alberto N. da Silva, Carlos Sizenando Rossiter Pinheiro, Herbert Borges, Juarez Chagas, Nivaldo Sena de Oliveira, Célia Maria F. de Medeiros. Esta foi uma de suas ultimas turmas, como professor Integral de Inglês avançado, após o qual passou a ocupar o cargo de Vice-Presidente da SCBEU e a proferir palestras, participando apenas em cursos especiais para a formação de Professores de Inglês.

Para citar apenas uma das veias de seu humor que lhe fluía naturalmente, lembro que no final dos anos 70, Roberto Carvalho de Oliveira Freitas, um dos novos professores da SCBEU, a quem costumávamos chamar de “Bob”, inventou de organizar uma excursão para a Ilha de Itamaracá, em Pernambuco. Marta, filha do Professor Melquiades queria ir, mas não queria pedir ao pai, por imaginar que ele não concordaria. Roberto, então resolve pedir ao mestre que liberasse sua filha para tornar a excursão mais agradável e estimular outras moças que estavam ainda indecisas. Estava o professor Melquiades, com Protasio e o Diretor da SCBEU, no snacbar, bebendo cerveja, hobby que ele adorava. Chega Roberto, todo cuidadoso e diz:
- Professor Melquíades, posso lhe dar uma palavrinha? Um pouco nervoso...
- Ah, sim! Pois não, meu jovem, Aliás, você já esta fazendo isso! Respondeu, esfregando as mãos como se estivesse com frio (ele tinha essa mania). Roberto então formulou o pedido, o mais rápido que pode e ficou na expectativa.
- Pick Nick??? Não! Não! Não, meu jovem. Me peça outra coisa qualquer, pick nick não. Roberto, triste com a resposta, mais rápida ainda e não entendendo a veemência da negativa, quis saber o porque. Professor Melquiades contou-lhe prontamente.
- Meu rapaz, quando eu era jovem assim como você, fui a um desses pick nick e....lá pras tantas, um rapaz e uma moça entraram no mato e... até hoje! Pick Nick meu jovem, literalmente significa “pegar coisa pequena” e minha filha é baixinha, magrinha... agree with me (concorda comigo)? Com o repente do professor, Roberto não sabia se ria ou lamentava...

Todos nos sabíamos que o motivo não era esse. Professor Melquiades não gostava de viagens longas de ônibus. Por falar em viagem longa, ele viajou para sempre para longe de nosso convívio, em 11 de Novembro de 2001...

* Professor do Centro de Biociências da UFRN(Juarez@cb.ufrn.br)

SCBEU...ÔH TEMPO BOM!...



SCBEU (Ôh Tempo Bom...)
Publicado no Jornal de Hoje, anteriormente

* Juarez Chagas

É completamente impossível falarmos dos anos 60 e 70, quando nos referimos à sociedade natalense da época, sem falarmos da Sociedade cultural Brasil Estados Unidos ou simplesmente SCBEU, como era mais conhecida. Na verdade, não há como falar da Natal daquela época, omitindo a SCBEU, a mais tradicional, dinâmica e social Escola de Inglês que a cidade dos Reis Magos já teve em todos os tempos e que, como nenhuma outra, cumpriu seu papel ensinando o bom Inglês americano e difundido a cultura norte-americana em nossa capital, assim como divulgando também, o Brasil para os EEUU, por aproximadamente trinta anos.

Eu sempre disse a mim mesmo que, se escrevesse um dia sobre a SCBEU, só falaria das coisas boas referentes à mesma, mesmo sabendo que esta teve um fim que não mereceu. Mas, pra fazer jus mais ainda a sua grande importância e relevante papel que teve em Natal e sua sociedade, relembremos apenas o que ficou de bom e positivo.

A SCBEU foi fundada em 25 de Abril de 1957 (em reunião na então Faculdade de Direito de Natal) e saiu de cena (vamos assim dizer), em 14 de Junho de 1984. Portanto, este ano completaria meio século se ainda estivesse funcionando. Pra começar, a SCBEU inicialmente foi originada da idéia (além de Escola binacional) de atuar também como uma espécie de adido cultural, aqui em Natal, após a Segunda Guerra Mundial, por ter sido a “Cidade do Sol”, base estratégica norte-americana de guerra. Por isso, Natal consta no Mapa Mundi, como o Trampolim da Vitória e, por terem os americanos convivido com a cidade durante essa época, Natal, mesmo sendo provinciana em comparação com outras capitais, é a cidade onde mais se fala Inglês, comparativamente. Melhor ainda, viveu uma situação real, pois os americanos que vieram pra cá e não os natalenses que fizerem “intercâmbio”. No final, foi uma situação que acabou sendo positiva para ambos.

A sociedade Cultural Brasil Estados Unidos foi (e continuará sendo em nossa memória) a mais famosa e mais importante Binational English Center que Natal já teve. Seus sócios fundadores foram em número de 54 (tenho uma cópia da ata de fundação, a qual tive o cuidado de guardar quando fui diretor desta entidade durante um ano), tendo sido fundada pelas mais ilustres autoridades e pessoas de destaque social da época. O Dr. Onofre Lopes foi o primeiro da lista e, Humberto Nesi o penúltimo. Dentre outros importantes fundadores iremos encontrar em sua ata de fundação, Dr. Edgar Barbosa, Dr. Paulo Pinheiro de Viveiros, Dr. Tarcisio Maia, Cônego (na época) Nivaldo Monte, Dr. João da Costa Machado, Dr. Otto de Brito Guerra, Dr. Alvamar Furtado, Dr. Otto Júlio Marinho (com quem tive o privilégio de trabalhar durante cinco anos na neuroanatomia e anatomia comparativa, na UFRN), Dr. José guará, Sra. Yvone Barbalho, Zila Mamede, Dr. Protásio Melo, Prof. José Melquíades, Dr. Arnaldo Arsênio de Azevedo, Dr. José Américo de Paiva e outros que, mesmo sem terem sido citados, tiveram a mesma importância.

A sede da SCBEU, ficou sendo onde funcionava o Consulado Americano, construído por ocasião da instalação da base de guerra, em Natal e, ainda de propriedade do Departamento de Estado dos Estados Unidos e após esse período, cedido pelo governo americano para que funcionasse a escola de Inglês que, na realidade, continuava mantendo sua função de intercâmbio com os Estados Unidos. A imensa casa fora construída toda com material específico e vindo dos EEUU, de navio. Ficava no grande quarteirão que ia da Rua Manoel Joaquim à Av. Getúlio Vargas, portanto seu endereço, às vezes, era dúbio.

Foi na reunião de sua 3ª assembléia geral (1/6/1957, no anfiteatro da Materndade Januário Cicco), presidida por Dr. Onofre Lopes que comunicou a todos ter recebido do Consulado Americano do Recife, as chaves do prédio destinado à sociedade. Algumas exigências foram feitas pelo governo americano em relação à doação do prédio para o funcionamento da SCBEU, como por exemplo, a escola seria presidida por um brasileiro, porém dirigida por um americano, que seria enviado, especialmente para esse fim, a cada dois anos, o que realmente ocorreu até 1970, tendo sido Mr. Douglas S. Rose (que também foi meu professor), seu último diretor americano, com residência em Natal.

Na verdade, a SCBEU funcionava como se fosse um pedaço dos Estados Unidos no centro de Natal, pois o ambiente era característico e o ensino muito rígido, embora da melhor qualidade, onde um curso normal durava cinco anos, quase igual a muitos curos universitários. Tivemos os melhores professores da época. Os melhores alunos e amigos também. Era um ambiente saudável de amizade e lazer. A escola mantinha convênios locais, nacionais e internacionais e, normalmente, recebia a visita de atores, cantores em geral. Robert Fitzgerald Kennedy foi uma das autoridades mais conhecidas, internacionalmente, que lá esteve, por ocasião de sua visita a Natal e inauguração da Praça John F. Kennedy (praça das cocadas), ao lado do cinema Nordeste.

Realmente, a Sociedade Cultural Brasil-Estados Unidos era motivo de orgulho pra quem dirigia, ensinava e aprendia, inclusive muitos casais la se conheceram e foram felizes para sempre. É como diz o título do artigo: ôh tempo bom (those were the days...)

* Professor do Centro de Biociências da UFRN (Juarez@cb.ufrn.br)

NOS TEMPOS DA SCBEU



Nos Tempos da SCBEU
Publicado no Jornal de Hoje, anteriormente


* Juarez Chagas

A SCBEU teve sua fase áurea em Natal, por duas décadas. Exatamente de l957 a l977. Nenhuma outra escola ameaçava tomar seu posto de melhor escola de Inglês de nossa querida “Cidade do Sol”. A bem da verdade e do mérito, nenhuma outra escola de Inglês a superou em qualquer que fosse o aspecto. Foi excelente no ensino, nos excelentes professores que tinha, nos alunos e alunas brilhantes, no magnífico ambiente (tanto físico quanto das relações humanas) e na sua importância social para a cidade. Muitos casais ali se conheceram, namoraram e alguns até casaram. Muitas amizades e conhecimentos, ali foram vivenciadas. Era um orgulho se estudar na SCBEU. Muitos ex-aluno(a)s tornaram-se professore(a)s de Inglês, alguns outros ganharam mundo afora, foram viver em outros paises... Pra se ter uma idéia da dimensão da escola, já no final de sua fase áurea, só professores, tinha mais de cinqüenta (eu mesmo ainda guardo uma cópia oficial da escola).

No início dos anos 70, outras escolas de Inglês começaram também a conquistar seu espaço em Natal, tais quais Yágizy, Fisk e CCAA, dentre outras. Porém, essas escolas, mesmo dispostas a uma concorrência leal e justa, não ameaçavam, de modo algum, a supremacia da SCBEU, a qual era The Best One, e ponto final.

Acontece que, nessa época o Yágizy, contratou Erivanaldo Galvão (esse mesmo: irmão de Babal, João...) para ensinar os estágios mais avançados de Inglês e, o “Mago”, como nós o chamávamos, continuava freqüentando a SCBEU, não apenas porque não desejava cortar o vínculo, mas principalmente para ostentar sua nova posição, o quê, diga-se de passagem, era bem merecida. Isso foi no ano de 1972...

Eri, pra quem não o conhecia ou conheceu, era um cara muito dinâmico, carismático e, por vezes, gozador. Quando dizia algo engraçado que ninguém ria, ele mesmo gargalhava para que todos ouvissem que realmente era engraçado. Tinha um humor cortante, porém amistoso, se é que essa fórmula existe. Conseguia aglomerar grupos de jovens ao seu redor, principalmente nas rodas de violão, o qual tocava como poucos todos os sucessos dos Beatles (ele ainda hoje é musico no Rio, por sinal, também júri das escolas de samba do carnaval carioca). Pois bem, Eri mesmo sendo um top teacher do Yázigi, vivia na SCBEU e, como tinha sido aluno de lá também, vez ou outra, fazia algumas críticas construtivas, quando achava por bem.Também foi em1972, o primeiro ano que a SCBEU passou a ter um diretor de cursos brasileiro, pois em todos os anos anteriores, a partir de sua fundação em 1957, todos os seus diretores eram americanos, enviados diretamente dos Estados Unidos, para essa missão. Bem...Lúcio foi seu primeiro diretor brasileiro (após uma comissão, em transição tê-la dirigido, a qual foi composta pelos professores Paulo Fernandes, Vilma Sampaio, Lucia Martorelli Luz e Luis de França) e uma de suas primeiras preocupações, segundo ele, era renovar a imagem da SCBEU, inclusive começando por pintar todo o prédio (que tomava praticamente todo o quarteirão que ia da Joaquim Manoel
à Av. Getúlio Vargas, de onde podíamos ver, da praia de areia preta ao Forte dos Reis Magos). Assim, sendo mandou seu secretário contratar um pintor de paredes para a devida pintura, inclusive do nome SOCIEDADE CULTURAL BRASIL-ESTADOS UNIDOS, que ficava no muro da Av. Getúlio Vargas e estava praticamente apagado, velho e desbotado.

O secretário momentâneo era Emilson Martins que prontamente disse conhecer um excelente pintor e, de imediato, sai à sua procura. Isso era uma Sexta-Feira e no Sábado, o pintor já estava pintando o prédio. Realmente, era um bom pintor. Mas, como não existe um bom sem defeito, o rapaz tinha dois (embora passíveis de correções, caso quisesse) que eram sua marca: não sabia ler e era o maior pau d´ água, assumido. O fato é que o pintor pintou, durante o Sábado todo e parte da manhã do Domingo e, resolvendo parar pra retomar na Segunda, foi embora sem dar a mínima satisfação a ninguém. Como era de se esperar, na Segunda não apareceu, devido à ressaca. Quando Lúcio chega, lá pelas 8hs da manhã, quase tem um infarto ao ver o que o pintou pintara. Saiu às pressas procurando o secretário (que displicentemente não tinha visto a obra do pintor beberrão) para trazer o pintor de volta, o mais rápido possível e no momento, providenciar um lençol ou cortina para cobrir a “arte” que fizera. Lá se foram os dois olhar o serviço. O rapaz havia pintado apenas parte do nome da escola e, resolvera ir embora pra continuar depois. O problema é que ele pintou: SOCIEDADE CU... e, aí parou. Evidentemente que, como não sabia ler, para ele pouco importava o que havia pintado ou não. Lúcio foi enfático com o secretário:
- Doutor, já pensou se Erivanaldo Galvão aparece aqui com uma máquina fotográfica...a SCBEU ia ficar difamada pelo resto da vida!

Na verdade, nada conseguiria difamar a SOCIEDADE CULTURAL BRASIL-ESTADOS UNIDOS. Nem mesmo o que conseguiram fazer com ela...

* Professor do Centro de Biociências da UFRN (juarez@cb.ufrn.br)

9 de jul. de 2008

PSICOTERAPIA BREVE


Psicoterapia Breve, segundo Braier
(Publicado anteriormente no Jornal de Hoje)



Eduardo Alberto Braier é médico psiquiatra e psicanalista argentino que tem um excelente trabalho, no campo da psicoterapia breve, o qual merece registro. Dentre seus trabalhos, estudos e pesquisas, destaca-se Psicoterapia Breve de Orientação Psicanalítica (Martins Fontes, 3ª edição, 1997).

A importância de se falar sobre este livro é justamente a abordagem da dificuldade e, muitas vezes polêmica, para o leigo, sobre a conotação do tratamento emergencial, de ordem psicanalítica, uma vez que sabemos serem os tratamentos psicanalíticos, por essência, demorados.

Independentemente de conceito ou aceitabilidade da Psicoterapia Breve, no mundo globalizado de hoje, é muito importante que admitamos que as psicoterapias de orientação psicanalítica, em especial as denominadas breves, ganharam importância diante da grande demanda de assistência psicológica, especialmente quando há grandes concentrações de pacientes com necessidade de atendimentos cada vez mais imediatos, tais quais nas empresas, hospitais e em outras instituições similares.

Vale salientar que o trabalho de Braier não é pioneiro, mas que o mesmo tem grande importância, especialmente na Argentina, onde trabalha e tem percorrido todo um caminho, desde que, depois de muita relutância e resistência pelo novo, a PB passou a ser vista com bons olhos, até mesmo pelos mais exigentes psicanalistas consagrados. Braier, por sua vez, chama a atenção para a questão histórica da Psicoterapia Breve, onde os primeiros tratamentos efetuados pelo próprio Freud, em sua fase pré-analítica, eram de certa forma, terapias breves, durando apenas alguns meses. Isso porque hoje, está claro que, inicialmente o fundador da Psicanálise, buscava curas rápidas focalizadas para a solução de determinados conflitos e sintomatologia dos pacientes.

Um dos exemplos que pode ser citado e, com resultados satisfatórios, foi o caso de O Homem dos Ratos, publicado em 1909, onde Freud diz que durou menos de um ano. Mas, também há controvérsias, pois Ferenzi, em 1916, fala sobre a necessidade de uma psicoterapia breve, sendo de pronto, repreendido por Freud, o qual dois anos depois, sugere uma psicoterapia de base psicanalítica, a qual pudesse responder às necessidades assistenciais da população e, aí nesse momento, o que poucos sabem ou admitem é que o próprio Freud propõe que se combinem recursos terapêuticos da análise com outros métodos.

Mas, Freud à parte, é bom deixar claro que Psicoterapia Breve de orientação psicanalítica é algo, tecnicamente, bastante diferente do termo “psicanálise breve”. Nisso o autor, faz questão de enfatizar. Braier ainda enfatiza que alguns nomes confundem não somente o leigo, mas estudiosos do assunto, quando atribuem sinônimos tais quais Psicoterapias de curta duração, Psicoterapia Focal, Psicoterapia Emergencial e outras atribuições que, embora tenham o mesmo sentido, diferem na técnica, particularidade e essência.
Uma coisa é certa: o que se busca na Psicoterapia Breve de orientação psicanalítica, segundo o autor, é, na medida do possível, solução dos problemas imediatos e o alívio sintomático, em sentido psicodinâmico, podendo-se valer do princípio de insight do paciente a respeito dos conflitos subjacentes.

O Autor, um psicanalista tradicional, a princípio, curvou-se às necessidades da temporalidade e globalização, sem ferir princípios éticos, como deixa a entender em seu livro. Vale a penas ler e, se possível, até mais de uma vez. Por outro lado, é importante admitir e saber ponderar que, nem tudo que é breve, tem breve solução.

ATHENEU NORTERIOGRANDENSE

ATHENEU
NORTERIOGRAN
DENSE
(Publicado no O Jornal de Hoje, em 09/07/2008)






Muito já se tem escrito sobre o Atheneu Norteriograndense. Ilustres professores, ex-alunos saudosos, pesquisadores, repórteres, escritores e historiadores. Não é por acaso que isso tem ocorrido (aliás nada é por acaso), mesmo após muitos e muitos anos de sua fundação e de seus tempos áureos culminado com sua imponência e importância no meio educacional do Estado e do País.

Eu posso dizer que, dentre tantos, fui um dos que teve o privilégio e a honra de ter sido aluno e professor do Atheneu Norteriograndense (na minha época escrevia-se assim mesmo, sem hífen...) e de ter vivido intensamente cada um desses períodos. Evidentemente com mais intensidade o primeiro, pois foram sete anos ininterruptos divididos em ginásio e científico completos, vivendo inesquecíveis experiências desde os bancos escolares, pelas lições aprendidas, às quadras do ginásio Sylvio Pedroza, defendendo suas cores nos esportes, assim como ao valoroso convívio com colegas e amigos, incluindo aí as reuniões no Grêmio Estudantil Celestino Pimentel (cuja cópia de proposta de sócio guardo até hoje nos meus arquivos). Tudo isso constitui parte de nossa vida escolar que jamais esquecerei.

Cinco anos depois de concluir os estudos e já ter concluído curso na Universidade, retorno ao Atheneu agora como professor de Biologia, dando aulas numa das salas que, inclusive sentei como aluno ainda nos velhos e bons tempos do mais famoso colégio público de Natal e, por que não dizer, do mais antigo colégio público do Brasil.

Historicamente falando, o Colégio Estadual do Atheneu Norteriogradense foi fundado em 1834, no Século XIX, quando o Brasil ainda era capitaneado e província, cabendo a Basílio Quaresma Torreão, então presidente da Província, fundar o mais antigo colégio público do país, fundado mesmo antes do Colégio D. Pedro Segundo, no Rio de Janeiro, o qual foi inaugurado em 1847, denominado Imperial Colégio de Pedro II, tendo sido oficializado por Decreto Regencial. Na verdade, os brasileiros que tiveram o primeiro ensino público e no primeiro colégio público fundado no Brasil, foram os norteriograndenses, um fato mais que histórico.

Inspirado na versão portuguesa, ATHENAION, do templo de Atenas (Deusa Minerva da sabedoria) Basílio também pretendia que assim fosse o Atheneu: A "Casa da Sabedoria”. Devemos admitir que, só o fato d’ele ter fundado o mais antigo colégio do Brasil, já foi um grande ato de sabedoria.

Após passar pelas sedes originais (1ª Situada no Quartel Militar - 1834 a 1859 e a 2ª situada na Rua Junqueira Ayres - 1859 a 1954) a sede definitiva e que conquistou a todos com sua beleza arquitetônica em forma de X é o prédio da Rua Campos Sales, inaugurado em 11 de Março de 1954, pelo então governador Sylvio Pedroza (com a presença de Café Filho), cujo ginásio de Esportes leva, honrosamente, seu nome. Há quem diga que, pela estética arquitetônica atual do Atheneu em forma de xis, haja aí uma ideologia militar por lembrar um dos símbolos do militarismo, com suas armas dispostas e cruzadas em X. Se é verdade ou não, permanece a especulação, porém por outro lado, o Atheneu sempre foi também um símbolo de resistência e local de reuniões estudantis de cunho político, determinantes para uma consciência política de Natal. O Atheneu foi também o primeiro colégio a reivindicar melhoria salarial para seus professores, em forma de protesto perante o Estado, o que é considerado por alguns historiadores a primeira idéia de greve da Educação no Brasil.

Até as décadas de 60 e 70, podemos afirmar que o Atheneu ainda era, senão o maior, um dos maiores destaques tanto no ensino, quanto no esporte, orgulhando a todos quantos o defendiam esportivamente ou nele estudavam.

Muitas autoridades e pessoas de destaque do nosso RN sentaram nos bancos do Atheneu e todos, sem excçao (dito pelos próprios) ainda hoje se sentem honrados e saudosos por terem estudado e tido grandes mestres como seus professores. A Governadora Wilma de Faria (só pra citar um) é um desses exemplos, constatado até em artigo escrito pela mesma, demonstrando seu afeto pelo famoso colégio onde recebeu sólida educação e amizade durante os anos em que lá estudou.

O Atheneu que eu conheci e no qual estudei é para mim, ainda hoje, referência e história que faz parte da minha vida. Lá tive excelentes e inesquecíveis mestres como Vicente de Almeida(Geografia), Ana Maria Concentino(História), Maria Helena da Hora (Inglês), Terezinha de A. Padilha (Matemática), Joana D’arc (Ciência), Bartolomeu Correia de Melo (Bartola) só pra citar estes e não ser injusto com os demais. Os Diretores que alcancei (pela seqüência) foram Crizam Siminéia, Marconde Mundi Guimarães e João Batista Varela, tendo sido a primeira a mais austera, exigente e educadora, porém igualmente protetora. Seu semblante fechando era um contraste com sua bondade.

A emoção é presente ao relembrar o velho Atheneu, pois tanto dentro quanto fora de seu espaço físico, sua história orgulha a todos, indistintamente. Atheneu existe apenas um!

ATHENEU EXISTE APENAS UM !


ATHENEU,
existe apenas um!
(Publicado no O Jornal de Hoje, em 25/07/2007)

“Atheneu existe apenas um
e como o Atheneu, não pode haver nenhum!
Atheneu! Atheneu! Atheneu!”


Quem estudou no Colégio Estadual do Atheneu NorteRiograndense, ou simplesmente ATHENEU, principalmente, nos anos 60 e 70 certamente lembra deste grito de guerra que soava nos ginásios, campos de futebol, pistas, quadras, piscinas e por onde os atletas estudantis, e sua eufórica e fiel torcida, defendiam com sentimento, garra e lealdade, o mais querido dos colégios nos áureos tempos das competições estudantis, um marco histórico, desportivo e social, da Natal daquela época. Nos desfiles dos Jogos Estudantis (dos quais tive a honra e prazer de participar e defender alguns), tambores e charangas faziam o publico vibrar eufórico, com o “incendiário” e animador refrão. Era a identificação entre torcida, atletas e todos os que faziam o grande Atheneu e, apreensão e aviso para os adversários, dentre os quais os mais ferrenhos eram o Marista, a Escola Domestica e a antiga ETFERN (atual CEFET).

Estudar no Atheneu, defender suas cores (tradicionalmente verde, branco e friso dourado) e ter seu nome cravado no peito era um orgulho impar, porem não uma das tarefas mais fáceis, naquela época. Entrar para o Atheneu requeria conhecimento, simplicidade e abnegação, a começar por uma difícil seleção pela qual o aluno deveria passar, para se tornar estudante do Atheneu: o exame de admissão, uma rigorosa seleção de conhecimentos gerais e específicos, comparado ao vestibular de hoje, para ingressar nas universidades publicas. O processo seletivo para ingressar no mais famoso colégio do Estado requeria passar no exame de admissão do Atheneu, uma proeza que igualava classes sociais através da capacidade e conhecimento, demonstrados por quem conseguia esse tão almejado intento. Era mais que uma conquista era um diferencial. A expectativa gerada pelo resultado era angustiante, gerando apreensão que só acabava com o resultado afixado nos murais do colégio com data e hora marcada, o que causava uma aglomeração de estudantes e familiares em grandes concentrações, na frente do colégio.

O ensino era de qualidade, pois tinha os mais entusiasmados professores e professoras (apesar do baixo salário), que também se orgulhavam de pertencer ao seu corpo docente e a um colégio de referencia nacional. O ambiente, a sincera amizade e coleguismo estimulavam os estudos e deveres transformando-os em objetivos a serem alcançados. Se não estivesse trajando o uniforme devidamente, levava repreensão e voltava pra casa sem aula. A Direção era rígida, exigente e vigilante e isso também fazia parte da vida escolar.
Falar sobre a educação do Estado, inclusive do Brasil, e não falar do Atheneu, constitui-se numa grave omissão, pois é, dentro de suas características peculiares, o colégio público mais antigo do Brasil, já caminhando para o seu bicentenário, uma vez que foi fundado em 1834, pelo presidente da província do RN, Basílio Quaresma Torreão.

Historicamente, passaram por seu quadro de professores ilustres mestres da sociedade potiguar, cujo notório saber e empenho, eram transmitidos através de seus conhecimentos e lições não apenas didáticas, mas também de vida. Dentre seus professores mais destacados, podem ser citados o historiador Câmara Cascudo, Clementino Câmara, Monsenhor da Mata, Floriano Cavalcanti, Dr. Sebastião Monte, Myriam Coeli, Djalma Maranhão, Protasio Melo, José Melquíades, Jose Guará, Crisam Simineia, Vincente de Almeida, apenas para citar os mais antigos. Por outro lado, sentaram em seus bancos escolares, alunos que tornar-se-iam famosos e bem sucedidos nas mais variadas profissões e posições sociais. Só governadores, o Estado teve quatro que foram alunos do Atheneu, a saber: Aluízio Alves, Geraldo Melo, Garibaldi Alves e a atual governadora Wilma Maria de Faria, alem do presidente João Café Filho. Muitos outros ilustres profissionais de nossa atual sociedade, os quais abraçaram as mais diversas profissões, podemos citar Pery Lamartine, Dr. Ivis Bezerra, Diógenes da Cunha Lima, Ivonildo Rego (atual Reitor da UFRN), dentre outros, só para citar apenas alguns e não pecar por omissão de outros, os quais formariam listas intermináveis.

Em relação ao ensino, podemos constatar sua tradição, mas também o Atheneu é conhecido por movimentos estudantis e, principalmente no esporte. Durante os anos 60, especialmente antes e depois do golpe de 64, vários lideres estudantis estudavam no colégio, o qual também tinha um reduto político-estudantil muito forte. Entretanto, alem do ensino, o que mais destacava esta secular “casa do saber” (Atheneu, do grego Athénaíon) era mesmo o esporte, através de suas varias modalidades, defendidas nos jogos estudantis e olimpíadas em datas comemorativas. Nos Jogos Ginásios-colegiais, por exemplo, de 1963, fomos campeões masculino e feminino; em 1964 fomos vice-campeão masculino e campeão feminino; em 1965 e l966, fomos campeões masculino e feminino e, em 1967, fomos campeões masculinos novamente e vice-campeões feminino, conquistando o troféu definitivo.

“Passou, passou, passou um avião
e nele tava escrito o Atheneu é campeão!”

Como bem dizia o refrão da torcida e de seus abnegados e heróicos atletas.
Na verdade, quem estudou no Atheneu, especialmente em seus tempos áureos, sabe muito bem que Atheneu existe apenas um... Portanto, o governo e sociedade devem valorizar mais esse patrimônio histórico que é nosso e continua resistindo ao tempo pelo seu glorioso passado, mas precisa retomar sua chama e prestígio na nossa sociedade e atual juventude. Afinal, o Atheneu foi e é o primeiro colégio publico do Brasil.

ATHENEU EXISTE APENAS UM ! (II)


Atheneu, existe apenas um!(II)
(Publicado no O Jornal de Hoje, em 01/08/2007)

Movido pelo saudosismo e pelas lembranças registradas no artigo passado, visitei o Atheneu essa semana para rever mais uma vez o colégio de perto, percorrer suas dependências e visitar as salas onde, em suas carteiras sentei durante sete anos (ginásio e cientifico) seguidos e aproveitei para pedir um encontro com a pessoa, a qual dizem ser uma das maiores autoridades sobre o histórico, acervo e informações da velha casa do saber (como chamaria os gregos), NALDEMIR SARAIVA DANTAS DE OLIVEIRA. Evidentemente que sabemos de outras pessoas, inclusive acadêmicas e pesquisadoras, que detêm, até os dias de hoje, vasto conhecimentos, trabalhos e pesquisas sobre o Atheneu e sua representação no âmbito educacional e político, não somente do Estado, mas também do país. Entretanto, em termos de documentos, arquivos e acervo, Naldemir é única e atual.

Após o encontro marcado, conversamos por umas duas horas e, antes dos primeiros dez minutos, constatei o que realmente dizem, ela é uma enciclopédia ambulante, um arquivo-vivo sobre o Atheneu. Eu pensei que sabia alguma coisa, mesmo sendo relacionada a minha época, mas logo percebi que nada sabia, perante seu fabuloso conhecimento e dados sobre o colégio mais antigo do Brasil. Mais antigos sim, porque o Atheneu foi fundado em 1834, o colégio Pedro Segundo em 1836 e o Liceu Pernambucano em 1837 (há uma ligeira diferença nessas datas, segundo alguns historiadores).

A paixão de Naldemir pelo Atheneu merece registro, respeito e divulgação, pois foi identidade e amor à primeira vista, disse-me ela, entusiasmada. Tudo começou quando sua tia Maria Celina Saraiva, ainda nos anos 70, então aluna do Colégio, um dia resolveu trazê-la consigo para conhecer o famoso colégio, quando tinha onze anos de idade. A partir desse dia, passou a alimentar o desejo de estudar no Atheneu, fato que aconteceu em 1974, quando se submeteu ao exame de admissão, que por sinal foi aplicado pela ultima vez neste ano, como processo seletivo, neste estabelecimento de ensino. Mas, sua relação com o mais famoso colégio do Estado, apenas começava, pois em 1978, ainda como aluna candidatou-se ao cargo de bibliotecária do Atheneu e, posteriormente, arquivista. Foi quando resolveu estudar tudo o que podia sobre o colégio, juntado a paixão com a realidade de poder então cuidar do acervo, com esmero e orgulho. Acabando assim, de realizar um de seus sonhos e se tornar referência viva do Colégio.

Hoje, Naldemir é psicopedagoga, mas continua parcialmente trabalhando no colégio e diz que continua envaidecida com seu trabalho, o qual faz há mais de duas décadas, inclusive viajando para diferentes lugares e Estados, quando solicitada para palestras e informações sobre o Atheneu. Em seu tempo de aluna, foi rainha de desfile, por três anos, representando o secular colégio, uma posição, na época, disputadíssima por outras alunas, cujos critérios para escolha envolvia disputa, garra e determinação, alem de beleza e desenvoltura.

Como resultado de seus estudos e trabalho, praticamente, organizou o “Memorial do Atheneu”, onde ao longo do tempo, passou a cuidar de seu principal arquivo e acervo. Além de visitas de escolas, colégios e universidades, não só de Natal, como do interior do Estado e também de outras instituições de outros Estados, tem recebido alunos, pesquisadores e estudiosos, que buscam informações na própria fonte.

Foram varias as curiosidades que pude ouvir, à medida que ela me mostrava, arquivos, livros, lista de todos os diretores do colégio, de 1900 até hoje, sem falar no acervo fotográfico, inclusive da construção e inauguração do atual prédio em forma de X, cuja inauguração foi em 1954. Um dos fatos curiosos, dentre muitos, foi ela ter encontrado a ficha do pai de Oscar (mão-santa do Basketball, que juntamente com seu irmão Tadeu Schmidt, repórter esportivo da TV Globo, nasceu em Natal), o militar Osvaldo Schmidt, que concluiu seus estudos, na época da inauguração do atual prédio do Atheneu, em 1954.

Naldemir, além de ser autora do projeto em execução “Sala de Memórias do Atheneu, escreveu um livro sobre o Atheneu (Atheneu Passado e Gloria), onde reúne desde o pioneirismo do mais famoso Colégio do Estado até sua importância histórica, política e educacional. O livro aguarda incentivo, principalmente da SEC, para ser publicado. Certamente, será um dos livros mais completos (já existem outras obras publicadas) sobre este grande e importante colégio que merece o conhecimento e reconhecimento de todos que por eles passaram e de todos que neles estudam, trabalham, ensinam e dirigem.